Por mais que seja um capítulo independente, não vou retomar todo o assunto que escrevi em Lírio do Povo - I. Vou continuar de onde parei. Depois do primeiro beijo, eu e Laila tivemos meio que uma estremecida, o que pensando agora até faz sentido. Estávamos assustadas. Não foi só quebrar o tabu do primeiro beijo: foi mergulhar de cabeça, um verdadeiro mosh, em temas como o homossexualismo e o incesto. Não sei como crescemos sem nenhum trauma recalcado - só Freud explica. Ou, talvez nem ele.
II – As Brincadeiras que Fazemos
Enfim, paranóias aparte, vou tentar lembrar como que ficou nossa relação. Ficamos meio assim, frias uma com a outra. Não tinha como ficar! Demos aquele puta beijo e bom, pesou demais. Os dias foram passando, e dava pra sentir a tensão superficial. Em cada jantar, em cada café-da-manhã, quando acordávamos. Estava lá, sobrecarregando os olhos dela. Tenho certeza que ela via nos meus também. É o problema de ser igual: não se esconde nada da outra.
Talvez os piores momentos fossem aqueles que ficávamos sozinhas. A voz embargava, a garganta queimava. Simplesmente não dava para puxar o assunto, estava ficando insuportável. E o mais estranho é que estávamos convivendo com tudo isso, sem trocar uma palavra, a vida continuava, íamos juntas para festinhas e para o cinema. Só que a sombra daquele beijo sempre estava lá. Nas festinhas, nesta altura, nós duas já havíamos beijado outros garotos. O problema era difícil justamente porque era sobre nós mesmas a discussão.
Se por inércia não iríamos discutir isso, bom, tudo bem. Eu mesma tive que mudar essa situação. Estávamos agora em um colégio mais puxado, para o vestibular. Horários diferentes, tudo diferente. Círculo social diferente. De qualquer maneira, estava eu em casa, Laila estava em aula naquele dia. Meu celular vibrou, e logo vi que era minha irmãzinha: “I’ll pretend that I’m kissing, the lips I am missing, and send all my love to you!”. Temos esse costume, de mandar trechos de músicas para a outra, só as duas pensarem na melodia da canção ao mesmo tempo. Eu lembro que mandei a resposta pra ela quando resolvi que ia falar: "coisa, vamos falar sério hoje"; "o que, margaridinha?", ela respondeu logo depois. É engraçado como irmãos/irmãs criam apelidos para irritar o outro. "Sobre aquele beijo". Para criar um stress básico, ela não respondeu. Talvez ela não tenha visto, ou será que viu? E está tão nervosa como eu?
De qualquer forma, teríamos de discutir. Minha irmã mais nova estaria durante a tarde na escola. A mais velha, estudando na escola também. Estaríamos sozinhas. Enfim, ela chegou em casa como sempre, toda serelepe. Cantando alto.
- Laaa? - Gritei, saindo das reações de combustão, enquanto ouvia alguma melodia indefinível vindo para o quarto - É você?
- Yoooooowww! - Ela entrou de supetão, fez algum sinal com a mão, típico de alguma gang americana, jogando a mochila na cama, e continuou a cantar um rap, enquanto ia para o banheiro, não preciso dizer, tentando imitar alguma coreografia. Adoro quando ela chega boba. Ela continuava cantando.
- Você viu minha mensagem? - Pergunte para a porta. Em resposta, ela aumentou o volume da cantoria. Parou para fazer algo. "Sim!"; ouvi de lá dentro, antes dela voltar para a música.
- E aí? - Não pude deixar de ficar nervosa. Ela saiu do banheiro e veio pro quarto.
- I got ninety nine problems, but a bitch ain't one! - Ela cantou, finalmente, o refrão, me respondendo, e ficando imóvel, congelada no ato de gesticular a rima. Fiquei em silêncio, olhando a cena: ela, calça de moletom, meias, polo branca, fazendo pose de rapper, olhando para mim, com toda a expectativa do mundo.Caiu a ficha do que ela quis dizer.
Começamos a gargalhar feito loucas. Demos risadas como se não houvesse amanhã, extravasando toda a tensão. Eu ri muito, ela também. Meus olhos estavam marejados, meu diafragma chegava a doer. Quando uma de nós começava a respirar, a outra ria mais, e a histeria voltava. Ficamos as duas sentadas, encostadas na cama, tentando respirar de novo. Olhei para ela, e fui correspondida por um olhar bobo. Ela foi com o dedo até meus olhos e limpou as lágrimas.
- Você é uma idiota, sabia?
- Mas foi genial.
- Foi - Concordei. Ela estava limpando suas lágrimas com a manga da camiseta.
- Pode falar de verdade o que você está sentido Livs.
- Para falar a verdade, eu só queria falar que eu estava me sentindo muito mal por que eu sinto meio que essa assombração entre a gente - Muito verdade! - E a gente tinha jurado que estaríamos uma para a outra!
- A gente é meio sentimental, não é não? - Ela sorriu, enquanto eu a puxei para um abraço - Mas eu também sentia tudo isso. Eu te amo.
Ficamos abraçadas um tempo.
- Mas somos lésbicas incestuosas indecentes, afinal?
- Não sei - Respondi - Se eu te beijar aqui - falei enquanto beijava sua face - Não é nada. Para mim aqui também não é.
- Você está me seduzindo? - Ela perguntou, risonha. Eu tinha acabado de roubar um selinho dela. Meus lábios estavam ligeiramente adormecidos, foi um choque elétrico bem rápido, que amorteceu nossa boca momentaneamente.
- Não, mas expressei meu ponto de vista - Desnecessário, né? - Pode ser, mas não temos problemas com isso, pelo menos entre nós mesmas.Olhamos uma para a cara da outra, e cantamos ao mesmo tempo: "because I got ninety nine problems, but a bitch ain't one!". Voltamos a dar risada, e a vida continua.
Começamos, deste momento em diante, a nos cumprimentarmos, quando sozinhas, óbvio, com beijinhos. Era mais uma brincadeira. Mas talvez tenha sido esse clima de descontração que nos levou até onde chegamos. De vez em quando, fazíamos de sacanagem. Certa vez, voltando de uma festa, comentei para ela que não tinha achado nenhum menino interessante o suficiente para ficar. Ela concordou, mas ainda soltou ainda:
- Deixe estar, Livs...
Enquanto esperávamos o elevador, já no prédio de casa, ela pegou meu celular e jogou em um corredor, que dava no hall.
-Porra, La, engraçado, hein? – Xinguei ela, enquanto ia pegar. Quando me virei para voltar ao elevador, que devia ter chegado, ela me encostou na parede e começamos a se beijar. Foi automático. E que beijo. Rolava uma química incrível, nossas línguas travavam uma verdadeira guerra de tensão em nossas bocas. Já que eu estava na parede, puxei-a para mim, agarrando forte sua cintura. Quando procurei a língua dela com a minha, seus braços enroscaram meu pescoço e me puxaram pra cima dela.
Seu corpo agora se desenhava coladinho por baixo do meu e nossas mãos acariciavam uma o cabelo da outra. O beijo ficava cada vez mais quente, o estalo do encontro entre os nossos lábios se misturando à troca de saliva entre nós duas. Quando me afastei, para respirar devidamente, ela mordeu de leve meu lábio inferior, me arrepiando intera. Acho que foi a primeira vez que umedeci pra valer em um beijo. Eu olhei para ela, aquele olhar malicioso, os lábios curvados em um fino sorriso, ainda ofegante do beijo. “Vai morder, é?”. Me curvei em seu pescoço, e beijei, e mordi muito. Ela gemeu de leve, o que só me atiçou. Dava pra sentir o bafo quente dela na minha face. Ela me afastou de leve: “uau”. Estávamos pegando fogo, mas morreu ali. Ela ficou umas boas semanas usando cachecol, depois disso. Também, eu deixei uma baita marca de mordida. Beijar já não era um tabu para nós: se tivéssemos a oportunidade, e a privacidade para tal, geralmente rolava uma pegada. Até hoje, para falar a verdade.
Uma vez eu lembro que, um pouco antes do nosso décimo sexto aniversário, eu estava estudando um pouco antes de dormir. Laila saiu do banho, como sempre, enrolada em uma toalha, para se trocar no quarto.
- Ai, essa vida bandida...
- O que passa, florzinha?
- A vida mesmo... Quero massagem! - Ela me olhou com cara de cachorro pidão, faminto - Por favor? Por sua irmã mais linda e cansada do universo?
Aquiesci. Ela se deitou de bruços, só de shorts, em nossa cama (é, dormimos em uma cama de casal, mamãe diz que até quando éramos crianças não desgrudávamos nem na hora de dormir). Peguei um hidratante na cômoda, e comecei a massageá-la. Suas costas eram macias: pele sedosa, alva. Gostava de apertar de vez em quando, sentir a rigidez de sua coluna, bem como dos músculos do ombro. Nós duas tínhamos musculatura típica de quem faz natação: fizemos cerca de 10 anos o esporte, até entrar no colegial. Não tínhamos ombros largos, entretanto. Nossa silhueta sempre teve um aspecto frágil, feminino. Eu gosto de fazer massagem: você vai sentido o corpo, vendo onde deve massagear mais. De vez em quando eu arranhava as costas dela de leve, com inocência mesmo.
Massageei toda a área das costas dela. Resolvi cortar aquilo lá, precisava tomar banho. Peguei uma camiseta de pijama para ela, e entreguei. Ela estava toda sem graça para colocar, eu percebi. Ainda deitada, fez um malabarismo, de costas para mim, e completou o pijama.
- E você não coloca uma camiseta como uma pessoa normal por que...? – Insinuei. Queria mais era tirar sarro dela. Só que Laila virou a cabeça dela para mim, completamente enrubescida. Ostentava um cômico sorriso amarelo no rosto. Gaguejou qualquer coisa. Eu ri – Não quer falar, mesmo? Ela me fuzilou com o olhar – Para com isso! – Pediu séria. Eu estava gostando cada vez mais do desconforto dela. Chacoalhei de leve a perna dela, para ela se virar. Mas daí eu vi o que era a razão de constrangimento dela.
- Não acredito – Parecia que tinham ligado uma corrente elétrica em mim. Senti o sangue fluindo para minha cara, e ela corando também. Quando levantei de leve sua perna, abriu-se uma visão privilegiada para mim: dava para ver, em seu short de flanela, todo o contorno de sua virilha, bem como de sua vagina, completamente marcada por umidade. Ela estava morrendo de tesão com a massagem. Soltei a perna dela inconsciente, vidrada no que tinha visto. Ela tentou cortar tudo, virando-se para mim, mas funcionou ao contrário. Agora, sentada, eu via a fina coluna de umidade que corria para dentro de sua virilha, e ainda ganhei a visão de seus seios completamente rijos, quase furando a camiseta.
Ela elevou seus joelhos, escondendo o busto. As pernas grudadas uma na outra, cobriram a parte marcada do pijama. Ela olhava para mim, esperando cautelosa uma reação, mordendo os lábios. Seu cabelo preso, agora parecia frouxo, a ponto de desmontar. Uma mecha escapou, e emoldurava seu olho esquerdo. Muito mais linda que qualquer modelo, devo dizer. Eu estava meio que em choque, nunca que esperava ter despertado algo assim nela.
- Se você está gostando tanto, posso continuar – Gaguejei. Ela riu nervosa. Se virou, e tirou de novo a camiseta. Eu me aproximei de vagar, com hidratante nas mãos, e voltei a massageá-la nas costas. Ela estava sentada agora. Estava um ar meio tenso, e quis de todo jeito alguma indicação que estava tudo bem – Prende seu cabelo de novo, vai soltar – Ela agradeceu, virando parcialmente a cabeça, sorrindo. Eu continuava a massagear suas costas, sempre subindo. O pescoço deu lugar para as omoplatas. Das omoplatas, fui para um braço, e sem querer (juro!) rocei de leve em um de seus seios. Meu coração foi a mil, mas não podia parar. Continuei, lidando com a taquicardia. Refiz o caminho no outro braço. Voltei para seus ombros, e desci só que não pelas costas. Imagino que sejam os deltóides, não sei dizer direito.
Sei que, quando estiquei minhas mãos para alcançá-los, Laila se reclinou, deitando sobre mim. Minhas mãos passaram por toda a extensão de seus seios, os mamilos fazendo cócegas em minhas palmas. Desci até sua barriga, fitando ela: estava de olhos fechados, respirando de leve. Subi com minhas mãos de novo, só que agora eu fui para seus peitos: não havia como ignorá-los! Os peguei, apertei, massageei. Puxava os mamilos, eu os sentia intumescidos. Sentia seus seios firmes, substanciosos: eles realmente tinham porte próprio, imponência. Erguiam-se firmes. Minha irmã estava respirando mais pesado, a boca entreaberta. Passei minhas unhas pela extensão de sua coxa, ela suspirou reciprocamente.
Resolvi ir para o tudo ou nada. Não que eu tivesse escolha no estado em que estava. Comecei a beijar seu pescoço, no que de imediato ela se inclinou um pouco para o lado, facilitando meu trabalho. Ela recendia o perfume do hidratante. Até hoje aquele cheiro de lavanda está na minha memória. Enquanto minha mão esquerda acariciava um de seus seios, passeei com minha mão livre por suas pernas, na medida em que ela as abria para facilitar minha tarefa. Pousei minha mão sobre seu short, pressionando sua virilha. Ela suspirou longamente. “Posso te tocar?”. “Pode”. “Por dentro do pijama?”. “Vai logo!”. Ela respondia em um fio de voz meus sussurros, exasperada para que eu a tocasse.
Enquanto introduzia minha mão dentro de seu pijama, mordi seu lóbulo direito. Senti seus pentelhos rentes, bem aparados, mas completamente úmidos. Mais adiante, entrei em contato com um verdadeiro vulcão em erupção, expelindo lava. Três dos meus dedos, o indicador, o médio e o anular estavam ali, desabrochando essa rosa pluriaberta, que é a genitália feminina. De cara, sentia seus grandes lábios inchados, envolvendo meus dedos por entre seus pequenos lábios, estes descortinando sua fenda, sua vulva pulsante. É nesta rachadura que meu dedo médio deslizava: tive receio, apesar de querer muito, penetrá-la com o dedo. Não o fiz. Em vez disso, comecei a massagear, em movimentos circulares, seu clitóris. Ela gemia baixinho. Esticou sua mão, e passeou por minha perna, apertando minha coxa quando aumentei a velocidade dos movimentos.
Aos poucos, o quadril dela começou a acompanhar o ritmo que eu impunha. Laila perdia seus pudores gradativamente, e aos poucos seus suspiros e gemidos viravam pedidos por mais. Eu, não preciso dizer, continuava minha tarefa, eventualmente ensaiando uma penetração com meus dedos, mas sempre masturbando seu grelo intumescido. Reparei que ela estava próxima do orgasmo: aos poucos, suas pernas se reviravam na cama, em espasmos da musculatura, sua coluna estava curva. Pensava eu, excitada, como melhorar a sensação dela. Comecei a beliscar de leve seus mamilos, enquanto beijava demoradamente sua nuca. Mordi também. Gosto de morder. Minha atenção voltou-se para Laila só quando ela, ofegante exclamou: “vou gozar!”. De fato, percebi tudo, como sua musculatura enrijeceu no momento, as costas arqueadas, o gemido em um tom mais alto. Minha mão esquerda, que estava em seus seios, acabou apoiando seu corpo, que foi para frente involuntariamente. Ela por fim se encostou em mim, ofegando, rindo sozinha do próprio prazer.
- Acho que vou querer mais dessa massagem, hein! – Rimos juntas. Ela se ajeitou melhor me colo, acomodando-se. – Sério! Qual é o seu segredo? – Abanei a cabeça, dando os ombros.
- Vou tomar banho, é melhor. – Disse, me levantando. Estava de bom humor, afinal. – “Well, I heard your mother say, what a pleasant boy you're going with, that I don’t mean any harm, and I only want to play!” – Cantarolei, indo para o chuveiro, tirando a roupa.
- Hei! Vou ir com você, preciso tomar outro, de qualquer jeito! – Ela me seguiu, se juntando à cantoria – “Though I know she's just protecting you, you're just a little girl, well if your mother only knew the games we play!” – Cantamos juntas, alto, rindo de nós mesmas – E não pense que você vai escapar da minha massagem!
É, se não éramos amantes, ainda podíamos cantar sobre as brincadeiras que fazíamos.