III
Qual é o sentido cultural de se esporrar na cara de uma garota? Qual é o significado que se esconde por trás deste ato bizarro e nem um pouco banal? Será que quero inconscientemente alimentá-la ou melecar todo seu rosto, sujando-a? Ou será que espero que ela, naquele momento de clímax masculino, aceite todo o meu mais profundo produto, meus filhos e tudo aquilo mais de mim que pode vir a ser sujo? Ou será que é só uma piada, comigo tentando desenhar no rosto da garota que estou comendo um bigode branco de porra? Talvez algum padre ou pastor ou religioso em geral consiga descobrir alguma resposta mais profunda, algo mais simbólico, onde meu pau seria João Batista batizando o Jesus que é a boca da moça, recebendo-a no reino sagrado dos céus e dos cus, ou mesmo que minha porra é Moises invadindo o mar vermelho que é sua língua, procurando a terra prometida alem da garganta, alem do amor que ela não pode negar que sente quando se permite e me permite neste ato. Deve realmente ser algo desse nível, porque fora isso não tenho capacidade de imaginar por que diabos sentimos prazer neste pequeno ato simplório, de encher a boca de uma garota com um liquido que tem a consistência de mel, motor de óleo e cor de sabonete liquido.
Não posso afirmar que foi exatamente este pensamento que me veio em mente quando Juliana chupava meu pau no chão daquela sua casa na pensãozinha que tínhamos ido parar naquele começo de madrugada. Mas também não posso negar que o pensamento nascia furtivamente em minha mente, não em palavras, mas em sensações, e a cada chupada, cada ida até o fim de sua garganta eu me indagava todo o motivo da humanidade e ao mesmo tempo mandava esta pergunta à merda, pois havia uma moça bonita chupando meu pau. Havíamos chegado e ela claramente queria me devolver o sexo oral do ponto de ônibus, aquele sexo que não tinha sido só excitante para o corpo como também para a mente, fazendo algo proibido tão próximo de pessoas que provavelmente nunca haviam feito, talvez nunca pensado em fazer tal ato. E devo admitir, a maldita Juliana sabia chupar. Brincava com a cabeça do meu pau, a glande (é realmente um péssimo nome este) brincava com a cabeça do meu pau com sua língua, subindo e rodando e procurando, molhando e me fazendo ter pequenos arrepios que subiam das bolas até a espinha e fazia meu tempo parar por alguns milésimos de segundos. Neste instante nada mais existia, nem duvidas nem perguntas idiotas nem Vivian, a puta dos meus dez anos, as duas moças do carnaval, as garotas e as mulheres que havia comido nestes tantos anos. Ali só existia aquela moça, olhando-me com os olhos verdes/negros, com uma expressão que admitia pervetidamente o quão safada ela era. Nada mais existia.
E então esporrei em sua cara. Um gozo longo, mesmo tendo eu trepado por mais de dez horas praticamente seguidas a pouco mais de doze horas atrás, Vivian por mais que tivesse tentado não havia conseguido nem metade deste prazer, e eu urrei duramente enquanto Juliana com um sorriso sarcástico no rosto só esperava mais daquele meu “Moisés Branco Pastoso”.
Depois continuamos trepando quase que imediatamente, eu realmente não queria parar de ter contato físico com ela, de esfregar minha pele na dela, queimando todos os nervos no contato, fodendo-a, montando nela, deixando-a por cima, de quatro puxando seu cabelo vermelho até ter suas costas arqueadas, seus joelhos raspando no chão, o tapete a muito já espalhado nalgum lugar da sala, ela arfando e sentindo a cada estocada mais e mais do meu desejo de nunca sair de dentro dela, daquele lugar quente, úmido, onde tudo fazia muito sentido mesmo sem ter nenhuma resposta. Havia sim uma resposta ali dentro, a resposta do mistério milenar da humanidade, e a cada nova investida ela se perguntava se era isso que os Deuses desejavam quando inventaram o homem, e eu não respondia nada exceto mais e mais desejo de ser a resposta. Bom deus, isso era ótimo.
Não tenho certeza exatamente quando fomos terminar de trepar, acredito que varamos a noite neste sexo, indo da sala para a mesa da cozinha, uma mesa de granito não tão frio, ela sentada em cima com as pernas abertas, a buceta tão rosa e molhada, e eu entrando dentro, esperando tudo, depois passando para o quarto, onde com dificuldade conseguimos subir na cama, pois não largávamos a boca um do outro, a cintura um do outro, umbigadas e mais umbigadas, livros que ela provavelmente estava lendo jogados como se fossem pedaços de madeira, lixo inútil que para nada servia. E então na cama ela me prendia com alguma camisa branca que estava pendurada ao lado da cama, prendia minhas duas mãos na cabeceira da cama e montava em mim, ordenando e comandando cada pedaço da trepada com buceta de ferro, inexpugnável, uma ditadora adorável e eu um povo que só desejava seu corpo mais e mais. E então acabamos indo para o banheiro, lembro-me da água caindo e nós tomando um proto-banho, mais molhado de saliva do que de água corrente. E eu a masturbava e ela me punhetava, e ambos alternávamos na água quente, corpos frios, a água não dava vazão a mais nada. E então, quando o sol já estava claro, adormeci.
Acordei bem tarde, meu relógio já dava mais de 5 da tarde. Eu estava deitado pelado na cama dela, seu lado estava vazio. Procurei minhas roupas e elas estavam jogadas na sala, em cima, em baixo e do lado do sofá. Mas nada de Juliana. Fui até sua geladeira, abri-a como se não fosse alguém que ela conheceu a pouquíssimo tempo, mas sim um velho conhecido, pois ela sabia mais de minhas vontades do que eu mesmo. Havia um suco de laranja, manteiga, requeijão, um pedaço de queijo e mortadela.
Mortadela. Lembrei-me de que Vivian havia me comprado isso a mais de um dia e eu havia recusado, apenas um bom café, e agora eu sem permissão devorava a mortadela de uma garota mais nova que eu. Eu era a Vivian de Juliana, essa moça de cabelos vermelhos havia feito comigo o que eu havia feito com Vivian, eu tinha descoberto todo o país, o continente dela e a abandonado, êxodo geral, e agora estava sozinho, abandonado em minha mediocridade solitária, com uma dor de cabeça despontando no fundo de minha mente.
Juliana havia saído beber e, assim como eu antes, esperava que quando voltasse eu já tivesse ido embora, talvez ela viesse com outro homem ou fosse à residência de outro, para seguir o ciclo de amor e angustia que todos aqueles que vivem devem passar. Mas eu não estava triste com ela, havia amado-a, atingido o maximo, tocado o céu, todo o resto que teríamos haveria de ser pura burocracia, como aqueles casais que namoram castamente por quatro, cinco, seis anos e se conhecem de tal forma que qualquer tipo de contato não produz nem é resultado de tesão, mas de puro costume, escova-se os dentes, trepa-se com a namorada. Não, eu não estava triste, sempre teríamos Paris e isso era o mais importante. Comi dois pães, tomei um copo de suco de laranja e sai de sua casa. Não teríamos mais nada ali.
Quando cheguei em casa Vivian também tinha ido embora, mas havia comprado mais coisas para mim, um pacote de bolachas água e sal, hambúrgueres e pães, uma saco de frutas, ovos e leite. E em cima do sofá existia um telefone, a tentativa dela, aquela mulher linda e desesperada, de continuar tocando o paraíso, ela desejava Paris novamente. Eu a entendo, embora nunca vá ligar para ela deixei o telefone ali em cima, um monumento não somente a Vivian e ao que ela encontrou em mim, mas naquilo que eu encontrei em Juliana.
Talvez nalgum bar, em qualquer bar, nos encontraremos de novo, nós três. Eu as amarei do mesmo modo, mesmo não sendo mais quem fui nem elas sendo quem foram.