Existia um buraco em meu peito, um buraco largo, fundo e vazio, onde estava enterrado o meu coração. A coisa mais importante pra mim se foi e só sobrou a dor e o arrependimento. A dor que eu sentia era pior do que perder os dois braço, as duas pernas, e ainda sentir fome em um deserto. Alias era assim que me sentia, eu deserto, vazio de emoções. Minhas lagrimas ja tinham acabado, se secaram assim como minha vontade de viver. Na minha frente, a pessoa que eu mais amei na vida, só que deitada, em paz. Ele estava lindo como sempre, mas ele não era mais o meu amor, o meu Érik, era apenas um corpo vazio, sem alma, assim como o meu, mas o meu ainda estava em pé. Eu tinha certeza de que aquela imagem não sairia da minha cabeça nunca mais.
Ele perdeu o controle do carro, e entrou embaixo do caminhão, foi na hora. Ele ficou preso nas ferragens, e me deixou só no caminho do hospital, murmurando meu nome e dizendo eu te amo, segundo os enfermeiros.
As pessoas passavam por mim e eram claras suas caras de pena, compaixão e dó, mas nenhuma poderia fazer alguma coisa. Muitos nem me cumprimentaram, eu só ficava lá, em pé, de frente pra ele. Essa seria a ultima vez que veria seu corpo.
Eu voltei pra escola, estudei o necessário pra passar de ano, não tinha mais amigos, ninguém queria ficar ao lado de um esquisito, deprimido. Nunca mais voltei na chácara, que ele tinha deixado pra mim. Ficou tudo lá, a maioria das nossas lembranças, lembranças que estavam vivas em minha memoria, mais vivas do que meu próprio corpo. Emagreci bastante, perdi os poucos músculos que me restaram. Estava esquelético, feio. Não conseguia ficar com mais ninguém, eu nem olhava mais pra ninguém. Eu simplesmente não podia, pois meu amor era dele e iria ser sempre assim.
Hoje eu sei, que independentemente de tudo o que aconteceu, se ele mentiu pra mim, me traiu ou não, eu perdoaria, porque o amor que eu sinto é maio do que qualquer motivo para uma separação.
Quando cheguei em casa da escola, meu pai me avisa que teríamos que ir na chácara, fechar ela e trazer algumas coisas de volta. Eu não queria ir, mas não podia deixar tudo lá.
Quando passei por aquele portão e percorri aquele caminha e vi a casa, lagrimas jorraram de meu olhos. Meu pai me deixou entrar sozinho, ele disse que eu precisava disso.
Abri a porta da sala e entrei, estava tudo igual, os cacos de vidro da garrafa ainda estavam espalhados pela sala. Meu notebook ainda estava na mesa. Cheguei ao corredor, respirei fundo antes de abrir a porta e entrei. Seu perfume ainda estava no ar, como se ele tivesse acabado de sair do banho. Eu chorava descontroladamente, abri seu guarda roupa, peguei uma roupa sua e senti seu cheiro. Eu queria poder sentir sua pele.
Dei uma olhada em volta do quarto e me deitei no seu lugar na cama. Olhei para uma foto nossa em cima do criado mudo e me lembrei que ele não me deixava abrir aquela gaveta. Abri e encontrei um envelope:
“Meu amor, hoje fazem 6 meses que vivemos essa linda história de amor, e eu sei que te amo muito mais do que imaginei que fosse capaz de amar.
Eu acordo e penso em você, eu levanto e penso em você, eu respiro e penso em você, eu como e penso em você, eu tomo banho pensando em você me lavando, eu vou dormir pensando em você comigo.
Mas eu não quero mais pensar, eu quero sentir, eu quero ver, eu quero ter, ter você comigo todos os dias da minha vida, pra sempre.
Enzo, meu amor, minha vida, meu tudo, eu te amo.
Quer casar comigo?”
Quando olhei na gaveta, uma caixinha de veludo azul, eu peguei e abri, dentro, duas alianças douradas.
Eu chorei demais, ele queria se casar comigo. A emoção foi tanta que desmaiei. Senti alguém me tocando, alguém gritando por um médico, falando meu nome.
- Enzo, Enzo, fica comigo, não fecha os olhos. Aguenta firme meu amor, vai da tudo certo, você vai ver.
Continua