Abigail, a secretária
Abigail mora com uma sexagenária num sobrado antigo. Não recebe namorados em casa, não gosta de sair a noite, enfim, vive para a empresa e respira trabalho.
É secretária do Sr. Cláudio há nove anos e há seis tornou-se também a amante, vivendo a expectativa de um dia ser esposa do único homem que já amou na vida, um amor que nasceu aos poucos, mas pulsa entranhado em cada um de seus poros, crescendo mais e mais a cada dia que passa.
O alto e esbelto gerente de departamento sempre a tratou de maneira amigável, respeitosa e extremamente protetora. Talvez esse tenha sido o gatilho inicial que acabou por detonar a paixão daquela jovem de dezoito anos pelo chefe quarentão.
No princípio ela o recompensava com uma fidelidade canina e uma competência soberba, que viria a ser sua marca registrada. Enxergava o chefe não apenas como um superior, mas também como mentor, pois ele se mostrava interessado no seu desenvolvimento pessoal e profissional, dando conselhos sobre cursinhos e palestras que poderiam de alguma forma contribuir positivamente com a faculdade de administração que ela cursava.
Sempre que Cláudio ficava até mais tarde no escritório, Abigail se oferecia para ficar também, alegando que eventualmente seus préstimos poderiam se tornar necessários.
Assimilou educadamente os protestos do chefe nas primeiras vezes que isso ocorreu, mas, semanas depois, ele já se acostumara a encontrar na fiel escudeira uma extensão de seus próprios recursos, mesmo em horas extras muito tardias.
O tipo de intimidade que só se pode conseguir com colegas de trabalho não tardou, e logo os serões no escritório foram se transformando em agradáveis conversas informais sobre todo e qualquer tópico, fossem assuntos alegres, tristes, melancólicos, saudosos ou mesmo picantes.
Falavam um ao outro sobre seus sonhos, seus medos e suas vidas. Ela lhe falava sobre os colegas de faculdade e ele contava anedotas dos seus tempos de calouro, algumas décadas atrás.
Abigail frequentemente falava dos pais que ainda moravam no interior e da idosa senhora judia que cedeu o sótão de seu casarão para ela morar em troca de um módico aluguel. Cláudio falava por horas a fio sobre a esposa, que considerava a mulher mais encantadora do mundo, e também da filha, a quem amava demais, mas que já dava sinais de querer causar algumas “dores de cabeça”, por se mostrar um tanto precoce.
- Imagine só. – Disse ele sorrindo certa noite. – A Sabrina já está pensando em trazer um namoradinho da escola pra casa!
- E o que você disse a ela?
- Nada, pois ela só fala esse tipo de coisa pra minha mulher. As duas são confidentes, unidas como unha e carne. O papai aqui só é procurado quando o assunto é dinheiro para as roupas novas.
- Espero que a Helena tenha lhe dado uma boa lição.
- Que nada! – Lamentou-se Cláudio. – Elas se apóiam mutuamente, já estou até vendo os moleques que irão começar a rodear minha casa muito em breve.
- Ah se eu aparecesse com um garoto lá em casa. – Divagou Abigail num sorriso maroto que mostrava o seu reluzente aparelho ortodôntico. – Aquela velha judia me escorraçava de lá com namoradinho e tudo mais, pois a primeira das restrições que impôs ao me apresentar a pensão, foi de que jamais levasse homens para lá.
- Que megera! – Pontuou o chefe.
- Verdade, ela vive dizendo que aquela é uma casa de respeito e nela a fornicação é um mal inaceitável.
- Que figura! – Cláudio estava às gargalhadas.
- Sim, mas no fundo é uma boa pessoa. Gosto dela. Respeito seus espaços assim como ela respeita os meus, e vamos levando a vida desse jeito mesmo.
Cláudio baixou o olhar e, tentando se aprofundar um pouco mais na intimidade da secretária, perguntou:
- Mas como você faz para namorar?
- Ora. – Disse ela corando. – Não tenho namorado.
Eles nunca haviam navegado por essas águas, porém, ele estava realmente curioso para saber um pouco mais sobre a vida sentimental daquela jovem, que estava certamente fora dos padrões habituais de beleza, mas evidentemente possuía um certo “sex appeal”. Um elemento um tanto exótico, que não passava despercebido pela maioria dos homens que geralmente não deixavam de lançar-lhe uma segunda olhadela, mesmo se perguntando depois sobre o que esta mulher teria de tão especial, e, no entanto, não encontrar nenhuma resposta plausível.
Abigail era esse tipo de mulher; magra e de estatura mediana. Poderia ser classificada como elegante, porém se encaixava mais no perfil da sisudez formal, talvez pela maneira sóbria de se vestir, geralmente com as saias apenas alguns dedos acima dos joelhos, e terninhos que pouco colaboram na valorização dos seios muito pequenos.
Seus pés bem tratados nunca subiram em plataformas ou saltos muito altos, mas suas pernas brancas e finas, aliadas a postura perfeita, quase imploravam por calçados um pouco mais ousados, do que os sapatos sociais de discretíssimos saltos que sempre usava.
Os cabelos são longos e naturalmente lisos, e, apesar de não poder ser classificada como uma ruiva, os seus fios também muito bem cuidados, sem nunca terem recebido qualquer tipo de tintura, saem um pouco da tonalidade loira para a avermelhada. O problema é que são raras as pessoas que já viram suas madeixas soltas, pois Abigail usa eternamente um despretensioso, porém, irretocável coque.
- E quando você ainda morava com seus pais lá no interior, eles também eram assim tão severos a respeito de namoros em casa?
- Digamos que, de certa forma, eram um pouco piores do que a gentil senhora libanesa. – Sorriu.
- Não queriam deixar a filhinha namorar nem fora de casa?
- Pelo contrário, insistiram em me arrumar um marido o quanto antes. Eles ainda são do tempo em que uma mulher deve estar casada antes dos dezoito e insistiram em me empurrar um colono “bom partido” que era nosso vizinho.
- Mas você não o achava tão bom partido assim. – Deduziu Cláudio.
Abigail levantou o olhar a um ponto qualquer no teto e lembrou da virgindade que lhe foi tirada de forma brusca e desajeitada na carroceria fria de uma velha pick-up F600, pelo namorado “bom partido” de unhas sujas e hálito de tabaco, e também do odor de esterco bovino que nunca o deixava, mas achou melhor privar o chefe de tais detalhes.
- Ele era um homem simples, trabalhador, mas eu nunca gostei da vida na roça. Namorei um pouco com ele para não contrariar meus pais, porém, quando surgiu a oportunidade de estudar e trabalhar aqui, eu a agarrei com unhas e dentes. Tenho saudades dos meus pais, mando dinheiro pra eles todos os meses, mas não quero voltar pra lá.
A vida secreta de Sabrina
- Sabe mãe, o Wellington é, tipo assim, muito gostoso. Mas tem um cara lá na agência que é muito mais! Nossa, saí com ele algumas vezes e, tipo assim, ele me deixa de pernas bambas sacou?
- Hum, estou vendo que há uma paixão aflorando nesse coraçãozinho, ou será impressão minha? – Perguntou Helena, enquanto lá fora Cláudio fazia o jipinho Mercedes cantar pneus rumo ao clube.
Sabrina corou e assentiu.
- E porque você não o convida pra jantar aqui em casa?
- Mamãe! Hello! Se o papai já fica furioso por me pegar com um carinha da minha idade o que ele diria então do Rodolfo?
- E qual é a idade desse Rodolfo? – Quis saber Helena subitamente alarmada.
- Uns vinte e seis. – Respondeu Sabrina roendo as unhas.
- Ah bom. – Helena relaxou. – Não é tão velho assim.
- Hello! Ele é apenas, tipo assim, uma década mais velho que eu!
- Mas se você gosta tanto dele filhinha! Garanto que seu pai aceitaria numa boa se você o apresentasse aqui em casa como namorado, pois vamos e venhamos; é muito melhor ter um namorado fixo, mesmo que bem mais velho, do que trazer um novo todos os dias.
- Está bem mãezinha. – Concordou Sabrina levantando e dando um selinho na boca de Helena. – Vou pensar na possibilidade. – Agora tenho de me arrumar para a baladinha de hoje à noite.
Enquanto Sabrina subia os degraus de dois em dois em direção ao quarto, Helena pensava em como se sentia orgulhosa da filha que despontava para o sucesso na carreira de modelo, tirava notas altas na faculdade e ainda encontrava tempo para as aulas de francês.
Tudo estava dando muito certo. E agora com um namorado fixo, as coisas ficariam ainda melhores.
O que ela ignorava, era o fato da filha satisfazer os mais bizarros fetiches sexuais dos donos de lojas, em troca do direito de desfilar e fotografar usando suas grifes, e de que, suas notas altas deviam-se às boquetes presenteadas aos professores dentro de seus carros, estacionados em terrenos baldios e escuros, nos arredores do campus.
Ah sim, as aulas de francês! Essas eram limitadas aos gemidos espasmódicos e fingidos que dava ao ser acariciada por seus velhos e obesos empregadores de pinto mole, em motéis de quinta categoria.
Helena não fazia idéia de que a tal baladinha a qual a filha se referia era na casa de campo do dono da grife “Bella Ragazza”, de sessenta e oito anos, e de que os demais convidados se resumiam a cinco ou seis clientes também nessa faixa etária, além de dez ou doze prostitutas, mais alguns travestis e, é claro, as outras treze modelos contratadas para os desfiles da linha outono/inverno da marca.
Sabrina chegava a se divertir muito nesse tipo de festa, pois na maioria das vezes, tudo o que tinha de fazer era ficar desfilando nua pela casa, servindo aos convidados o melhor champagne em taças de cristal e a pior cocaína batizada em bandejas de prata, de onde era aspirada por notas de cem dólares transformadas em tubinhos que sumiam aos poucos, mas eram sempre e prontamente substituídos.
Quanto ao sexo, na maioria das vezes, os vovôs depravados (como eram chamados pelas modelos) se contentavam em acariciar seus membros flácidos enquanto olhavam as prostitutas enfiarem todo o tipo de consolo no ânus e na vagina. Quem também suava em serviço eram os travecos, esses eram muito solicitados pelos chefões da moda, e não era para ficarem de quatro ou serem passivos.
Sabrina ficava impressionada com o fato de homens relativamente ricos, que poderiam ter qualquer mulher, se sujeitarem ao cúmulo de serem empalados por homossexuais magricelas e vulgares de beira de estrada.
O fato é que depois de uma vida abastada e desregrada o trivial não mais satisfaz a infinita e voraz sede que o ser humano tem de experimentar o novo, e então, o bizarro entra em cena para reavivar a libido e devolver a excitação que serve de combustível para essa classe de homens, escravos do corpo, seguidores da filosofia hedonista, viciados na vida e obcecados pelo sucesso a qualquer custo. Que desconhecem a paz espiritual e, apesar de jamais admitir, temem terrivelmente a solidão e a morte.
Mal sabem eles, que mesmo cercados de jovens corpos comprados, estão mais sozinhos do que qualquer ermitão touareg e mais mortos do que qualquer cão que apodrece violado por vermes à beira de uma free-way, semanas depois de ser atropelado.
Enquanto lambia e chupava o pênis relativamente grande, mas definitivamente fora de combate de um dos clientes de seu contratante, Sabrina traçava mentalmente os vários tipos de personalidades doentias que detinham o poder em inúmeros níveis da sociedade e em todos os setores do mundo moderno, desde senadores masoquistas que apresentam as costas marcadas por incessantes chicotadas, desferidas por prostitutas velhas e gordas; severos generais de brigada, que na intimidade, gostam de ser humilhados por garotos que urinam em seus rostos e defecam em suas bocas; ou padres, que usam o cilício como autoflagelação por seus atos pedófilos contra inocentes coroinhas atrás do sagrado altar; até o simplório dono da mercearia da esquina, que procura os serviços de uma meretriz enquanto a mulher está nas aulas de crochê.
Mas o que exigir de um mundo que cria animais como o dono da Penthouse, que teve a sorte de viver numa época em que as pessoas elegem como “macho alfa”, um homem que ganha o seu dinheiro vendendo a nudez feminina? Perguntava-se a jovem modelo.
Interrompendo seus devaneios, o dono do pau que estava em sua boca, mandou que ela ficasse de quatro no sofá e arrebitasse bem o bumbum, ela respondeu sorrindo que seu bumbum era o mais arrebitado que existia, mesmo assim, atendeu ao pedido do velho e deu a este uma das visões mais lindas que um homem pode ter, apesar disso, ele teve dificuldades em penetrá-la devido à ereção incompleta.
Quando ela já estava convencida de que aquilo seria o máximo que conseguiria dele, sentiu uma forte mudança no centro de gravidade do estofado, cujo couro afundava gradativamente, ao mesmo tempo em que o pau em sua boceta ficava subitamente duro e o velho começava a arremeter com força. Sabrina então levantou o olhar, procurando o espelho num canto da sala no qual pôde ver o que acontecia às suas costas; o velho em êxtase a penetrava vigorosamente enquanto era comido por um travesti superdotado que, pela expressão, deveria estar rasgando-lhe as pregas.
Helena, tão orgulhosa da filha, não sabia de nada disso. Nem imaginava que, assim como ela, que foi barrada no mundo da moda por causa de suas formas generosas, Sabrina também enfrentava obstáculos, pois apesar de possuir um corpo perfeito para o mercado, tinha de disputar suas vagas em desfiles e seções de fotos com outras centenas de modelos igualmente deslumbrantes.
E a jovem realmente não se importava em fazer tais esforços extras. Desde que fosse para orgulhar sua querida mãe.
CONTINUA...