Coração Otário
Capitulo: Destino (1)
Me chamo Izaque, pode me chamar de Zack, mas por favor, não me chame de Zik. Essa história é mais que um relato de como eu acabei me apaixonando perdidamente por alguém que não me correspondia.É a história da minha vida.
Nunca me senti normal, cresci ouvindo pessoas que eu amava me chamando de problemático, meus queridos pais, que sequer por momentos, estiveram realmente perto de mim.Só se importavam com luxo, dinheiro, status. Esse tipo de
coisa.Minha relação com eles tem seus altos e baixos. Fui criado ouvindo uma frase que até hoje martela em minha cabeça ""Você deve ser o melhor, não existe 2º lugar". Palavras inspiradoras não? Porque eu tenho que ser perfeito? Não
importa, eu tinha que ser. Mesmo assim não era notado. Vários problemas psicológicos, e exames mentais marcam a minha infância, resultado? Uma adolescência perturbada. Eu não tinha intenção de comentar todos esses detalhes, mas eu
acho que é um bom resumo só pra ilustrar o quanto eu me sentia destruido por dentro, quando alguém me salvou de mim mesmo. Creio que me tornei uma pessoa melhor do que se esperava, que esbanjava simpatia, carisma, mas era vazio,
misterioso. Não gosto dessa definição, mas já me chamaram disso.
Foi no inicio do ano, quando eu reparei que haviam dois novos colegas na minha turma, a Bianca e o Benjamin, uma garota com belas curvas e um olhar provocante, e um menino com um corte de cabelo lindo e um olhar parecido com os meus
no espelho, que eu senti algo que nunca havia sentido, e manifestei isso da pior maneira possível.
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Izaque olhou para o relógio já um pouco irritado, queria sair logo dali para variar, a aula estressante o havia deixado mais tenso do que o normal, não havia conseguido prestar atenção, se sentia extremamente ofendido por um dos seus colegas, não sabia dizer ao certo, mas ficava observando...
_Será que esse muleque não tem espelho em casa? - Pensou ele em voz alta, para sua sorte ou azar, alguém havia ouvido.
_Que foi Zack? Parece irritado... - Perguntou a menina ao meu lado. Se chamava Franciele.
_Acho que tem gente falando de mim. Ali no fundo. - Respondi entre os dentes. Eles pareciam estar rindo de alguma coisa perto daqui.
_É não, os dfc's só estão um pouco agitados com a nova menina e o novo menino emo da turma.
Eles não podiam negar, o garoto era alto, um e setenta e poucos, e tinha a cabeça maior que o corpo, era magro, usava franja,cabelo tipico emo o que tornava sua cabeça grande em relação ao corpo, e tinha um ar de debochado, mas
ao mesmo tempo melancólico. A garota trocava olhares e risadinhas safadas com os meninos, inclusive com o garoto emo. Chamavam a atenção.
_Serão eles os novos membros dos dfc's Fran? - disse Izaque, agora com seu ar engraçado característico.
_Risos. São os novos membros! Vamos dar os parabéns ou pêsames mais tarde. - Disse a menina com o cabelo castanho e olhos pretos. Izaque e ela são melhores amigos, junto com Henri o garoto que apelidou aquele grupo de dfc's
(Déficit de muitas coisas), os três eram inseparáveis.
Enquanto eles conversavam o novato reparou no ar de indiferença de Izaque, e passou a observa-lo com curiosidade.
Nada de muito relevante acontece, se passam alguns dias. O garoto novo, chamado Benjamin, e a garota nova chamada Bianca começaram a se enturmar, o que resultou em algumas conversas entre Izaque e Benjamin.
_E então, Zack, amigo do novato?
_Risos. Eu? Olha quem ta falando, você fica olhando, falando nele o tempo todo, ta gamada hein HAHAHA.
_Quê?! Cruzes! E a Bianca então? Risos.
_Ele não te merece Fran. - Disse Henri sobre Benjamin. Nos sentavamos na fileira do canto, Henri estava de costas para a parede.
_Que assunto bobo, ele é muito estranho... Já reparou no olhar dele? Ele parece que tem algo a esconder, as vezes dá até medo...
_Sem comentários...Risos. - Ela riu e pareceu não dar bola ao que eu havia acabado de falar.
_Eu falei sério, boba. - respondi imediatamente.
_Izaque, tem algo pra comentar, perguntar ou prefere explicar aqui na frente? - Falou a professora de Biologia.
_Nada não sôra, perguntei se iria chover.
_Preste atenção na aula mocinho. Embora eu ache que realmente chova até o final da nossa aula. - Ihh ela jogou praga! Franziu a testa e olhou pela janela, poucas nuvens grandes e acizentadas preenchiam a vista do colégio que
ficava em um dos lugares mais altos da cidade.[ Construido a mais de 100 anos o colégio estava realmente em estado precário e alguns locais estavam até mesmo interditados. Parecia uma Igreja antiga por dentro, por fora parecia ser um
hospício. Talvez eu poste fotos do local ]
_Agora turma, eu irei sortear duplas pro trabalho pra próxima aula, está tudo no caderno! - Falou ela mais alto, já que começavam as reclamações. Henri abriu a boca com uma careta tipica, e a Sra. Bueno o interrompeu antes mesmo dele falar.
_Henri nem pense. Se você falar que quando escolhe sua dupla consegue desenvolver o trabalho melhor eu nem irei creditar seus pontos pelo trabalho entregue. Da última vez, você nem mesmo entregou. - Era óbvio, ele queria a Fran. Ela detestava fazer o trabalho sosinha, e por vezes ele apenas perdia tempo.
Dito e feito, até a hora da saída o céu havia fechado completamente, e havia escurecido pra caramba. Aquela macumbeira é fogo!
_Vai chover Fran, não trouxe guarda-chuva... Vou pelo caminho mais perto ou espero alguém vir me buscar...
_Ahh môr, me liga quando chegar em casa. - Falou isso por cima dos ombros e se direcionou até a parada de onibus na frente da escola, senti um ar de desprezo e provocação no tom de voz, o que atingiu Henri.
_Hmmm môr é? - Uma leve incomodação no tom de voz, me mantive sério pra não aparentar interesse na Franciele, pra mim era mais que óbvio que Henri também gostava dela, e eu não destruiria nosso grupo por causa disso,
mesmo que tivesse que abrir mão dela.
_Tão surpreso quanto você! Henri, não é o que você ta pensando... - Adiantaria falar ?
_Beleza. Seus cabelos encaracolados estavam rebeldes devido ao vento forte que começava. Henri pega outro ônibus, ele tem curso de menor aprendiz durante a tarde.
E agora eu, aqui na frente desse mausoléu sosinho, vai começar uma chuva desgraçada, ninguém apareceu pra me buscar, isso que ambos meus pais tem carros. Mas uma coisa me chamava a atenção e ressoava na minha cabeça. Eu não havia visto Benjamin sair da sala de aula, talvez nem mesmo Bianca. O que aquele viado ta fazendo? Nem tive tempo de imaginar, lá vinha ele. Podia jurar ter visto uma carteira de cigarros na sua mão, enquanto segurava o guarda chuva pronto pra enfrentar um
vendaval. Mas ele não parecia fumante, seu hálito era puro e refrescante, nem teria idade, imagino, já que nunca perguntei.
_O que você faz aqui? - Parado na frente do colégio olhando pro nada, é claro que ele iria me perguntar o que eu fazia, se eu era o novo segurança do portão.
_Esperando alguém me...Afffff! Saco mesmo! - Gotas grossas de chuva começaram a cair rapidamente.
_Quer uma carona? Eu dirigo um guarda-chuva! - Me deu vontade de fazer uma piada sobre o guarda-chuva, mas talvez fosse minha unica saída. Mas ele sabe onde eu moro?
_Eu vou pra lá, não vai dar não. - Ufa, mesmo eu sendo tão infantil, ele me ofereceu um favor, isso me atingiu, quase como uma provocação.
_Então! Não quer aceitar porque? Orgulho? As brincadeiras não me afetam tanto quanto parece. Vamo logo antes que comece uma enchente! - Não restavam duvidas, era uma provocação.
_Ahh se toca muleque, que orgulho oque? - Respondi com certo medo dele, afinal de contas estavamos sosinhos.
_Quer ou não? - Ele insistia.
_Vai me levar em casa é? O que vão pensar de mim andando com você? Como você sabe que não moramos muito longe um do outro?
_A rua que você usa pra vir é a mesma que a minha, mas eu moro no outro lado da quadra. Não vou responder o que vão pensar, já perdi tempo demais com seu orgulho, sem falar que apenas VOCÊ fala de mim! - Ele disse
rispidamente.
_Okay, me desculpa. Eu perdi a cabeça com você me provocando, e eu sou o errado néh. - Tive de concordar.
_Mas eu não faço por mal, é uma brincadeira, NOVATO! Risos. - falei com ar de superioridade.
_Tchau! - Disse ele se virando.
_Ok, posso ir com você então? - Pensei que havia exagerado.
_Eu já convidei. - Respondeu ele.
_Tá esperando eu me ajoelhar? - Me irritei novamente.
_Você entende tudo errado! Vem logo. - Riu e então disse - É engraçado, você nunca entende o que eu digo.
Agente estava tão perto que se não fosse a chuva eu ouviria seu coração batendo. Era constrangedor, eu me sentia protegido da chuva, mas lutava contra o pensamento de que aquilo, era errado.
O tempo que se seguiu no caminho, não sei dizer ao certo. Estava com raiva...por estar gostando! Não queria sair de perto dele, queria saber sobre sua vida.
_Quantos anos você tem mesmo? - Perguntei com receio, talvez minhas intenções fossem gritantes demais, pelo menos pra mim. Parecia que meus olhos me delatavam e na minha testa estava a mensagem. Olhei pro chão.
_Tenho 16, mas estou quase com dezessete. - Ele se sentia novo demais talvez, pra dizer que estava perto de dezessete, ou estivesse aniversariando em poucos dias. - Quantos anos você tem... Izaque?
_Tenho 14... porque demorou tanto pra dizer meu nome? - Curiosidade espetava nas minhas palavras.
_É porque gosto de chamar meus amigos por um apelido, mas talvez não sejamos isso, não por você. - Falou com um ar de tristeza forçada. Parecia um pedido de trégua.
_Ahhh... - devo ter ficado vermelho - Somos sim, que isso... - Menti, mas talvez não fosse 99% mentira...
_E você demonstra sua amizade com essas brincadeiras? - Ainda nesse assunto garoto? Pensei em reclamar.
_Não vamos começar, por favor. Você demonstra sua amizade oferecendo passeios de guarda-chuva? - Ri pra não parecer algum tipo de rivalização. Apenas contestei, ele não havia feito nada por mim.
_HA-HA-HA. Ingrato. Risos. - Ele disse e então o assunto acabou.
Quando eu menos esperava, havia chegado em casa.
_Viu só, são e salvo, quase seco. Está entregue! Tenha uma boa noite - Disse e piscou.
_Boa noite? - Só pode ser piada, imaginei.
_É... Afinal de contas, você está me devendo uma, detarde eu passo aqui, o tal trabalho de Biologia é pra daqui dois dias não? - Ihh que isso, tá se convidando? Gamou em mim. Esqueci de comentar, mas minha dupla era ele. Clichê não? Destino prega muitas peças...
_Tá amarrado em mim néh? Ops, brincadeira. Não sei se vou estar livre a tarde. - Devia ter dito com 100% de certeza. Ficou na cara que não estava afim.
_Eu te ligo. - Riu de um jeito moleque, criança. O que ele não aparentava nem um pouco.
_Você tem meu número? - Como assim meu Deus? Ele só pode tá me espionando!
_Claro, peguei com o Punk. - O garoto dos DFCS que conversavamos. Filho da mãe!
_Você só pode me amar mesmo! Espião! - Ri muito após ver seu sorriso de aprovação da brincadeira.
_Te vejo depois! - Saiu andando. Não podiamos ficar gritando o dia todo, a chuva ensurdecia nossos ouvidos, apesar de ninguem estar na rua.
Comecei a ficar nervoso. Não tinha nenhuma atração pelo corpo dele, apenas seu rosto eu achava lindo, mas tinha vontade de beija-lo as vezes, de resto eu nem ao menos reparava. Isso era errado. Não queria ser afeminado, sabia o quanto sofriam essas pessoas. Como seria quando ele chegasse na minha casa, ou me ligasse?
Eu nem fazia idéia, de que nesse dia, desde a breve conversa que tive com Fran, tudo que aconteceu era predestinado. Tudo tinha um propósito, e hoje eu enxergo com perfeição que era pra ser.
Até o próximo! Comentem, votem... Aceito críticas que me ajudem a melhorar.
Abraços!