Helena e Rodolfo, o início
Uma ou duas vezes por semana, durante a hora do almoço, Helena ligava para o celular da filha e a convidava para um “programa de mulheres”, que geralmente terminava com um passeio no shopping e um porta-malas abarrotado de sacolas.
Naquele dia, porém, a mensagem que ela ouvia quando ligava para Sabrina insistia em dizer que o telefone estava fora da área de cobertura das antenas ou desligado.
- Deve ser alguma pane na operadora. – Disse um colega de trabalho, ao ouvi-la reclamar da falta de contato com a filha.
- Provavelmente, pois a Sabrina nunca desliga o celular. Tanto que, por onde quer que ande, sempre carrega consigo uma bateria sobressalente.
- Porque você não tenta o telefone da agência? – Continuou o solícito colega.
- Claro, farei isso agora mesmo! – Concordou Helena, colocando a mão sobre o aparelho em sua mesa e livrando-se finalmente do rapaz que, supunha ela, tentava ajudar apenas para ter uma visão privilegiada de seu colo parcialmente exposto pelo generoso decote do vestido.
Porém, Helena não faria mais nenhuma ligação, pois confiava e dependia tanto da telefonia móvel, que nunca se dera ao trabalho de anotar o telefone fixo da agência onde sua própria filha trabalhava desde os doze anos. E tudo o que menos desejava naquela hora era revirar as páginas de uma lista telefônica.
Pensado nisso, percebeu de repente que, em todos esses anos, apesar de sempre acompanhá-la em todos os seus desfiles e também em algumas seções de fotos em locações fora da cidade, nunca estivera realmente dentro da tal agência. Já vira a sua fachada inúmeras vezes quando buscava ou levava a filha até lá, mas nunca chegou a passar pela porta.
Em vista disso, decidiu-se finalmente por fazer uma visita surpresa para Sabrina e aproveitar para conhecer a sede de seu trabalho. Desligou então o computador, pegou sua bolsa e as chaves do carro, deixando rapidamente o setor em o seu típico caminhar rebolado e tendo a certeza de que, em sua esteira de sensualidade, os homens dali a seguiriam com um olhar desejoso até onde a vista alcançasse.
- Quem será que é o Ricardão da vez? – Perguntou o jovem que a pouco tentara entabular um diálogo com ela, a outro colega.
Quinze minutos depois, ela parava seu veículo numa rua bastante tranqüila, apesar da proximidade do centro da cidade; já estivera ali outras vezes, mas esta seria a primeira em que seus cabelos longos e ondulados cruzariam aqueles minúsculos, porém, bem cuidados canteiros repletos de flores da estação.
Pouco antes de chegar à porta de vidro, ela tirou os grandes óculos escuros com um movimento plástico e coreografado, passando o arco por cima dos cabelos sedosos com o intuito de realocar qualquer fio que porventura, acarretasse alguma imperfeição ao encantador penteado.
Ao lado da entrada, chumbada na parede de tijolos à vista, uma pesada placa de aço inoxidável trazia a inscrição “HAYDEE MODELS” gravada em um discreto baixo relevo.
Helena lembrou com repulsa da esposa do dono da agência, cujo nome servira de inspiração ao batismo da mesma algumas décadas antes.
A magérrima senhora Haydee, outrora vivaz e requisitada modelo de sucesso, e também famosa atriz de cinema, não suportou o impiedoso e natural envelhecimento humano, empenhando boa parte da fortuna do abastado marido em sucessivas cirurgias plásticas que acabaram deformando sua face e consumindo-lhe a alma.
Hoje ela repousa, demente e alheia ao mundo, em uma instituição particular, enquanto o marido, apesar da idade também avançada, conserva todas as suas faculdades mentais (e Helena desconfiava de algumas das físicas também. Com o devido auxílio farmacológico, é claro!), cercado por centenas de jovens e belas modelos que seguem carreira sob sua talentosa batuta.
Já no hall de entrada, Helena viu, sentada atrás de uma imponente escrivaninha vitoriana, uma recepcionista anoréxica que a cumprimentava com um sorriso mecânico e impecável.
- Pois não senhora, em que posso lhe ser útil?
Helena se apresentou e descobriu que a filha estava almoçando com mais alguns modelos e fotógrafos em casa de um importante empresário da indústria têxtil.
- Tudo bem. – Disse Helena. – Se não for se incomodar, vou esperar por ela aqui mesmo.
- Lamento profundamente senhora, mas tenho de fechar tudo por aqui, pois também vou almoçar. – Desculpou-se a esquelética e sorridente recepcionista. – Aliás, eu estava mesmo de saída quando a senhora entrou.
Helena acatou olhando-a com desdém de cima a baixo e, recolocando os óculos Armani, tentou imaginar maldosamente qual seria o “menu” diário daquela secretariazinha. – Provavelmente dois “Tic-Tacs” e meia latinha de “Coca-cola”. – Divagou com um sorriso irônico se insinuando pelas laterais de seus lábios carnudos, formando encantadoras covinhas nas bochechas.
Quando se preparava para dar meia volta, ouviu uma voz de homem às suas costas:
- Pode deixar Gabrielle, eu costumo almoçar bem mais tarde e até lá posso ficar aqui, fazendo companhia à senhora...?
Quando Helena se virou, tirando novamente os óculos, deparou-se com um atraente jovem num traje informal, porém bastante apresentável.
- Helena. – Disse, apertando a mão que ele lhe estendia.
Era uma mão grande, como uma raquete de “squash”, e seu aperto firme, transmitia uma calorosa receptividade, assim como o sorriso. Seus olhos, porém, eram olhos de predador; atentos, confiantes e frios. Um olhar penetrante e subjugador, que fez com que ela própria desviasse o seu foco, proeza que poucos homens conseguiram fazer, sendo que nenhum, sem o uso da violência.
- Muito prazer senhora Helena. – Sua voz era grave e melodiosa, voz de homem maduro, mas ele deveria ter no máximo vinte e cinco anos, especulou ela. – Meu nome é Rodolfo.
- Por favor, apenas “Helena”. – Ela voltou a encará-lo. – Por hoje basta de ser chamada de senhora. – Disse dando um leve meneio de cabeça em direção à mesa, onde o sorriso já não era mais tão primoroso e a atitude bem menos mecânica, pois os olhos da recepcionista brilhavam ante a visão de Rodolfo.
Helena poderia jurar que a pobre gazela já fora pelo menos uma vez, a refeição do tigre a sua frente.
- Como quiser, “Helena”. – Ele tinha um meio sorriso safado que remetia a alguém do passado.
A desnutrida Gabrielle, ainda trocou algumas informações profissionais com Rodolfo enquanto ria tolamente e ajeitava sem parar o cabelo escorrido. Quando esta finalmente saiu, ele fechou a porta por dentro e virou-se para Helena dizendo:
- Então quer dizer que você é mãe de uma das minhas colegas de trabalho.
- Se você também é modelo daqui, a afirmação está correta.
Rodolfo fitava apenas os olhos de Helena, minando-os de um jeito que a deixava nervosa. E mesmo com o, nada fraco, apelo visual de seu decote, o jovem não dava mostras de ceder à vontade que impelia seu olhar um pouco mais para baixo.
- Tive sorte, fiz algumas fotos boas para certas campanhas.
- Um modelo humilde! – Helena tentou um sorriso malicioso que não surtiu o efeito esperado. – Produto raro na indústria da moda, e falo com conhecimento de causa.
Ela sabia que não estava diante de um dos perdedores que geralmente a cercavam. Teria de tomar muito cuidado com este rapaz, pois mesmo sem ter lançado mão de nenhuma artimanha masculina padrão de conquista, ela se sentia sexualmente mais desnuda do que nunca.
- Falando nisso... temos três ou quatro Sabrinas na agência. Qual delas é sua filha?
- A alta, linda e magra. – Ela tentava recuperar a segurança.
- Bingo! – Ele acusou o contragolpe, mas ainda levava vantagem.
Também não a conformava o fato de não conseguir tirar os olhos de seus músculos bem formados. Tinha a certeza de que ele não era um desses ratos vigoréxicos de academia, que acabam se transformando numa espécie de rãs gigantes, tão musculosos e travados que não conseguem nem coçar a própria testa sem rugir com o esforço, mas, levando-se em conta a grossura de seus braços, ele provavelmente era capaz de levantar várias daquelas anilhas grandes.
- Quando ela chegar, eu os apresento formalmente.
- Pelo menos já sei que é encantadora. Aliás, com uma mãe como você, a filha só poderia ser modelo. – Ele finalmente olhou para os seus seios.
Helena ganhou terreno rápido e agora controlava a situação.
- Obrigada, você é muito gentil. – Ela ergueu o queixo e caminhou em direção a parede lateral, em direção a um enorme retrato em preto e branco.
- Esta é a senhora Haydee, aos vinte e dois anos. – Rodolfo finalmente sucumbia aos encantos de Helena.
- Vim aqui com o intuito de conhecer a agência, além de ver minha filha é claro. – Disse ela séria. – Será que você pode me mostrar o estúdio?
- Lógico! Tenha a bondade de me acompanhar. – Rodolfo a guiou por um corredor à esquerda. – Na verdade temos vários estúdios.
- Originalmente isso aqui era uma casa, certo?
- Sim, mas foi totalmente readaptada e o resultado ficou melhor do que se tivessem planejado uma agência.
Passaram por uma ampla sala de estar com sofás e pufes por todos os lados; no centro, havia uma mesinha com tampo de vidro, repleta de revistas, incluindo exemplares da Vogue, Cosmo e mais alguns periódicos da “Haute-couture”. Nas paredes, mais retratos bem produzidos de diversas modelos que já passaram pela Haydee Models.
- E aqui temos um dos estúdios. – Rodolfo, a esperava em outra porta. – São quatro no total, cada um com seus próprios camarins, refletores e demais equipamentos.
- Bonito. – Helena estava realmente encantada.
Durante os trinta minutos seguintes, Rodolfo mostrou cada centímetro quadrado da “casa” e, enquanto Helena absorvia tudo com extremo interesse, ele aproveitava para admirar, hora os seios fartos por dentro do seu decote, hora suas nádegas em majestosos movimentos por debaixo do levíssimo vestido branco com discretas flores em vários tons de lilás.
- Apresento-lhe Sabrina, minha filha. – Helena apontou orgulhosa o retrato da filha pendurado na parede do último dos camarins.
- Como eu disse... linda tal como a mãe.
- Não chego nem aos pés dela. – Helena passava a mão por sobre o quadro. – Ela realizou muito daquilo que eu sempre quis e não consegui.
- São duas belezas diferentes e incomparáveis. – Rodolfo estava perigosamente próximo e Helena sentia-lhe o hálito em sua nuca.
- Como assim? – Helena continuava propositadamente de costas ao seu interlocutor.
- Sabrina é dona de uma beleza comercial, socialmente aceitável e erroneamente retratada como beleza padrão, mas você é o tipo da mulher que mexe com os homens de verdade, não essas bichas que desenham roupas. Você espalha a semente do pecado por onde quer que ande; é o tipo de mulher que todo homem deseja; “você” é o tipo de mulher que só não é modelo porque as grifes não apareceriam em seu corpo; ninguém notaria as cores da estação ou perceberia a diferença entre um Versace ou um Saint Laurent, pois quando mulheres como você desfilam por aí e dentro de nossas cabeças, tudo o que se vê é sexo. Um conjunto perfeito de peitos e bunda. Ninguém mais consegue pensar em moda, tudo se resume apenas a prazer e devassidão. Imaginam você de quatro ou com um pau na boca. Tentam especular se você geme ou grita na hora “H” e sonham em um dia, poder chegar perto o suficiente para sentir o cheiro do seu corpo e do seu cabelo.
Helena se apoiava com as duas mãos na parede, pois sentira as pernas fraquejarem com a voz rouca de Rodolfo cada vez mais próxima.
- E o que você prefere? – Perguntou. – Vitrine ou pecado?
- O que você acha? – Ele chegou tão perto que seus lábios tocaram de leve a orelha dela.
Por cima do ombro de Helena, ele pôde vislumbrar o grande vale entre os seus belos melões, mas conteve o ímpeto de tocá-los abraçando-a por trás. Deu apenas beijinhos carinhosos no seu ombro parcialmente nu, entre uma das alçinhas do vestido e a orelha que a pouco roçara com a boca.
Suas mãos grandes a tocaram gentilmente na cintura fina e desceram pelas laterais do corpo, descrevendo longas e sinuosas curvas até os limites de sua vestimenta, e quando tocaram a parte nua das pernas, Helena tremeu ligeiramente e soltou um suspiro.
Rodolfo subiu delicadamente pelas coxas grossas e, levantando o vestido até a cintura, passou a acariciar cada uma das grandes nádegas de Helena. Curvou um pouco o corpo para trás, no intento de apreciar aquela obra prima em sua plenitude.
Helena usava uma calçinha pequena, mas não vulgar, e sua cor branca realçava ainda mais o pecado latente daquela pele cor de jambo.
Seus saltos altos e a posição em que se encontrava, empinavam o bundão na direção de Rodolfo que, depois de tantas carícias, virou-a bruscamente de frente para ele e a encostou na parede.
Os dois estavam ofegantes e, por breves momentos, ficaram com as bocas tão próximas que seus hálitos se misturavam, Rodolfo então se abaixou na frente da trêmula morena, que sequer sentiu sua calçinha cair até os calcanhares.
O jovem modelo então se ajoelhou, tomou no ombro esquerdo a perna direita de Helena e assim, abriu caminho com sua língua ávida ao pequeno e aparado tufo de pêlos, de onde se projetavam os lábios molhados que exploraria com intensa aplicação.
Helena apoiou boa parte do peso de seu corpo em Rodolfo, pois sentia sua perna de apoio desfalecer com as chupadas longas e profundas em sua vulva.
Com as costas coladas e o quadril afastado da parede, ela praticamente se sentava no rosto do jovem, abrindo-se completamente a ele. Às vezes, porém, apertava-lhe a cabeça por entre suas coxas, devido aos espasmos e tremores que percorriam involuntariamente todo o seu corpo.
Rodolfo aproveitava a posição para dar lambidas mais abrangentes, que começavam nas pregas do ânus, passando com suaves movimentos laterais pelo períneo, afundando em seguida entre os pequenos lábios encharcados e terminando com uma chupada vigorosa e estalada no clitóris.
Helena gemia mordendo o lábio inferior, sentindo cada terminação nervosa de seu corpo ser estimulada pelo orgasmo que em breve irromperia por suas entranhas.
Os músculos de seu abdômen se contraiam e relaxavam num ritmo cada vez mais intenso, até que seu corpo finalmente formou um arco suspenso no ar, apenas com sua cabeça apoiada na parede e a boceta sobre a boca de Rodolfo que, com os braços agora envolvendo-lhe as coxas, tirou-lhe os pés do chão. Ela foi involuntariamente sacudida pelo gozo esguichado que escorria pelo queixo do jovem e habilidoso amante, que lhe acariciava desvairadamente por dentro com sua língua divina.
Quando Rodolfo novamente ficou de pé na frente dela, Helena o beijou avidamente sentindo na boca dele o gosto de sua própria luxúria.
- Quero que você me possua agora! – Ela ordenou tentando abrir a fivela do cinto dele. – Aqui mesmo!
- Hoje não! – Ele reagiu categórico, segurando as mãos dela.
- Quero sentir você dentro de mim. – Ela implorava sussurrando.
- Hoje não! – Rodolfo repetiu ainda mais veemente, afastando-se até um balcão de maquiagem e retirando de uma das gavetas um cartão da agência no qual rabiscou um número de telefone, estendendo-o em seguida a ela. – Me ligue noutro dia, nesse celular.
- Você só pode estar de brincadeira. – Helena estava indignada.
- É que tenho uma seção de fotos logo mais e ainda tenho de preparar algumas coisas.
- Quem você pensa que é pra fazer isso comigo? – Ela estava quase gritando.
- Calma gata, me ligue outro dia e marcaremos algo.
Helena decidiu que, daquele dia em diante, confiaria mais nos seus instintos à primeira vista. Ela lamentava profundamente a peça que lhe foi pregada por sua própria autoconfiança. Achou que estava se divertindo, mas serviu apenas como joguete sexual nas mãos daquele modelete narcisista que deveria ter aos pés, sempre que quisesse, qualquer um daqueles belos rostos, cujos quadros enfeitavam as paredes de cada um dos cômodos da casa adaptada.
- É que sigo uma dieta rigorosa para manter a forma. – Ele explicava enquanto ela recolhia a bolsa e a calçinha. – E não posso perder muitas calorias antes das fotos, pois as lentes não perdoam, acredite!
Helena o olhou de soslaio enquanto se dirigia a porta, e viu que apesar do esforço de se mostrar abatido por não ver acatadas as suas desculpas esfarrapadas, ele ainda mostrava o seu irônico meio sorriso.
- Eu sabia que você era um desgraçado idiota assim que o vi! – Seus olhos faiscavam de raiva.
- Me ligue amanhã, vamos almoçar! – Ele ainda chamou sorrindo enquanto ela batia a porta da frente.
Quando ela arrancou, cantando pneus e esmurrando o volante, decidiu que nunca mais voltaria à agência para não correr o risco de ver de novo aquele maldito. Nunca se sentira tão rejeitada. E a filha que andasse de táxi ou que conseguisse o seu próprio carro do pai.
- Maldito pivete! – Ela disse a si mesma. – E ainda acha que vou querer vê-lo de novo!
No início da tarde seguinte, ela ingeriu quatrocentas e poucas calorias num almoço de gosto sintético do motel mais caro da cidade, mas queimou, com certeza, outras milhares, ao servir como sobremesa para Rodolfo, que a fodeu demoradamente na enorme Jacuzzi borbulhante da faraônica suíte.
CONTINUA...