Editor de Contos Eróticos

Um conto erótico de LOBO
Categoria: Heterossexual
Contém 6963 palavras
Data: 07/12/2011 12:54:28
Última revisão: 30/05/2017 16:35:33

Como qualquer um que escreve contos, como estes que vocês lêem por aqui, não fujo à regra. Também vez por outra me ronda uma fantasia - não erótica neste caso - em que algum editor me lê e convida-me a publicar. Com muito sucesso, claro...

Tudo se desfaz quando me lembro do país de semi-letrados em que vivemos.

Mesmo que fosse publicado, a possibilidade de algum sucesso e rentabilidade seria - vide parágrafo anterior - escassa.

Assim, não cheguei a cair da cadeira quando abro minha caixa postal mal-comportada e vejo o convite. Um sujeito, dizendo-se editor, elogia meus contos e pede que entre em contato por seu e-mail.

Nem dei muita atenção. Ou seria simplesmente algum golpe, ou então alguma dessas editoras que ganham dinheiro à custa de ingênuos.

Os autores AEP (às expensas próprias ), como diz Umberto Eco em seu “Pendulo de Foucault”. Convencem-nos de que são geniais, e que tudo que precisam seria de um pequeno passo: investir capital próprio na impressão de seu primeiro livro. Depois viria o sucesso, e muito dinheiro... Via de regra o coitado queima sua poupança e, em troca, fica com caixas de livros guardados embaixo da cama. Servindo no máximo para serem usados como presente aos amigos e família no Natal.

Como não respondi, dois dias depois me mandam outro e-mail. Dessa vez o sujeito identifica sua editora e informa telefones para que o procure.

Liguei, mais por simples curiosidade que qualquer outra ilusão. O cara se desmanchou em elogios. Parecia estar com minha página aberta em sua tela, pois tentando ser adulador citava frases inteiras de contos que escrevi. Dizia que eram exemplos de textos de muita qualidade. Sem ilusões quanto ao que viria, não me senti muito envaidecido...

Mas como a sede da editora ficava bem perto, acabei - sempre a curiosidade... - aceitando marcar uma reunião. Terror dos vendedores que jamais conseguem me empurrar uma mercadoria que não queira comprar, sabia que não havia riscos de cair nalgum golpe. Conclui que poderia ao menos ser divertido.

Ou vai que...

Bem: o sujeito era bem jovem. Luís Demétrio, filho do dono. O velho se aposentou e ele ficou ali. Nada de golpes, mas também nenhuma abertura para publicar-me. Sempre louvando a minha presumida qualidade, o que me propunha era participar de um grupo que faria a seleção e edição de contos eróticos de novos autores. Era seu projeto editorial. Nenhum grande dinheiro, obviamente, mas tinha lá seu apelo. Eu teria que me reunir todas as quintas-feiras à tarde com os outros membros do grupo, gente de perfil semelhante ao meu, para ler e analisar em conjunto os textos que nos encaminhariam, propondo caminhos para seu desenvolvimento.

Voltei no dia seguinte, ainda sem muito interesse, para uma reunião com os outros dois membros do grupo e a supervisora de edição. Tive uma surpresa: uma rara empatia surgiu. Homens mais ou menos da mesma faixa etária, bom nível cultural, Carlos Ludovico, o Ludo e Ricardo Soares, Rico, logo se tornaram meus mais novos amigos de infância.

Além deles havia a supervisora de edição, Silvia, uma longilínea morena chegando nos quarenta, que no seu jeito discreto, algo misterioso, de ser, sempre deixava um rastro de sensualidade por onde passava.

Topei...

Começamos na quinta-feira seguinte. Quatro a cincos horas, sempre nas quintas à tarde, com fugidas vez por outra à cafeteria em frente. Propriedade de Isabel, uma loura de 39, muito interessante. E longos happy-hours no fim da tarde, numa choperia alí perto.

Agora, quanto aos textos...

Uma enxurrada de mesmices, onde mulheres ultra-saradas, sem nenhuma grama a mais de gordura no corpo, tinham orgasmos múltiplos com atletas sexuais - sempre o narrador - que as penetravam incessantemente com seus "mastros de 23 centímetros...".

Antes de ler, em geral era necessário traduzir o que escreviam, já que era comum suas "obras" virem naquele "idioma" abreviado de rede social. Parece que eles acham que se faz literatura assim... Afora isso, havia sua grande "criatividade" em lidar com a ortografia. Não raro surgiam pérolas do tipo:

"...a gata ksada semudo-se aki p/ meu prediu. Tava td dia de saia curta e blusa c/ os peitão q quasi saiam p/ fora. Sakei logo q essa mina gostava muinto de shifrar seu kornu. Loka pruma piroka. Mesmo pq, tenhu olhu clinicu. Naum é p/ contar vantajem, mais um dia ela entra no elevador e viu meu mastro escondidu na bermuda. Mais tava na kara que a mina fikou exitada..." .

Além de nós, certamente os ambientalistas se indignariam. Tanto papel usado para imprimir baboseiras desse quilate...

Resumo da ópera: Luís Demétrio, que resolvera brincar de editor, era quem fazia a pré-seleção. Parecia que para ele isso estava bom. Não para nós: em seis semanas, nada surgiu que valesse a pena...

O que sobrava mesmo eram os longos papos que tínhamos. Pouco dinheiro, mas nos divertíamos muito. Trocando comentários, inevitavelmente jocosos, durante o trabalho, e depois, na chopperia. Além de nós, Silvia vinha conosco. E Isabel, da cafeteria ali perto, depois que fechava o estabelecimento também se juntava a nós. Como o tema de toda a tarde era erotismo, esse seguia permeando nossas conversas. Um clima se ia criando...

Todos casados, todos se queixando da rotina e marasmo em que os anos tornam os casamentos.

Ludo, fomos percebendo, sempre arranjava algum motivo para uma passadinha na sala de Silvia. Rico sempre fugia sozinho, até a cafeteria de Isabel. Dizia que para comprar cigarros, mas nunca o víamos fumando. Justificava a demora em voltar, argumentando longos papos culturais com Isabel, que era formada em sociologia como ele.

Após aquelas semanas de consumo do lixo pseudo-erótico que Luís Demétrio nos mandava analisar, nada restou. Menos de 1% dos textos que vimos tinham alguma chance de serem trabalhados - isso se muito trabalhados... - mas esses poucos autores, ou não se interessavam, ou simplesmente achavam que já tinham feito tudo que se precisava e seríamos nós que reescreveríamos tudo em nome deles. Foram para o triturador de papel como os outros.

O que sobrou foi a nova amizade que nos uniu, algum dinheiro - pouco - ganho, e tudo o quanto nos divertimos. Estávamos certos de que a "boquinha" acabaria, quando Luís Demétrio nos chamou para uma reunião. Mas para nossa surpresa, ele nos informou que estava deixando a empresa - papai deve ter se cansado da sua brincadeira de ser editor - e nos apresentou Sônia, a nova editora.

Uma mudança da água para o vinho. Sônia tinha mais ou menos nossa faixa etária. Muito experiente, tinha sido diretora editorial de uma revista feminina grande. Acabou sabendo dessa brincadeira de Luís. Só que ela tinha um projeto sério. A coisa que Luís Demétrio tocava, sem a menor competência, ia de encontro a um projeto editorial que pretendia desenvolver há muito tempo. Fez uma proposta de trabalho ao velho, que aceitou na hora. Luís foi mandado cuidar de umas fazendas...

Olhos castanhos de um brilho pouco comum. Em forma. Bonita. Daquele tipo de beleza de mulher madura, uns 40 anos, que vai se revelando aos poucos. Confesso que no simples formalismo de um aperto de mãos, senti um frisson me percorrer. Juntou-se à empatia que já havia entre nós quatro - mais Isabel da cafeteria - e de pronto também aderiu ao nosso alegre hábito do happy-hour no final das quintas feiras.

Novamente um clima se insinuando. Ela sempre me fitava firme nos olhos quando conversávamos. E passamos a conversar muito. Ela me revelou que estava lendo meus contos, interessou-se, perguntava-me muito sobre minhas inspirações.

Profissionalmente tudo mudou. Sônia, como disse, tinha um projeto já preparado. Tinha garimpado muita coisa, que foi nos repassando. Com uma qualidade infinitamente superior à dos textos que Luís nos entregava. Com uma participação de mulheres autoras significativa, coisa que na fase de Luís era quase inexistente.

Passamos a trabalhar de verdade. O triturador de papéis, ao contrário, diminui bem sua atividade. Numa reunião eu propus a Sônia que nos focássemos nas autoras:

- O universo e os segredos do erotismo feminino são pouco conhecidos ainda. É pouco revelado em prosa e verso. Seria interessante se pudéssemos lançar alguma luz sobre esse segmento. - eu argumentei.

Me fitando como sempre fazia, os olhos de Sônia brilharam:

- Você leu meus pensamentos!

Pegou de leve na minha mão e disse a todos:

- Se todos concordam, será esse nosso caminho.

Todos concordaram. Todos retornaram as suas salas, mas Sônia pediu-me que ficasse.

- Estou lendo teus contos e me encanta a sensibilidade que você tem, de entender a alma feminina - ela me diz.

Já me disseram isto antes. O que, confesso, sempre me surpreendeu. Nunca me achei nada extraordinário. Agora, vindo este comentário da parte dela, senti-me obviamente envaidecido.

- Será que você sabe das reações que provoca? - me olha num sorriso sutil...

Ela toma minha mão, fita meus olhos:

- Eu quero que você coordene este projeto. Entre outras coisas que eu quero...

Tocou o telefone. O velho, o pai de Luís estava ligando. Sentindo que seria assunto longo, levantei-me e fui saindo.

Mas aceitei.

Quando estou na porta, ela tapa o bocal do telefone, me diz:

- Se você quiser, depois a gente pode conversar bem mais...

Ao voltar para nossa sala, continuei sentindo o calor da mão de Sônia na minha...

Quando retorno, Ludo me olha, lança um olhar malicioso para Rico e Sílvia que estava também por lá e diz, olhando-me abaixo da cintura:

- Demorou, hein? Está com uma banana no bolso ou é apenas a alegria de nos ver?

Silvia sai da sala, não antes de checar-me também. Ruborizada, mas rindo....

As piadas, as gargalhadas, as gozações, que eram o som típico de nossa sala, foram se tornando menos comuns. Um clima de profissionais compenetrados, não raro tocados por um certo excitamento, tornou-se a tônica daquele ambiente. Os textos que Sônia pré-selecionava eram totalmente diversos dos da fase de Luís Demétrio. Eram intensos, reveladores. Mesmo aqueles onde a pouca cultura das mulheres que ousavam escrevê-los se evidenciava. Ainda que cheios de erros de concordância e ortografia, eram plenos de conteúdo. Diamantes que só necessitavam uma boa lapidação.

Produzimos uma primeira coletânea com vinte autoras. Sônia e o dono da editora definiram que seria uma série. Por ora pensamos em chamá-la: "O Olhar Feminino da Sensualidade".

Quando terminamos a produção desses contos, tive uma longa reunião com Sônia. Depois de todas aquelas semanas, sempre temperadas pelo mesmo tema, estava mais que claro que tínhamos uma empatia que se tornava mais e mais forte. A secretária da empresa entrou na sala, avisou que todos já tinham saído, pedindo que trancássemos tudo quando tivéssemos terminado. Após ouvi-la fechar a porta da rua, Sônia me encara:

- Basta de trabalho por hoje. Se não me engano você já escreveu algo sobre encontrar uma parceira no escritório após o fim do período, não foi?...

- Sim - eu concordo - mas ainda preciso de mais pesquisa sobre o tema...

Sônia levanta-se e vem para o meu lado. O sinal foi dado: ora do gentleman sair de cena e ceder seu espaço ao LOBO predador. Apanhei Sônia pela cintura. Na mais plena certeza de que sua única reação seria aninhar seu corpo ao meu. Estava absolutamente certo.

Sônia colocou sua coxa entre as minhas. Trocamos sinais de nosso desejo: o volume formado dentro das minhas roupas e o calor úmido que se evidenciava entre as pernas dela. Um beijo longo, na volúpia que o momento exigia. Minhas mãos acariciam seus seios por entre o tecido de sua blusa. As dela abrem o zíper da minha calça e agilmente libertam meu membro duro.

Sônia se deixa escorregar pelo meu corpo até se por de joelhos ante mim.

Tento me abaixar, quero tirar suas roupas, deixá-la nua, mas ela pede que aguarde.

- Não...Primeiro eu quero ir até o fim. Posso?

Como negar? Acaricio carinhosamente seus cabelos.

-Todo teu. Farte-se!...

Para um pouco, me olha e inicia. Apanha meu pau com a duas mãos. Passa sua língua ao longo de seu comprimento. Com a ponta dela circunda minha glande, cabeça vermelha que ansiava pela seqüência.

Suga-me vagarosamente. Fecha os olhos, parecendo fruir cada instante que vive agora. Ora os abre e - com meu pau todo em sua boca - me fita provocantemente.

Sônia segue numa mescla de calma e furor. Ora chupando vagarosamente, ora fazendo tudo com voracidade. Num momento para e me encara para dizer:

- Você não imagina como eu gosto disto! Queria que você gozasse na minha boca. Me dá tudo. Quero sentir teu líquido...

Prosseguiu, até finalmente ser atendida.

Levantou-se então. Sentou-se na mesa, passando a língua nos lábios, enquanto atirava longe os sapatos. Tirou a saia e baixou a calcinha. Uma provocante depilação num pequeno triangulo ganhou a luz.

-Hmmm! Adorei este teu gostinho de pimenta branca... Agora é tua vez. Vem provar do meu sabor. VEM!...

Parou um pouco, assustada. No tesão em que estava, tinha gritado aquele "VEM!". Deu-se então conta de que estávamos só nós àquela hora na editora. relaxou, abriu bem as coxas e exibiu-me a buceta aberta, toda aberta, que me convidava.

Fui beijando e lambendo sem pressa suas coxas. Indo cada vez mais, perto, sentindo que nessa viagem sua pele se ia tornando mais quente, mais rubra. Fui recebido por um calor úmido, que reverenciei em lábios e língua, indo e vindo sem cessar, entrando e saindo, prendendo seu clitóris, fazendo-o girar.

Ninguém por perto, Sônia soltou-se. Estremecia, contorcia-se sentada no tampo da mesa enquanto eu a chupava toda.

Gemeu muito, até culminar, com seu orgasmo, num grito.

Acariciou carinhosamente meus cabelos, pedindo-me que me erguesse. Com as mãos em minha face, encarou-me daquele seu típico jeito, olhos sempre nos olhos.

- Acho que você é do tipo que adora sexo e não tem preconceitos, não é?

- Sem preconceitos! Heterossexualmente falando, claro...- eu respondo.

Ela sorri e vem para mim. Um longo e melífluo beijo, onde nossos sabores em nossas bocas se encontram. Nossos corpos se preparando para os próximos atos...

Seu telefone direto toca.

- A essa hora? Imagina que vou atender...

Retorna ao beijo, onde o sabor do sexo oral que fizemos um ao outro permanecia. Sônia está cada vez mais lasciva, mas o telefone continua tocando. Até que para, mas o silêncio dura pouco. Agora é seu celular que inicia. A última coisa que gostaria é que esse momento fosse interrompido, mas parece claro que é a mesma pessoa tentando achá-la.

- Sônia, melhor atender. Pode ser importante...

Contrafeita ela apanha o celular na bolsa. Fica desconcertada ao ver quem era. Ao atender, depois de alguma hesitação, fica lívida. Era o marido...

O que ocorreu é que este a buscava para avisá-la. Acabara de chegar a notícia de que seu pai, vivendo no interior, havia sofrido um acidente grave e estava hospitalizado.

Obviamente vestiu-se e saiu correndo. Disse a ela que não se incomodasse, que fosse e eu tomaria conta de fechar tudo por ali.

Saí de lá com três sensações: preocupação por ela, uma certa frustração, já que não pudemos culminar na penetração plena toda aquela nossa cumplicidade.

Confirmara-se, entretanto, uma certeza que me saltara aos olhos à primeira vista: Sônia é uma mulher especial. Dona de uma sensualidade flamejante.

Infelizmente Sônia teve que viajar, para acompanhar o caso de seu pai. Por umas semanas, teve que gerenciar todo o trabalho na editora por via remota, e-mails e telefonemas.

Ali as coisas continuaram. Terminamos a edição do primeiro volume, com as vinte primeiras autoras que escolhemos. Começou a fase de produção gráfica, fotocomposição de texto, criação da capa, preparação do lançamento e demais atividades.

Estávamos iniciando a analise de contos para o volume dois. Nisso, um dia chegam às minhas mãos três contos de uma autora nova. Nada revela a seu respeito. Assina-se, algo sugestivamente, "Sheherazade Nua".

Seus textos são bem maiores que a média dos que recebemos. Tem toda uma estrutura sólida, com vários personagens, bem delineados, com um entramado de estórias que se entrelaçam. Ler Sheherazade, concordamos eu, Ludo, Rico e Silvia, é uma experiência especial. Daquelas leituras que não se larga antes do fim, mesmo que isso acarrete atrasos em compromissos importantes.

Melhor: seu texto traz toda uma tensão dramática, única, com uma intensidade e uma densidade que vão crescendo ao longo de seu desenvolvimento.

Uma coisa foi me intrigando. Com a qualidade que citei, o texto de Sheherarazade apresentava sempre alguns erros crassos de concordância e ortografia. Ela falava do tesão com personagens "exitados". Numa outra passagem, uma personagem conta que foi "sadomizada" na casa de alguém que conheceu recentemente.

Mas depois conta que conheceu o parceiro numa vernissage, descreve sua casa em detalhes, ilustrando uma típica "town house" nova-iorquina. E na vernissage de um pintor semi-figurativista, onde se conheceram, entre um gole de Calvados e outro, eles falaram sobre a Nouvelle Vague francesa. Das preferências por Godard - ele - e por Truffaut e Chabrol dela...

Em síntese: como essas citações típicas de quem tem um sólido embasamento cultural passam despercebidas pela maioria do público, ela parecia achar que os erros é que chamariam atenção. Era claro para mim que ela os plantava numa revisão de texto. Certamente como proteção, não querendo que sua identidade real se revelasse.

Corrigir Sheherazade não levava mais que cinco minutos. Mas aqueles três contos tinham continuidade. Mais que meras short-stories, sugeriam algo maior, um romance. Disse isso a Sônia e enviei-lhe os textos comentados. Também informei que tentara contato, mas não estava obtendo qualquer resposta dela.

- É bem isso que você suspeita, eu acho - ela me diz. E continua:

- Ela sem dúvida tem muito medo de se expor. Deixe que eu tento o contato. Talvez num mulher com mulher - fora que eu sou um pouco conhecida - ela abaixe a guarda e sinta-se mais segura.

Uma semana depois meu telefone toca:

- Senhor LOBO, não nos conhecemos pessoalmente, mas acho que já leu alguma coisa minha.

Era Sheherazade... Falava com certa hesitação, suspiros às vezes interrompiam suas frases. Mas mesmo numa atitude defensiva, ela ia em frente:

- Há uma pergunta que queria fazer. Quero saber do senhor, com toda a sinceridade...

- Senhor, não...podemos dispensar esses formalismos...

- Ok!...Então me diga o seguinte: você acha realmente que há algo de bom no que escrevo, que pode prender a atenção? Por exemplo: quando falo de sexo, posso mexer com as pessoas que me lêem, até mesmo excitá-las?

- Seus textos me prenderam, do começo ao fim. E sua temática sexual - se me permite a franqueza - deixou-me excitadíssimo. Os demais aqui também ficaram...

Um longo suspiro dela. Conversamos mais. Quis marcar com ela uma reunião na editora, mas ela recusou. Insistiu em algo mais intimista. Marcamos um almoço, só ela e eu.

Sheherazade surgiu em minha mesa de almoço dois dias depois. Mais ou menos 1.65m, cabelos castanhos curtos, levemente encaracolados, olhos verdes, 41, 42 anos. Realmente uma mulher bonita. Chegou num vestido de verão, com um discreto decote que permitia ver a divisão de seus seios. Seu corpo parecia todo solto dentro daquele vestido.

Ela admitiu minhas suspeitas. Plantava aqueles erros no texto para se proteger. Ela é professora universitária catedrática. Tem teses, livros e vários trabalhos publicados, sendo conhecida no meio cultural.

Conta-me que, divorciada há uns 4 anos, está engatilhando um novo relacionamento - talvez até se case - com um jornalista americano que conheceu em um congresso em Paris.

- Comecei a escrever esses textos como uma forma de por para fora algumas coisas que se escondiam fundo dentro de mim - ela me explica

- É o que acontece com todos nós que assumimos essa ousadia - eu concordo.

Como eu pensava, Ana Sofia - este não é seu verdadeiro nome, mas vamos chamá-la assim - tinha bem mais que aqueles três textos. Insistindo que sua real identidade fosse preservada, acabou aceitando que negociássemos uma proposta para editá-la.

Isto feito, o papo deixou de ser profissional, e tomou o rumo de uma conversa franca, cheia de revelações. No final, sabendo que escrevo também, me pergunta:

- Você fica excitado quando escreve um texto bem erótico?

- Fico! Se não ficar, é por que o texto não está bom...- eu respondo...

- Eu também! Fico toda molhada...

Sua face corou, baixou os olhos, como se intimidada por deixar escapar essa revelação. Nos despedimos. Na hora do cumprimento, em vez do recatado beijo na face, ela beijou meus lábios.

Em seguida, ela passou a enviar todo seu material. A se reunir conosco na editora. Aos poucos, sentindo-se segura, foi se tornando bem mais solta.

Numa reunião ela propôs que discutíssemos toda uma sequência de um encontro erótico. Mais autoconfiante, ela nos pergunta, quando discutíamos uma cena particularmente excitante de seu texto:

- Eu escrevi isso aqui cheio de eufemismos, mas agora acho que não tem a força que deveria ter. Vocês não acham que ela - a personagem - em vez de dizer "...vem, eu quero você!...", deveria ousar, ser mesmo bem explicita, tipo um " Me fode! Enfia todo teu pau na minha buceta!..."?

Após um certo denso silêncio, Sílvia toma a palavra:

- É isso mesmo. Não tem que mascarar nada. Foda que é foda tem que ter pau - eu até prefiro caralho - e buceta, mesmo...

Novo silêncio enquanto Silvia se levanta.

- Hei! Está indo onde, mulher? - Ludo pergunta.

Silvia nos olha marota, não perde a chance de fazer uma provocação:

- Ah!... Estou indo no banheiro dar uma secadinha. Está muito molhada...

Ante nosso novo e estupefato silêncio, Ana Sofia às gargalhadas nos diz:

- Que é isso cavalheiros? Por acaso esta é uma reunião da TFP? Nosso tema é sexo, e se os senhores ainda não sabem, enquanto homem fica de pau duro, mulher excitada molha a buceta. Aliás, aposto que os três estão de pau duro agora...

Depois de mais um silêncio todos rimos. E Ana Sofia, ao contrário do que certamente seria no início, não ruborizou.

Esse foi o clima que se instalou entre nós. E Isabel, informada por Sílvia, nele se agregou. Mais tarde na chopperia nos diz:

- Que pena não poder participar. Garanto que poderia contribuir...

No início da semana seguinte, Ana Sofia nos liga propondo que fizéssemos a reunião em sua casa de campo.

- É bem tranquilo para trabalharmos. Além do que tem piscina, depois fazemos um bom almoço. A gente pode curtir um pouco...

Eu, Ludo e Rico, topamos. Silvia, não poderia ir. Tinha que fazer uns exames médicos bem naquele dia.

- Vejam lá! É para ir trabalhar só...- nos diz, olhando bem para Ludo.

Depois que Silvia sai da sala, Rico, pensativo, comenta:

- Essa frase da Ana: "... a gente pode curtir um pouco..." está dando voltas na minha cabeça...

Fomos para a casa de Ana na quinta-feira logo cedo. Perto de São Paulo, chegamos por lá umas oito e trinta da manhã. Café, e trabalho com os textos até uma e meia da tarde.

- Acho que o dia rendeu, cavalheiros. Agora vamos relaxar, podem se trocar nos quartos. Vamos dar uns mergulhos...

Colocamos nossos calções de banho. Ana Sofia ressurgiu num luminoso biquíni amarelo asa delta.

Estávamos todos em volta da piscina, tomando caipirinhas e cerveja, quando um carro chega. Duas mulheres aparecem - Rico nos cutuca...- e Ana as apresenta como sendo Rebeca e Rúbia.

Feitas as apresentações, Ana nos explica que as duas são amigas que conheceu pela net. Também leitoras e escritoras eventuais de textos. Rúbia reclama:

-Ah, Ana: você não avisou que tinha piscina. A gente não trouxe biquínis...

Ficamos ali socializando, entre aperitivos e salgadinhos, quando Rúbia interrompe:

- Ana, pelo menos toalhas pra todo mundo você tem, não é?

Rico me cutuca de novo...

- Claro, Ru, não vão faltar...

Rúbia olha para Rebeca:

- Re, então está feito...

E ato contínuo se despe. Rebeca em seguida faz o mesmo.

Nuas, avançam em minha direção e sem qualquer palavra, arrancam meu calção. Depois os de Rico e Ludo.

Pulam na piscina, seguidas obviamente por nós. Começaram a nadar, como se nada de mais inusitado estivesse ocorrendo. Já nós, estávamos em dúvida. Claro que nossas ereções boiavam na água, mas Ana Sofia havia sumido dentro da casa assim que elas começaram a despir-se. Antes de agir, precisávamos saber se nossa anfitriã aceitava aquele tipo de comportamento.

Mas logo ela volta. Trazia um pacote de toalhas sob o braço direito, e algo como fitas largas na mão direita.

- Vem pessoal! As toalhas estão aqui, vamos começar a festa...

- Festa? ...- Rico me cutuca mais uma vez...

Ana Sofia voltou de dentro da casa. Só ela, pois seu ensolarado biquíni amarelo ficou largado nalgum lugar lá dentro...

Saímos todos da água. Primeiro Rúbia e Rebeca, que a nosso ver aproveitavam - entre risinhos - para se exibir, parando nos degraus.

Depois nossa vez, seguindo a instrução de Ludo:

- Um por vez. Nada de trenzinho...

Elas todas entram na sala e vamos atrás. Excitados, curiosos, desconfiados...

As tais fitas largas que Ana trouxe eram vendas, que nos são colocadas, nos deixando sem visão. Uma música alta é posta a tocar.

Nos é dito que para participar da festa, devemos ficar com elas. Aceitamos, e a "festa" começa.

Com beijos.

Lambidas em nossos corpos.

Boquetes em nossos paus mais que duros.

Cada um de nós é levado a deitar-se em um dos sofás que haviam por lá.

Corpos de mulheres nuas se esfregam em nossos corpos.

Bucetas ardentes nos são servidas para que chupemos com toda nossa fome.

Nossos membros são conduzidos por elas para dentro de si, nos recebendo fundo. Sentadas sobre nós, nos cavalgam. Sem parar, até o pleno gozo.

Uma mescla de feromônios no ar, gemidos, gritos de tesão. Orgasmos em série.

Descansam, saem, voltam nos trazendo de beber, sem que pudéssemos tirar a venda - nos fizeram aceitar essa regra de jogo - e então nos beijam, nos chupam, nos cavalgam de novo. Para novos orgasmos coletivos.

Após o último gozo, faz-se silêncio. Elas se levantam. Aguardamos que retornem. Ficamos ali deitados tentando recuperar as forças, até que tiro a venda, que já me incomodava.

- Rico, Ludo, cadê elas?

Não as vemos. Está anoitecendo, começa a esfriar. Vestimos nossas roupas. Ludo acha um molho de chaves na mesa de jantar.

Meu celular soa, indicando mensagem de texto. Sucinta:

" Estarei modificando o texto, conforme combinamos hoje, a tempo de vocês lerem antes da nossa reunião da próxima quinta. Favor trancar tudo e deixar as chaves sob o vaso de gerânios na floreira ao lado da porta."

Nenhuma menção ao que acabara de acontecer.

Saímos de lá naquele típico estado de espírito que teria um grupo de adolescentes virgens que acabaram sem querer numa orgia...

Sem saber quem comeu quem...Elas têm alturas semelhantes, devem ter prendido os cabelos, não falavam uma palavra além dos gemidos e gritos guturais de tesão. Enfim: com nossos olhos vendados, não pudemos reconhece-las. Sobrou uma longa discussão sobre a quem pertenceria um seio maior, ou outro menor, que passaram por nossas bocas. Mas nada conclusivo. Believe me or not, ficamos sem saber com quem fizemos sexo. Sequer se foi com a mesma, ou, como desejadamente até hoje supomos, elas se revezavam.

O volume de trabalho aumentara, nosso desempenho era bem avaliado, assim, agora passávamos algumas horas na editora quase todos os dias. Felizmente somos os três profissionais liberais, conseguindo dessa forma adequar nossas agendas.

No dia seguinte ao "evento", na casa de campo de Ana, por acaso chegamos os três juntos. Silvia nos recebe na sala de recepção, onde dava instruções à secretária:

- Nooossa! Não é que vieram! Não estão muito cansadinhos?...- e olha para Ludo, descendo o olhar abaixo da sua cintura...

Pouco depois meu telefone toca. Sônia, ainda no interior, cuidando do pai que se restabelecia:

- Você realmente é muuuito dedicado ao trabalho. Que coisa, hein...?

Mais tarde, na fugida para o café do meio da tarde, Isabel saí de seu escritório no fundo e interrompe a atendente. Olha-nos com o mesmo olhar de Silvia:

- Só café, ou querem uma gemada, alguma vitamina para repor as energias perdidas?

Uma discussão inútil se seguiu no resto da tarde. Como elas souberam? Será que Ana Sofia contou? Nunca soubemos ao certo...

Na reunião seguinte, Ana nos apresentou uma revisão, tal como havia sido combinado, além de uma nova seqüência, que escreveu depois da reunião na casa de campo. Essa parte do texto novo estava particularmente excitante. Devia estar muito inspirada quando escreveu...

Mas nenhuma menção à "festa" que tivemos. Quando Rico tentou fazer algum comentário, ela o cortou:

- Não entendi o que você está dizendo. O que sei é da nossa última reunião. De trabalho...- frisou...

Já que ela parecia querer tratar aquilo como uma extravagância a jamais ser citada, respeitamos.

Seu romance, que não era meramente erótico, estava bem escrito, tinha corpo e - modéstia à parte - com nossa lapidação estava se tornando muito bom. Embora sempre me ficasse a sensação de que ela podia ir ainda mais longe.

De qualquer forma, o material que nos trouxe naquela tarde estava particularmente excitante. Uma hora Silvia levanta-se e começa a sair da sala.

- Uma secadinha? - Ludo provoca...

- Assuntos pessoais a resolver.

E encarando Ludo completa:

- Aliás, nem sei por que dou papo com quem não me convida para festa nenhuma...

Um "hmmm!" tomou o ar da sala. Mas no resto da tarde só se trabalhou. A sério...

No final daquela semana o livro de Ana Sofia ficou com texto final pronto e aprovado. Tivemos um encontro para celebrar, regado a champagne que o pai de Luís Demétrio pagou.

Acho uma hora nesse evento para uma conversa a sós com Ana Sofia.

Digo-lhe que é um bom trabalho o que fez, mas um feeling meu diz que ela pode ser melhor ainda.

- Já que você acha, eu confesso. Tenho um outro texto. Estava parado há tempos. Mas aprendi muito com vocês e está quase pronto. Mas ainda hesito. Há horas que me parece bom, outras que me parece uma bobagem de professora universitária metida a romancista de temas profundos.

- Vindo de você, duvido que seja uma bobagem. Termine e mande para nós.

- Ok! Está combinado!

Era Dezembro, a editora fechava até meados de Janeiro. Estava acertada a continuação de nosso trabalho. Aquele nosso clima com Sílvia, Sônia e Isabel, não.

No final, nos ficou claro que Ana Sofia lhes contara da "festa". De nenhuma outra forma poderiam ter sabido. Com que intuito, não sabemos. Não nos parecia que Ana quisesse se gabar de suas aventuras. Muito menos nos denunciar, algo como conquistadores baratos. O que buscava? Provocar algo nelas?

O fato é que as três oscilavam entre uma atitude de reprovação, noutras algo sugerindo um certo ciúme, e até - por incrível que pareça - uma ponta de admiração. Talvez desejo...

Bem: esse era assunto a ser resolvido em Janeiro. Férias, crianças tomando todo o tempo, maridos querendo viajar. Elas partiram. Tínhamos que esperar.

Na semana seguinte, Ana nos avisa que em Janeiro se mudava para San Francisco. Ia se casar com o jornalista americano. Nos convida para um cocktail em seu apartamento nos Jardins. Silvia, Sonia e Isabel haviam viajado. Fomos lá os três mosqueteiros.

Muita gente da Universidade, pessoas do seu círculo. Mas todos logo foram indo embora. Ana insistia em que permanecêssemos. Logo ficamos só nós quatro.

- Esse ano foi muito bom para mim. Vocês são pessoas muito especiais, quero comemorar com vocês!

Mas saiu da sala, dizendo que o vestido longo de festa que estava usando a incomodava.

Voltou logo depois. Tinha dispensado os saltos altos, descalça, estava com um vestido mais curto de uma seda esvoaçante. Nos trouxe uma champagne que nos pediu para abrir.

Procuramos pelas taças e não achamos.

- A taça está aqui, tolinhos...- e fez cair por terra o vestido. Nada mais vestia...

Deitou-se sobre o tampo da mesa de jantar e nos convidou:

- Sua taça de cristal está aqui. Venham beber!...

Fomos até ela. Ana tremia. Tremeu mais quando espalhamos a champagne gelada sobre sua pele nua.

Debateu-se toda enquanto a beijávamos, sugávamos seios, lambíamos seu corpo, batizado de champagne, chupávamos vorazmente sua buceta. Ela gemia e gritava:

- Meus queridos, que delícia! Que prazer vocês me dão...Não parem, não parem!

Seguiu assim até gritar:

- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh!...ESTOU GOZANDO!!!!!

Aparentemente foi um orgasmo muito especial que teve. Ana Sofia então levantou-se, nos abraçou e beijou, um a um.

Enquanto nos beijava, nos ia despindo. Após nos deixar todos nus, nos colocou em volta dela e ajoelhou-se. Apanhou com as mãos os paus de Ludo e Rico, enquanto começou a chupar o meu. Seguiu assim, revezando-nos num boquete feito apaixonadamente.

Então parou. Nos juntou mais em volta dela, suas mãos tomando os três paus contra sua face.

- Meus queridos: vocês já me beberam. Agora venham comer...

Fez com que Ludo se deitasse no carpete de barriga para cima. Sentou-se sobre ele, entregou-se à sua plena penetração.

Rico estava bem à sua frente. Ela o chamou, tomou com as mãos - enquanto rebolava antes as estocadas que Ludo lhe dava - e apanhou seu pau. Antes de voltar a chupá-lo, virou-se para mim:

- Vem! Me sodomiza!...

Assim foi. Em geral, aquele de nós que recebia o boquete - e Ana o faz vorazmente...- era o primeiro a gozar. Saia, descansava tomando um gole de champagne. Ante a cena absolutamente tórrida que presenciava, logo estava pronto de novo. Então retornava e substituía aquele que havia gozado numa das entradas de Ana, dando seqüência à dupla penetração.

Todos alimentamos a sede de Ana Sofia, entregando-lhe em sua boca ávida nossa essência masculina.

Todos gozamos na fornalha de sua buceta.

Todos nos exaurimos na forma mais ousada de tê-la, sodomizando-a.

Horas...

Cansados, ficamos alguns momentos deitados com ela, revezando-nos em carinhos e beijos.

Ela então nos indica que há toalhas e sabonetes para um bom banho. Apartamento de 3 suítes, cada um tomou seu banho num banheiro diferente. Em todos havia o toque de Ana, com incensos e velas aromáticas acesas.

Quando retornamos, já vestidos, encontramos Ana dormindo nua no sofá. Na postura de uma criança cansada, que brincou o dia todo.

Nos extasiamos por alguns minutos com essa imagem. Então resolvemos levá-la para a cama.

Delicada e carinhosamente a carregamos. Tão fatigada ela estava que não despertou.

Depositamos nossa menina cansada no leito e a cobrimos.

A beijamos, sutilmente para que não acordasse, e saímos.

Pensamos em deixar um recado sobre a mesa, falando de toda a sensação que nos tomava, mas prudência contra-indicou isso, já que poderia ser lido por uma empregada bisbilhoteira na manhã seguinte.

Fechamos a porta e passamos a chave para dentro, para que a encontrasse. Saímos em silêncio.

Silêncio que se manteve ainda uns dez minutos, quando retornávamos no carro de Ludo, até que Rico tomou a palavra:

- Sabem o que me incomoda, amigos? A gente praticamente não pode comentar com ninguém o que houve hoje...

- Ninguém quase ia entender. Iriam falar dela como a mais totalmente desclassificada das mulheres...- continua Ludo.

- E no entanto, não é nada disso. Ela é uma musa!...- eu concluo

Todos concordaram.

Tudo acontecera numa sexta-feira. Só retornamos na editora na outra quarta, quando esta reabriu das férias coletivas. Chegamos pela manhã, Silvia e Sônia só viriam depois do almoço.

Abrindo nossos computadores, encontramos um e-mail de Ana Sofia, aberto a nós três:

" Meus queridos,

Obrigada!

Tive com vocês um sonho de prazer, ousadia e cumplicidade que a maioria absoluta das mulheres sonha secretamente, mas passa a vida toda sem realizá-lo.

Sinto-me totalmente afortunada de tê-los conhecido, poder ter me entregado a vocês, e ter de vocês essa resposta tão devotada, com tanto desejo e carinho.

Jamais esquecerei!

Agora sigo numa nova fase na minha vida. Estou indo para San Franscisco, onde me unirei a um homem que amo muito.

Sei que 99,99% das pessoas não compreenderá o que digo agora, mas sei que entenderão: vocês me prepararam para ser uma nova mulher, que conhece seu corpo, os desejos que nele se escondem, e está pronta para se entregar sem limites ao homem que ama.

O que tivemos nesta última sexta, não se repetirá, vocês sabem.

Mas viverá para sempre...

Meus mais apaixonados beijos,

Ana Sofia

PS. Tinha dito que tinha um outro trabalho. É uma proposta mais densa, acho, que o romance que estamos lançando agora. Um texto bem mais longo inclusive. Para iniciar sua apreciação, estou mandando no anexo uma sinopse. Se acharem que vale a pena, em Fevereiro, a gente pode retomar e trabalhá-lo, como neste que está saindo. Vou morrer de saudades de não poder estar aí nas nossas saborosas reuniões. Mas ao menos podemos fazê-las em videoconferência.

Ficamos em silêncio, cada um sua mesa, fruindo as lembranças de nossa musa. Após alguns minutos assim, iniciamos a leitura da sinopse que Ana enviou. Realmente um trabalho de mais fôlego que o que estava saindo agora. Mesmo sendo apenas um resumo, tinha quase cem páginas em corpo 8.

Ficamos a manhã toda, até quase uma da tarde, nos concentrando em sua leitura.

Um trabalho muito denso, diverso do primeiro romance. Menos personagens, que no entanto parecem se multiplicar, tamanha a quantidade de facetas com que ela os esculpe. A personagem principal é uma mulher, que em certa parte nos pareceu ser um alter-ego de Ana. Ao longo da trama que propõe, ela vai se transformando, se descobrindo, se reconstruindo. Não é um texto sobre erotismo, especificamente. Mas este subjaz em todo seu desenvolvimento. E praticamente explode na seqüência final, quando a personagem, tal como a borboleta que se liberta da crisálida e exibe todas as suas cores, encontra sua alma gêmea, e leva sua paixão a um total paroxismo carnal.

A leitura desse texto, principalmente a parte final, se somou a lembranças recentes. Mexeu, e muito, com os três cavalheiros que o leram.

Rico levantou e foi até a janela. De lá viu que Isabel havia retornado e estava abrindo a cafeteria. Corre ao telefone e liga para ela.

- Oi! Foi bem de férias? Escute aqui: vai abrir por que, num dia em que não há ninguém por vir?

Isabel responde qualquer coisa, tipo ter que conferir contas...

- Contas você vê outra hora. Nós temos algo a resolver e vai ser agora!

Isabel deve ter falado mais algo, que Rico ouve com um sorriso. Fecha o computador e sai.

- Amanhã a gente se vê, turma...- e pisca o olho.

Pela janela o vemos atravessar a rua, entrar na cafeteria de Isabel. As portas são fechadas...

Pouco depois, passos de saltos altos no corredor. Barulho da porta de Silvia se abrindo. Vez de Ludo sair correndo.

Ouço os dois conversando. Apuro mais os ouvidos e entendo coisas como:

- Mas eu acabei de chegar...- era Silvia...

- E está na hora, chega de protelar...

Mais diálogos que não entendo, até que os ouço já na sala de recepção:

- No seu carro ou no meu? - Silvia pergunta, já com um tom arfante na voz...

- Tanto faz, vamos no que estiver mais fácil de sair...- responde Ludo, sem querer perder nenhum minuto mais...

Fiquei eu lá, só. Sônia havia deixado recado dizendo que chegaria mais tarde. Seu pai havia se recuperado, ela até pode ainda aproveitar suas férias e viajar com a família. Duas da tarde, noto que chegou. Vou até seu escritório, onde a encontro mexendo no computador e num monte de papéis, agenda de telefones, etc...

Sem muitas palavras. Um breve beijo e a pego pelo pulso, dominando-a:

- Vamos, a gente tem algo inacabado a completar...

Ela me olha, olhos arregalados...

- Agora?...

- Agora não. Já!...

- Espere um pouco, eu tenho que dar dois telefonemas...

Atrapalha-se, deixa a agenda cair no chão.

- Ah! Quer saber: ligo amanhã...

Tenta desligar o computador:

- Não é possível que essa droga tinha que travar justo agora!...

Não mexe mais no teclado. Simplesmente puxa o fio da tomada, apanha a bolsa e toma minha mão.

- Vamos!...

A editora fica num sobrado na Vila Mariana. Assim, as camas mais próximas de nós estavam na Avenida Ricardo Jafet. Um percurso que naquela hora levaria uns vinte, vinte e cinco minutos.

Não me perguntem como foi. Se dissessem que fomos abduzidos por alguma nave alienígena e devolvidos dentro do motel, não tenho argumentos para negar. Afora mãos apalpando seios, mãozinhas abrindo zíperes, não sei como chegamos lá. Algum anjo da guarda dirigiu o carro...

Chegando na suíte, estacionei e fui fechar a entrada. Era uma porta de lona que desenrolava e descia fechando. Mas descia um pouco e travava. Eu voltava, descia um pouco mais e travava de novo. Levei uns dois ou três minutos até conseguir.

Quando me volto, Sônia ainda estava dentro do carro. Começa a sair pela porta do motorista. Estranho, pois não estacionei tão próximo da parede, do seu lado.

Ela faz toda aquela ginástica de passar de um banco ao outro, driblando câmbio e direção. Primeiro saem as sandálias de saltos altos, que envolvem seus pés, surgem as canelas, os joelhos...

Mas espere aí! Que me lembre, ela hoje veio de calça comprida...

Os pés se apóiam no chão. Suas coxas vão aparecendo. Até que ela finalmente sai do carro.

Nua...

Caminha até a escada que leva ao quarto e me olha:

- Me olhando com essa cara de surpresa por quê? Não é assim que elas te fazem? - e continua:

- Sabe, querido, se a Ana, tua Sheherazade Nua, tinha segredos a revelar, eu também tenho. E são muitos...

Subiu quatro degraus, enfatizando o movimento de seus quadris. Corpo bronzeado nas férias, aquela deliciosa marca de biquíni na bunda...

Me encara de novo e diz:

- Li todos os teus contos. Me inspiraram muita coisa. Se você quer agora uma escrava toda sua, suba esta escada...

Seguiu subindo. Disse então num tom quase de súplica:

- VEM!...

Bem, meus caros: não se nega pedidos que uma dama faz assim, nessa vestimenta e tom de voz.

Com licença...

LOBO

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Você tem razão: a qualidade dos textos que se veem na internet é baixíssima. As pessoas não sabem nem utilizar o Word, que assinala a maior parte dos erros. Mas nem tudo está perdido. Dê uma olhada nos meus relatos. Nota dez pelas críticas.

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