Há dois anos uma moça muito querida por mim desapareceu após uma viagem a África. Ela tinha 22 anos na época e havia ido completar estudos que davam credito em sua formação como historiadora da USP. Seu nome não posso revelar mas o nome fictício que lhe atribuo é Verônica Borges.
Esta jovem mulher era aspirante a política, começou os estudos muito cedo e sua ascensão foi rápida na faculdade. Logo foi selecionada a esta viagem onde estudaria movimentos antropológicos na áfrica junto de duas outras pessoas que também desapareceram mas aos quais nunca conheci pessoalmente. Uma era sua colega de turma, Vanessa Lenita da Silva (peguei esse nome da ficha de cadastro da universidade) e Mario da Fonseca Neves, ambos bons alunos e futuros doutores.
Desculpem não me apresentar logo. Chamo-me Teófilo Souza, (Téo para os mais íntimos) e trabalho como investigador da policia a mais de 17 anos, tenho 37 e comecei com vinte. Quem quiser me julgar errado que julgue, mas eu era namorado de Verônica, uma garota meiga e doce que venceu as barreiras do coração solitário e pobre deste velho ser da justiça, que deliberou toda sua juventude ao combate ao crime e esqueceu-se de dar tréguas ao mundo e somente depois de 17 anos servindo encontrou a graça e um pouco de uma tenra e ilusória felicidade nos braços da garota de bruços. Digo isso pois quando a conheci ela tropeçou a caiu em cima de mim, meus olhos vagos viram a clareza daquele puro ser a na mesma hora chamei-a para almoçar. Foi uma paixão avassaladora, por muitas noites pensei estar com febre tamanha alucinação e recorria aos bons e velhos copos de Martine Branco que guardo em meu frigobar.
Nos dias que antecederam a viagem, ela mostrava-se muito alegre e festiva, tomamos vinho à noite inteira e comemoramos aquele entusiasmos maravilhoso. Eu tive a melhor noite da minha vida. Nada no trabalho me tiraria daquele santuário de amor e libido.
No dia seguinte ela partiu com a promessa de voltar alguns dias depois. Quando chegou em Durban, mandou-me um email com as seguintes palavras:
“Téo,
A cidade é linda, o porto imenso e meus amigos e eu estamos indo ao hotel. Comprarei um suvenires para teu quarto. Saudades. Beijão!”
A noite recebi mais um email e depois uma mensagem de celular.
“Téo,
Há algo estranho acontecendo, um grupo de pessoas vem nos seguindo desde o porto. Não temos idéia de quem são. Informe no consulado brasileiro que precisamos de ajuda. Estamos pensando no que fazer. Eu te amo.”
Comecei a entrar em pânico. Verônica estava em perigo e eu não estava por perto para ajudá-la, eu jurei por Deus que não deixaria nada de mal acontecer a ela, nunca deixaria as trevas e as sombras que tanto temi dissiparem a luz dos olhos puros e alegres que ela tinha. Reli varias vezes aquele email e logo após uma mensagem de celular consumiu meu peito em dor e fúria.
“Me ajuda por favor! Eles estão aqui!”
Exasperado, bati a meia noite na porta do consulado informando todos os fatos, mostrando as mensagens e pedi que agissem rápido. Não deu em nada. Da áfrica fui informado que aquelas pessoas nunca tinham estado no país. O vôo não tinha registro deles, nem hotel existia nem sequer a viagem da universidade. Estava sem destino e extremamente desesperado. O amor de minha vida escapava por entre meus olhos, naquele amontoado de burocracia que provava que ela ainda estava no Brasil e que nunca existira naqueles emirados.
Passei dias sem nenhuma noticia e investigando a USP, o consulado, tudo que pudesse me levar a alguma claridade naquele desaparecimento. Meus contatos me levaram até uma antiga fabrica de um nome esquisito e mórbido “Víbora Negra”. Abandonada há anos, o galpão antigo tinha fama de ter sido lugar onde aportavam pessoas que praticavam tráfico humano. Era tudo que eu tinha até ali. A USP não estava sabendo daquela viagem. Procurei pelo professor coordenador dela e ele não estava nem cadastrado na ficha dos magistrados de lá. Quem quer que tivesse arquitetado isso fez de uma maneira magnífica, sem deixar muitos rastros, apagou as evidências, só não deram jeito na minha existência. Talvez por que mantínhamos uma relação às escondidas ou quem sabe por que não se importaram.
Duas semanas depois recebo uma carta de um remetente desconhecido chamado Segrob Acinorev com uma mensagem que reacendeu as minhas esperanças:
“Procure por meu nome em Durban e não fale com ninguém.”
Seja lá quem for devia fazer parte de tudo ou então não escreveria falando em Durban. As passagens estavam compradas e embarquei numa manhã fria, nublada e cheia de mágoa. Não levava muita coisa. Havia deixado pra trás minha parceira, a arma calibre 38, a primeira que tive, nunca havia me decepcionado. A noite estava lá na áfrica. Permaneci incógnito no avião. Tinha desconfiança de tudo e de todos. Não falei com ninguém e nem aceitei nada enquanto estive naquele avião. Iria de barco mas demoraria muito e não seria eficiente o suficiente.
Procurei logo uma lista telefônica, por sorte estava escrito em inglês e eu consigo arranhar poucas palavras. Procurei aquele nome da carta que recebi e a qual guardei comigo por precaução mas nada havia. Teria de ser do jeito mais difícil. Investiguei exaustivamente, durante um mês entrei no encalço da “Víbora Negra” até certo dia em que tomava café em um restaurante de Durban e fui vitima de um terrível atentado. Dois homens desconhecidos invadiram o café e me deram três tiros, cai para o lado e fui arrastado e jogado no mar. Salvei-me graças a um pescador que me resgatou em sua rede. Levei dois meses inteiros para me recuperar e perdi todos os documentos. Já não havia volta e eu estava morto para eles. Havia algo de muito grande e é isso que vou lhes contar agora, depois de dois anos passados.
Sucederam os fatos da seguinte forma: levei três tiros, um no braço, outro no peito de raspão e outro na barriga, estaria morto se não houvesse tido resgate algum tempo depois, com farrapos de minha camisa consegui estancar e poupar o sangue que se esvaia do meu corpo. Lembro daquela rede me içando e vários peixes me rodeando. Acordei com um prato de sopa e quem me dava era uma linda garota, de olhos penetrantes e cabelos encaracolados e sedosos, da sua pele que eu sentia bem perto de mim emanavam um perfume lúgubre e indecente, que me acendia todos os sentidos e me punha a desejar usurpar aquele belo corpo só para mim.
Eu não entendia muito bem o que estava acontecendo e tão logo aquele hipnotismo acabou veio à lembrança cruel e insana de Verônica, minha amada que há dois anos não via o rosto e aquele perfume que antes sentia tornou-se febre novamente e eu passei mais duas semanas sem acordar.
Cuidaram de mim, essa moça e seu avô que trabalhava como pescador no porto de Durban. Havia em meu peito uma cicatriz que levaria para sempre. Na verdade eram duas, uma no corpo e a outra na alma, querem saber qual doía mais? A que estava aberta e ainda insolúvel. A cicatriz que verônica deixou. A garota bonita que me inebriara se chama Isabela. Não tinha mais que 19 anos, não fiz tal pergunta por que não me convinha, e tinha uma beleza espantosa, seu avô dizia que havia herdado da mãe que era filha de Iemanjá.
Seu avô era um velho lobo do mar, havia tirado tudo dele e assim tencionava retornar ao tudo que é o mar em sua morte, estava beirando já esse caminho. Mas não havia em seus traços aquela rigidez dos velhos, nem a palidez do medo, este era valente como sempre foi em sua juventude, resolvera desde que tomou a noção do corpo envelhecendo de que aceitar este descontrole seria mais valioso do que lutar deliberadamente. Sua família restringia-se a neta; a esposa havia morrido em uma tempestade. Estava sofrendo de uma terrível tuberculose e seu barraco foi destelhado pelo vento, ela olhou para o céu e sorriu, a quando tossiu pela ultima vez, pareceu-lhe que sua alma se elevava, que a bruma a qual depois se dissipava levava sua esposa para o plano melhor, ou para o melhor que nos espera, há sempre essa tácita esperança. Sua filha sumiu deixando a netinha com ele. Nunca soubera para onde ia, deixou somente a saudade que foi extinguindo-se como uma chama de vela que consome seu pavio. Depois de 16 anos restara somente sua vaga lembrança. A moça estudava em uma escola ali perto e ajudava o avô o quanto podia. Era formosa e todos percebiam isso, só que além da beleza exterior também bem tinha a virtude das santas, tudo em volta dela era doce.
Isabela voltava a tarde e trabalhava em casa, arrumava-a e deixava o jantar quente. Quase sempre era peixe. Durante aqueles dias eu mal podia me sentar. Todo o corpo doía, minha espinha se retorcia e meus intestinos faziam força para pular fora. Ela cuidou de mim. Via todos os dias aquele sorriso branco. Dentes perfeitos, cabelos preciosos. Pouco conversava, não poderia deixar que soubesse de minha vida. Ainda tinha uma missão pra cumprir que era mais importante que tudo em mim.
Com o tempo fui sarando e iria partir mas houve muita insistência dele para ficar lá, perguntaram se eu tinha casa, que ninguém notou meu desaparecimento e com isso concluíram que eu não tinha nada. Era evidente que não confiavam em mim plenamente, mas há algo em cuidar de um homem dois meses seguidos que os afeiçoou, eu era um filho querendo ir embora, o qual o coração daquele velho homem não queria se livrar. Passei a trabalhar com ele. Pescávamos desde cedo, de madrugada até o meio dia. A noite cumpria minha outra missão e retomava meus trabalhos. Meus arquivos estavam todos perdidos. Retinha por pura insistência aquele nome “Víbora Negra” e não largaria até que minha alma fosse queimada no fogo da vingança. Vingar-me-ia por tudo, estando ela viva ou morta faria todos pagarem o preço justo da minha injustiça. Isabela estava cada vez mais linda. Eu sentia seus lábios nos meus sonhos. Nas noites inebriadas e solitárias, sentia um beijo no escuro e no horizonte daquele sonho sombrio, eu via uma estrela negra que brilhava feito um clarão no fundo de um abismo imensurável, eu caminhava perto da boca daquele vulcão de trevas e pendia na entrada olhando e quão fundo poderia ir. No meio dessa indecisão meus lábios vivos pareciam remexer ao encontro de um beijo oculto, que deveria somente acontecer ali, no limiar entre o Limbo e a realidade. Doce paixão!
Durante dois meses passei ininterruptamente por essas sensações, sem trégua e sem descanso. Ao fim do oitavo mês do meu suplicio na África, depois de quase ter sido morto eu quase não lembrava o que era a vida no passado, de certo nunca mais retornaria a velha rotina normal, do equilíbrio. Estava caminhando em passos firmes naquele inferno do qual iria resgatar minha doce amada verônica.
Verdade clara, que eu negava mas via era que meu coração, antes intocado e imaculado abria espaço para o desejo forte, vontade incontrolável de ter em meus braços aqueles seios voluptuosos, aquelas curvas que tanto energizavam minha tão drástica ereção.
Uma noite ficamos sozinhos, seu avô viajara sozinho no seu barco. Disse que tinha de ir buscar em uma ilha lá perto algumas pessoas, que o dinheiro iria pagar as contas do mês e ficaria ali naquela noite para garantir a segurança de sua neta. Estava sozinho com a Deusa da África. Ela me olhou instintivamente durante a partida dele, fui ajudar a desamarrar as velas, içar as ancoras e por o navio a pique. É incrível que depois de algum tempo no mar você parece reter nas narinas um perfume de sal e peixes. É o batismo dos mares.
Quando retornei a cabana, ela comia uma sopa bem quente, ofereceu-me um pouco só que não tive como aceitar, estava exausto demais para comer e se ficasse tão perto dela e a sós meu instinto selvagem poderia fluir e eu perderia totalmente o controle.
Foi então que ela se achegou perto de mim, eu ainda de pé perto da porta. Estava de short curto apesar da noite fria que se aproximava. Isabela vestia uma camiseta modesta e eu estava somente de calça, o peito cicatrizado a mostra. Ela curvou um pouco a cabeça, os olhos penetraram minha espinha dorsal de modo que somente acompanhava seus movimentos, incólume sobre a entrada.
Quando ela parou perto demais dos meus braços não tive outra escolha ou outro pensamento, agarrei-a pela cintura, trouxe o mais perto que pude do meu corpo e dei-lhe o beijo que guardava a verônica. Fechei os olhos e por uns instantes ela transformou-se na minha amada, já não via a Deusa da África mas sim a miragem da Flor da razão. Tudo se dissipou rápido, só restava um homem e uma mulher. Os corpos trocando fluídos e aquela paixão cruel e indevida, aquela atração sem nexo e puramente animalesca, corpos querendo e amando.
Isabela passou a dedilhar meu peitoral enquanto eu a pegava no colo e levava até seu leito. Ela não parava de beijar-me e eu não conseguia segurar a vontade voraz, a volúpia insana e tinha aquela mulher nas minhas mãos, logo estávamos na cama, nus e a ponto de bala.
Ela confessou, com o rosto meio rubro, os olhos cheios de um brilho estranho e misterioso que parecia uma feroz estrela derramando lágrimas de infinito sobre meu rosto, sobre tudo aquilo que julguei correto durante aquele tempo. Eu estava completamente perdido aquela altura dos fatos, há muito tempo solitário e com uma mágoa enorme no coração, nada me detinha do pensamento Verônica, a mulher real que estava desaparecida, mas mesmo assim aquele beijo me instigava a mastigar aqueles lábios, aquelas mãos direcionavam meus dedos sobre o farto seio, o macio leito da vida.
Fui beijando e descendo os lábios sobre seu pescoço, alcançando os seios aos quais chupei os bicos, deliciosos e macios como os de Verônica, ela tinha mais volume certamente, mas o gosto, a textura, o modo como gemia entre minhas caricias era praticamente igual.
Um sentimento irreal de culpa se apossou novamente do meu coração, a voz de verônica gritava mais alto cada vez que um beijo era dado, a toda nova caricia, estava ficando surdo.
A miragem transmutava os olhos verdes de Isabela nos imensos azuis da verônica, transformava os lábios carnudos em um lábio mais delgado, de um gosto bom. Eu estava ficando cego e louco.
Passei a olhar somente as curvas perfeitas da negra Isabela, seu busto, a sua imensa bunda (perdão e licença as palavras) e uma marca estranha na nádega direita, havia uma cobra enrolada em uma espécie de “V”, não dei muita importância até por que os desejos emanados de minha outra cabeça tomavam conta total do meu raciocínio de modo que não juntava o lógico com o evidente.
Passei a chupar languidamente toda a extensão daquela xota maravilhosa, o néctar como um mel sagrado, ela era depilada, tinha apenas um tufo que fazia charme. Passava a língua pelo seu clitóris e ela delirava de prazer. Viramos-nos e ela passou a me chupar.
Sua língua fazia contornos maravilhosos sobre a cabeça do meu pau, ela o engolia, devorava com os lábios, sedenta. Já não enxergava muita coisa. Estava delirante e irracional. Foi quando ela se aproveitou de toda a minha inocente volúpia para injetar sobre minhas veias seu veneno. Ali desvaneci e permaneci imóvel sem ter pra onde olhar. Meu corpo ainda cheio de desejo sede perante aquele acontecimento e ela vai se retirando, vestindo lentamente suas roupas.
__ Você achou que podia fugir de nós?! A víbora negra é implacável. Estivemos em seu encalço desde que chegou à áfrica, nunca houve um só movimento seu em que não estivéssemos na trilha. Eu vou lhe contar de tudo que houve e você vai me ajudar da sua própria maneira.
Começo a suar frio, nunca temi nada e jamais temerei mas aqueles olhos penetraram na minha paralisia e parecia que uma corrente elétrica percorria meu corpo.
__ Deve sentir seu corpo tremer agora, é o efeito do veneno. Logo vai estar inconsciente e será melhor transportá-lo desta forma. De tudo que viveste até aqui pouco foi verdade. Somente meu nome é correto, Isabelaa, sou a bela víbora. Aqui na áfrica tudo é cruel e sabe o que é esta marca que eu tenho, deve ter reparado, seus olhos estavam gulosos sobre meu corpo. É a marca que toda a garota da organização tem. A minha significa que eu trabalho em Inteligência. Mas ainda sim segundo a lei eu sou inferior a todos os homens da organização tendo que atendê-los quando solicitada. É a vida mas ainda sim é melhor que a vida que obtiveram as garotas que vieram te procurar, a vida que teve a minha mãe. Que sorte a minha você ter poupado o trabalho de ir até o Brasil te pegar. Quando te vi aqui eu te analisei nos mínimos detalhes. Seu olhar implacável, sua veia de justiceiro e, sobretudo o motivo com o qual vieste. Eu não podia te pegar vivo como meu Mestre queria, se estivesse num confronto direto te mataria. Por isso aqueles homens atiraram em você. Podes pensar que poderias ter morrido mas eu sabia que não morreria sempre sei. E você caiu em nossa rede e passei a te observar de perto. Aquele homem que sempre esteve aqui foi contratado pela Víbora Negra para se passar de meu avô. Na verdade ele nem meu parente era e hoje foi dispensado. Pobre dele, irá morrer em um trágico naufrágio. Agora eu vou lhe dizer nos pormenores o que irá te acontecer: Você será levado ao nosso covil para que seja exemplarmente torturado, logo depois verás o que sucedeu de tuas garotas e quando já não tiver mais forças por que de sofrimentos as forças dos homens se esgotam mais rápido que as das mulheres, serás retalhado e dado as piranhas, abundantes daqueles rios. Surpreso o que diz agora?
Eu não conseguia falar nada e minhas palavras estavam perdidas perante aquela jovem que ainda era encantadora mesmo sendo aterrorizante. Seu pé amassava meu membro latejante. Reuni as forças que me restavam para replicar-lhe.
__ Eu posso te ajudar a sair, confia em mim.
__ Não sei como ainda consegue balbuciar mas não confie em ninguém, não fale com ninguém, não leste a carta. Eu passei por muita coisa para saber que só tenho de obedecer a ordens, as torturas mais inimagináveis já passaram pela minha pele só porque tive a sorte de ser a escrava do Organizador da associação, você não sabe o que é ter uma dependência implantada na cabeça através da dor como se fosse uma pílula, um remédio contra a demência, fiquei louca duas vezes até conseguir passar por tudo e agora você me pede que eu confie em você. Só confio no meu mestre e em ninguém, até mais tarde.
Ela me deu um soco e eu apaguei. Idiota fui eu. Das sombras tinha a impressão que um espírito por mim velava as avessas.