Quero contar aqui um pedacinho da minha vida, um pedacinho recente e que me faz muito bem. Quero compartilhar essa emoção ou ate mesmo as loucuras e dificuldades que estou vivendo.
Bem, vamos começar descrevendo algo meio que incomum de se descrever, poderia falar de uma pessoa magra ou gorda, de um alto ou baixo. Mas vou começar pelo olho, simplesmente um olhar.
Lembro-me bem (risos), são castanhos, bem aberta a procura de algo. Estava meio embaçado, existia fumaça no ambiente que me parecia muito comum, tinha cílios não tão longos e uma sobrancelha grossa, mas não exagerada.
Bom, mas esse olho, ou melhor, esse olhar passou por mim varias vezes, era um olhar meio que desconfiado, como outros diziam “olhar de rabo de gato”, pra mim estava procurando algo, mas creio que não teria coragem de encontrar naquele momento.
Os dias iam se passando e aquele olhar ficava mais forte, mais chamativo e meio safado. Eu estava em meu lugar estava sozinho então correspondia ao mesmo olhar em que me encarava. Mas tudo aquilo era ligeiro em minutos esse olhar desaparecia e eu ficava ali na expectativa de rever aqueles olhos penetrantes novamente.
Passavam se alguns dias ou ate mesmo alguns meses, esse olho estava sumido, não o via naquele local há tempos, em minha cabeça não saia aquele olhar entrava ali varias vezes e em meio de olhos azuis verdes e castanhos não revia aquele olho que me prendeu de uma forma inimaginável.
Foi ate que um dia aquele olho multiplicara, não gostava do que eu via, eu olhava para ele olhava para mim e logo em seguida para os outros. Fiquei meio sem entender, seguei-me na hora e isolei aquele intruso que ocupava aquele lugar, foi ai que percebi que aquele olho continuava ali, firme e forte me secando novamente, eu claro retribuía e causava faíscas nos olhos alheios.
Ate que um dia me aparece um pé (risos) sim alguns dedos me encostando e eu detraído me assustei de inicio, pensei ter sido só um esbarrão sem querer, mas o fato de tudo se repetir instantaneamente me deixava confuso, tentava disfarçar, primeiro aquele olho agora acompanhado do olho um pé e um olho visinho. Tentava não acreditar, mas tudo aquilo foi maior e não resisti às tentações daquele pé e deixava rolar.
Os dias se passavam e no mesmo local no mesmo horário, vinha aquele olho acompanhado por aquele pé em pé não muito peludo, com veias salientes que deixavam marcas sobre a pele macia e um detalhe logo em cima do calcanhar, uma fita amarela com vermelho e preta, se me lembro bem.
Aquela situação começou a me consumir, não pensava naquilo em outros instantes, mas quando via aqueles pés e aquele olhar inconfundível não conseguia disfarçar minha cara de bobo, ganhei ate uma apelido que vim a descobrir um tempo depois mas que acho melhor não comentar.
Se não me bastasse tudo isso que estava me acontecendo, um tempo depois me veio alguns esbarroes e cutucões que não sei de que parte vinha se era eu ou se era ele, vamos dizer assim (riso).
Isso foi ficando serio, ele sempre acompanhado, tentava me aproximar, mas eu era impedido pelo medo meu e dele também, ficamos nessa enrolarão por vários dias, ate que um dia as coisas não andavam muito bem para o lado daqueles olhos, via-o meio cabisbaixo e desconsolado, ate que então num instante de nervo e desafio saiu algumas palavras. O olho vizinho não o acompanhava mais, e o olhar não me era o mesmo, não sei, mas parecia mais livre mais descontraído e desconfiado, um olhar que me escondia algo, mas não saberia o que era.
Há mas nesse dia eu me lembro bem eram mesmo apenas um par de olhos, aqueles mesmos castanhos citados no inicio, de tudo me aparece uma boca, se já não me faltasse os pés9 novamente risos) um sorriso meio de canto como sempre e agora algumas palavras que nem me recordo ao certo o que era de tão tremula e suave em que foram ditas.
Sim estava sozinho, pensei a mim mesmo, balançando a cabeça retribuindo-o com um sorriso desajeitado. Foi tudo muito rápido e o lugar ainda estava com enfumaçado, mal poderia ver as pessoas em nossa volta e o calor fazia o suor escorrer pelo nosso corpo. Então fizemos o que deveria fazer e em silencio saiu. Pensei no que acontecia e percebi que era a hora de saber o que estava acontecendo resolvi para-lo e ver de qual era a dele.
Aqueles olhos que antes me procuravam agora eram perseguidos pelos meus, os pés caminhavam prela calçada e eu então entrei no meu carro, dei uma volta no quarteirão pensei em desistir mas sabia que aquela situação já estava passando da hora de se resolver. Parei o carro onde obviamente os passos daqueles olhos iriam seguir então quando ao meu lado ele se posicionou acenei e perguntei aonde iria. Isso pode ser interpretado como vulgar, mas não me preocupava com interpretações posteriores. Não me lembro o que falei ao certo, propus uma carona o que foi de imediato aceito por aqueles olhos que me encaravam agora como nunca.
Imaginei aquilo uma loucura, parecia que conhecia aqueles olhos há tempos, o papo, a conversa foi desenrolando numa boa e percebi o quanto um conhecia o outro apenas pelo olhar.
Depois de tanta conversa resolvi ver o que acontecia para que aquele olho me encarasse tanto e de imediato perguntei o que estava acontecendo porque me olhava tanto. A pergunta foi silenciada e olho no olho eu entendi a resposta. Agora mais cego do que nunca fechei meus olhos e deixei que aquela boca chegasse aos meus lábios.Um beijo! UM BEIJO! Que loucura deixei para descrever aquela boca nesse momento, uma boca de lábios macios e carnudos, de dentes alinhados e com um sorriso extravagante que era muito lindo e sincero e agora acariciava meus lábios com aqueles olhos fechados. Estavam os dois cegos!