- Já to passando aí, tá bom?
- Tá, só diz pro teu irmão buzinar quando chegar, pra mim saber.
- Tá.
- Era a Diana?
- Sim, sim, era ela, ela pediu pra você buzinar quando você chegar.
- Ok.
Naquela noite, meu pior pesadelo virou realidade. Ao entrar em meu quarto, pude aliviar minha angústia, meus olhos começaram a chorar com facilidade, minha cabeça latejava sem parar e meu coração disparava de preocupação, a ideia de Andrew vir a morrer me deixava louco, não suportava a hipótese de sua morte, pois se ele morresse, queria morrer junto, pra não precisar sofrer com a sua perda. Estava massacrado, haviam jogado uma bomba em mim, mas o dano foi em Andrew, pois era ele que estava naquele hospital ligado a vários fios e aparelhos.
Não consegui dormir nem me acalmar, andava de um lado pro outro pelo quarto, deitava na cama, virava de lado, virava de novo e nenhum sinal do sono. O medo havia invadido minha mente, estava muito atormentado. Mas logo de manhã, alguém bate na porta de meu quarto e fala:
- Peter, eu sei que você ta mau por seu amigo, tenta dormir e de tarde eu te levo ao hospital.
Então eu abro a porta e logo falo:
- Por que você tá aqui?
- Vou posar aqui hoje à noite, tenho uma festa pra ir. Resolvi vir de manhã pra ver a tia, os primos e ver como você tá.
Meu irmão tinha 19 anos, era alto como eu, tinha olhos verdes e um cabelo sedoso e charmoso, que atraía muitas garotas. Estava no segundo ano da faculdade de engenharia civil em Porto alegre, morava num apartamento perto de um dos prédios da UFRGS e, sempre quando podia, vinha nos fins de semana visitar eu, (quando vinha me ver, era mais pelas festas que tinha. Alguns de seus amigos moravam aqui mesmo, pois ele havia estudado na mesma escola que eu estudo) ou o pai e mãe. Alan era muito atencioso e bem família, ele sempre foi um grande irmão pra mim, presente nos momentos bons e ruins.
- Não, me leva agora.
- Tá, vai se arrumar, cuidado pra não acordar os primos e a tia, é 08h da manhã. Te espero no carro.
Alan chegou à casa de Diana, buzinou e, em poucos segundos ela entrou no carro:
- Oi Alan, oi Peter.
- Oi. – Dissemos ao mesmo tempo.
- Nossa! Você tá horrível!
- Por quê? – Disse cabisbaixo.
- Suas olheiras estão dizendo isso.
- O Peter não dormiu a noite toda, pra isso acontecer, o tal garoto que se acidentou deve ser muito amigo de vocês.
- Ele é muito amigo da gente mesmo. – Diana disse.
Estava mais feliz por que ia ver Andrew, não muita coisa, pois ele ainda estava mau, ainda estava à beira da morte, com grandes chances de partir. O caminho foi longo, Andrew estava internado em uma cidade perto do acampamento, parecia que a cidade nunca chegava. Enquanto ainda estava na estrada, ia pensando nele, dessa vez, não havia chorado, estava consciente de que chorar não ia adiantar em nada e, que se Andrew fosse embora, sempre teria ele em minha memória, lembrando dos melhores momentos que tínhamos passados juntos. Mas mesmo assim, pensando por um lado positivo e racional, não queria perder ele de jeito maneira, eu ia ter Andrew de volta, estava determinado a impedir sua morte de algum modo.
- Pronto crianças, chegamos.
- Crianças?! – Diana falou incrédula.
Entramos no hospital e a família de Andrew nos recebeu, todos estavam péssimos, os olhos vermelhos e inchados ganhavam destaque em seus rostos chorosos. A mãe de Andrew, dona Carmem, falou que a situação do filho era grave e que ele estava no meio de uma cirurgia de risco, onde poderia morrer a qualquer momento. Dona Carmem estava muito aflita e passou a ficar mais nervosa ainda, a partir do instante em que começou a falar da situação de Andrew, o filho pela qual ela morria de amores... E eu também.
- Bem querido, a cirurgia durará umas 5 horas, você pode ir pra casa e descansar, lhe dou notícias assim que acabar, tá bom? – Falou dona Carmem, com a voz doce e desanimada pela dor.
- De jeito nenhum, Andrew é meu colega, meu amigo, mais do que isso... – Diana me olhou carinhosamente, torcendo a cabeça para o lado e sorrindo emocionada para mim. - Vou ficar aqui dona Carmem, torcendo para Andrew se recuperar, dando o meu apoio para ele melhorar logo e sair de uma vez desse hospital.
Dona Carmem olhou para mim e, encarou os meus olhos que vibravam a cada palavra que eu dizia, surpresa e feliz disse então:
- É bom saber que meu filho tem amigos de verdade Peter. – Ela sorriu e segurou minha mão com as suas, dizendo baixinho: - Obrigada...
- Peter, já é 12h03min, é melhor irmos almoçar no refeitório do hospital. - Falou Alan.
- Eu não to com fome...
- Tá sim, você vai almoçar nem que eu tenha que te amarrar na cadeira e fazer você comer à força. Afinal, você não come desde ontem, aposto que você nem tomou café. – Disse Diana.
- O que? Você não come desde ontem Peter?
- É que...
- O Andrew está no meio da cirurgia, a mãe dele falou que vai durar umas 5 horas, por isso, enquanto ele tá sendo operado, você vai comer algo e, não adianta piar. – Alan falou do jeito irmão protetor de sempre e me arrastou até o refeitório.
Depois do almoço, fiquei contando cada minuto que passava, olhava desesperadamente para o relógio e, depois para a porta de onde os médicos saiam. Quando já havia passado quase 5 horas, estava prestes a enlouquecer de preocupação e ansiedade, mas de repente, um médico vem em direção aos familiares de Andrew e começa a falar com os pais dele sobre a cirurgia.
- Fala rápido doutor, como foi a cirurgia? – Falou o pai de Andrew, seu Augusto.
- Bem, deu tudo certo com a cirurgia...
- Ai! Graças a Deus! Obrigado senhor! – Falaram os pais de Andrew, interrompendo junto com os outros familiares a fala do médico para abraçar a pessoas mais próximas e, agradecerem alegremente por pela cirurgia ter corrido bem.
- Andrew tirou a sorte grande Dona Carmem e seu Augusto, ele sobreviveu à operação e chegou vivo ao hospital com a brusca batida que havia levado.
- E ele vai ficar com alguma sequela doutor? – Falou Dona Carmem rapidamente, demonstrando medo em sua voz, pela resposta que poderia vir.
- Isso saberemos quando ele acordar, vamos aguardar. Vocês podem visitá-lo agora, indo de dois em dois.
Com aquela notícia, minha magoa havia ido embora, estava ansioso pela visita agora, queria ver Andrew mais do que tudo, ver seu lindo rosto novamente e torcer para que ele não tivesse nenhuma sequela, como por exemplo, uma amnésia. Seria terrível Andrew esquecer de nós, esquecer de tudo que havíamos passados juntos e do amor que carregávamos conosco.
Quando todos familiares já haviam ido, dona Carmem disse para mim e para Diana que já podíamos ver Andrew, agradeci à ela e fomos em direção ao quarto. Diana abriu a porta e eu pude ver a imagem de Andrew adormecido, ligado a vários aparelhos e com quase toda a cabeça enfaixada. Lágrimas brotaram dos meus olhos, meu espírito de coragem e positividade se desvaneceu e, eu caí no choro, emocionado por ter ele vivo ao meu lado, Andrew podia ficar com amnésia? Podia, mas eu faria tudo de novo para fazê-lo lembrar de nós, era algo que estava disposto a fazer a qualquer custo, caso ele tivesse perdido a memória.
Aproximando-me aos poucos da cama em que Andrew estava deitado, relembro de todos os momentos que tive com ele e penso nos momentos que ainda teríamos juntos, no futuro. Quando já estou ao seu lado, levanto as mãos para secar as lágrimas do meu rosto e, logo após seguro a sua mão delicadamente. A emoção é forte de mais e, mais lágrimas saem dos meus olhos, caindo sobre a sua mão macia e carinhosa. Com um movimento repentino, sinto a mão de Andrew se mexer apertando a minha, seus olhos começam a se abrir com dificuldade e com grande ternura, olha para mim.
- Andrew! Você acordou?
- Peter? – Falou ele, com a voz vagarosa.
- Sim Andrew, sou eu, Peter! Você ainda se lembra de mim?!
- É claro que sim, você é a pessoa que eu mais amo no mundo, como me esqueceria de você? – Disse ele, com uma lágrima escorrendo de seus olhos e demonstrando um amor infinito nas palavras que acabava de dizer.
(Prometo sexo em breve, aguardem pessoal!)
Continua...