Passei o restante das férias na casa de minha tia, contando os segundos para que aquela dor no coração fosse embora e não voltasse mais. Será que seria pedir de mais que eu esquecesse Andrew? ele não me amava, por que sofrer por um amor não correspondido? Então tomei a decisão de apagá-lo de minha memória, mas quem dera se fosse tão fácil assim, poder decidir quem você quer amar...
No primeiro dia de aula Diana estava me esperando no portão como sempre, naquele dia ela estava com calças jeans coladas ao corpo e um lindo moletom da gap, procurava por algo e, quando me avistou veio em minha direção dizendo:
- Como você ta Peter?
- Melhor eu acho, mas não muito...
- Apesar de não saber o motivo de sua tristeza, entendo você, não precisa contar, estou aqui para te dar apoio – Diana era estressada às vezes, até um pouco sem paciência, mas ela era uma ótima amiga, sabia como ser gentil e compreensiva quando queria -, tá bom?
- Valeu Di, te amo muito – Ela me abraçou fortemente e fomos para aula conversando sobre as férias.
Quando sento em meu lugar, Andrew entra pela porta e senta atrás de mim. Senti a dor voltar, olhei rapidamente para seu rosto antes dele sentar e avistei olhos tristes que expressavam mágoa e arrependimento em sua face. Só de imaginar ele entrando todo dia pela porta da sala como se nada tivesse acontecido, passando por mim com aquela presença de caçador que tinha, com aquele perfume atraente que usava, sabendo que nunca ia te-lo e que devia esquece-lo, era pior do que receber uma facada no peito, com tudo, a única coisa a ser feito era tentar apagar tudo o que houve entre nós e esperar o tempo agir. Permaneci metade da aula distraído, mergulhado em meus pensamentos, quando tocou o sinal para o recreio, levantei assustado derrubando meu estojo no chão, todas as minhas canetas haviam caído, juntei o estojo e as canetas e, acabei sendo o último a sair. Saindo da sala para ir procurar Diana, uma mão me puxa pelo braço me levando em direção ao banheiro do segundo andar, olho virando o rosto e vejo Andrew me segurando, surpreso e bravo pergunto:
- Para onde estamos indo?!
- Você já vai ver.
Chegando ao banheiro ele me empurra para a parte dos vasos sanitários, me põe contra a parede, com nossos rostos bem perto um do outro, tranca a porta e fala sussurrando com seu hálito refrescantemente gelado:
- Ninguém vai entrar aqui, não se preocupe, a merenda de hoje é pizza, todo mundo está na fila – No primeiro momento meu corpo ficou nervoso, mas depois tomei controle sobre ele - Olha Peter, desculpa por ter sido um idiota com você, eu agi mal, admito, estou um pouco confuso com tudo aquilo, mas podemos ser amigos de novo?
- Não, não podemos Andrew.
- Por quê?
- Escuta, eu gosto de você... Você é um cara bacana e tal, você até está diferente, talvez você sempre tenha sido assim e eu não havia notado essa pessoa tão especial que você é, mas eu acho melhor nossa amizade acabar aq...
- Eu gosto de você também...
- Você não tem certeza do que diz, você tem Andrew?! Você acha que sabe, mas você só está me magoando... – uma lágrima escorreu do meu rosto e ele limpou com o seu dedo gentil e macio, adorei aquele gesto, mas no momento da raiva, continuei – Para com isso!
- Peter, eu...
- Não fala mais comigo! – Empurrei Andrew para o canto e abri a porta com os olhos escorrendo lágrimas, saí correndo em busca de um lugar que pudesse ficar sozinho e chorar eternamente, longe de todos e principalmente de Andrew.
Entrei no armário de limpeza e sentei no chão úmido, soluçando de dor, raiva e sofrimento, pelos últimos acontecimentos ocorridos, sabia que meus colegas ficariam me encarando e questionando-me quando voltasse à aula por eu estar com o rosto vermelho de tanto chorar, mas que se danem todos, não tava nem aí pro que os outros iriam pensar. Com sons de passos se aproximando, vejo a porta se abrir e, alguém entrando por ela, com a vista embaçada pelas lágrimas, fixo meus olhos na face daquele indivíduo não tão alto e com cheiro de perfume doce e amadeirado, que diz:
- Peter! Você está chorando?
- Da pra perceber? Odeio ser assim!
- Assim como Peter?
- Melodramático, Sensível, romântico e estúpido também!
- Não fala assim Peter, você é uma ótima pessoa, é o meu melhor amigo, é perfeito, igual á mim – Tentei rir, mas não consegui, Diana sempre me fazia rir, mas dessa vez não funcionou, apenas sorri à ela e, recebi em troca sua risada renovante, ela me deu um beijo na bochecha me levantou do chão e disse:
- Vem, vamos pra sala, seque seu rosto com esse rolo de papel higiênico, ah não, achei uma toalha, seque-se nela, não queremos que nosso colegas fiquem comentando sobre você não é?
- Não to nem aí, vamos...
- Ainda bem que você não é cabeça dura - Falou ironizando e dando uma risadinha.
Na sala, todos já haviam chegado, menos eu e Diana, Andrew já estava lá também, mas não olhou pra mim e nem eu olhei para ele, sentei-me e a professora Ana de Português começou a falar:
- Bom, o recreio acabou pessoal, mas eu tenho uma novidade para contar à vocês, as turmas de segundos anos farão uma viagem para algum lugar nesse trimestre e, vocês irão à um acampamento muito interessante, com estadia de 4 dias, pegaremos o ônibus as 8 horas da manhã aqui na escola, numa quinta-feira e voltaremos no domingo de tarde. Nesse acampamento terá barracas, fogueira, trilhas, passeios de bote, escalada e muitas outras coisas, ah! Também tem uma linda cascata no acampamento, sei que anda fazendo frio ultimamente, mas talvez se tivermos sorte faça calor, será daqui a duas semanas e o valor será dito amanhã, vocês vão adorar! Jéssica, vá passando uma folha pra trás para os alunos que tiverem interessados no passeio, escreverem seus nomes, ok? – Jéssica assentiu, arrancou uma folha de seu caderno, botou seu nome e começou a passar a folha para trás.
Quando Andrew me passou a folha, vi que seu nome não estava escrito na lista. Por estar passando por uma fase um pouco, quer dizer, muito conturbada, não colocaria meu nome também, mas pra esquecer Andrew estava valendo tudo e, além do mais, talvez fosse legal acampar ao ar livre, aproveitar a natureza para espairecer um pouco daquela angústia.
Depois que a aula acabou, Diana veio falar comigo:
- Peter, como você está? Espera, esquece essa pergunta, deixa eu reformular, Peter, você vai no tal acampamento com cascata e blá,blá,blá?
- Vou e você?
- Mas é claro né, preciso pegar um bronze, estou parecendo o Edward do Crepúsculo.
- Pois é... - Suspirei desanimado.
- Ei, não fica assim, seja lá o que esteja te atormentando vai passar, você vai ver, – Eu assenti com a cabeça e um crossfox amarelo buzinou para Diana, ela olhou em direção ao carro e logo se virou para abraçar-me rapidamente – bem, meu pai chegou, até amanhã.
- Tchau...
As duas semanas que faltavam para chegar o dia da viagem se foram rapidamente, foram duas semanas duras, ter sentado todo dia na frente de Andrew e senti-lo suspirar de tédio e tristeza como eu, talvez ele não sentisse tudo aquilo que eu sentia por ele, mas era melhor ficarmos sem sermos mais amigos, alguma hora ele enxergaria que realmente não gostava de mim e assim esqueceria tudo. Na quinta-feira de manhã, o sol estava brilhando alto no céu, já estava na frente da escola, esperando junto com Diana e nossos colegas o ônibus que nos levarias para o camp. Ela estava com três grandes malas para ir acampar (como sempre exagerada) e, eu estava apenas com uma mochila nas costas, o suficiente para aqueles 4 dias.
Terminando de conferir se todos haviam chegado a tempo para embarcar no ônibus, a professora Ana fala:
- Bem acho que só faltou o... Ah! Lá está ele, ainda bem que ele chegou a tempo. – Quando a professora Ana falou que lá estava o aluno que faltava para partirmos ao acampamento, olhei por cima do ombro para ver quem era e, de repente vejo Andrew com uma mochila nas costas correndo em nossa direção para se juntar aos outros. Ele estava com um óculos Ray-ban espelhado e, um lindo sorriso no rosto que curava até câncer.
Continua...
