Coração Otário
Capitulo: Olhos misteriosos (2)
O tempo passou voando. E eu não queria que passasse, estava com medo. Medo de mim mesmo, medo dele. Afinal de contas, não seria o medo nosso pior inimigo? O tempo todo a espreita, e quando vem, nos domina
completamente. Medo do quê, você se pergunta. Do que adianta uma vida, onde não se arrisca?
Quando dei por mim, já eram 14:00hrs, os ponteiros girando incrivelmente rápido no meu relógio de pulso, os observei fascinado por alguns momentos. Resolvi ligar a televisão, e o filme Piratas do Caribe, não faço idéia de qual
deles, era exibido. Assisti naquele tédio todo misturado com ansiedade e medo, finalmente me libertando de meus pensamentos. Uma distração.
*Bling Bloonng* . Era ele! Meus pais não deveriam chegar essa hora, não tinha erro. Gelei, suei frio. Fui calmamente, atender a porta. Não queria parecer afobado, perder a pose.
_Oiii Gato! - Ele me segurou os dois ombros e então me beijou. É, ele estava abusando de mim na minha casa, na porta dela, de frente pros vizinhos. Isso não importava, eu estava beijando outro cara. Comecei a empurrar ele,
socar mas com o tempo foi cada vez ficando melhor, tentei morder a língua dele até, fechar a boca, mas isso só melhorava pra ele. Estava desesperado. Entregue, submisso. Foi quando ele me soltou e disse.
_Eu vou te soltar, e você não vai correr... Não me faça te perseguir.
_Uhuum! - Falei empolgado demais.
_Eu sabia que você gostava... - Ele já estava com as mão na minha cintura, costas, levantava minha camiseta. Em poucos segundos a retirou e comecou a lamber, chupar e morder meu pescoço, orelhas, gemia baixinho no meu
ouvido, lambia minha barriga, abdome, mamilos. A sensação...era maravilhosa, eu estava muito excitado, nunca havia tido tanto contato com outra pessoa, não achava certo fazer sexo antes de ser adulto, talvez devesse esperar o
casamento. Então pensei, devo ser passivo ou ativo? O que ele gosta?
_Pera...Hmmmmm...Ahhhhhhh...Peraa...Isss...Chega!
_O que foi? - Perguntou ele respirando ofegante.
_Como vai ser? - Perguntei.
_Como vai ser oque? - Ele pergunto.
_Sabe, eu e você, sexo. Você é passivo, ativo? Tem camisinhas? Eu...sou virgem. - Falei a ultima parte quase inaudível.
_Eu imaginava... Cara, você me excita demais. - Ele falou e continuou as caricias. Quando ele estava abrindo o ziper da minha calça...
*Bling Bloonng* . Achar engraçado o que aconteceu quando ouvi esse som seria fazer pouco caso, foi hilário. Havia dormido. Eu acordei cambaleando, levantei com uma expressão que talvez nunca tivesse feito, pisei em cima de uma revista que estava do lado da mesa de centro no chão, e deslizei no tapete. Machuquei meu cotovelo no braço do outro sofá, por pouco não bato a cabeça. Com o coração na boca e agora com dor, resolvo colocar alguma roupa, estava apenas de calça jeans (não gosto de bermudas). Tarde demais, minha demora me denunciou, e talvez o baque ou meu grito tenha chamado a atenção. Na janela estava aquele rosto perfeito com um semblante curioso, então um sorriso do tipo sacana. Ele me viu sem camisa! Ahhh isso não deve ser problema, chamar ele de gay é besteira, eu inventei isso. Eu ficava me convencendo de que o jeito não afeminado, porém diferente dos outros garotos, não era devido a homossexualidade. Maldita seja minha boca! Criando confusão comigo mesmo... Não tinha jeito, resolvi abrir a porta, com cara de poucos amigos, para manter a pose. Mas devia estar vermelho de vergonha pós tombo/mostrar meu corpo a um garoto. E então, pra me deixar ainda mais envergonhado, com raiva, e com razão, ele olha todo meu corpo, dos pés a cabeça, eu nem me movi, fiquei chocado com a atitude filha da mãe que ele teve.
_Perdeu alguma coisa ou gostou mesmo? - Perguntei com cara de "Que porra é essa?"
_Perdi...e gostei. - Respondeu ele de um jeito meigo, envergonhado, mas muito encenado. Ele queria me atingir.
_Garoto...Depois não reclame quando eu começar a te zuar...Você está me dando motivos. - Falei com sinceridade e pena.
_Pois é, agora você tem motivos. Mas sabe que isso não passou de uma brincadeira! LIN-DO! - Após isso gargalhou.
_Hmm sei! Tô te dando intimidade demais!
_Estava...sonhando? - Não!! Não acredito!! Estava excitado, até mesmo molhado, mas isso ele não teria como saber. Ele viu. Coloquei as mãos na frente e falei pra ele sentar.
_É, sonhei com uma morena muito linda...Mas você é um estraga prazeres. - Se quisesse ser, é claro, podia ser o oposto.
Fui até meu quarto subindo as escadas de dois em dois degraus. Me peguei escolhendo camisetas, pensando qual seria mais bonita. "Eita, tô viajando" Disse em voz alta.
_A roxa. - Alguém disse isso atrás de mim.
_Ahhhh nem vem! - Resolvi colocar a roxa, queria enfrentar ele pelo que aconteceu na porta, isso é claro, fora do meu sonho maluco.
_Hmmm, colocou a roxa mesmo. - Ops, tiro saiu pela culatra.
_Te dando motivos pra olhar bem, porque tocar, nunca. - Queria provocar e ver até onde iria.
_Ok, parei com a besteira. - Ele falou e mudou de atitude totalmente, parecia outra pessoa. Nunca havia visto ele tão sério. Besteira, mal o conhecia.
Prosseguimos com o trabalho, e ele pareceu bem inteligente, quando alguém explicava o que fazer. Conduzi todo desenvolvimento, respondemos as questões do trabalho escrito e preparamos uma pequena apresentação retratando o trabalho e os aspectos importantes. Sem mais delongas, ofereci a ele alguma coisa pra comer e beber.
_Eu aceito sim, não almocei. - Disse ele ainda sério.
_Porque não almoçou? - Perguntei, querendo saber mais sobre o garoto dos olhos misteriosos e melancólicos que havia ressurgido.
_Bom, minha mãe está doente, e meu pai trabalha o dia todo...O canalha mal dá dinheiro pra gente se virar.
_Você mora só com sua mãe? Desculpa a intromissão. Quero retribuir a amizade. - Boa, pensei rápido.
_Não, moramos juntos, mas ele adora dar uma escapada e as vezes, nos maltratar desse jeito. Minha mãe é uma mulher forte, está lutando contra isso. Acredito na melhora dela, afinal de contas, sem ela eu vou estar sosinho no
mundo. - Quando eu ia falar ele riu e disse de um jeito nervoso. - Sabe, minha familia é grande, você nem acreditaria. Mas eu não tenho mais ninguém por mim. A Roberta minha irmã, - Eu conhecia ela - não nos damos bem, ela tem a sua
idade, e meu irmão mais novo, Yuri, bom, não faz diferença. - Senti que ele estava se abrindo, parecia ter muitos problemas. Fiquei comovido com aquilo, e disse - Se precisar conversar, ou almoçar em algum lugar, já sabe...Só ir ali na
esquina! Risos. Brincadeira, pode vir aqui, só me liga antes, pra não me pegar...sonhando. Assim até já "rangamo junto". - Não quis dizer - "Almoçamos juntos" senti que não devia. Eu e meus preconceitos. Pelo menos quebrei o clima chato que havia se instalado.
_Obrigado, cara.
_Ahh mais uma coisa, Benjamin. - Disse eu rindo, encabulado.
_O quê?! Risos. - Tás rindo de que? - Ele disse rindo sem saber o porque, só porque eu também ria.
_Pode me chamar de Zack okay? - Essa era uma honra que só meus melhores amigos podiam ter. Modesto!
_Ahhhhhh pode deixar, Zack. Gargalhada. Zack...aiai. Passava a mão no rosto e depois da cor das bochechas normalizar ele disse olhando fundo nos meus olhos.
_Pode me chamar de Ben. - Me arrepiei quando ele disse isso, de forma tão carinhosa, firme, espontanea, profunda, meiga...Tantas coisas passaram pela minha cabeça...E essa foi a primeira vez que nós ficamos nos olhando fundo nos olhos, por alguns minutos. Parecia um "jogo do sério" exceto, que não existia seriedade. Era quase uma conversa mental, se pudesse transcreve-la seria mais ou menos assim:
"_O que foi?"
"_O que foi você!??"
"Não bobo, o que foi você!" Etc... Vão se acostumando, isso acontece inúmeras vezes ao decorrer da história. Já ouvi dizer que tem gente que com um beijo sabe tudo que precisa saber sobre a outra pessoa, ou com um toque.
Quando eu olhava nos olhos de Benjamin, Meu Ben, eu via ele, via do jeito mais puro e inocente, amava ele, sentia ele, era profundo. Podia dizer o que se passava pela cabeça dele. Não posso dizer que era o que eu mais gostava nele,
porque não era, eu amava literalmente tudo. Ele era forte, mas sensivel. Nessa época, ainda não sabia que amava ele, apenas acreditava ter encontrado meu melhor amigo, alguém com quem compartilhar todos meus problemas, ser eu
mesmo, já que tinha medo de me abrir com a Fran e o Henri, contar das sensações estranhas... Eles tinham a mesma visão que eu tenho sobre "o assunto".
Nos dias que se passaram, após a apresentação do trabalho, eu havia conversado poucas vezes com ele, e tinha medo de falar com ele no colégio, só fazia mesmo as mesmas piadas, mas agora ele parecia se divertir com isso, as
vezes não. Passava as aulas observando ele, as vezes ele via e ria pra mim do jeito moleque dele, o jeito que tem um ar de quem pensou besteira.
Durante a aula, meu celular vibrou. "Te vejo mais tarde?" Dei uma risada muito suspeita, e ele estava olhando. Disfarcei com um sorriso de canto e escrevi "Quem sabe? Se minha namorada não passar por lá, beleza." ele respondeu "Bom saber... Ela é bonita?" eu queria encerrar o assunto, pois estava mentindo, podia me contradizer "Não, ela é muito feia pra você" e mandei. Sim, mandei essa besteira! Ele escreveu rindo muito "Ah é? Mereço alguém melhor?" e eu envergonhado disse "Não é isso, eu queria que você largasse do assunto, quis dizer que você não é o tipo dela. E que ela É MINHA." ele disse "Aah ta" e o assunto morreu.
No dia seguinte eu não fui a escola, e então Henri me liga.
Blá Blá coisas de escola, Blá Blá Franciele, então ele disse
_A diretora veio informar na sala de aula que o Benjamin....Ligação falhou....Morreu, tava todo mundo triste hoje. - Disse ele com um tom mais baixo.
_O quê?!?!?! - Eu falei exaltado
_Eu disse que você caiu na pegadinha da ligação com problema. - Ele riu.
_Ahh cara, não da susto porra!
_Susto? É vocês são amigos mesmo... - Ele riu.
_Não é bem assim. Agora me fala porque inventou isso... Sabe que eu detesto noticias ruins e não desejo a morte de ninguém. - Falei irritado.
_Desculpa, mas falando sério, a mãe do Benjamin, faleceu. - Disse ele com um tom de pena.
_Ahhhhhhh tenho que dar os pêsames a ele! - Falei sentindo um aperto no peito.
_Ele viajou pra cidade onde ela estava internada... Uma amiga da Roberta (Irmã dele) disse que ele está inconsolável. - Ele disse.
_Pow, imagino. - Quiz desligar o telefone, mas me contive.
_Desligando, te vejo amanhã! - Falei sem dar tempo pra mais conversa.
_Falou! - Desliguei.
Como será que ele estava? "Sem ela eu vou estar sozinho no mundo". Imaginei ele em meus braços, queria demonstrar o quanto me importava, só queria poder dizer "conte comigo". Agora restava esperar ele voltar... De todas as vezes que agente discutia durante minhas piadas infelizes, ele já havia dito que iria sair do colégio, ou se matar (coisa que eu sempre aconselhava, seguido de um "te odeio"). Apenas uma vez, eu havia chorado, e sentia que o motivo era a partida dele, mas não tinha como ter certeza do porque eu me importava. Agora eu chorava porque temia que ele fosse fazer alguma das coisas que eu tanto desejava, simplesmente pra me ver livre dos meus sentimentos. Tomara que ele volte.
Até o próximo galera, onde vão haver mais cenas calientes ;)
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