Estamos no século XXI, evoluímos de tal maneira que, actualmente, prescindimos de coisas outrora inimagináveis pelos nossos antepassados. Hoje não dispensamos de uns bons minutos sentados no sofá a ver televisão, ou então, no computador a navegar na internet. Podemos dizer que vivemos num mundo evoluído. A questão é: até que ponto evoluímos?
Neste momento a caneta parou de escrever, o Carlos pousou-a, levou as mãos à cabeça e apoiou os cotovelos na secretária, pensando na resposta que daria à sua própria pergunta. Contudo, antes que este tivesse tempo de arranjar uma resposta suficientemente convincente e satisfatória, o despertador do telemóvel tocou, eram 7:30, horas de desligar o computador e dirigir-se para a sua nova escola.
Carlos: Mãe vou para a escola?
Mãe: Escola? Esse termo já não se utiliza, tens de te lembrar que já estás na faculdade, após todo o esforço que fizestes conseguistes ingressar na universidade que pretendias. Tenho tanto orgulho no meu filho.
Carlos: Escola ou faculdade, é tudo a mesma coisa.
Mãe: Pensas isso agora, daqui a umas semanas falamos novamente. Mas porta-te bem e vê se fazes novos amigos, com sorte pode ser que conheças a tua futura namorada e esposa.
Carlos: Lá estás tu, já te disse que de momento a minha prioridade é uns estudos.
Mãe: Lá estás tu com essa conversa, vais ver que…
Antes que a mãe do Carlos acabasse a frase este saiu de casa, batendo com a porta, deixando a mãe a falar sozinha. Na verdade, ele já estava cansado daquela conversa, cansado de ouvir a mãe a dizer que ele tinha de arranjar namorada, quando ele nem sentia atracção por pessoas do sexo oposto. Seria que a sua mãe ainda teria orgulho nele quando soubesse que o seu único filho era homosexual?
A vida de Carlos era deveras cansativa, sempre que este ia a casa de um familiar parecia que a pergunta base era “então já tens namorada?”, à qual se seguia um doce “não” seguido de inúmeras desculpas. Era como se ele, apesar de ser a mesma pessoa, envergasse duas máscaras diferentes, o verdadeiro eu e o eu que os outros queriam que ele fosse.
Quando Carlos chegou à faculdade, ele deixou os pensamentos de lado e foi cumprimentar o seu mais recente colega, o qual esperava que se tornasse seu amigo, apenas se tinham conhecido há duas semanas.
Miguel: Olá, então tudo bem?
Carlos: Está tudo bem e contigo? Como vai a estadia em Lisboa?
O Miguel vivia em zonas no interior pelo que, quando ingressou na faculdade teve de ser deslocar para Lisboa, onde além de ficar a faculdade, passou a também a viver num quarto alugado, longe dos familiares, longe da sua terra de origem.
Miguel: Está a correr bem, agora no início é difícil, longe da família, tarefas que era a mãe que fazia como comer e coisas do género agora tenho de ser eu a fazer, mas vou-me desenrascando.
Carlos: Dás-te bem com os colegas com quem divides o apartamento?
Miguel: Razoavelmente, mas acho que um deles é “bicha”, pelo que quero manter a distância, odeio gays, apenas vêm arruinar o mundo. Não concordas?
Felizmente antes que tivesse de responder ao Miguel o professor da cadeira que iam ter passou e eles tiveram que ir para a sala de aula.
O dia passou, as aulas acabaram e o Carlos despediu-se do Miguel indo para casa. Quando este chegou a casa ligou o computador e acedeu à internet onde se dirigiu a um site de chats, cujo objectivo era apenas encontrar alguém para fazer sexo. Carlos ainda era virgem, pelo que estava com imensa vontade de experimentar, anteriormente apenas entrava nos chats e lia as conversas que estavam a decorrer, ganhando imenso tesão. Será que iria ser desta que marcaria algo?