Um cego, meu Deus, um céeeeego! (porque mesmo em pensamento a gente estica e acentua as palavras das formas mais loucas), não pode ser, ca-ráaaa-lhôu!
Nem, mas nem por um zilhão!
Nem que a vaca tussa!
Eu faço até com um cachorro.
Mas com um cego?
Nem fodendo!
Nem morta!
Nem morta! Nem morta! Nem morta!
Ah, as certezas! As malditas certezas. Não servem para nada.
Nem morta? Claro que não!
Só viva!
Após as apresentações, ele disse que ia nos deixar as sós e saiu, o filho da puta.
Deixar-me sozinha com um ceguinho era uma puta sacanagem.
E agora? Como conversar, fazer o quê, como? Que se dane! Vou é me mandar e deixar esse coitado se virar sozinho. Ele que toque um milhão de punhetas. E juro que nunca mais me meto nessa vida de puta.
E ele disse: Você deve estar assustada, bem assustada. A voz, poderosa e tranqüila, boa de ouvir. O sorriso, bonito. Franco.
É que..., dizer o quê, meu Deus? Quêqueudigo?
Com o sorriso aberto, adivinhando meus pensamentos, disse: Você não esperava que eu fosse cego.
Nada melhor, nestes momentos horrendos, que os monossílabos.
É..., respondi.
Eu sei! É um susto, mesmo. Todas se assustam. Mas só nos primeiros momentos, prometo. Você vai descobrir que sou um homem como outro qualquer. Apenas não enxergo.
É..., insisti, monossilábica, porque, puta que pariu!, vai, se coloca no meu lugar!
Bebe alguma coisa? Uma cervejinha bem gelada?
Não, acho que não, obrigada.
Eu até bebia cerveja. Raramente. Não gosto de bebidas, por causa da minha mãe.
Não existe sensação mais horrorosa na vida que estar sendo “olhada” por um par de óculos escuros e impenetráveis, sabendo que, por detrás, existem olhos que não enxergam, mas a gente acha, por uma falha da razão, que aquelas lentes enxergam. Uma agonia. Pior ainda, como qualquer pessoa mais ou menos normal, eu sentia uma pena compulsiva e dolorosa de cegos. Quando via um, me doía até na alma.
Ele insistiu.
Um copinho só, para relaxar e conversarmos um pouco. Não quero constranger você. Apenas conversar. E você não vai rejeitar uma conversa com um pobre ceguinho, vai?
Conversar o quê, meu Deus, com esse coitado que ainda brinca com a própria cegueira?
Ele nada tinha de coitado. Mas eu não sabia.
E a merda da pena me dominando.
Só um copinho, vai?
Tá bom...
Pena é pena.
Terceira porta à direita no corredor atrás de mim. É a cozinha. No congelador. Pegue dois copos, porque também sou filho de Deus. O abridor está na primeira gaveta à direita da pia.
Tá...
Mas cadê que eu conseguia levantar da poltrona?
Resumo da ópera em linguagem de favela: me deu um cagaço medonho.
Mas a favela tem seus mistérios, ora simplifica ora amplifica significados.
Num vô nessa porra de cozinha de jeito nenhum! Sei, lá, porra! Vai que tem alguma coisa lá? Um fantasma, outro cego, um capenguinha, um estropiado, um maneta, um perneta, sei lá.
Num vô, num vô num vô.!
Ele abriu um sorriso: Você está tão assustada assim que não consegue nem se mexer?
Aí mesmo é que me deu pavor. Se era cego, como sabia que eu não tinha me levantado?
Eu não nada sabia de cegos.
Ali, a cega era eu.
E fricotes têm limites.
Vai, menina, pegue uma geladinha para a gente. Só quero conversar.
Tomei coragem.
Trouxe, me tremendo toda.
Se quiser me servir, fico agradecido, porque, se não for assim, quando eu encontrar a cerveja ela já vai estar quente.
O humor dele e o sorriso começaram a quebrar minha agonia.
A cerveja se encarregou do resto.
Tô aqui a trabalho. Um trabalho combinado. Ele vai me tocar, e abro um par de parênteses por força da ocasião (sem ver, meu Deus), e vou chupar o pau dele até seu gozo acontecer, eu engolir, receber meu dinheiro e dar no pé. E nunca mais voltar.
Admita: a idéia de chupar um cego, ai meu Deus...não vale a pena nem pensar.
Cadê tesão?
E a pena? A merda da pena bloqueia qualquer libido.
Não coloquemos, entretanto, a carroça na frente dos burros.
A cegueira é uma ilusão.
Tá, o cego não enxerga. Não vê cor nem forma. Percebe apenas um breu ou um branco. Quem enxerga, porém, tem o poder estranhíssimo de ser mais cego do que um cego real.
Como eu.
À nossa conversa, regada a cerveja.
Meu amigo falou bem demais de você.
Agradeço, respondi meio desconfortável, imaginando o que teriam falado sobre mim.
Disse que, além de muito linda, você é uma boa garota. Uma pessoa boa. Acredito nele. É o meu melhor amigo.
Obrigada.
Você sabe porque está aqui?
Acho que sei, né?
Gosto da sua maneira de falar, é bem-humorada, sincera. Da sua voz meio rouca também. Esse tipo de timbre me atrai. E me excita.
Que bom, respondi, sem saber se estava ironizando ou falando a verdade.
Tire a roupa.
O quê?
Tire a roupa.
Pra quê?, perguntei, como uma idiota.
Quero ver sua nudez.
Ver como?
Ele sorriu.
Como você está vestida?
Com meu uniforme.
Descreva-o.
Camiseta azul, calça jeans e tênis.
Sutiã?
Sim.
E a calcinha, qual a cor?
Branca.
Meias?
Sim.
Brancas também? Sim.
Comece pelos tênis, mas não tire as meias. Devagar, desamarrando-o o cadarço.
Mas...
Por favor, não desaponte um ceguinho. Já disse, quero ver sua nudez.
Mas ver, como?
Não sorriu.
Quase sussurrando, talvez já tomado pela excitação, disse:
Do meu jeito.. Com a pontinha dos dedos, os ouvidos e as narinas. São olhos poderosos, acredite. Quero ouvir seus movimentos tirando a roupa. E imaginar o jeito como você tira a blusa, a delicadeza do seu sutiã, o barulho do fecho-eclair e o jeito gracioso com que, meio aturdida, olha para mim, um cego, e abre a calça, baixando-a devagar, revelando sua calcinha branca, e em seguida se curvar para tirar a primeira perna da calça, depois a segunda, e finalmente, ficar apenas de calcinha e sutiã e meias, incrédula e ainda assustada com a situação.
E acho que excitada, pensei, já serenando minha agonia inicial e começando a achar que a situação não era tão ruim assim.
Depois, com as pontas dos dedos, sem pressa, tocar no seu corpo. Não para fazer carinho e excitá-la. Não acredito em milagres. Mas apenas para conhecer você fisicamente, seus cabelos, o formato do seu pescoço, a textura e o cheiro da sua pele, a compleição dos seus ossos, seus músculos, e tirar seu sutiã e reconhecer o formato e o cheirinho dos seus seios, ajoelhar-me e tirar sua calcinha e sentir seus pelos, o cheiro deles, das suas coxas, e tirar suas meias e pegar nos seus pés...mas, repito, não serão carícias. Apenas um reconhecimento. Fantasias de um ceguinho meio tarado.
Tive que rir. Não, não vai ser tão ruim assim, pensei.
Continuou, num tom de nítida amargura:
Sei que não posso ter a menor pretensão de provocar tesão em você. Cegos, infelizmente, só provocam pena. E agonia. Aqui, o único prazer será o meu. Você veio a trabalho, né mesmo? Por dinheiro. Não tem a menor obrigação de sentir prazer. Aliás, se for obrigação, não é prazer. E não finja, pelo amor de deus, sentir o que não está sentindo, como as outras sempre fazem, pois sei que, na verdade, o que estará sentindo é agonia. Chega de bobagens. Vamos começar?
Não vou dizer que não senti pena dele. Quase chorei. Também não vou negar que, quando ele falou aquelas coisas de me tocar e sentir meus cheiros para me “ver”, minha calcinha umedeceu.
Ante meu silêncio. Vamos começar?
Desamarrei os tênis e os retirei.
Não tire as meias, por favor.
Fiquei de pé e comecei a tirar a blusa. Em seguida, abri o zíper. Ele, impassível. A única agonia: aquele par de lentes negras, insondável, meio sinistro. Baixei a calça, tirei uma perna, depois a outra.
Acho que você é mesmo deliciosa como estou imaginado.
Aproxime-se, disse, levantando-se. Sob a calça, o respeitável volume do seu membro enrijecido. E logo a curiosidade de vê-lo.
Fique de costas para mim.
As duas mãos, como plumas, tocaram minha cabeça. Com suavidade, sondou meus cabelos, meu crânio...
Posso dizer que são belos cabelos. Cheios e sedosos. De quer cor são? Castanhos. Cheiram gostoso. Obrigada. Sua cabeça é pequena. Suas orelhas são delicadas. Comecei a me arrepiar. O pescoço é delicado e comprido, fino, me agrada muito. Sua testa não é longa, suas sobrancelhas são largas, seu nariz, delicadinho...os lábios grossos, bem feitos, o queixo tem um furinho e seus olhos...quanto eu não daria para ver esses seus olhos. Deixa eu adivinhar, são negros.
Sim.
Grandes?
Mais ou menos.
Constrangida? Com medo?
Não.
Posso continuar?
Uma mão em cada ombro.
Tensa?
Um pouquinho.
Gosta de massagem?
Não sei, nunca fizeram em mim.
Posso?
Pode.
O efeito daquelas mãos, agora firmes, foi imediato. Molhei de vez..
Sua pele cheira muito gostoso.
Obrigada.
As mãos vieram para meus braços.
Delicados e compridos. Adoro esses pelinhos. Você é bem cabeludinha. E se arrepia à toa. Está sentindo cócegas? Não, acho que sim.
Mãos pequenas. Um pouco nervosas e, se não me engano, meio molhadas de suor.
Minha calcinha também, pensei.
Costas também delicadas.
Os dedos descerem pela minha espinha a esbarrarem na calcinha.
Gosto deste caminho que desce do pescoço até fim da espinha, e o seu é bem sulcado.
Num toque simultâneo, ele passeou por minhas minhas coxas rapidamente.
Vire-se. Se preferir, feche os olhos. Olhar para um cego é meio difícil. Na verdade, você pode até fazer caretas mim, mostrar a língua, debochar, mas o faça em silêncio, sem rir, por favor.
Eu não faria isso, disse sincera.
Tem coragem de me olhar? Meus óculos não te incomodam?
Não, não incomodam, não, menti.
Eles sempre incomodam.
Tá, só um pouquinho. Mas já estou me acostumando.
Que bom.
Agora sua voz saiu com mais sinceridade.
Tocou na borda do meu sutiã com a ponta dos indicadores, percorrendo-a de ponta a ponta por várias vezes.
Percebi, ao olhar seus movimentos e o jeito com me tocava, que ele, realmente, não queria me dar prazer, mas apenas me conhecer. Me “ver”. E que estava gostando do que estava vendo.
Aí mesmo é que meu tesão ficou mais forte.
Vire-se, quero abrir seu sutiã.
Tirou.
Novamente de frente, vi suas mãos, levemente trêmulas e lentas, como se estivessem com medo, querendo vir até meus seios.
Leve minhas mãos até eles e faça minhas palmas tocarem em seus mamilos.
Peguei em seus pulsos.
Ao sentir o toque, estremeci.
Pode soltar meus pulsos.
Foi fechando os dedos em pinça, recuando lentamente até que os dedos de cada mão pegassem simultaneamente meus mamilos.
Você está tremendo.
Estou.
Ele ia falar outra coisa, mas calou-se.
Perfeitos, meu deus, perfeitos. Seus mamilos ficam sempre assim, durinhos?
Não, confessei, só quando mexem neles.
Ele suspirou, e repetiu o movimento várias vezes ora com todos os dedos ora com o indicador.
Pura verdade, não era toques para me excitar. Mas eu já não conseguia sequer controlar minha respiração nem os tremores.
Ele desceu os dedos para meu abdome, “viu” o meu umbigo com o indicador. E fez os mesmos movimentos simultâneos na borda da minha calcinha,. Queria saber o formato. Meus olhos bateram no volume sob a calça.
Comecei entrar em agonia.
Ajoelhou-se.
Baixou minha calcinha até a metade das pernas. E com aqueles dedos mágicos, passou a explorar a periferia do meu púbis e, finalmente, meus pelos.
São fininhos e sedosos. Bastos. Você não raspa?Não, tenho alergia. Só corto.
Eu imaginava que iria ser bom, mas não como está sendo, menina. Juro. Só espero que não esteja sendo ruim para você.
Não está, admiti.
Você está sendo generosa.
Não, não estou.
Ele ergueu o rosto, “me olhando”.
Porra, não me olha desse jeito, pensei.
Todas dizem isso.
Admito que talvez tenha o “não estou” com um pouco de pena. Mas, já estava morrendo de tesão.
Peguei na mão dele e puxei-a para cima, num sinal para que se levantasse. Ele ergueu-se, mudo, meio à espera.
Juro que não está sendo ruim, repeti, sem olher para aquelas malditas lentes negras.
E tomei a decisão.
Peguei de novo sua mão e levei-a até o meio das minhas pernas.
Sente, sente como estou molhada... e com muito tesão, confessei.
Dedilhou-me, lambuzando-se.
Suspirei.
Ele também.
A outra mão procurou pelo meu seio.
Olhei para o volume.
Peguei.
E apertei.
Posso abrir?
Um sorriso curto. No semblante, um esgar. A expressão dos cegos é diferente. Parecia mais uma careta. Meu tesão não deixou eu me incomodar com mais nada.
Abri o cinto e a calça.
Vi. E estremeci.
Meu Deus!
Que foi? Não gostou?
Não, não é que é que...nunca vi um assim.
Ele riu. Não quer pegar? Está com medo?
Quero. Ele dá medo sim.
E me veio uma idéia maluca na cabeça.
Primeiro quero conhecer ele.
Como?
Vou fechar os olhos e fazer como o senhor fez, só com as pontas dos dedos.
Meu deus, menina, você está me deixando maravilhado. E não me chame de senhor.
Desculpe, você.
Com a ponta dos dedos e os olhos fechados, toquei o membro dele todo, várias vezes, sentindo as veias, a pele do prepúcio a cabeça, o caldinho que saía em profusão...
Meu gozo já querendo sair, suspirei profundamente.
Que foi?
Estou excitada, a ponto de gozar, mas quero gozar agora.
Por quê?
Não quero, está bom demais e eu tenho que chupar você.
Meus Deus! Se você me chupar agora quem vai gozar sou eu.
Quer parar um pouco?
Querer a gente nunca quer, mas também não queria gozar agora. Nunca foi tão bom assim, com ninguém. Nunca uma...uma...
Puta, completei com uma ponta de tristeza e mais tesão.
Não, você veio como uma, mas não está sendo. Está sendo apenas mulher, sentindo. E comigo. Isto nunca, repito, aconteceu. Ponha a mão no meu peito.
O coração batia assustadoramente.
O meu também.
Ele também sentiu minhas batidas e sorriu.
Acho que nunca vivi um momento tão mágico, menina. Estou explodindo de tesão.
Agora, eu já não “reconhecia” o membro dele com a ponta dos dedos nem estava de olhos fechados. Segurava-o, olhando-o.
Achei que ele ia gozar.
Me coloquei de joelhos, empunhei-o com a duas mãos. Mal abri a boca para começar a chupá-lo, os jorros começaram. Um banho morno, delicioso, saboroso. Caudaloso. Chupei até que ele entrar em agonia.
Surpreendentemente, não gozei. E havia uma razão: minhas duas mãos estavam ocupadas.
Ele jogou a mão para trás, meio desorientado, procurando o espaldar da cadeira para sentar-se.
Ergui-me, explodindo tesão.
Pensei em pedir que me tocasse. Mas a expressão dele era indecifrável, estranha.
Obrigado...obrigado...obrigado, menina, muito obrigado mesmo. Acho que jamais tive um orgasmo assim, obrigado.
Parecia pena, mas não era pena o que eu sentia. Era diferente, um tipo de comoção que eu não sabia direito o que era.
Foi muito bom, foi o que consegui dizer. Cerveja?, perguntei.
Quero, quero, sim.
Vou ter que pegar outra.
A casa é sua.
Não me preocupei em me limpar.
Bebeu o copo quase todo e pediu mais.
Nenhuma foi como você. Vêm pelo dinheiro. Só pelo dinheiro. Fingem o tempo todo. Eu me satisfaço, mas o tempo todo acho que elas sentem nojo de mim. Que debocham. Você, não. Senti o seu prazer. Os seus tremores, a sua umidade real, sem saliva. A sinceridade na sua voz. Meu deus, foi bom, muito bom.
Obrigada.
Eu tinha que ser puta, é verdade, mas não filha-da-puta. Cruel. Muito menos debochada. Não conseguiria.
Quem agradece sou eu. Pena que a hora já passou e você tenha que ir embora.
Eu tinha esfriado, claro. Estava ainda meio confusa e perplexa, mas já não sentia medo nem a agonia daquele “olhar” das lentes me incomodava.
Sentia-me segura.
Eu não tenho que ir embora agora.
Não?
Não quero ir embora, ainda.
Menina, cego quando vê esmola demais desconfia. Pode rir.
E ri mesmo. A cerveja fazendo seus efeitos.
Mas eu não estou dando esmola, você não precisa. Acho que estou gostando...gostando...da cerveja, sabe?
Meu tesão começou a reacender .E o membro dele, meio mole chamando minha atenção. E a idéia de que ele não sabia que eu estava olhando-o me deu mais tesão ainda. E uma estranha ausência de vergonha, porque que eu estava apenas de calcinha e meias na frente dele, que não enxergava minha nudez, e uma outra sensação mais estranhíssima: eu gostara muito dele. E do jeito como me tocara.
Você é muito jovem para beber muito.
Eu sei, e não vou mais beber cerveja. Quero leite, eu disse sem acreditar no que estava dizendo.
No segundo seguinte, estava ajoelhada entre as pernas dele.
Não demorou a inchar.
Eu queria mesmo era foder com ele. Dar para ele. Não era o combinado. Mas eu queria. Era o meu desejo. Foder. Senti-lo em mim, dentro de mim.
Quero foder com você.
Mesmo?
Respondi erguendo-me, tirando a calcinha e, ficando de costas para ele.
Quero, respondi pegando em seu membro e sentando devagar.
Segura na minha cintura, pedi.
Aos pouquinhos, me acostumando com a grossura, sentindo as delícias dos primeiros momentos, do início da penetração, em que a vontade da entrega, de dar, é mais forte que a qualquer dor que se possa sentir.
Entupida, soltei um suspiro de prazer.
As mãos nos meus seios. Mais ávidas.
Não, me toca como você fez, daquele jeito.
Não mexi.
Permaneci com ele entalado, pulsando dentro de mim, enquanto me explorava o corpo com a ponta dos dedos suavemente.
.Comecei a subir e descer devagar, até a angústia orgasmo me levasse a movimentar-me com mais rapidez. Pedi que apertasse meu seio.
Com força, pedi.
Ele começou a gozar.
O barulho da melação e a quentura do leite foram a gota d”água. Me transbordei num orgasmo demorado, assustador, devastador.
Era a primeira vez que eu gozava com um membro dentro de mim.
O membro de um cego.
Apesar do encantamento que se seguiu nos minutos seguintes, eu tinha que encarar a realidade: era um trabalho.
Ele me apontou o banheiro, tomei uma ducha rápida e me vesti.
Quero que você jure uma coisa, disse me entregando um envelope com meu pagamento.
Jurar?, perguntei, abrindo discretamente o envelope.
Que vai voltar.
Juro, respondi com sinceridade. É só me chamar.
Me dei conta que tinha muito, mas muito mais que o combinado.
Tem muito dinheiro aqui.
Não se importe com isso. Só tenho a agradecer. Pode ir.
Não senti vergonha. Pelo contrário, senti-me bem, experimentando, pela primeira uma saciedade real.
Deixei as compras em casa, e não me dei ao trabalho de discutir com minha mãe. Fui direto apara a casa da minha amiga.
E aí, gostou do ceguinho?
Você sabia?, perguntei meio perplexa e incomodada por ela se referir a ele daquele jeito.
Claro que sabia!
E por quê não me disse?
Porque você não iria.
Ela tinha razão.
Ele me deu uma grana legal, trouxe uma parte para você. Enfia teu dinheirinho no rabo, boba. Ele vai mandar uma boa grana para mim, me agradecendo. Aproveita, porque se ele gostou tanto assim de você, não vai enjoar tão cedo. E esquece o teu primeiro cliente. Não vai te procurar mais.
Por quê?
Ele não quer mais. Já tô botando outra na fita. Esquece, vai por mim.
Esqueci. O outro era muito melhor.
Chamou-me poucos dias depois.
Cheguei cheia de vontade. Mas as coisas não se deram como a primeira vez.
Ele me disse que você estuda num colégio caro. É, mas é bolsa. E que você é ótima aluna. Tento ser. Por quê, você gosta de estudar?
Merda, exclamei em pensamento, não queria falar sobre a minha vidinha de merda. E ele parecia saber de tudo. Mas foi elegante
Se você não quiser responder, tudo bem...
Acho que gosto, mas...
Mas?
Por favor, não quero falar sobre isso e nem vim aqui para isso.
Talvez você esteja enganada, menina.
Então, eu vim aqui para quê?, perguntei desafiadora, já incentivada pela cerveja.
Você se sente uma puta?
Fodeu. Não sabia o que responder.
E acho que não, ele disse, diante da minha mudez.
Mas eu sou, moço.
A cerveja me encorajando.
Não, menina, você é uma aprendiz de puta. E espero que não se forme.
Cego e doido.
O que o senhor quer de mim?, arrisquei, irritada.
Nada. Não quero nada de você.
Aí é minha cabeça surtou.
E ele disse, me desconcertando: você é que quer alguma coisa de mim, um cego, como todas as putas. Dinheiro.
Filho de puta!
Eu nem sabia que o senhor era cego! Não, nem morta quero mais o seu dinheiro e, me desculpe. Levantei-me, decidida.
Ofendida.
Meu deus, que bobagem. A última coisa que poderia acontecer ali era sentir-me ofendida.
Nenhum problema. Fique à vontade. Vá. Há um dinheiro sobre a mesinha ao lado da porta.
Não quero seu dinheiro.
Claro que quer e está bancando a criança. Sei que você acha que carrega todos os problemas do mundo. Também sei que você é nova, inexperiente, cheia de problemas com sua mãe, que tem uma irmãzinha de quem gosta muito, que sofre discriminação na escola, e que gasta a dinheiro que ganha com comida para casa, etc, etc,etc. Confesso que isto não me comove muito. Cada um com seus problemas. Tem mais, eu trocaria, se fosse possível, meu problema por todos os seus. O que quero dizer é que não tenho a menor pena de você e não quero que tenha pena de mim.
Isto não quer dizer que não façamos negócios, honestamente. E fiquemos amigos, porque, não?A não ser que você sinta tanta repulsa de mim que se torne insuportável. Até as putas têm direitos, menina.
Desabei.
Sente-se, boba, aqui no meu colo.
Acabei chorando e sorrindo.
Aninhei-me no peito dele.
Não fique aborrecida comigo. Não estou, é que...Bobagem, não fale mais nada. Vamos ser amigos e fazer bons negócios ou não?
E que negócios fizemos naquela tarde!
Vamos, sim, respondi, adorando o colo dele.
Só quero dizer uma coisa, você não é uma puta. E ainda que fosse, seria a puta mais deliciosa e humana que já conheci. No fundo sou, sim. Não passo de uma puta.
Confessar daquele jeito, por mais piegas que possa parecer, me fez bem. Era a pura verdade
Putas quase nunca beijam, você beija?
Um beijo gostoso, cúmplice, quase puro, não fossem nossas mãos e o tesão. Mas nem a excitação conseguiu afastar a estranha emoção que me invadiu durante aqueles beijos prolongados, sentidos. Tão gostosa que me levou a dizer o que eu senti que deveria dizer.
E o disse baixinho, ao pé do ouvido dele: posso falar uma coisa? Claro. Eu nunca tinha gozado com um homem dentro de mim. Você foi o primeiro, obrigada.
Meu deus!, disse com a voz embargada, e me apertou tanto e me beijou tanto, com tanta emoção, com tanta sinceridade que, naquele instante, tive quase certeza de que estava tocando em algo chamado amor.
Pegou-me no colo e rumou para o quarto.
Por uns míseros segundos, imaginei que ele enlouquecera, porque era cego e a gente ia ficar esbarrando nas paredes ou nos móveis e que íamos nos esborrachar no chão. Me agarrei no pescoço dele.
Tenha calma, não fique com medo. E sem errar um passo, sem titubear nem tropeçar, chegamos ao quarto.
Eu nada sabia sobre cegos.
Quero tirar sua roupa.
Tira.
Mas eu quero tirar a sua também, negociei.
De todos os momentos mais marcantes da minha vida, este está e ficará guardado na minha memória como um tesouro.
Quer que eu ajude? Não, por favor, fique como está, parada.
Num primeiro momento, não entendi. Já disse, ali, a cega era eu.
Abraçou-me por trás e começou a passear as mãos pelo meu corpo, sem tirar uma peça de roupa, apenas as reconhecendo, com as pontas dos seus dedos mágicos, passeando-os pelas costuras, empalmando-as, enxergando-as.
Enfiou as mãos sob a minha camiseta. Senti, claro, o toque nos seios. Mas não eram eles o destinatário, ainda. Era o meu sutiã. Ele queira vê-lo.
Abriu minha calça e, sem tirá-la, fez o mesmo com a minha calcinha.
Nenhuma pressa. Só sentidos.
Fechei os olhos.
Naquela escuridão voluntária, comecei a compreender.
Sem a menor pressa, levantou minha camiseta devagar até a altura dos seios. Alisou minha barriga, minha pélvis.
E eu de olhos fechados, cega. Voluntariamente cega. Passiva, imóvel, deixando.
E gostando.
Um tesão diferente, gradual, sólido, marcado, não pela putaria em si, pelo sexo iminente, pela certeza de que iria gozar como uma louca no pau dele, mas por algo que eu não conseguia compreender com clareza, muito menos definir, talvez uma forma inusitada de desejo. Um desejo comovente.
Abriu meu sutiã e expôs meus seios já intumescidos e comichando. Desceu a camiseta. E alisou-os por sobre ela.
Compreendi.
Embora eu sentisse a leveza das suas mãos como carícias, não eram. Era como se ele estivesse me vendo sem sutiã sob a camiseta, tal como os homens olham pra gente na rua.
Virou-me de frente e fez o mesmo com a minha calça já aberta, baixando um pouco, olhando com os dedos minha semi nudez. E “viu” minha bunda, demorando-se, até finalmente começar a tirar minha calça para “ver” minha pernas.
Deixou as meias, depois de alisar demoradamente meus pés.
Camiseta e calcinha, apenas.
De olhos fechados.
E já dormente de tesão.
Você é linda e gostosa demais.
Obrigada.
Deita de barriga para cima.
Não, quero tirar sua roupa. E de olhos fechados. Enxergando você como você me enxerga.
Ele reagiu de imediato. Passou os dedos nos meus olhos. Como se quisesse confirmar no meu olhar o que acabara de dizer e me respondeu silenciosamente, como se as palavras, naquele momento fossem atrapalhar, com um longo, emocionado, agradecido, comovido suspiro de satisfação.
E, de olhos fechados, com o sangue fervendo de tesão, abracei-o por trás, com alguma dificuldade, porque sou pequena. Tentei ser tão suave como ele, sem pressa. Mas o tesão e os pensamentos não deixaram.
Abri a camisa e passei a mão no seu troço, nos mamilos, duríssimos. Ele estremeceu. Com o rosto colado em suas costas, não agüentei. Passei a beijá-las, rendida por uma inusitada mistura de carinho e desejo. Ao abrir, com enorme dificuldade, a calça e tocar em seu membro, duro como uma rocha, eu já não estava tentando mais “enxergar” nada, como se cega fosse. Não, o tesão, próximo do intolerável, não deixou.
E tirei-lhe a calça junto com a cueca e me ajoelhei à sua frente, e de olhos bem abertos, olhando para aquela dura e ameaçadora, e com a boca cheia d’água, faminta, sequiosa, segurei-o e passei a chupá-lo.
E, ao mesmo tempo, comecei a me masturbar.
Ele não tinha como recusar. Nem eu como parar.
Em segundos, meu gozo começou a explodir. E o dele.
Gozar de cócoras é deliciosamente estranho. A gente luta para manter o equilíbrio e o controle.
E se deu que eu não consegui manter o pau dele na boca, nem me equilibrar direito, nem tirar a mão da minha buceta, e nem largar o pau dele, e ele esporrando, e eu gozando, tentando chupar e beber seu creme abundante, que já se espalhava no meu rosto, nos meus cabelos, no meu corpo, quente, forte, deliciosamente melento, e a posição incômoda, porque gozar de cócoras, como eu já disse, não é fácil, e, se ele não tivesse me segurado pelos cabelos eu teria caído de bunda no chão, mas não caí, porque na ânsia de prolongar o gozo, fiquei de joelhos, ainda estertorando, porque meu gozo não queria acabar, nem eu queria que acabasse, consegui finalmente manter o pau dele na boca e engolir os últimos jatos do seu gozo, matando a fome e a sede que me atormentavam.
Melados, sem ar, mas saciados, não tínhamos outra alternativa, senão nos jogarmos na cama e viver as delícias daquele semi-sono, aquela vigília que só a mais profunda saciedade proporciona.
Me dei conta que ele não falara nada. Nem eu.
Ele falou primeiro, incontáveis minutos depois, e algo que, de início, me fez rir como há muito eu não fazia.
Você sabe fazer um ceguinho feliz, menina.
Ri, não apenas pelo conteúdo grotesco das suas palavras, mas de felicidade genuína, com um prazer maravilhoso, que fazia meu coração bater diferente.
Sem pensar, ou pensando o que não deveria pensar, emocionada, subi sobre ele, recostei o rosto em seu peito: se eu pudesse, faria você feliz para sempre.
Por mais piegas que possa parecer, aquelas palavras saíram de um lugar puro da minha alma, um lugar blindado, onde só havia espaço para alguém que eu realmente amava: minha irmã. E foi como se a blindagem se desfizesse e este espaço se expandisse para alma dele o ocupasse também.
A emoção mútua fez o desejo reacender. Não fizemos sexo. Fizemos amor.
Ainda o visitei durante alguns meses, cada vez mais apaixonada, sem aceitar nenhum cliente novo, o que minha amiga fingiu respeitar, embora insistisse, sem a convicção e frieza que lhe era peculiar. Só dizia que eu estava ficando “cega”. O dinheiro, ele fazia questão de me dar. Eu aceitava. No início constrangida, mas depois, de bom grado.
É uma ajuda, não um pagamento.
A morte da minha mãe, um baque infelizmente feliz.
Havia um problema legal: eu ainda ia fazer dezessete não podia ficar com a minha irmã. Mas favela é favela. É ruim, mas nem tanto, Há um tipo de solidariedade inexplicável. Todos, de alguma maneira se ajudam e não gostam quando o Conselho Tutelar se mete com quem não deve se meter, porque ninguém cuidava melhor da minha irmã que eu. Na hora do estudo ou quando ia visitá-lo, para todos efeitos, fazer uma faxina ou trabalhar de baby-siter, minha amiga ficava com ela. Quando não podia, alguém ficava de bom grado, porque eu me esforçava para estudar, não saía para me divertir nem ficava com ninguém da favela.
Hoje, tantos anos depois, já formada, trabalhando muito e feliz, a favela é apenas uma saudade gostosa. Poucos ainda permanecem lá. Ficou perigosa, violenta, e não tenho coragem de visitá-la. Nem minha querida amiga e protótipo de cafetina, hoje, minha madrinha de casamento, dona de um bufê famoso. Minha irmã cresceu. E muito. Terminou o curso técnico e se prepara para a faculdade. É mais estudiosa que eu. Da minha mãe, nem daquela vida, não se lembra muito. Ainda bem.
Sabe que ele não é seu pai, mas o chama assim. E o ama como se fosse.
Eu também, só que como homem. O único que amei e continuo amando.
Um amor entre uma puta ou quase puta – faz diferença? - e um cego que gostava de putas, mas capaz de enxergar melhor que a maioria dos homens.