Alguns amigos meus sabiam sobre minha opção sexual e sobre meu namoro, mas muitos poucos estudavam comigo, e os que estudavam não falavam nada.
- Então.... Quando me perguntarem na escola que aliança é essa eu respondo...?
- Que você está namorando.
- Coma pessoa que te ama muito.
- Mas Érik, uma hora ou outra eles vão ter que saber.
- Então vai ser outra.
- Mas...
- Ei! Não. Eu não quero ver você sendo zoado na escola, chamado de gay, bicha, viado! Eu não quero que você sofra!
- Eles são meus amigos. Não vão fazer isso.
- Você é amigo de todos por acaso? De todos os 200 alunos que tem lá?
- Não....
- Então, não. Ainda não.
- Se depender de você ninguém nunca vai saber! É isso que você quer? Viver escondido?! Sem assumir a gente?!
- Enzo para! Você sabe que não é isso! Quer saber! Vai la então! Conta pra todo mundo! Eu quero ver então! Mas não vem falar que eu não te avisei!
- Ótimo!
- Ótimo!
Saí do carro furioso! Como ele não queria me assumir?! Antes eu estivesse escutado ele... entrei na escola e fui andando no corredor indo até o pátio. Falei com o pessoal da minha sala e as meninas ja vieram em cima de mim perguntando se eu estava namorando.
- Quem é a sortuda?
- Uma pessoa especial Julia.
- Podemos saber que pessoa é essa? A gente conhece? – perguntou Rafaela.
- Então.... conhecem sim... mas eu acho que aqui não é hora nem lugar.
- Tudo bem então. Outra hora você fala.
- Ok, Ju. Hoje a noite eu conto pra vocês, na festa da escola.
Fui pra casa com o pessoal da minha classe, o Érik não podia ir me buscar por causa do trabalho. Eu e as meninas, a Júlia e a Rafaela ficamos por ultimo e fomos andando até minha casa:
- eu tenho que contar uma coisa pra vocês.
- (Júlia) É sobre a namorada super secreta?
- Mais ou menos...
- (Rafaela) E então? Fala! Quem é ela?
- Não é ela... é ele.
- (Rafaela e Júlia) ELE?!
- ÉJúlia) Por ESSA eu não esperava.
- (Rafaela) Nem eu.
- E então?
- (Rafaela) Ah! Sei la. Eu to meio confusa... você não era hetero até uns dias atrás?
- Era, mas... vocês não entendem... é SÓ ele.
- (Júlia) Enzo... Você tem certeza?
- Mais certeza impossível. Eu o amo.
- (Rafaela) é.... vamos júlia?
- (Júlia) é. Vamos.
- Não tem importânciaJúlia) o que?
- Se vocês não quiserem mais falar comigo. Eu entendo.
- (Rafaela) Tchau enzo.
- Tchau.
Entrei em casa e passei o dia no msn. Eu sabia que a notícia ia se espalhar pelo colégio inteiro mas eu não queria nem saber. A noite seria a festa na escola. Era tipo uma festa junina, só que fora de época e sem bandeirinhas. Era mais pras crianças mas todos foram convidados. Eu ia com meus pais e o Érik.
- Eu contei pras meninas.
- Mais que merda Enzo! Puta que pariu! Será possível que você não me escuta!
- Mas Érik!
- Porque você faz isso comigo?
- Amor. Por favor. Me escuta. Elas não falaram nada de mal. Eu nem sei se elas vão falar comigo mais... mas o importante é que elas sabem, e todos sabem.
- Eu não vou mais na festa.
- Elas não sabem quem é. Ninguém vai saber que é você.
- Você acha que eu to preocupado com isso? Eu to preocupado com você.
- Esquece isso. Vem, vamos.
Descemos do carro e meus pais vieram atrás. Entramos juntos e de repente a aliança pesava uma tonelada na minha mãe e nós nem estávamos de mãos dadas ou coisas do tipo. Sentamos em uma mesa em uma das barracas e eu fui pegar uma bebida pra mim. Até que tudo não poderia ser mais perfeito:
- E ai Enzo? Beleza?
- Beleza, Marcelo. E com você.
- Comigo tudo ótimo. Vi que trouxe o namoradinho pra festa.
- Que namoradinho garoto?
- Aquele ali sentado na mesa.
- Ele não é meu namorado. É meu primo.
- A é? Então é moda entre primos usar alianças iguais?
Fodeu. Não sabia o que falar. Eu tinha esquecido desse pequeno detalhe. Mas quer saber também que se foda. Uma hora ou outra eles teriam que descobrir.
- E se ele for meu namorado? Algum problema com isso?
- Não, problema nenhum, mas quem diria que o grande Enzo queimava a rosca? As pessoas mudam não?
- Pois é! Menos os idiotas como você que continuam sendo idiotas independentemente do tempo que passe.
- Qual é Enzo. Você só devia ter me procurado antes de sair distribuindo geral por ai. Eu tinha te comido facinho...
- Vai se fude Marcelo!
- Prefiro fuder você mesmo. Te comer bem gostoso e se seu namoradinho quiser dar também é mais do que bem vindo pra ser minha putinha, seu viadinho.
Não me controlei e dei um soco na cara dele. Ele ficou meio atordoado mas veio pra cima de mim. A confusão estava armada. Agora que a escola inteira ia falar mesmo! Ele pulou em cima de mim me derrubando no chão. Saímos os dois rolando. Formou-se uma multidão e alguém me tirou de cima dele. Eu chutava e tentava me soltar, mas não adiantava. Alguém segurou ele também. Eu queria mata-lo de tanto ódio.
- Me solta Érik! Me solta! Eu vou socar ele!
- Iiii, a bixinha ficou revoltada é? O namoradinho tem que segurar agora é?
- E o que que você tem a ver com a minha vida hein Marcelo? Você é meu pai e eu não sei? Eu não devo satisfações a ninguém nessa festa. A não ser aos meus pais! Vão todos pro inferno! Pode me soltar. Eu não vou fazer nada.
Érik me soltou. Eu me recompus e soltaram o Marcelo também. Eu estava roxo de raiva. Mas precisava falar mais uma coisinha. Fui andando em direção ao Marcelo e falei bem perto dele pra todos ouvirem:
- Da próxima vez que quiser comer alguém, vê se a pessoa ta afim de você tenta ser mais gentil e aceitar um não. E se for um não que você ouvir, ameaçar a pessoa e xingar ela não vai adiantar nada.
Ele ficou branco quando eu falei aquilo e algumas pessoas deram risadas abafadas. Então eu me virei, mas quando ele pensou que eu ia embora eu virei e dei um chute no saco dele. Ele caiu no chão e eu escutei os “uuuuuhhh...” das pessoas.
- Se lembra de uma coisa meu filho, não é porque eu tenho namorado que esta escrito PUTA na minha testa não. E isso não significa que eu vá sair dando pra todos os homens.
Saí andando puxando o Érik pela mão e deixando o Marcelo encolhido no chão gemendo de dor.
Continua