Naquela noite fria de Outono, o “Bar – A Toca do Urso” estava à pinha! Este era um bar sem “rótulos”, onde não existiam qualquer tipo de preconceitos. Era frequentado por todos os géneros sexuais, não tinha importância se as pessoas eram: homossexuais, bissexuais e nem heterossexuais. Também não havia preconceitos com raças, xenófobia. Parecia uma pequena comunidade numa sociedade secreta, mas no bom sentido. Ali todos se entreajudavam. Ali todos eram bem-vindos e todos se sentiam bem.
A música ambiente era “lounge”, a decoração tinha requinte, elegância e muita sensualidade. O vermelho e o negro do local, encorajavam qualquer um dos clientes a relacionarem-se de alguma forma, nem que fosse apenas por uma noite… Porém, o “Bar – A Toca do Urso” não era de modo algum uma casa de alterne. Era um bar para as pessoas sociabilizarem umas com as outras. A única divisão de alas que tinha eram as salas para Fumadores/Não Fumadores. Neste bar serviam-se pequenos-almoços das 4h30 às 8h30 da manhã e almoços do meio-dia às 14h30 também. Durante a noite a entrada era restrita a menores de 18 anos, que eram confirmados por via do Cartão do Cidadão. Este era o primeiro bar do género em Portugal, inclusive, já tinha ganho prémios importantes, porque incentivava e ensinava as pessoas a serem mais solidárias umas com as outras. Adorava frequentar este bar, algures na zona do Barreiro, na avenida da praia.
Dirigi-me ao balcão e pedi um gin tónico, estava muito bem-humorada. O meu amigo Urso, gerente e dono do bar, veio ter comigo com a bebida que havia pedido.
─ Oi! Que se passa, moça? Como estás hoje? ─ Perguntou-me curioso. Ele conhecia-me bem e era o meu melhor amigo, embora tivesse idade para ser meu pai.
─ Estou óptima, a vida corre-me bem! He, he… ─ Respondi, alegre.
─ Entendo, hoje vai ser a tua noite.
─ A minha noite?! Então? Não estou a perceber. Porque estás a dizer isso?
─ É que desde que chegaste, alguém ali ao fundo ainda não tirou os olhos de cima de ti.
Sorrio e olho para ver de quem está ele falar: Reconheci-a, era a Aline. Ela sorriu--me e eu mantive-me séria. Ver Aline naquele momento, foi como ser atingida com um soco no estômago… Não contava com isto!
─ Não estou interessada naquela ali, a sério.
─ Mentirosa! Olha que quem desdenha, quer comprar. ─ Disse o Urso a sorrir.
─ Não estou a desdenhar, só que não a quero. Ponto final.
─ Mas ela está toda interessada em ti. Está toda boa, toda jeitosa... Uma verdadeira femme fatale !
E era verdade, Aline era mesmo uma femme fatale e estava vestida a rigor, com uma blusa de seda preta, echarpe de tigresa, minissaia preta, meias de renda e botas altas de tigresa. Ela atraía-me muito e isso era um facto.
─ Precisamente por isso é que não quero. Já tive a minha conta e foi o suficiente. ─ E com estas palavras, bebi a restante vodka de um trago só.
─ Tu não eras rancorosa! Estou admirado com a tua reacção! Nota-se que te quer de volta… Ou melhor, nota-se que está com muita fominha, he, he ─ gracejou ele.
Não respondi, mas dei um ar de riso.
─ Pelo teu silêncio, ‘tou a ver que ainda não esqueceste como é bom alimentá-la! Ah, grande Cris, por isso ela não para de te “mirar”. ─ Exclamou o Urso dando-me uma palmadinha nas costas. ─ Esta é por minha conta, ─ disse ele servindo-me outra vodka bem aviada.
Em seguida ele afastou-se e foi atender um casal numa mesa que havia chegado há poucos minutos. Logo depois dirigiu-se até à mesa de Aline, pois ela fez-lhe sinal. Eu observei de longe toda a cena.
─ Tenho pena que ela não seja hétero, porque senão tentava a minha sorte! ─ Disse-me ele ao balcão e preparou as bebidas para ir entregar aos clientes nas mesas.
─ Como é que sabes que ela não é hétero? Eu não sei e ela também não sabe.
─ Como?! Não estou a perceber. Vou levar isto e já volto.
─ Está bem. Eu vou ali fora um bocadinho respirar um pouco de ar.
Dirigi-me até à porta da rua para respirar um pouco de ar, porém, estava um gelo lá fora e resolvi então, voltar para dentro e encontrar uma mesa onde me pudesse sentar, uma vez lá dentro o ambiente estava melhor. Escolhi um lugar num canto meio encoberto, perto da banda que estava a actuar naquele momento. Queria estar sozinha mas não queria pensar em nada. Precisava de barulho.
─ O que foi? ─ Perguntou o Urso, surpreso.
─ Não posso deixar-me levar por ela, novamente… Não posso mesmo.
─ Então porquê? Não tens ninguém, qual é o drama de lhe dares umas valentes “trancadas”? Não percebo, pá!
─ Preciso pensar… ─ Respondi bebendo novamente de um trago só, o conteúdo do copo.
─ Hey, amiga, tem calma…
─ Eu estou calma. Vai buscar-me outra vodka, por favor e desta vez, traz-me uma dupla. Preciso pensar mesmo.
─ Não é bebendo dessa maneira que vais conseguir… Relaxa.
─ Fogo… ─ Respondi.
─ Tem calma, Cris. Vou buscar.
De facto, eu não queria mesmo e sentia-me incomodada com a sua presença. Com ela ali, vinha tudo à memória, especialmente quando fazíamos amor. Era uma coisa espectacular, de loucos! Ela ainda mexia comigo e muito…
Subitamente uma mão com um cigarro por acender, surge do meu lado direito e uma voz feminina que me era familiar, pergunta-me:
─ Tens lume?
Era Aline. Meti a mão no bolso das calças e retirei um bonito isqueiro prateado da Zippo. Não fumava regularmente, era raro, mas gostava de isqueiros e tinha a convicção de que ter um isqueiro no bolço tinha sempre utilidade. Acendi-lhe o cigarro em silêncio.
─ Eu sabia que não me ias desiludir agora, ─ disse Aline.
Eu olhei-a e fiquei calada, fingindo estar mais interessada na banda. Ela foi-se embora e eu respirei fundo, finalmente podia relaxar e apreciar o show. Recostei-me no sofá e fechei os olhos para sentir a música. Estava sozinha mas pensava em Aline. Ainda a desejava e muito, só que não queria quebrar. Ela tinha-me magoado deveras por me ter trocado por outra pessoa. Porém, o silêncio durou pouco tempo. Ela voltou…
─ Notei que estavas com o copo vazio e fui buscar uma bebida para nós.
─ Obrigada. ─ Respondi secamente.
─ Ficas tão sexy com esse teu jeito de durona. Excitas-me, sabias?
Novamente fiquei em silêncio e não olhei para ela.
─ Não me convidas para sentar…?
─ Que aconteceu com a tua mesa? ─ Repliquei.
─ Perdia… e gostava de ver o show, mas já está tudo ocupado…
Olhei em volta e realmente o bar estava cheio, já não haviam mais lugares disponíveis. Então, fiz o gesto para que ela se sentasse em qualquer sofá onde me encontrava, mas sem abrir a boca.
─ Obrigada, ─ disse ela pousando a mala na mesa ao lado da bandeja com as bebidas que tinha trazido e sentou-se no meu colo prepositadamente. Não me mexi, mas a vontade de a agarrar e de a beijar intensamente era cada vez mais forte. Um calor imenso aumentava nas minhas virilhas.
─ Estás cada vez mais linda, sensual…
─ Que estás a fazer, Aline…? ─ Perguntei-lhe quando ela afrouxou o nó da minha gravata.
Ela não me respondeu e começou com as carícias. Beijou-me o pescoço, a orelha e eu não consegui resistir. Abracei-a e beijei-a na boca apaixonadamente, as mãos dela tactearam os meus seios por cima da roupa que imediatamente me tornou os mamilos duros.
─ Que estamos a fazer, Aline? ─ Perguntei-lhe por entre beijos, quase sem controlo.
─ Estamos a matar saudades, Cris… ─ respondeu mordendo meu beijo. ─ Era tão bom quando fazíamos as pazes… Lembras-te?
─ Não podemos fazer isto, ─ respondo.
─ Podemos, Cris. Tenho tido tantas saudades dos teus beijos, da tua boca, das tuas mãos… ─ Diz sentindo a minha mão a subir na sua perna. ─ Ahh… ─ Ela geme no meu ouvido baixinho, a minha mão continua o seu caminho e apalpa-lhe o sexo dentro da calcinha. ─ Ahhhh…, estás a deixar-me louca… ─ murmura, abrindo as pernas um pouco mais.
─ Estás molhada, ─ digo, sentindo a sua vagina húmida e quente.
─ Só tu me deixas assim… Desde que te vi entrar no bar que fiquei com vontade de ti.
─ Ah, sim? ─ Pergunto começando a masturbá-la esfregando-lhe o clítoris que se torna duro de tanto desejo que ela sente.
─ Ahhh…, aqui não, Amor… ─ geme, afastando a minha mão e levando-a à sua boca. Chupa e lambe meus dedos, molhados do seu sexo. Fico molhada também.
─ Aline, não faças isso aqui. Hummm… Sabes que me excitas demais, assim ─ e nisto, deito-a no sofá beijando-a loucamente.
─ Amor, está aqui muita gente. Vamos para um lugar onde possamos estar mais à vontade, quero tanto que me possuas ─ e beija-me louca de desejo, lambendo meus lábios.
Levanto-me, arranjo a roupa melhor e ajeito o chapéu. Pego-lhe na mão e vamos até ao bar para pagar a conta.
─ Quanto é? ─ Pergunto ao Urso, com a Aline beijando a minha orelha.
─ Amanhã falamos, ─ diz ele e estende-me umas chaves de onde eu já conhecia o lugar.
─ Obrigada, amigo ─ respondi agradecida.
─ Boa noite, Cris e até amanhã ─ disse ele todo sorridente.
Fomos a andar até a umas escadas que ficavam do lado de fora do bar e que iam dar até ao sótão do “Bar – A Toca do Urso”, onde havia um quarto com casa de banho privada. Era um quarto que o Urso usava para si próprio para dormir de vez em quando, ou para emprestar a alguns amigos especiais quando os momentos eram especiais, tal como o desta noite. Porém, pelo caminho, os beijos que trocávamos intensificavam o nosso desejo e nós acabámos por rendermo-nos nos braços uma da outra.
─ Não aguento mais, come-me aqui mesmo, Amor na rua ─ ordena-me Aline.
Encostei-a contra uma parede e a minha mão rebentou-lhe os botões da blusa de seda, que desnudaram uns belos seios brancos em forma de pera e mamilos erectos, não de frio mas de enorme excitação. Abocanhei aqueles bicos tesos e chupei-os intensamente, mamei, lambi e mordi-os fazendo-a soltar um grito mudo de prazer.
─ Estou quase, Amor, AHHHH… ─ exclamou Aline.
Puxei-lhe a saia para cima com as mãos, rasguei-lhe as meias e arranquei-lhe as calcinhas encharcadas com os dentes. Passei com a ponta da língua naquela vagina escaldante e Aline abriu-se para mim, gemendo e contorcendo-se de prazer completamente rendida às minhas carícias. Lambi-lhe o clítoris inchado, rosadinho que como um botão de rosa se abria para mim. Então, comecei a desfolhar com a minha boca aquela flor exótica que ela tinha entre as coxas. Chupei-a apaixonadamente, alternando com suaves mordidelas, ao mesmo tempo que lhe massageava os seios e apertava os seus bicos. Rapidamente, Aline, teve um orgasmo que foi precedido por múltiplos orgasmos, inundando assim, a minha boca com o seu mel delicioso com um gemido tão profundo que se assemelhava a um uivo de uma loba. Ela estremecia na minha boca.
Após “limpar” tudo levantei-me e beijei-a na boca para que ela provasse o seu mel no meu beijo. A lua-cheia brilhava no céu, abençoando a nossa tórrida paixão naquela gelada noite de Outono que não apagava o nosso fogo, mas que ao contrário ainda nos mantinha mais acesas.
─ Minha loba, que saudades ─ disse beijando-a novamente com ardor, segurando o seu rosto.
─ Só tu me fazes ter tanto prazer. Só tu me deixas rendida, Amor, quero-te mais e mais, toda a noite… ─ Disse Aline, com os olhos brilhando de satisfação, mas ainda com muito desejo.
─ Não estás saciada ─ sorri.
─ Ainda não, passou muito tempo sem te ter. Sou viciada em ti, nos teus carinhos.
─ Então é melhor irmos para dentro. Está frio. Ainda apanhamos uma pneumonia aqui fora.
Ela cedeu e beijou-me mais uma vez. Carregando-a no colo, entramos na casa e levei-a para o quarto onde iniciámos uma louca sessão de sexo que durou quase a noite toda, cheia de prazer e êxtase profundo, agraciada de orgasmos multiplicados entre as duas. Seguidamente, adormecemos enroscadas e abraçadas, exaustas de tanta actividade prazerosa.
Por volta das 7h30 da manhã, o sol acorda-me com seus ainda ténues raios e com a sua luz anunciando um novo dia. Volto-me para o outro lado da cama e Aline continua a dormir, nua ao meu lado.
Observando os seus cabelos negros e longos, sobre os seus seios acendeu o meu desejo mais uma vez. Céus, que fogo sentia eu dentro de mim e muito mais intenso agora do que 2h00 antes.
Aproximei-me cuidadosamente e rocei suavemente minha penugem púbica na sua coxa, queria ver com ela reagia e saber se hoje ela ainda me queria, ou se esta madrugada tinha sido apenas um devaneio seu, como uma mera euforia resultante de um desejo e paixão ilusórias.
A minha segurança foi readquirida pelo gemido de prazer que ela soltou quando me sentiu a roçar levemente. Beijo-a com intensidade e ela corresponde. As nossas línguas enroscam-se dançando juntas. Os nossos corpos enroscam-se seguindo o exemplo das nossas línguas, as minhas mãos tacteam o corpo dela explorando-o com mestria e ela murmura de desejo:
─ Faz amor comigo, Cris. Estou tão quente, tão louca… Hmm… Adoro quando me acordas com tanto fogo.
Aline, roça seu sexo no meu com movimentos alternados aos meus. A cama estremecia freneticamente, fazendo um ruído que nos excitava bastante. A nossa respiração era entrecortada e o ritmo cardíaco, aumentava consideravelmente, anunciando um orgasmo extremamente louco, ela arranhou-me as costas e o clímax foi dos mais intensos que experimentamos uma com a outra.
─ Amo-te tando, Amor, minha Cris ─ disse-me abraçando-me e beijando-me com ternura.
Após estes momentos, levei-a ao carro e cada uma de nós seguiu para as suas casas. Na despedida, Aline convidou-me para jantar nessa noite num restaurante que ela gostava muito e que eu não conhecia. Eu não aceitei imediatamente, disse-lhe que ia ter um dia agitado de trabalho, stress e que mais tarde falávamos pelo telefone.
Mas se fui ou não jantar com Aline conto no próximo conto. Na verdade, estava confusa e precisava de colocar as ideias em ordem. As coisas estavam a ir depressa demais… Não queria iludir-me novamente com ela.
FIM
(Continuação no próximo conto ainda a ser escrito...)
Cris Henriques
*Nota: Este texto está publicado no site World Art Friends, sob meus direitos autoriais. É proíbida a alteração do texto e de cópia, mas podem partilhar com amig@s.
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