Helena sabia exatamente há quanto tempo estava ali, lembrava bem do dia que saindo de casa fora rendida por dois homens armados, enfiada na mala de seu próprio carro e submetida a uma longa e inesperada viagem. Mesmo com todo horror, calor e com o lado psicológico totalmente abalado ela conseguiu manter-se acordada e com sua ótima noção de orientação graças a longas viagens com seu pai em caçadas, ela sabia que tinha se afastado mais de duas horas de seu bairro. Já era tarde quando finalmente foi tirada do carro e jogada num sofá velho dentro de um quarto quente. Mandaram-na ficar calada “pro seu próprio bem” e prometeram nada fazer de mal, enquanto durassem as negociações. Ela sentiu um arrepio na nuca, dinheiro, sempre o maldito dinheiro... O quarto não tinha janelas e a porta de ferro era pesada, entrava um vento fresquinho por baixo dela, esse era o único contato com o mundo exterior. Todos os dias um café puro com pão, bolo ou um suco era entregue, logo cedo, na hora do almoço e do jantar entregavam uma quentinha. Não podia dizer que estava sendo mal tratada, ninguém lhe dirigia a palavra e ela ousou várias vezes perguntar, mas a resposta “teremos que amordaçá-la se as perguntas continuarem” não foi um incentivo a fazer outras.
Sua higiene era feita num minúsculo banheiro conjugado ao seu quarto, mas ela não tinha roupas pra trocar, o cheiro da roupa usada há longos oito dias incomodava demais.
Já não tinha mais o horror de ser molestada, sentia que seus algozes eram profissionais, as conversas que ela pôde ouvir, sempre em tom baixo deixavam claro a intenção deles.
Não haveria vítima, e eles não tinham pressa. Helena podia bem imaginar o sofrimento dos pais e do irmão sempre amigo e companheiro. Talvez a demora se devesse a um valor muito alto, difícil de conseguir.
No décimo dia, ela acordou com uma dor conhecida, cólica... Teve medo e vergonha, o que faria? Na hora que entregaram o café, ela pediu pra falar e explicou o problema dizendo que precisava de absorventes, sabonetes e outros produtos de higiene. O grandão saiu da mesma forma que entrou – calado – do outro lado da porta ouviu vozes.
Depois silencio por horas, acabou dormindo... A vida ali era essa, dormir, acordar, comer e dormir, não tinha TV, jornal, revistas velhas, nada, nada...
Acordou achando que estava em casa, ouvindo a voz da mãe ao longe. A felicidade foi efêmera, sentando no sofá depressa ela prestou bem atenção e ouviu uma voz feminina pela primeira vez naqueles longos dias... A porta abriu, e ela entrou, não usava a touca comum em todos os outros que escondia o rosto, tinha cabelos escuros, e estavam presos, o rosto inexpressivo, trazia uma bolsa com vários produtos de uma marca conhecida por Helena. Ela ficou feliz pela primeira vez, ao abrir a bolsa e ver xampu, sabonete, cremes, absorvente, e comprimidos pra cólica. Tentou falar com ela, mas ela saiu rapidamente, gostaria de ter conversado um pouco, não agüentava mais aquele tormento, chorou até adormecer... Do lado de fora Vitória, ouviu seus soluços e chorou também. Vitória era uma espécie de faz tudo na quadrilha, sempre que tinha mulher no cativeiro ela era chamada pra ajudar. Não gostava do que fazia, mas não tinha escolha, o pagamento era ótimo, e sua família modesta sempre agradecia... Sentada ali de sentinela aquela noite, ouviu o choro da mulher presa, sabia que já tinha passado um longo tempo e as negociações não andavam bem... Acordou cedinho, ouvindo tiros na parte baixa do morro, não era nada anormal, mas ela ficou apreensiva, logo um dos homens chegou dizendo que estava tudo “normal” que ela faria a comida naquele dia e tomaria conta da mulher... À noite eles estariam de volta. Ela preparou o café e entrou no quarto, evitou olhar pra ela, mas ela puxou assunto, não tinha porque não responder, eram mulheres... Conversou com ela... Helena ouviu finalmente uma voz sendo dirigida amavelmente à ela. Ficaram alguns minutos falando sobre o café, os produtos, pediu mais absorvente, perguntou sobre o tempo, foi tudo bem... Mas quando começou a implorar pra fugir, e mulher levantou e fechou a porta... Vitória ficou pensando em Helena, sabia o seu nome, já tinha visto nos jornais, a família desesperada querendo sua volta, a dura batalha da negociação, e os pedidos da mãe dela na TV, exigindo que a polícia não entrasse no meio, ela queria a filha viva, a qualquer custo. As fotos de Helena eram lindas, Vitória ficou louca quando a viu pessoalmente, a pele fina, os lábios cheios... Os cabelos longos estavam grudados de suor quando ela entrou no dia anterior com os produtos higiênicos, agora estavam limpos, penteados, e ela aparentava um ar saudável apesar da falta de sol... Mas Vitória não podia arriscar sua vida se envolvendo com ela... A bi sexualidade dela era segredo pra maioria dos conhecidos, principalmente na favela onde morava... A vontade de tocar na pele de seda estava ali desde a primeira vez que ouvira o grupo dizer que ela era seria a vitima, as fotos nas revistas da sociedade mostravam uma mulher de 26 anos, alta, loira, fina, linda... Vitoria a quis no mesmo momento. Mas era um risco... Na hora do almoço entregou o almoço e Helena pediu pra não almoçar sozinha... Lá fora, tinha alguém armado espreitando, qualquer grito ele tinha ordem pra entrar. Isso foi dito pra ela, mas Vitória sentou-se numa cadeira e as duas comeram em silencio, a colher atrapalhando bem, mas garfos e facas não eram permitidos. Vitória olhava pra ela de canto de olho, era linda... Levou as embalagens pra fora, e o segurança perguntou como estavam, ela respondeu que tudo ia bem, tranqüilo e ia tirar uma soneca. Entrou no quarto feio e cheirando a mofo e viu seu objeto de desejo adormecido no sofá, não podia esperar mais, nem resistir... Tocou seus cabelos macios, ela abriu os olhos assustada, tentou dizer algo, mas Vitória colou seus lábios nos dela, enquanto segurava seus ombros. Tomada de surpresa e certo horror, ela tentou sair a qualquer custo, o sofá pequeno não facilitou essa tarefa. Virou o rosto pra todas as direções possíveis tentando fugir daquela boca sedenta, Vitória não podia voltar atrás. Sabia dos riscos, mas estava disposta a tentar, segurou o rosto da mulher com força e forçou entrada da língua quente. Helena abriu a boca para talvez protestar e foi invadida como nunca antes, em todos os seus relacionamentos. Nunca imaginou ser tocada assim por uma mulher, tinha amigas lésbicas, mas essa não era sua praia. Sentiu pavor... As mãos de Vitoria passeavam pela lateral do seu corpo apertando forte, seu corpo agora pressionava o dela, a coxa firme estava no meio de suas pernas, e seu sexo agarrado na outra perna. Com as mãos livres Helena tentava a todo custo empurrar aquela mulher, batia, arranhava, socava, mas isso só fazia aumentar a pressão da boca na sua, lágrimas saltaram dos olhos ao sentir um gosto de sangue na boca... Vitoria pareceu despertar de um transe, beijou delicadamente seus lábios e desculpou-se, sua boca correu por todo rosto molhado, beijou seu pescoço e falou baixinho no seu ouvido que tudo ficaria bem, as mãos que subiam e desciam pelo corpo magro e frágil, ficaram mais ousadas, chegando a seus seios firmes... Ela não queria aquilo, mas ao mesmo tempo estava sentindo-se tão estranha, tão protegida... Era tudo tão diferente, o calor, a textura... Só que não era amor, não saía de sua cabeça que ela estava sendo vítima de um estupro, afinal aquela mulher tão doce era uma seqüestradora também. As mãos alcançaram os seios dela, acariciando bem devagar, e a boca quente procurou a sua... Vitória sentia o corpo se debatendo, tentando se livrar, mas a excitação dela era muito maior, não tinha como parar... Levantou a blusa na altura do pescoço, e sua boca tocou nos seios dela, sentiu que ela prendia a respiração, ouviu a voz tremula e baixa pedindo que parasse... Implorando que a deixasse em paz... Mas Vitória sugou o seio mais fortemente, as mãos já se insinuando sob a saia de tecido leve. Sentia o corpo se contorcer, e isso incendiava todo seu ser... Tocou no elástico da calcinha, a boca tocando a dela com carinho, os olhos brilhando de desejo... Os dedos escorregaram para o sexo, totalmente molhado.
Helena estava entorpecida, chorava sem parar, mas sabia que seu sexo queria aquilo mais do que qualquer coisa, não tinha coragem de olhar naqueles olhos escuros e profundos, tinha medo. Então fechou os seus e se entregou. Os dedos da mulher passeavam por sua vagina, com delicadeza. Nenhum homem havia tocado nela daquele jeito, sem pressa e com vontade ao mesmo tempo. Vitória sentindo a entrega levantou o tronco ficando sentada nas pernas de Helena, tirou a sua própria roupa, expondo seu corpo moreno e quente. Os seios pequenos e firmes, a barriga firme, o sexo com pelos macios... Helena virou o rosto para o lado, não querendo ver, quando ela tirou a sua blusa; a saia estava na altura da cintura, e a calcinha foi puxada até os pés, então Helena sentiu os lábios sedentos tocando sua vagina. Podia gritar, pedir ajuda, mas não queria que Vitória parasse, a língua indo e vindo, acariciando os pequenos e grandes lábios, chupando o clitóris habilmente... O choro e os soluços sendo sufocados por gemidos, os ais deixando Vitória louca, a vontade de chupar mais e mais, sugando todas as suas entranhas, rezando pra ela gozar logo e gostar, e rezando pra não acabar nunca... Sem saber o que aconteceria depois, e nem se importando com aquilo. A boca colada na vagina quente, as mãos nos seios acariciando, apertando, longos minutos, longos e deliciosos, sentindo o liquido quente na sua boca, o sabor doce daquela princesa, o cheiro dela... Tudo ali, tudo seu momentaneamente. Sentindo que a qualquer momento ela gozaria, e querendo prolongar ao máximo aquele momento estranho e mágico, ela deixou o sexo e beijou a barriga, subindo até os seios, enquanto seus dedos ocupavam o lugar da boca. Acariciando de leve e fazendo pressão no clitóris, indo até a entrada da vagina e voltando... A boca alcançou a de Helena, que não queria tocá-la, não estava acostumada com aquilo, sentia seu gosto nela, não queria, achava sujo... Mas os dedos estavam torturando-a, ela se contorcia toda, queria muito gozar... Já não sabia o que era certo ou errado, o cheiro daquela mulher era bom, o toque também, tudo misturado a frustração, dias de solidão, era um combustível fatal. Correspondeu ao beijo pela primeira vez, e Vitória gemeu alto, as línguas se tocando, um abraço forte, os sexos se tocando, os seios... A perna de Vitória firme no meio das pernas de Helena. O vai e vêm, os gemidos, as línguas, os sons... Tudo intenso... Vitória olhou pra ela, e foi correspondida, tocou com seus dedos a vagina quente, e penetrou fundo, ela arfou...
Os movimentos ritmados, os quadris indo de encontro a ela, os olhos perdidos um no outro... O orgasmo veio para elas, juntas, veio forte, sacudindo o mundo ao redor... Ela gozou como louca na mão de seu algoz, e sentiu que ela gozava na sua coxa... Um misto de vergonha e transe... Queria ficar só. Queria sentir tudo novamente. Pra Vitória não foi diferente, um banho rápido e ela saiu do quarto. Helena virou pro lado e esperou ela sair, não respondeu quando ela perguntou baixinho se ela estava bem... Alguns minutos depois entrou no banheiro e se arrumou... O corpo pedia cama macia, os pensamentos estavam em frangalhos. Deitou sentindo o cheiro dela nos lençóis, se embrulhou neles e dormiu como não dormia há dias... Acordou com um barulho horrível, tiros pra todos os lados, gritos, cães latindo, a porta sendo arrombada, homens gritando seu nome. Alívio e alegria, eram policiais, descobriram seu cativeiro e ela foi salva, os marginais presos, o policial olhava pra ela, e perguntava se estava bem, se estava inteira; um deles veio correndo com um celular e lhe entregou, era sua mãe, chorando e falando ao mesmo tempo. Ela sentia vertigens e do nada, o chão rodou e ela caiu... Acordou com alguém lhe dando uma bebida, era uma policial, perguntou se tudo estava bem, e disse que eles já sairiam dali. Vários carros lá fora, as sirenes ligadas, ela pode ver o local onde ficou aquele tempo todo. Parecia um pequeno sítio, muitas arvores e mato... Olhou para um canto e viu seis homens sentados no chão e o policial perguntou se ela podia reconhecê-los. A resposta foi negativa, todos estavam sempre com capuz. Ao longe do meio da mata ouviu-se um grito e latidos, policiais faziam a varredura na área acharam uma mulher escondida. Ela dizia que era moradora da localidade e assustada com os tiros se escondera ali perto, os olhos de Helena encontraram os de Vitória... Os policiais perguntaram se havia mulher no bando, um deles respondeu que não, que só homens faziam o trabalho. Helena não tirava os olhos dela, Vitória tinha medo, ela sentiu isso. Então se virando para o policial, disse que o tempo todo foi cuidada por homens, e nunca chegara a ouvir a voz de uma mulher. Um sorriso no olhar, um agradecimento foi o que viu... Soltaram Vitoria e ela partiu pra sempre. Deixando apenas um rastro de perfume bem conhecido por Helena.