Grana, com a boca, e amor (I)

Um conto erótico de sophia
Categoria: Heterossexual
Contém 4343 palavras
Data: 15/10/2010 07:46:25
Assuntos: Heterossexual

Não fosse acompanhada daquele olhar tão sincero, quase de incredulidade, seria apenas mais uma frase, dessas gratuitas, que alguns homens se dão ao trabalho de dizer depois de gozar na boca da gente. Mas ele foi verdadeiro, tão verdadeiro, que me senti orgulhosa.

“Garota, você nasceu mesmo para chupar, Deus que me perdoe...”

Agradeci, sem entender direito o que tinha Deus a ver com aquela história.

Tinha que acabar meu serviço.

Olhei para o membro ainda rijo e expelindo o finalzinho do gozo, o que me causou um frêmito de prazer. Firme, mas com delicadeza, o espremi da base até a cabeça e fui sugando o restinho. Repeti a operação. Não saiu mais nada. Para finalizar, tornei a chupá-lo energicamente até que ele, em agonia, me repelisse.

Num ato reflexo, ainda ofegando, pegou a caixa de lenços sobre o painel e me entregou. Não precisava. Eu não tinha perdido uma gota, mas peguei uma folha e passei nos lábios.

Nada mais a fazer.

Ajeitei a blusa, porque estava ainda com os peitos de fora, peguei minha mochila no chão do carro, abri a porta e saí.

Não vou dizer que não estava nervosa. Era minha primeira vez sozinha, sem o apoio da minha amiga. Meus nervos tropeçavam ora no tesão, ora na vergonha, no medo. Para minha surpresa, o peso da culpa não era tão esmagador como nas duas primeiras vezes, com aquele mesmo cliente. O primeiro, até então.

Uma iniciação à vida de puta, admito, mais fácil do que eu imaginava.

E a frase ecoando na minha cabeça.

Enfim, seu servia realmente para alguma coisa, porque minha mãe sempre dissera que eu não servia para nada, senão para torná-la infeliz. Me odiava porque depois que embuchara de mim, o grande amor da sua vida, meu pai, a abandonara. Ela tinha que arrumar uma culpada.

Ei, o dinheiro, menina!

Já ia me esquecendo, obrigada. Contei. Tem a mais, moço.

Deixa, menina, você merece.

Não era para ficar orgulhosa?

Ele era boa gente. Seguia as regras. Não tentava forçar nada. Só passava um pouquinho a mão nos meus peitos, o que era gostoso. Logo botava o membro para fora e, com delicadeza, mandava eu chupar. O que eu também gostava. Nada de beijo ou de passar a mão em outros lugares. Só nos peitos e, claro, foder a minha boca até gozar.

Satisfeita, enfiei as notas no bolso da calça.

Ele foi viver a vida dele, e eu, excitada, ao mercado para comprar comida. Em casa não tinha quase nada.

Desconfiada, e já fedendo a cachaça, minha mãe quis saber onde eu andava arranjando “tanto” dinheiro. Faxina, mãe, ou baby-siter, já falei. Saio do colégio e vou trabalhar, enquanto a senhora se enche de cachaça. Ela me olhava com ódio. Mas a comida farta falava mais alto. Dei um pacote de biscoito para minha irmã pequena, a única coisa legal que eu tinha na vida. Sem contar, agora, a certeza de que eu servia para alguma coisa.

Chupar.

No banho, me masturbei. Era o único jeito de acalmar os nervos, bombardeados por emoções e sentimentos extremos, e fui encontrar minha “cafetina” para cumprir meu dever: dar-lhe uma parte do que eu havia ganhado, embora soubesse que ela não iria aceitar.

E não quis. Fiz questão. Não aceitou. Éramos amigas, crescêramos juntas. Embora fosse mais nova que eu, era esperta e mais vivida. Tivera uma vida pior que a minha. Aprendeu a lutar contra a maré. Aos treze, corpo de mulher, já tinha trepado mais que muita adulta. Bonita e obstinada. O português da mercearia, doido por ela, foi seu primeiro cliente. De quatro, o “seumanel” ofereceu-lhe o céu e a terra. Ela não quis. Tinha nojo dele. Nojo físico. Dizia que transar com ele era pior que a morte. Mas queria dinheiro. Mudar de vida. Livrar-se do irmão viciado. Acabou cedendo ao portuga, que alugou uma das suas quitinetes para ela, pela quarta parte do preço. Aluguel que ela fazia questão de pagar. De lambuja, afirmando que era só por empréstimo, o velho arranjou geladeira, fogão, cama, guarda-roupa, televisão e até ventilador. Tudo usado, mas funcionando. Aos quinze, sem pai nem mãe, e livre do irmão, era dona de si mesma.

E puta.

E aê, foi difícil ir sozinha? Não, até que não. O cara tá te curtindo horrores, disse que você nasceu prá chupar. Pelo menos sirvo pra alguma coisa, né? Também gosto dele, desde a primeira vez. É educado, não força a barra. Num te falei? Pena que ele cansou de mim, senão eu num te dava ele, não, mana. Eles se empolgam no início, depois enjoam. Eu sei. Sabe, nada, cê tá começando a aprender agora. E começou dando sorte. E acho que, de você, ele não vai cansar tão cedo. Disse que nunca viu uma menina chupar com tanta vontade nem tão gostoso.

Ele disse isso, assim?

Tu sabe que num sô de jogar conversa fora.

E não era mesmo. Era a pessoa mais confiável que eu conhecia.

E sabia de todos os meus podres. Dei com quatorze. Querendo. Porque quis dar, virar mulher e parar de ficar no vácuo, só chupando ou deixando botar nas coxas. Não foi bom nem ruim. Achava que gostava do menino, e dei. E não gozei. Com ele dentro, não. Só gozava, às vezes, quando o chupava e eu mesma me masturbava. Acho que foi por isso que eu passei a gostar de chupar. E com os outros foi assim também. Uma ironia doida: só eu me fazia gozar.

Foi e não foi difícil ela me convencer.

Minha mãe afogando-se na bebida, falta de dinheiro, de comida decente, de roupa, de tudo. E minha irmã.

Sem rodeios, direta: Tá na hora de tu começar a se virar, mana. Ficar se gastando com esses manés daqui, logo tu, bonita desse jeito, e de graça, é babaquice. Tu tem é que arrumar um cara pra te bancar. Mas a sorte tem um preço. Tem que tentar.. Tu num vê eu? Tô na vida porque quis. E tô me dando bem. Né fácil, não, é foda... Mas tô livre do desgraçado do meu irmão. Tenho meu canto, minhas coisas, meu dinheiro. E você? Vai ficar ainda nas mãos da cachorra da tua mãe? Vai esperar acabar os estudos? Não, isso tu tem mermo que acabar, dô a maior força e, te digo, tenho até inveja de você. Mas vai demorar pra caralho. Manda tudo pro inferno, mana.Se quiser vem morar aqui comigo.

Ela tinha razão. E não tinha. Minha mãe era uma desgraça, nossa vida estava cada vez pior, mas eu tinha minha irmãzinha. Jamais teria coragem de sair de casa. E também não tinha planos de me prostituir.

Tá, mas você num precisa sair casa. E o dinheiro, como eu vô explicar? Inventa umas faxinas, uns trabalho de babá, essas coisas. Tu acha que a cachaceira da tua mãe vai querer saber onde é? Vai querer saber é do dinheiro, da comida. Até vai perguntar, mas tu quebra logo a moral dela. Diz que ela não faz nada, só bebe cachaça o dia inteiro, enquanto você trabalha em casa de família e traz comida pra casa.

Porra, a gente é amiga. Num vô te botar em furada. Só filé. Tem homem que só quer uma brincadeirinha, às vezes nem mete. Tá cheio deles por aí com a grana sobrando no bolso, tudo doido por uma chupadinha rápida. E essa é a tua praia, mana.

Ela sabia.

E tinha mesmo razão.

E me arranjou o primeiro cliente, o mesmo do início deste relato.

A primeira vez foi horrível.

Ela foi comigo.

Entrou na parte detrás da caminhonete e eu na frente. Nem olhei direito pro homem, morta de vergonha. Ele nem me tocou. Botou o membro duro para fora e sacudiu. Prendi a respiração e caí de boca. Não deu tempo nem sentir o cheiro, ele gozou rapidinho. E engoli tudo e pronto. Ele me deu o lenço, limpei os lábios. Depois, o dinheiro, e saímos do carro.

Tchau!

Até gostei, porque adoro chupar, sinto muito tesão, mas minha alma tava tão pesada que me vi à beira do choro. O bom da história é que o dinheiro deu pra uma semana de comida farta, com direito a chocolate para minha irmãzinha. E ela não quis nenhum tostão.

Depois que tu tiver mais aliviada, tu me dá um qualquer.

Minha amiga sempre falava na sorte. Confiava na sorte. Eu, não, embora devesse acreditar. Não queria ser puta. Estava estudando. Sonhava ser “alguém”. Cuidar bem da minha irmã. Ter uma vida normal. Quis o destino - ou a sorte? - que alguém arrumasse uma bolsa numa escola bacana, particular. Deus sabe o quanto eu invejava meus colegas. Todo mundo com a vida legal. Muitos iam e vinham de carro. Tinham a cara da felicidade. E me excluíam. Alguns, ostensivamente. Eu era a favelada. Doía. Mas dava um chute no balde e me blindava da forma mais sublime: era boa aluna, tirava boas notas. Não era a melhor da turma. Mas estava sempre entre os primeiros. Muitos não suportavam isto.

Porém, terminar os estudos, conseguir um emprego e ganhar dinheiro era algo que parecia estar mesmo a séculos de distância. E minha mãe gastava a maior parte da sua aposentadoria precoce e miserável com a bebida e se contentava com a cesta básica vinda da associação de moradores. Eu queria mais que o feijão com arroz e ovo, quando tinha. E minha irmãzinha merecia mais; um iogurte, um queijinho, carne, um biscoito bom, leite todo dia, essas coisas que parecem luxo, mas são essenciais.

Na segunda vez, ela também me acompanhou. Não foi muito diferente. Fiquei com a alma pesada, mas não tive vontade de chorar.

Era a vida.

Cheguei em casa cheia de bolsas com comida.

Uns dias depois, minha mãe: Aquela vagabunda do português da mercearia quer falar contigo! Vê lá o que tu arranjando com essa puta! Num vai me arrumar barriga nem neto, sua maldita!

Mamãe era assim, um amor de mãe.

Ele quer de novo. Tá de queixo caído contigo. Amanhã. Vê se aproveita pra tirar mais dele, que ele solta. Tem grana e é gastador. Aproveita, mana, aproveita. Pode cobrar mais. Aliás, eu disse que você ia cobrar mais e ele nem chiou.

E tu vai de novo sozinha, mana.

Já fui uma vez, vou outra.

Entrei no carro já largando a mochila no chão.

Ele me olhou durante um tempo, sem que eu pudesse definir o que estava pensando.

Senti vergonha.

Tudo bem? Tudo. Nossa amiga disse que você está pedindo mais, né. Não, não é bem assim...

Não é bem assim, como?

Comecei a intuir um desastre. Eu não estava preparada para conversar. Sentia vergonha. O combinado, dessa vez, era entrar no carro, ele acariciar meus peitos e eu chupá-lo até que gozasse, me pagar e eu me mandar. Sem conversas. Mas ele insistiu.

E confusão tomou conta da minha cabeça porque me ocorreu que seria ótimo ele me dispensar ou eu simplesmente sair do carro e largar aquela vida de puta para sempre. Mas se fizesse isso, e o dinheiro? E as compras para casa? E, pior e mais vergonhoso, não ia fazer aquela sacanagem gostosa...

Diante da minha mudez, insistiu.

Não é bem assim, como?

Fui sincera.

Ela me disse ontem que o senhor tinha gostado muito de mim e que eu podia pedir mais por causa disso, mas eu nem tinha pensado nisso. Se o senhor não quiser pagar mais tudo bem, é que preciso muito do dinheiro para...

Não, não quero saber o que você faz do dinheiro. Vamos esquecer esse assunto, tá bom?

Sim, senhor.

Que bom, disse, abrindo um sorriso. Mostra esses peitinhos para mim, ela disse que são perfeitos, mostra.

Levantei a camiseta.

Ele, já segurando o membro, chegou a suspirar.

Me tocou.

Fragilizada pela tensão daquela conversa, mas aliviada, não consegui disfarçar meu prazer. Fechei os olhos.

E veio a pergunta que ele não deveria fazer.

Você gosta?

Respondo ou não respondo? Melhor ficar calada.

Tornou a perguntar, dando um aperto delicioso no meu mamilo. Cheguei a esvaziar os pulmões de tesão.

Gosto, sim, senhor.

Assim ou mais forte?

Tava perdida.

Aperta mais um pouquinho...

Vem, me chupa, bandida.

E novamente, após o gozo, ele disse que eu nascera para chupar.

Acreditei.

E cometi um erro de avaliação.

No encontro seguinte, fui mais excitada que o normal. Mais segura, sem sombras cinzentas na consciência. Quase, eu diria, feliz. Era bom sentir prazer e ainda ganhar dinheiro. Muito mais fácil do que eu imaginava.

Ilusão de principiante.

Tudo bem com você?

Tudo bem, respondi, retribuindo o sorriso.

E esses peitinhos lindos?

Levantei a blusa.

Ele riu. Você está bem humorada. Acho que sim. Gosto disso. Eu também.

E mostrei os peitos com vontade de mostrar. Com tesão.

Me tocou tão gostoso que gemi.

Tá gostoso?

Tá.

Muito?

Muito.

Se toca para eu ver?

Abri os olhos. Hein?

Se toca para eu ver.

Me deu um nó no pensamento.

Se toca para mim, vai. Abre a calça e se toca. Eu toco, assim, nos teus peitinhos e você na sua bucetinha...

Não, acho que não, moço....respondi em meio a um faço-não-faço-faço-não-faço

Você não está gostando?

Tô, mas é que...

Ele sorriu.

E eu abri as calças e meti a mão em mim.

E ele botou o membro para fora.

Moço, não devia fazer isso, não foi o combinado.

Pode, sim, claro que pode. Já tá fazendo.

É, mas só dessa vez, só dessa vez.

O aperto mais forte no mamilo veio com a pergunta.

Tá molhadinha?

Tô, moço e se o senhor apertar assim desse jeito vou ficar mais ainda.

Ô dor desgraçada de gostosa, pensei, já perdida de prazer.

E minha outra mão correu para o meio das pernas dele. Segurei. E a boca, salivando, começou a pedir. O doce desespero de tentar coordenar meus movimentos me deixou mais entesada. Inclinei-me, sem tirar a mão do meio das minhas pernas, e quase me desequilibrei. E o silêncio dele me causando mais vergonha, porque eu imaginava que estivesse me olhando, e fazer tudo de olhos fechados não é ruim, e só abri os olhos quando o membro dele tocou nos meus lábios, e eu ainda fiz o que jamais pensei ter forças para fazer, pincelei-o nos meus lábios durante um bom tempo, deixando meus pensamentos irem além dos limites, porque sou uma puta, e porque não deveria ser, porque eu não quero ser puta, mas sou, mas é bom fazer essas coisas, sentir esse tesão todo, porque eu não sou puta, não, não sou, sou sim, porque só as putas fazem isso, mas eu já fiz e não era puta, mas gostoso assim, nunca tinha feito, não.

E a vontade de chupar ou de que ele fodesse a minha boca, o que parece a mesma coisa mas não é, tornou-se tão insuportável que meteu uma vírgula nos meus pensamentos levando-me a outros, porque pau na boca é uma delícia e eu adoro fazer isso, foder com ela, porque nasci para isso, para chupar, puta ou não, mas como puta é melhor, porque ainda ganho dinheiro, e ele gosta de mim, eu sinto que ele gosta e se ele quiser meter em mim eu vou deixar, não, acho que vou pedir, eu quero foder direito, meter, e me dei conta que há muito não trepava, que nunca tinha gozado com um pau dentro de mim, mas aquele ia me fazer gozar, e muito, e chupei com mais vontade, e comecei a sentir o gosto do esperma, e apareceram outras vírgulas no meu pensar, em forma de vergonhosos gemidos.

Ouvir meus gemidos causou-me estranhamento. Bom, excitante. Na maioria das vezes, só gozava me masturbando sob o chuveiro, e reprimindo meus gemidos para minha mãe não escutar, e só podia ser no banheiro, porque dormíamos as três no mesmo cômodo, e eu não queria pensar nelas, e elas sumiram de vista, e deixei que a consciência, quebrada pela força do tesão, deixasse eu dizer para mim mesma que eu adoro isso, esse cheiro, esse gosto, essa gosma, o pau na boca, porque eu nasci para isso, para chupar e engolir, e meus dedos cada vez mais furiosos e mais melados, e os gemidos dele chamaram os meus gemidos, porque cada golada de leite aumentava a pressão do meu gozo, que eu tentava segurar, até que não restasse um tiquinho de esperma para engolir, porque esta era a minha deliciosa obrigação, mas meu esforço foi em vão, porque meu gozo brotou com a força de um quebra ossos, e foi tão violento que tive a impressão mesma de que eles se partiam, se estivessem partindo, e que estava morrendo afogada, porque não conseguia respirar direito, e deveria deixar o membro sair da minha boca, mas eu não queria, e não deixei, até que o meu derradeiro espasmo desse lugar à prostração, e isto são conjecturas, claro, porque nunca se sabe exatamente o que se pensa na hora do gozo.

Só depois.

Deixei-me, desabada, ofegante, com o rosto no colo dele.

Uma experiência nova.

Confortadora.

Nunca tinha deitado a cabeça no colo de homem nenhum. Nem recebido os carinhos que ele começou a me fazer nos cabelos. Agora já não eram vírgulas que começavam a pulular nos meus pensamentos, mas pausadíssimas reticências, como aquele saborosa sensação de proteção. Como se ele não fosse um cliente e eu uma puta. Nem mesmo o pau dele, já mole, pressionado pelo meu rosto, tinha importância. Naqueles instantes reticentes, em que a realidade dá lugar ao sonho, o mundo nunca me pareceu tão perfeito; a vida, maravilhosa, sem problemas. Tudo era paz e proteção.

Entretanto, aqui falo da minha vida de puta, e fazer esse tipo de ilações recheadas de pieguice é meio idiota.

À realidade, pois.

Numa livraria, procure livros sobre paz. São raros. Sobre guerras, centenas de títulos.

A vida real é feita de guerras e a paz, claro, para ser quebrada, ainda mais de putinhas iniciantes.

Guerras lembram armas, como a lança sob a minha bochecha dando sinal de vida, querendo outra batalha. Ele pousou a mão no meu seio com certa timidez.. Talvez pensasse que eu estivesse dormindo. Não era uma má-idéia dormir ali, daquele jeito, naquele estado, usando o pênis como travesseiro.

Imaginei que seria o melhor sono do mundo me levando para o melhor dos sonhos.

E sonhos, meio pesadelos, podem ser vividos fora do sono, porque eu estava acordada. E não era uma guerra que se prenunciava nem aquilo, já duro, pressionando minha bochecha uma arma nem travesseiro, mas apenas um instrumento de prazer, e prazer e sonho se confundem, como confusa estou com tais comparações meio sem sentido, e se ainda havia algum sentido naquilo que acontecia era o de que eu já tinha cumprido com a minha obrigação, com a minha tarefa, e era o que bastava, e eu deveria me recompor e me limpar, e receber meu dinheiro, mas desta vez eu não fora profissional e nem estava preocupada com o que iria receber, se mais ou se menos, e não me importava, mas imaginei que meu gozo, que não estava no programa, haveria de ter algum valor, e quando nisto pensei, percebi que estava sendo integralmente puta, coisa que eu não pensei quando gozei, mas tais pensamentos, me parece, eram fruto da minha fraqueza momentânea, do meu cansaço, da minha imaginação, e o rumo esta prosa começa a esbarrar novamente em ilações estúpidas e desnecessárias, porque a coisa dura já lateja, e a mão dele no meu seio já não está nada tímida e basta virar-me um pouquinho para tornar a encher a boca com a aquela dura maciez, e pouco importa se sou ou não puta, mas apenas que nasci para chupar, e se nada falarei, nos próximos minutos, é porque a dureza dele já me ocupa toda a boca e minha mão voltou para o meio das minhas pernas, e meus pensamentos e meu corpo já voam em direção à volúpia.

Uma chupada calma, lenta e demorada. Consciente, permeada pela delícia da entrega, do perdimento voluntário, que nos faz ter desejos que não deveríamos ter e leva atitudes impensadas.

Como retirar a mão dele dos meus peitos e leva-la até minha xoxota.

Eu queria a mão dele.

Não me arrependi.

Delicado, enfiou a mão a minha calcinha, mas não foi direto. Foi docemente perverso. Brincou com meus pêlos, acariciando-os, enroscando-os, esticando-os, puxando-os até que a dorzinha gostosa me fizesse gemer e recuar e voltar, num pedido mudo para que fizesse novamente, e ele me atendia, embora meu desejo fosse o de que atochasse a mão em mim e me enfiasse os dedos, e me levasse aos céus, até as nuvens, mas o gozo é dolorosamente curto, e eu queria chupar mais, sentir mais tesão, ser mais tocada, acariciada, e lambi suas bolas enormes, protegidas pelo saco de pele encrespada, espessa e cabeluda, de cheiro único, gostosa de lamber, de lambuzar de saliva e, meu deus, esticar com os lábios aqueles pêlos compridos, e ouvir a respiração dele, porque a respiração tem o poder de falar coisas, de exprimir o prazer, tanto quanto os pequenos solavancos que ele tentava amenizar a cada lambida, à cada beijo, à cada chupada, à cada arremetida que eu dava na vã esperança de que ele entrasse todo em minha boca.

E os dedos em mim, delicadíssimos, carinhosíssimos.

Pressionada pelo encantamento da situação, concluí ou percebi ou senti, porque, repito, tudo o que se diga sobre sentimentos nestas horas é duvidoso, que jamais tinham me tocado entre as pernas com tanto carinho. Tinham, sim, passado a mão, me alisado, me futucado. Acariciado, como ele fazia agora, nunca!

Nem enfiado o dedo daquele jeito tão gostoso.

Com a boca ocupada, gemi.

E parei de chupar.

Olhei nos olhos dele.

Um olhar de desespero. Um pedido de ajuda.

E ele meteu outro dedo, eu chupei com mais volúpia, e me abri mais, e pedi mais, e veio mais um dedo, e a dorzinha gostosa e eu já não saberia dizer se eram dois, três, cinco dedos, a mão inteira, até o punho, e me dei conta, acho, porque não sei se pensei isto realmente, que trocáramos de papéis, porque agora eu era a cliente, me acabando de prazer, e ele o prostituto, cumprindo magistralmente seu papel, o de me dar prazer, e era muito prazer, num tanto que eu não saberia exprimir, e vou pagar o dobro, o triplo pelo trabalho dele e pensei, mas não tive coragem de dizer, e o gozo me assaltou, que ele tinha nascido para masturbar garotas.

E desta vez tive que usar o lenço de papel.

Peguei o dinheiro sem olhar para ele e enfiei no bolso sem contar, e ele foi viver a vida dele e eu a minha, que parecia começar a melhorar, porque quando contei o dinheiro levei um susto e fiquei nervosa, porque era dinheiro demais. E veio a dúvida: ou ele tinha se enganado ou tinha gostado mesmo de mim, e olhei para trás, desconfiada, para ver se ele voltara para pegar o dinheiro que tinha me dado a mais, e claro que não vi nem sinal dele e nem de culpa nem de arrependimento.

Sentia-me feliz. Com as pernas bambas, mas feliz.

E foi com felicidade que comprei uma boneca linda para minha irmã, que me retribuiu com uma expressão que jamais vou esquecer e me fez pensar, sem amargura, mas com uma pontadinha de dor, que a vida de puta não era tão ruim assim e que eu chuparia um milhão de paus para ver aquele sorriso e olhar de felicidade no rostinho dela. E deixei minha mãe falando sozinha, dizendo que eu estava gastando dinheiro à toa, no mesmo e cansativo bla-bla-bla que dava vontade de mandar à merda, ainda que seja nossa mãe, mas não mandei, senão em pensamento. E o castigo veio a galope.

Uma bomba.

Minha amiga arranjou outro cliente.

Eu não quero. Como, não? Tu tá doida? Não quero, basta um. Tô satisfeita. Ele vem toda semana, paga bem. Tô juntando dinheiro. Tá bom assim. Tá, não, tu tá é gostando dele, né? Não é gostar, é...É, sim. Tu deixa de ser maluca, garota, com ele tu num tem nenhum futuro. Por quê? Tá vendo, tu tá cheia de esperança. Cai nessa, não. Ele é legal pra caramba, paga legal, mas nunca vai passar disso. E vai enjoar também. E tem uma coisa, porque num sô de meia conversa, o cara foi indicado por ele mermo. Num conheço, mas ele garantiu que é gente boa. São amigos.

Doeu. O pior é que doeu. Uma puta decepção.E não vou me perder aqui com bobagens..

Resignei-me. Era trabalho.

Topei.

E não me arrependi, porque a sorte, coisa que eu desconfiava ser uma ilusão, passou encilhada e não perdi a montaria. Me agarrei e montei nela com todas as minhas forças. Teve um custo. Sempre tem. E num vou dizer que foi barato, não, porque não foi.

Puta que pariu! Só eu sei!

No caminho, curto, quase não conversamos. Estava fria, sem conseguir disfarçar minha mágoa idiota com ele. Frustração de puta sonhadora. Principiante.

Ele nem deu bola, sabia como conduzir as coisas.

A vantagem é que eu aprendia rápido.

É um cara legal, você vai gostar dele. Um bom cliente. Que bom, um cliente legal é sempre bom, ironizei. É, e tem de ser de confiança. Tem, sim. E esse é de toda a confiança, e meu amigo, você não vai se arrepender.

Tava me lixando para as “preocupações” dele.

Mas deveria.

Não falamos muito nem fizemos nada. Até porque, além de nervosa, me perdi imaginando como seria meu novo cliente.

Apresento-o, pois, agora.

Quarentão, alto, meio gordo e muito simpático, coisa que só observei depois).

E cego.

Tivessem me apresentado ao próprio diabo, acho que meu desespero seria menor.

Digo mais: só não me mijei toda de nervoso porque minha bexiga estava vazia.

Mas agora está cheia. E eu cansada. E, imagino, você também.

Um trato: vamos descansar um pouco.

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Comentários

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Excelente conto! Queria ter a sorte de ser seu cliente tbm.. champion2x19@gmail.com

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um conto no verdadeiro sentido da palavra. lírico, sensual, pornográfico, muito bom. você realmente tem talento.

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