Capítulo 1: Supermercado
O dia de Túlio -
Já eram quatro horas da tarde, deveria estar em casa para adiantar meus inúmeros trabalhos da faculdade e tentar resolver meus problemas pessoais. Minha vida ultimamente vem sendo turbulenta até demais. Odeio me estressar fácil com as coisas, mas ultimamente tudo andava mal. Dirigia apressado pelas ruas do bairro de Vitória, tinhamos brigado novamente. Dessa vez tinha sido sério, a aliança não estava mais em meu dedo.
Refleti profundamente sobre os assuntos que tinham acabado de acontecer, me decepcionei. Nem me dei conta de que deveria ter ido ao supermercado.
Estava ficando cada vez mais tarde, isso iria atrapalhar meus planos. Corri ainda mais rápido com meu carro. A lista de produtos não era muito grande, latas de massa de tomate e macarrão. Afinal, só sabia cozinhar isso. Não preciso me preocupar com refeições, moro sozinho mesmo.
Minha pressa era tanta que nem ao menos peguei carrinho ou cesto. Minha sorte era de que o mercado não estava muito cheio. A fila não era grande. Estavam repondo o estoque nas prateleiras. Fui direto aos macarrões. Peguei logo quatro pacotes de espaguetes. Faltava apenas a massa de tomate.
Fui apressado ao corredor. Notei então uma cena quase cômica. Um rapaz, funcionário do mercado, arrumava as latas de massa de tomate de maneira estranha. Posicionava os rótulos, todos, na mesma direção. Parei atrás dele, observei. Percebendo que havia alguém, virou-se e colocou-se de pé. Me olhou, na verdade me fusilou com os olhos. Naquele momento já estava rindo.
- Algum problema? - disse.
- Me desculpa. - não conseguia para de rir - Você é bastante dedicado ao trabalho, realmente, me desculpa. Não quero rir, mas é que ando meio nervoso e isso de alguma forma me fez sentir melhor. De qualquer forma, obrigado. E desculpa.
Ele continuou me olhando, mas já tinha desfeito a cara de raiva. Por fim, sorriu pra mim. Foi estranho no começo, achei seu sorriso muito bonito, seus dentes, sua pele bem cuidado. Aos poucos fui observando outros detalhes de seu rosto. Seus olhos castanhos envolventes e acolhedores. Seu rosto era muito harmonioso e simpático. Deveria ter minha idade, uns 20, acho. Mas por que me preocupava com isso? Esses desejos não tinham que existir dentro de mim.
- Quer uma lata? - perguntou ele, com um tom simpático.
Perdido nos pensamentos voltei a realidade com sua voz. Respondi que sim. Ele então se virou e passei a notar seu corpo como um todo. Sua calça jeans marcava suas pernas malhadas, que certamente eram resultado de muita academia. Seu uniforme marcava as costas largas e bem definidas, seus braços eram fortes, não muito grandes, mas gostosos. Ele era realmente lindo. Por um momento me culpei por ter tais pensamentos. Ridículo. Sou homem e homens gostam de mulheres, ponto final. Mas era impossível não notar. Então, ele se virou novamente com uma lata na mão e entregou-me. Sorriu.
Peguei meio sem jeito e agradeci. Olhei fundo nos seus olhos, mas não fiz nada. Me virei. Não queria sentir aquilo de novo. Fui rápido ao caixa, tentando esquecer tudo aquilo. Pensava apenas nos meus afazeres. Apenas nissoPrecisava chegar logo a faculdade, o supermercado realmente atrasou meus planos. Droga. Dirigi com pressa, de novo. Talvez isso seria motivo de alguma multa, mas não me importava. Precisava chegar a tempo. 18:47, faltava pouco. Daria pra assistir a primeira aula. O sinal fechou. Maldito. Uma moto parou ao meu lado, parecia ter a mesma pressa que eu. Acelerava a moto, demonstrando anciedade. Então, o tão esperado sinal verde.
A moto acelerou, foi rápido demais. Tão rápido que acabou sendo atingida por um carro no cruzamento. O carro, por ter ultrapassado o sinal vermelho e ainda ter atingido a moto, fugiu. Fiquei alguns segundos processando o fato. Sai do carro, correndo. Fui em direção ao motoqueiro, que estava se levantando.
- Você está bem? - perguntei. Preocupado.
O motoqueiro limpou a roupa, rasgada nos joelhos. O sangue escorria em algumas partes de seu corpo. Fiquei realmente preocupado.
O dia de Pedro -
Maldito dia pra repor estoque, esse emprego me mata. Odeio trabalhar feito escravo e não ser bem remunerado. Mas não existe outra forma, não quero preocupar minha mãe com mais problemas financeiros. Já tinha 19 anos, quase 20! Poderia trabalhar e me virar. A faculdade realmente foi meu mérito, passar em uma universidade pública foi realmente gratificante.
- Reponha as latas de massa de tomate Pedro. - disse meu gerente.
Latas. Adoro latas. Peguei as caixas do produto e as levei até o devido corredor. Aquilo iria demorar um pouco. Coloquei, uma a uma, calmamente. Era até um relaxante. Colocava os rótulos na mesma direção, por diversão. Assim o tempo passava rápido.
Era quase hora de ir embora, as latas já estavam acabando. Alguém havia parado atrás de mim. Continuei meu trabalho. Essa pessoa não caminhava. Fiquei curioso, certamente estava me observando. Me virei e olhei diretamente seus olhos. Era um cara. Que cara. Rs. Seu cabelo era meio jogado ao vento, bonito. Os olhos demostravam preocupação. Sua barba estava por fazer, mas o deixava sexy. Parecia o tipo de pessoa séria e inteligente, mas que tinha um ar carismático. Ria a princípio, uma risada gostosa, mas parou ao ver meu rosto sério. Não era proposital, mas minha seriedade vinha do fato de querer sair logo dali. Perguntei por fim:
- Algum problema?
(...)
Finalmente! Fim do trabalho, poderia ir pra casa. Tomar um bom banho e ir pra faculdade. Um bom banho era do que eu precisava. O rosto daquele cara não saia da minha cabeça. Mas foi embora tão rápido, parecia preocupado. A imagem dele indo embora ficou em minha cabeça. Seu corpo era quase que desenhado. Era alto e sarado, não do tipo bombado, mas forte. Sua pele era um pouco bronzeada, o deixando mais sexy. Tinha um jeito de andar calmo. Era engraçado vê-lo tentado equilibrar os macarrões e a lata em sua mãos. Enfim. Precisava ir pra facul. Peguei minha moto. Já estava chegando no campus, quando lembrei que tinha esquecido um relatório em casa. Voltei com pressa para casa. Merda! Chegaria atrasado, certeza. Peguei o trabalho, joguei na mochila e pulei na moto. Fui rápido. Quase chegando. 18:47. Daria tempo. Ufa. O sinal então fechou. Paciência. Acelerava a moto. Queria chegar logo. Verde, acelerei. Foi rápido demais, um carro me atingiu gostoso. Cai no chão. A moto caiu sobre mim e me arrastou um bom bocado no asfalto. Meus joelhos ralaram, minha calça rasgou. Sorte que minha camisa de couro não causou mais estragos.
Alguém então veio correndo pra ajudar. Meu corpo doía muito. Parecia que tinham me espancado. Levantei. Mas foi um erro. Cada músculo doía. Minha calça estava suja e destruida, tentei em vão limpá-la. Sentia o sangue quente em minha pele. Que dor. Como iria pra faculdade agora? Tirei o capacete e me virei para observar quem me socorria. Era ele.
[Críticas ou sugestões, mande um e-mail: guto_2_10@hotmail.com
Espero que tenham gostado, até o próximo capítulo]