Em um estabelecimento Londrino, em uma rua afamada pela vida noturna, havia, dentre tantas, uma sala. E num canto dessa sala, esperava, um homem.
Cezare Almeida, em alguns momentos de sua vida atual, enfrentava pesados dilemas. Um misto de culpa e pena que não combinavam com sua atual “profissão”, assim ele pensava. Havia chego na Inglaterra vindo do Brasil com emprego garantido, apenas para ser enganado e ir parar na sarjeta, por meses a fio. De repente, surgiu aquela proposta repentina, uma chance de se reerguer. Se tornou empregado do Midnight Raven Club. Galgou posições, até chegar a um cargo que lhe permitia algo que nem mesmo imaginara ser possível. Unir o prazer, não apenas o prazer de algo que se gosta, ou se acha agradável, mas aquele prazer mais sombrio, carnal e selvagem, próprio da sexualidade humana, unir isso tudo, ao trabalho, o ato de ganhar a vida.
Cezare manteve, a vida toda, escondido dentro de si, as fantasias e desejos que se convencionaram chamar sadomasoquismo. Causar e sentir dor, dominar e ser dominado. Então, nos dias mais difíceis apareceu o Clube. Primeiro, pareceu apenas um exótico e esnobe ponto de encontro de ricaços, membros da elite londrina e turistas endinheirados. Começou como um porteiro, como um bom salário e moradia. Descobriu que o Clube tinha a ver com aqueles desejos que dormiam em si. Era um lugar onde a dor e o prazer tornavam-se um. Onde se libertavam devassidões. Sem nem esperar muito, Cezare ganhou confianças e conquistou lugares; esperando menos ainda, acordou os seus desejos e os liberou para o mundo. Mesmo que fosse o mundo secreto do Midnight Raven.
Agora era um Feitor. Dentro do Clube, isso significava, era auxiliar no ato do castigo sexual. Prazer e dor. Ganhava, e muito, para praticar atos que antes apenas sonhava. Era um homem de face com feições normais e comuns, mas tinha um porte físico robusto que combinava com sua função.
Mas infelizmente nem tudo era tranqüilidade. Havia esses momentos. Onde se questionava sobre até onde certas coisas podiam ir.
Havia uma grande sala propositadamente escura, iluminada por lâmpadas frias nos cantos. Ao centro da sala, uma mesa de metal, com várias partes articuláveis, e logo ao lado desta, correntes penduradas brotando de roldanas. Em uma das extremidades, um grande espelho. Atrás desse espelho, homens e mulheres, trajando roupas finas e galantes, e mais ainda, mascaras, feito aquelas de festas a fantasia em Veneza, aguardavam ansiosos, por eventos terríveis que ali esperavam acontecer.
A sala obscura era toda feita em concreto, com vários ralos ao chão. Cezare aguardava junto a porta metálica, robusta e opressiva, trajando calças negras e botas militares, o torso nu, e a face coberta por um capuz de executor, feito de couro. Desse jeito, parecia mesmo ameaçador aos olhos dos outros, até aterrorizante. Mas era um homem comum, em uma função exótica. Não gostava de violência, nem de intimidar os outros, quando estava lá fora.
A porta se abriu em um rangido. Através dela, passaram três pessoas. Uma mulher, trajando um vestido negro curto, com botas de cano longo e salto alto grosso na mesma cor, luvas curtas negras de látex e também uma mascara, que lhe cobria apenas a região dos olhos e do nariz, contrastando com sua pele branca. Seus cabelos, morenos e encaracolados, arrumados em um coque no topo da cabeça. Também havia um homem, este com uma roupa formal, lembrava um pouco o fraque de um mordomo, calça e camisa azul e escuros, com colete cinza, botas de caçador e também mascarado, a sua mascara parecendo porcelana branca cobrindo todo o rosto. Era alto e esguio, e caminhava de uma maneira imponente.
Mas o que mais chamava a atenção era a garota. Uma jovem, se percebia pelo corpo. Um corpo bonito, pouco mais de metro e sessenta, esguio, delicado, suave, muito feminino. Trajava apenas calcinha e sutiã negros, rendados, ao mesmo tempo clássicos e sensuais. O seios eram medianos, arredondados e bem formados, as nádegas, firmes, pele lisa e cuidada.
O que poderia ser chocante para os menos acostumados, é que sua cabeça era coberta por um capuz negro, sem aberturas quaisquer. E que ela era trazida pelos outros dois, um a cada lado de seu corpo, lhe puxando pelos braços. As mãos da moça voltadas para trás, algemadas firmemente, os pés descalços em passos vacilantes.
As pessoas atrás do vidro murmuraram. Alguns se viram instantaneamente excitados, outros até amedrontados, pensando onde haviam de metido. Uma das mulheres se retirou da sala.
Cezare, do seu posto, pensava quantos já haviam saído, do outro lado. O “Teatro da Dor” não é para todo mundo. Mas e ele? Ele gostava do que fazia. Mas não era um marginal. Embora apreciasse a submissão um pouco mais, também lhe era prazeroso o sadismo. De forma consensual.
Aquela garota, pelo que ouvira falar, pelo que suspeitava, talvez não devesse nem quisesse estar ali. O pior, ele sabia que era uma conterrânea, uma brasileira. Por uma ou outra conversa ouvida nos corredores, havia descoberto, era uma moça de família pobre. Como ela havia ido parar ali? Será era igual ele no passado, perdida na vida, e como um recurso desesperado, estava ali entregue nas mãos de um clube de sádicos, a ser submetida a coisas devassas e amorais?
E ali estava o dilema de Cezare. Sempre teve medo de saber sobre os segredos mais sombrios do clube. E agora talvez tomasse parte em algo que fosse moralmente tétrico.
O homem alto soltou alguns cordões e retirou o capuz da garota. Mais murmúrios no outro recinto oculto pelo vidro. Cabelos longos, lisos e negros escorregaram pela pele branca. Olhos cinza-esverdeados, se adaptando as fracas luzes do lugar. A boca oculta por uma grande e grossa fita adesiva prateada.
O sujeito com a mascara branca falou algo sussurrado no ouvido da garota, e esta consentiu com cabeça. Em seguida, ele retira em um único puxão a fita adesiva, arrancando um gemido abafado. A mulher no vestido negro puxa de dentro da boca da prisioneira um lenço de seda encharcado em saliva. Cezare fecha a porta, a trancando com um estampido. Depois recebe uma ordem.
O Feitor então segura a mulher algemada pelos ombros, e a direciona para a frente do espelho. Ele vê bem o rosto dela refletido, no mesmo instante que muitos dos espectadores escondidos se deleitam a imagem do corpo bem formado e rosto angelicalmente ingênuo da moça. Cezare lembra de já ter a visto alguns dias antes pelos corredores do clube, discreta, silenciosa, tímida. Lembra de ela ter sorrido para ele, amigável e inocente. Suspeitava ela do que lhe seria feito? Olhando aquele rosto, o homem daria pouco mais de 18 anos (esperava...) àquela garota.
O homem mascarado vai ao lado deles, enquanto a mulher prepara algumas coisas na mesa. E começa a falar, num inglês muito formal e clássico, com uma voz potente, olhando o espelho.
- Boa noite, caros membros do Clube. Sejam agraciados a uma das mais privadas seções, o exclusivíssimo Teatro da Dor. A célebre Rainha Anastásia, a patronesse maior do clube, lhes dá as boas vindas, através de mim, seu humilde serviçal, mordomo Sebastian.
O mordomo faz uma mesura a frente do espelho, curvando o corpo. Logo aponta para a mulher mascarada ao lado da mesa.
- Está é Vênus, uma das mais experientes e cruéis dominatrix da casa, alguns de você já devem conhecer suas... Habilidades.
Cezare não foi apresentado ou referido. Agradeceu por não ter chamada atenção para si. Sebastian continuou.
- Essa a noite é muito especial. Marca um rito de passagem para a personagem principal de hoje, a querida e bela Emilia. – Ele afagou o rosto da moça com uma das mãos, de leve. Ela parecia assustada, sem fazer idéia de com quem o mordomo falava, enquanto as mãos fortes do Feitor a seguravam.
- A Rainha Anastásia também garante que, tal é a importância do evento de hoje, ela estará observando pessoalmente o espetáculo.
Os espectadores se entreolharam. Estaria ali a famosa Anastásia, no meio deles, disfarçada?
Cezare olhou de esguelha para um canto superior da sala, um dos quais onde haviam câmeras minúsculas instaladas. Já havia se encontrado com Anastásia. Tinha calafrios só de lembrar-se da mulher com o corpo todo coberto por indumentárias de couro, sempre totalmente mascarada. Mesmo sentada, parecia maior que todos da sala, mesmo Sebastian. Ela exalava uma realeza poderosa. Haviam muitos boatos sobre ela. Sobre o quão era terrível, inclemente, especialista na arte da dor. Diziam até que era descendente da temível Condessa Bathory, a nobre que se banhava no sangue de belas mulheres para se manter jovem indefinidamente. Claro, ele não acreditava nisso, mas tinha calafrios de pensar muito na coisa. Anastásia estava se tornando uma figura quase que folclórica na noite Londrina.
Sebastian soltou as algemas de Emilia. Ela foi então, direcionada pelos dois, até a mesa metálica. Cezare, conhecedor dos procedimentos, a ergueu um pouco pela cintura para que ela ali se sentasse e em seguida, se colocasse deitada.
Iniciou-se o ritual de aprisionamento. Vênus separou as penas da mulher e prendeu-as com cintas de couro, na altura das cochas, e correntes, na altura dos tornozelos. Cezare apertou com um cinto de couro na altura do abdômen. Deixou um pouco frouxo, mas um olhar reprovador de Sebastian o fez puxar com força, como deveria ser, a restrição, fazendo Emilia ter de prender a respiração enquanto era travada o cinto.
O mordomo se encarregou das mãos. Estas ficaram presas pelos pulsos, ao lado da cabeça da garota, por grilhões metálicos muito grossos. Por fim, uma faixa de alumínio metálico, forrado por dentro, foi fechada ao pescoço dela, imobilizando a cabeça. O Feitor então girou uma manivela na lateral da mesa, que elevou um pouco a região do tórax, deixando esta parte inclinada para cima. Os três giraram a mesa e esta ficou de frente ao espelho.
Cezare, já acostumado a tantas coisas, suava frio pela primeira vez em muito tempo. Pela primeira vez em muito tempo, não queria estar ali.
Enquanto o Feitor ali refletia, a mente de Emilia, prisioneira na mesa, também viajava. De volta ao passado. A um passado de dor e sofrimento.
Nascida em uma família pobre, quase passando fome, por ser a mais nova foi deixada pela mãe, que se mudava para cidade grande tentando ganhar a vida, com uma tia distante. O marido dessa mulher odiava Emilia, odiava ter de cuidar de algo que não era seu sangue. A tratava muito mal, aos gritos. A privava de comida, a fez trabalhar em um lixão. E, claro, tinham as surras. A sua mulher era moralmente submissa, tolamente indiferente, e pouco ou nada fazia para parar com aqueles abusos.
O pensamento foi cortado quando o Feitor, girando outra manivela, fazia a parte inferior da mesa se abrir e a se afastar, abrindo junto, as pernas de Emilia. Elas começaram a ficar muito abertas, bem separadas, de maneira dolorosa, quase arrancando gemidos da moça que se segurava para não emitir som algum.
Quando já estava quase no limite, o Feitor parou. Vênus, municiada de um estilete escondido em seu decote, começou a cortar a lingerie de Emilia, deixando-a exposta, sua vagina e seus seios, a todos que lá estavam. Seu sexo muito visível aos expectadores, os pelos pubianos depilados.
Sebastian, na cabeceira da mesa, desliza as palmas da mão sobre o corpo da cativa, pousando-as sobre os seios dela, e apertando-os com certa força, para demonstrar a sua natureza firme. Ela apenas fecha os olhos em resposta.
Vênus lubrifica uma das mãos enluvadas em um frasco postado embaixo da mesa. Um odor doce atinge as narinas dos presentes. A dominatrix então enfia dois dedos por entre os lábios vaginais de Emilia, lentamente aprofundando-os, lambuzando as paredes internas com aquele óleo cheiroso, desencadeando espasmos no sexo da moça. Emilia sente o seu interior aquecer. Sente sua vagina produzir ainda mais lubrificação, tudo pela ação do preparado que lhe era aplicado. Vênus habilmente estimula-lhe o clitóris enquanto seus dedos trabalham dentro.
Emilia sente as revoluções musculares no seu corpo. Tenta se mexer em êxtase, sem sucesso, claro, tão devidamente presa que está. E, sem esperar, uma pontada de dor fina e aguda lhe atinge os mamilos. Sebastian lhe aplicava a pressão de duas tenazes, instrumentos metálicos de tortura medieval, ao mesmo tempo, em cada seio.
- Ainda não é hora de sentir prazer.
E pressionava, com pericia, bem lentamente, até a dor obrigar Emilia a gritar. Todos ouviram com clareza, mais que isso. Muitos se assustaram. Um homem ejaculou ali mesmo, sem precisar de maiores estímulos.
Sebastian relaxava o aperto enquanto Vênus tirava seus dedos da vagina de Emilia, bastante estimulada. O clitóris estava intensamente vermelho, e o calor lá dentro aumentava aos poucos. Emilia estava ofegante pelo turbilhão de sensações.
O segundo passo foi sinalizado por Vênus aos dois homens. Cezare retirou do compartimento embaixo da mesa três chicotes negros, feitas com várias cordas, chicotes de nove pontas. Entregou um para cada dos outros, e se posicionou ao lado da moça contida. Sebastian do outro lado e Vênus, na frente da vagina exposta, um pouco de lado para que vissem o que iria ocorrer, os do outro lado do vidro.
- Açoite! – Gritou o mordomo, rompendo o silêncio.
E os três começaram a fustigar Emilia. O Feitor e o Mordomo nos seios, a Dominatrix no sexo. A substância que embebia a vagina da cativa atingia seu ápice térmico, ampliando bruscamente as sensações na região. O três algozes ritmavam seus golpes, controlando a intensidade das batidas. Com aqueles chicotes, pesar a mão poderia cortar a pele diretamente. E marcas vermelhas ficavam desenhadas nas partes atingidas.
Emilia gritava. De começo até buscou se segurar, mas passados segundos, soltava sem cerimônias seus gritos. Sentia seus seios castigados, sua vagina flamejando, lotada de fluídos internos. Pediu aos prantos “Parem!”, mas isso só fez Cezare parar. E observar impotente, imóvel, enquanto os outros dois continuavam seus serviços. Emilia forçava pernas e braços mas continuava imóvel, gemendo. E a tempestade de golpes continuava.
No meio do turbilhão, mais imagens do passado em Emilia. Lembrou das safanões, dos gritos, dos berros, das surras que levava, morando numa pequena favela do interior do Brasil. Não havia mais ouvido falar da mãe e dos irmãos que haviam ido para a cidade grande. E lembrou que começou a ser vista com outros olhos pelos garotos da região, quando atingiu a puberdade.
Era a garota mais bonita da região. Uma flor de lótus em meio ao pântano. Poderia ter sido modelo, se alguém olhasse para lados tão escondidos, mas parecia que o destino tinha outros caminhos para ela.
No último golpe, mais forte, desferido por Vênus, a garota gritou alto. Escorreram líquidos pelo sexo ferido, avermelhado. Se era resultado do orgasmo feminino ou efeito do preparado viscoso, ninguém se perguntou. Na outra sala, casais se beijavam, se bolinavam, homens e mulheres, sem cerimônias, se masturbavam.
Emilia respirava ofegante, os olhos cheios de lágrimas, o corpo dolorido, ainda sentindo a queimação e sua intimidade. Vênus retirava outros instrumentos debaixo da mesa. Sebastian discretamente se aproximou de Cezare, o pegou pelo braço, e falou baixinho ao seu ouvido:
- O que pensa que está fazendo? Por que parou o açoite?
- Senhor Sebastian, eu...
- Você têm uma função de confiança, Almeida. Não cometa novos deslizes, entendeu? Você sabe muito bem o que é o Midnight Raven.
Cezare baixou a cabeça. Vênus veio até ele e lhe entregou uma haste, com várias castiçais na ponta. Ela e o mordomo arrumaram velas multicoloridas em cada espaço. O mordomo, depois disso, fazendo chama com um aparelho, aproximou-a do corpo nu de Emilia, na muito, apenas para que os presentes pudessem lhe ver o rosto assustado, as tentativas vãs de se afastar do calor. Acenderam os castiçais.
O Feitor sabia o que fazer. Levou as velas acima da mulher, e, inclinando-as um pouco, fazia verter a cera quente no corpo, deixando marcas vermelhas, amarelas, azuis, violetas. A cera endurecia, formando uma crosta nas partes que atingia. Emilia sentia um calor muito intenso, quase uma queimadura, a cada gota. Mordia os lábios.
Cezare fez gotejar sobre os seios, a barriga e as coxas. Não poupou as pontas do dedos nos pés. Para ela, o maior impacto foi quando a cera derramou-se na vagina ainda se recuperando do látego, ainda sob efeito do óleo. Pareciam brasas dentro de sim. Mas antes que pudesse gritar, sentiu a mão enluvada de Vênus lhe apalpar o queixo, a boca da mulher a lhe abafar os sons, a língua a roçar na sua. Um poderoso beijo roubado.
As velas quase gastas, Sebastian bate palmas duas vezes, indicando o novo tormento. O Mordomo e a Dominatrix saem da sala. Cezare vai a um canto, onde havia uma mangueira oculta. Ao voltar a vista dos presentes, aciona o aparelho, despejando um jato de água gelada sobre o corpo de Emilia, cuja pressão, frio e intensidade fazem a garota sentir vertigens e se recolher em lembranças de novo.
Era obrigada a trabalhar em um lixão. As vezes era tão insuportável em casa, que preferia ficar lá, até o sol se por, mesmo com o mal cheiro e a decadência. As vezes na chuva fria.
Voltaram os outros dois algozes. Emilia tremia de frio, o corpo molhado, a cera já mais solta. Desta vez, Vênus trazia pela mão uma mulher. Parecia ser jovem, cabelos louros e cacheados, olhos azuis por trás da mascara. Trajava um vestido rodado, todo preto, cheio de rendas e fitas, mas com a parte da saia bem curta, as pernas com meias finas e delicadas, pés em sapatos de salto fino, braços em luvas rendadas sem os dedos. No rosto, sempre presente a mascara, mas que deixava ver os lábios vermelhos e carnudos.
Havia sido buscada na sala ao lado. Lembrava das palavras do marido, antes de sair de casa. “Amor, tenho certeza que você vai gostar. É só relaxar na hora”. Seu esposo havia pago um elevada quantia para ambos presenciarem as sevicias no corpo de Emilia, e uma maior ainda para ela participar do ato. A mulher tremia, e já não tinha certeza de querer participar daquilo.
- A senhora Libélula gentilmente irá participar de nosso Teatro da Dor. Os nossos sinceros agradecimentos – Bradou Sebastian, se referindo ao codinome ali usado pela mulher.
O mordomo trazia em suas mãos uma almofada vermelha, e sobre ela, uma extremamente afiada navalha, bem com uma pedra. Depositou a almofada ao lado da mesa, e começou a afiar a lâmina, gerando um barulho bastante intimidador para qualquer um ali, exceto para ele e Vênus.
A dominatrix ajudou a Sra. Libélula a subir sobre a mesa, por uma pequena escada lateral. A mulher lutava contra a vontade de sair correndo dali. Orientada por Vênus, posicionou-se com os joelhos ao lado da cabeça de Emilia.
- Muito bem, Emilia.- Disse Sebastian. – Agora deve fornecer prazer a Senhora Libélula. Se utilizara de sua boca e língua, como devidamente treinada. Não deve mexer o corpo, vou limpar dele a cera da vela. Movimentos bruscos podem lhe causar danos.
Vênus que segurava nas mãos da loira, lhe fez um sinal com a cabeça. A mulher, hesitante, levantou o vestido, e baixou seu corpo contra a boca de Emilia, a qual foi inundada pelos cheiros típicos da sexualidade feminina. Ali, naquela posição tão submissa, sentindo a vagina da mulher a lhe roçar seus lábios, obrigou-se então e fazer o que lhe era pretendido. Usou a língua primeiro, até onde podia, em movimentos ritmados.
Sebastian passava-lhe a lamina pela pele, em movimento muito hábeis e suaves. Tirava as camadas de cera. Emilia sentia a lamina deslizando pelo seu corpo. De repente, sente um aperto no clitóris. Sutil ainda.
- Vênus ira se garantir que você complete seu serviço. Ira apertar gradativamente, até ouvir os gritos de prazer da Senhora Libélula. Concentre-se. – Falou Sebastian.
A dominatrix estava com um dos tenazes a segurar o clitóris da prisioneira. A cada alguns segundos, aumentava a pressão.
Era uma tortura insidiosa. Maquiavelicamente elaborada. Emilia devia se concentrar no ato do sexo oral ao mesmo tempo que buscava manter o corpo imóvel, apesar de tudo, devido a navalha que lhe bailava na pele. E cada vez mais o clitóris submetido a pressão. E essa sensação quase lhe fazia mexer o corpo. Acabava por liberar a tensão na língua e na boca, com movimentos muito rápidos e intensos.
A Senhora Libélula já havia esquecido das duvidas diante da pericia oral de Emilia. Já esquecia que também estava sendo observada pelos outros, incluindo seu marido. E afundava seu corpo no rosto da outra. Emilia lhe abocanhou o clitóris, o chupando, o mordiscando. A penetrou com a língua, sentiu as mãos da loira a lhe pousarem na cabeça. E sentiu também a forte pressão no clitóris, como se o esmagassem realmente. Para sua sorte, a mulher gritou de êxtase, o orgasmo dela fazendo Vênus liberar a intimidade de Emilia.
Libélula, ainda embriagada pela volúpia, esfregava o sexo no rosto de Emilia, quase a sufocando. Sebastian terminava seu trabalho de limpeza. Assim que Vênus saiu de lado, um tenso Cezare, portando um bastão com um consolo de borracha na ponta, o arremeteu contra a vagina já muito judiada da prisioneira. Penetrou com o falo artificial, e com velocidade, o movimentou, dentro e fora, estocando com força para não ser novamente repreendido.
“Essa garota está aqui porque quer. Têm de ser. Têm de ser isso”. Tentava se convencer o Feitor, devido à batalha em sua consciência. No consolo já estavam impregnados os líquidos liberados por ela. Uma câmera logo acima da mesa, através de um zoom, mostrava com precisão as revoluções musculares que rebentavam a cada estocada do membro emborrachado, em uma tela posicionada logo acima do vidro na outra sala.
Ignorando qualquer outra coisa, Emilia tentava respirar. Lembrou as vezes que aquele homem que se dizia seu “tio”, trazia amigos para noitadas de baralho. Aqueles amigos já começavam a lhe lançar olhares lascivos. Aos 16 anos, tinha um corpo escultural, que ostenta ainda hoje. Lembrava quando um deles entrava na cozinha, onde ela era obrigada a trabalhar, e ocasionalmente lhe fazia propostas. Quando insinuavam em lhe tocar. Antes que isso realmente acontecesse, sabendo que o tio não daria a mínima para suas reclamações, passou a se esconder no lixão a noite quando para a sua casa iam aqueles homens.
A senhora Libélula descia da mesa, ofegante. Nunca havia pensando que iria ficar tão excitado com tudo aquilo. Iria a partir daquele momento se lançar de cabeça nas fantasias do marido. Queria mais. Escutou, abafadamente, os aplausos do outro lado do espelho falso.
Sebastian aplicou leves tapas no rosto de Emilia, para que se recompusesse logo, esbaforida pelo ato oral e pela intrusão em sua vagina. Cezare permaneceu o movimento até que ela emitisse um gemido de prazer, o que levou alguns minutos.
- É o momento da pausa para o segundo ato, Damas e Cavalheiros.
Os convidados se retiram da sala, ainda pasmos por tudo o que viram. Os três algozes começam a soltar Emilia da mesa. Sebastian a faz sentar-se, e Vênus lhe coloca algo na cabeça.
Uma peça com tiras de couro. Duas delas lhe metem uma bola de borracha vermelha na boca, outra passa por baixo do queixo, e outras ainda, na altura da testa. Tudo isso é fortemente preso atrás.
- Nada de intimidades com a escrava, certo, Cezare? Faça o que tem de fazer e pronto. Foram as palavras do Mordomo para com o Feitor, antes de sair da sala.
Cezare a ajuda a levantar da mesa. Parece meio entorpecida, corpo mole. Está terrivelmente tentado a perguntar para Emilia, o que ela faz ali? Ao menos, se aquilo é consensual, o quanto é consensual. Mas teme as câmeras em volta da sala. Uma das regras, o Feitor nunca deve falar. Isso aumenta seu porte sádico.
Em uma outra sala, com tapetes persas, livros em estantes, candelabro ao teto e todas essas coisas de nobreza britânica, homens fumam charutos, e mulheres bebericam licores. Todos ainda com as mascaras, ainda com a mente cravada dos atos vistos agora a pouco.
- Muito bem, Cavalheiro e Damas. Quem irá querer ver o segundo ato? Devo acrescentar que algo muito mais próximo. – Assim falava o Coletor, um homem com uma mascara de nariz longo e comprido, a popular “Bauta” de Veneza, e chapéu e três pontas a lhe cobrir a cabeça. – E ainda lhe lembro, aos que aceitarem, lhe aguarda um quarto preparado para seu deleite. Aos desacompanhados, também podemos providenciar companhia.
O Coletor sorriu quando percebeu, a participação ao segundo ato teve cem por cento de adesões, ao verificar os cartões de crédito na mesa. Um homem ainda jogou um maço grosso de Euros sobre a mesa.
- Quanto é para participar do segundo ato? – O Coletor sorriu de novo.
Na masmorra, Cezare amarrava com cordas grossas o corpo de Emilia. Havia feito uns quantos cursos para aprender a arte da amarração, desde que se tornara Feitor Utilizava agora técnicas japonesas. As cordas dando voltas pelo tronco, pelos seios e prendendo os braços atrás, na altura desconfortável do diafragma, entre tórax e abdômen. As cordas ainda passavam pelo pescoço. Conectou as pontas que sobraram a uma das correntes no teto, fazendo Emilia ficar nas pontas dos pés. A garota apenas geme, e esquiva os olhos do Feitor.
“Por favor, não esquive seus olhos assim.” Era o que pensava Cezare. O ato a fazia parecer ainda mais como uma vitima.
O Feitor amarra um dos tornozelos dela, e a faz levantar a pernas para trás, também prendendo esta corda nas correntes. Emilia fica com o corpo um pouco inclinado para frente, com uma perna levantada ao ar para trás. A outras busca se equilibrar nas pontas dos dedos.
Mal Cezare termina seu trabalho, a porta se abre. Entram Vênus e Sebastian, acompanhados dos expectadores que antes se postavam atrás do vidro. De todos ali, apenas a face de Emilia está visível, embora que ostentando o firme arreio com mordaça. Eles a olham, seu corpo delicado e bonito naquela posição, lembrando um grotesco movimento de balé.
As pessoas se posicionam ao redor. Sebastian pega uma fina vareta, de madeira nobre, e vai até Emilia. Os primeiros golpes lhe atingem os seios por algum tempo. Até surgirem os primeiros gemidos e os olhos marejarem. Em seguida, as coxas são atingidas. Mesmo quando ela tenta lutar, quase rodopiando nas cordas, ele continua.
Vênus passa a golpear a vagina e as nádegas. Cezare recebe a ordem para içar as correntes, elevando o corpo de Emilia, fora do chão. As solas do pé preso são castigadas pela dominatrix, enquanto a perna solta é segura pelo mordomo. Passada a seção de tortura, novamente a deixam tocar de leve o chão.
Vênus, em seguida, começa a usar aquele óleo aromatizado em todo o corpo cansado de Emilia. Sebastian pega algo em baixo da mesa. Uma sandália de salto alto, 15 cm, com tiras, estilo gladiador, na cor preta. A sua parte interna está cheia de pequenas estruturas de metal, como espinhos, mas não muito pontiagudos, bem como nas tiras. Um dos observantes lembra-se de um silício, instrumento usado para auto-punição, quando vê o calçado.
- Isso vai ajudar a você manter o equilíbrio na próxima ação. – Diz, sem demonstrar emoções, Sebastian, para Emilia, enquanto lhe coloca nos pés o sapato. Após terminar de deixar o corpo dela brilhoso com o óleo, Vênus auxiliar o mordomo na tarefa. Emilia, claro, sente os espinhos metálicos a lhe machucarem a pele, ainda que não a penetrem a carne. Porém a sola machuca muito, visto seu peso ali apoiado. Ela tenta até deixar o pé suspenso, mas os algozes o amarram e uma argola no chão.
Cezare, seguindo seu roteiro, puxa para o meio da sala um artefato de madeira, que estava escondido em um canto. Um cavalete medieval, de madeira.
- Agora, o Senhor Albatroz irá também participar do ato. Nossos profundos cumprimentos e agradecimentos. – Anuncia Sebastian.
Um homem se aproxima do corpo preso de Emilia. Lhe lança uma palmada na nádega, lhe aperta o seio. Ela geme. Ele deixa as calças caírem ao soltar o cinto.
Vênus de posiciona a frente dele, estimula seu pênis, já parcialmente endurecido, com a mão enluvada. Quando está devidamente ereto, lhe coloca um preservativo.
E ali, todos vêm aquele mascarado agarrar a cintura de Emilia, e lhe penetrar a vagina. Ela, naquela posição agonizante, apoiada no salto de um sapato lotado de vergões. O homem a lhe invadir, agarrando sua cintura, seus seios.
- Rebole para mim, escrava! – Dizia ele.
Ela era obrigada e mexer o quadril como podia, sentindo seus pés torturados a cada movimento. E ele aprofundava seu pênis, batendo seu púbis com força no corpo dela, arrancando espasmos e gemidos.
E naquele entrar e sair frenético, todos se envolvem. “Devorar” com os olhos seria um termo bem aceitável para os que ali estavam.
Emilia sentia seu corpo sendo tomado e sua mente mais uma vez voltou.
O homem inglês surgiu quando ela se aproximava dos 18 anos. Um homem bem vestido, com seus 60 e poucos anos. Falava até bem o português, apesar do forte sotaque londrino. Ele procurava a mãe dela, mas achou Emilia, lá, perdida, naquele beco do Brasil.
Ele se aproximou da família. Usou de carisma e recursos para eles, a sua torpe família adotiva, a liberarem de suas tutelas, a emanciparem. Ela descobriu, tempo mais tarde, que o homem que se metia em sua vida, que mais ainda, estava mudando sua vida, era um criminoso. Aquele senhor em ternos elegantes era um fora da lei na Europa. De certa forma, aquele que a tirou da sua antiga vida, era a origem do Clube.
O homem mascarado ejaculou, soltando seu pênis de Emilia com um estampido, a camisinha cheia de sêmen. Se apoiou na parede, exausto.
- Eu quero ela... Eu quero ela...qualquer preço.... – Balbuciava.
Cezare a desamarrou das cordas, soltando a totalmente. Apoiou seu corpo fustigado e exaurido. Levou-a até o centro da sala. Ali, Vênus a vestiu com um corselete de couro branco, que deixava os seios a mostra, muito apertado. A fizeram vestir o outro par da sandália com espinhos, e uma saia azul muito curto, pregueada, estilo fantasia de colegial. Vênus lhe amarrou o cabelo em tranças. Muitos dos homens, embora não todos, baixavam suas calças, e algumas mulheres, as calcinhas sob os vestidos.
Cezare prende as mãos, desta vez a frente, de Emilia, com algemas de couro vermelho unidas por uma corrente. O mesmo com os tornozelos.
Soltaram a mordaça. Substituíram por uma venda de couro, igualmente bem presa na cabeça. Emilia devia masturbar os homens que dela se aproximassem, a lamber o sexo das mulheres, apenas o suficiente para atiçar. Quando todos estavam muito excitados, ela foi levada para o cavalete. As mãos e a cabeça foram presas nos orifícios da tabua, fechada. As algemas dos pés tiveram seus grilhões ligada a outra estrutura embaixo, obrigando a mulher a ficar com a traseira empinada, costas esticadas. E assim foi o “finale”.
Os homens ejaculavam no rosto da garota, enquanto algumas mulheres lhe castigavam o traseiro com tapas. O homem que havia lhe penetrado, se recuperou para novamente voltar a carga, desta vez lhe mirando o ânus. Vênus passou muito óleo em Emilia.
Desta vez, enquanto recebia o pênis em sua cavidade traseira, sua boca era mantida ocupada pelo membro de borracha manuseado agora, por Sebastian. Um homem resolveu ali na hora pagar a vultuosa soma para possuir a boca da moça.
Enquanto sentia seu anus continuamente penetrado, e sua boca trabalhava ao membro duro de um sujeito que provavelmente ingeriu Viagra para tal ato, vieram mais algumas recordações.
A face cheia de lagrimas de Emilia, olhando o homem que havia se infiltrado na sua vida, o inglês misterioso. O criminoso. Ele olha o rosto dela. E profere as palavras:
- Nunca mais, Emilia. Nunca mais.
O homem era a origem de Midnight Ravens Club.
Fim do espetáculo.
- Eu quero ela, AGORA. – Bradava o homem que havia penetrado Emilia. – A soma que eu paguei era absurda. Eu a quero, amarrada, nos meus aposentos. Entendeu? – Homem colocava o dedo a altura do rosto de Sebastian.
- O Senhor Albatroz sabia que o pagamento era referente ao ato apenas no Teatro da Dor. Emilia não está disponível para outras coisas do Clube, ela é restrita ao Teatro. – Dizia o mordomo, por trás da mascara, sem deixar de perder a compostura, sem elevar o tom de voz.
- Eu elevo a quantia, quanto querem? É só dizer.
- Senhor, lamento. Emilia participou dessa apresentação, e a condição... singular, da escrava, nos obriga a levarmos agora.
- Olha aqui, eu quero comprar ela. Isso não é um clube de BDSM? Eu a compro. – Ele diz, segurando a lapela de Sebastian. Cezare rapidamente se coloca ao lado do mordomo, impondo temor com seu tamanho e seu capuz aterrador.
- Lamento, senhor. O espetáculo da noite acabou.
Cezare olha o homem, enquanto Vênus e Sebastian soltam Emilia do cavalete e a retiram da sala.
- Hey, Emilia, não é? Eu pago uma fortuna para você! Saia desse clube, eu faço o que for preciso para lhe ter. – Falava ainda o Senhor Albatroz.
Sebastian o olhou de canto.
- Por que acha que ela tem escolha? – Proferiu o mordomo, ameaçador, ao homem.
O senhor Albatroz ficou boquiaberto no meio da sala, olhando os três saírem dali, o Feitor postado a sua frente.
Mais tarde, naquela madrugada, enquanto Cezare, com a cabeça muito cheia e pesada, se trocava no vestiário, Sebastian, ainda de mascara, ali entrou.
- Senhor Sebastian, me desculpe, eu...
- Acalme-se, Cezare. Está tudo bem. Você fez um bom trabalho. Será promovido dentro do Clube, mais uma vez. Muito bem. Mas, ao adentrar nos próximos escalões, é necessário que carregue a marca do clube, que será impressa em sua pele, a ferro em brasa. Aceitas?
Cezare tinha seu lado masoquista. Poderia agüentar aquilo. Não era isso que lhe incomodava. Era o destino de Emilia.
Com isso na cabeça, acompanhava Sebastian por um corredor de pedra, longo, escondido atrás de um quadro. Não suportava mais. Decidiu que não daria um passo sem saber onde estava Emilia, o que era feito dela.
- Onde está... a escrava, Emilia?
- Serviu a um propósito. A essa hora, já deve estar enclausurada pelo próximo ano.
Um calafrio atingiu Cezare. Era o limite. Iria bradar a plenos pulmões, onde quer que levassem ele, que não queria mais ter nada a ver com o clube. Foi quando passaram por uma porta, adentrando a uma sala, que Cezare realmente tomou um choque.
Emilia deitada, de bruços, com várias agulhas cravadas pelo corpo.
- Acupuntura, Cezare Almeida, devia experimentar. É um bom relaxante após uma noite intensa como essa. – Falou Emilia.
Ele ouviu a voz melodiosa dela. Sem gritos ou gemidos, era algo muito gostoso de ouvir. Uma fala mansa e tranqüila.
- Mas o que...? – Balbuciou o feitor.
Sebastian, tirando a mascara, diz ao homem.
- Lhe apresento Anastásia Raven, a fundadora e rainha do Midnight Raven Club.
Uma massagista oriental terminava de tirar as agulhas de acupuntura do corpo da moça. Anastásia, ou Emilia, se sentava, cobrindo o corpo dos seios para baixo com uma toalha branca enrolada. Vênus, ao lado, escondia um riso enquanto preparava uma mistura de ervas relaxante para os ferimentos.
- Você têm agido muito bem, Cezare. Quero lhe parabenizar, e oferecer uma promoção com um gordo aumento de Salário.
- Mas... Não é possível. Sebastian disse que Emilia seria enclausurada por um ano!
- É algo meio simbólico para mim. – Disse a garota.
- Espero ter agido conforme suas expectativas, milady. – Falou Sebastian.
- Como sempre, Seb.
Ela fazia esse ritual uma vez por ano. Uma espécie de catarse emocional e física, uma terapia de choque por aquilo que passou no passado, aquele sofrimento da infância.
Lembrou agora, quando descobriu que o homem velho que a achou no Brasil era seu avô. Ele havia fugido do Brasil a muitos anos, e se tornou um criminoso do colarinho branco muito bem sucedido na Inglaterra. Um golpista com contatos em toda Europa. Juntou uma respeitável fortuna, até lembrar da família que havia deixado no Brasil. Tomado pela consciência pesada, resolveu se redimir. Buscou a filha, mas encontrou a neta muito antes. Ao ver o sofrimento da jovem, exerceu sua redenção ali mesmo. Ajudou-a se livrar da família opressora, a ter cidadania inglesa. Num ultimo gesto de arrependimento, deixou sua fortuna para Emilia, que ficou assim, milionária aos dezoito anos. E sumiu para não ser mais encontrado, voluntariamente. Ela agora fazia 28 anos. Ainda parecia uma menina, de rosto e corpo. Uma vida bem cuidada e genes agraciados permitam isso.
Emilia quis romper de vez com o passado. Até hoje auxilia sua mãe e irmãos, mandando vultosas somas, noticiando que está viva e bem. Mas abandonou o nome de Emilia. Passou a se chamar Anastásia. Com os velhos contatos de seu avô, foi muito fácil falsificar uma identidade nova.
Decidiu que iria fazer o que gostava. Era uma sadomasoquista, e resolveu explorar seus gostos de uma forma monumental. Criou o Clube. Que agora lhe deixava ainda mais milionária. Aprendeu que as aparências são a alma de um bom negócio, com seu avô, antes de ele sumir. Por isso ela estimulou os boatos sobre o clube, alimentou fofocas e fez aquilo tudo parecer muito mais sombrio do que realmente era. No clube tudo era consensual, mas ele tinha fama muito diferente.
- Então, a primeira vez em que vi Anastásia, não era a real? Parecia muito maior. – Lembrava Cezare, quando foi apresentada a rainha, metida num vestido vitoriano de couro, mascarada, totalmente encoberta.
- Era eu sim. Note, meu bom Cezare, que quando estamos com medo, as coisas parecem diferentes. A mente prega peças.
Anastasia reassumia o nome de Emilia uma vez por ano, em sedes diferentes do clube, em seu ritual catártico. Sabia que isso assustava muita gente. Quando andava pelas ruas, bem vestida, feliz e altiva, mesmo sem mascaras, poucos poderiam ligar a imagem da escrava a ela. Trancafiar Emilia por um ano é como ela se referia ao fato. Trancafiar em sua mente. Quando castigada no Teatro da Dor, simulava o terror, mas era prazer. Afinal, tinha “Teatro” no nome. Claro que o castigo era bem real, mas afinal, também era masoquista.
Outra coisa que ela gostava, era de ajudar conterrâneos, brasileiros, como ela. Não foi por acaso que Cezare acabou conhecendo o clube. Mas não quis comentar no momento.
- Vou ser promovido, então? Devo ter a pele marcada?
Todos olharam para Sebastian. Ele fez um reverência, e, com o rosto muito sério, disse:
- Uma humilde brincadeira que fiz a ele. Perdoem esse serviçal.
Todos riram menos Sebastian, que ficou com a costumeira austeridade no olhar, própria de um típico mordomo inglês. Aquela noite, Cezare dormiu imensamente mais aliviado.
Por uma praça ensolarada em Londres, passeia Anastasia. De roupas elegantes e confortáveis, ao passar por um memorial onde havia uma escultura de um corvo, teve mais uma memória avivada.
Seu avô lhe contava a verdade sobre si, e lhe passava os seus bens, enquanto a aconselhava a não mais abaixar a cabeça para o mundo.
- Emilia, isso tudo o que você passou...
Afagou o rosto da neta, lacrimejante.
- Nunca mais, Emilia. Nunca mais.
Assim também falava o corvo do poema do Americano Edgar Allan Poe, em uma madrugada. Assim, Emilia/Anastásia se inspirou para sua obra.
Atendeu ao telefone. Alguém lhe encomendava um cenário, uma fantasia, em Istambul. Anastásia sorriu. Era, afinal, uma fabricante de sonhos devassos. E continuou seu caminho...
Seja bem-vindo(a) ao Midnight Raven Club!
(Caso queira ler suas fantasias BDSM no Midnight Raven, escreva: silken.skin@gmail.com)