Se passou 1 semana, eu sempre que podia estava junto á Gabriel, mesmo sabendo que o que eu estava começando a sentir por ele poderia acabar com a nossa amizade, pois considerava o fato dele não sentir o mesmo por mim e levar tudo aquilo como somente uma amizade a mais, pois garotas afim dele era o que não faltava. Eu tinha meus receios quanto a ele sim, mas logo então me perdia em pensamentos do quanto me fazia bem estar com ele.
Era sábado, mais tarde iria ter a festa de volta às aulas preparada por alguns alunos do 2º ano, muitos do 1º foram convidados, Caio conseguiu algumas senhas e me ofereceu uma, eu aceitei porém não tinha certeza se deveria ir ou ficar em casa e evitar futuras confusões que comprometessem meu ano.
Droga! Eu havia esquecido meu caderno nas escola, e não tinha como pegar a não ser eu esperar até segunda, mas o fichamento que eu anotei valia metade da nota inicial, e por sorte eu peguei alguns números de amigos, e o primeiro que veio na minha cabeça foi o de Jéssica, ela era minha amiga há um bom tempo e não iria me negar um simples favor.
- Alô, Jéssica? É o Thales...
- Oi Thales! Tudo bem contigo? - A voz dela estava em um tom animada.
- Tudo sim "Jess", mas na verdade ficaria melhor se você me fizesse um favor... Teria como você me passar o seu fichamento de biologia? Eu deixei meu caderno na escola e agora não tem como pegar.
Eu sabia que era injustiça pedir isso dela pois não fiz nada para merecer, porém mais tarde eu sabia que teria que dar algo em troca.
- Ok, tem como passar aqui agora? Daqui 1:30 vou pra festa. Você vai? - Do jeito que eu a conheço provavelmente ja estava arrumada e essa "1:30" só seria para escolher o par de brincos.
- Já estou indo aí. Você ainda mora no mesmo apartamento não é? E não, não sei se vou... - Menti, eu sabia que não iria, provavelmente uma desculpa não magoaria ninguém.
- Ah tudo bem, quando você chegar nós conversamos. Beijo, tchau. - Quando ela desligou eu já estava 1 quarteirão de distância, o apartamento dela não era distante dos meus tios.
Cheguei ao apartamento, eram 6:35, toquei a campainha e quem abriu a porta foi sua irmã casula, Lídia, a qual me deixou entrar e me levou direto para o quarto da Jéssica.
- Que bom que você chegou! Me ajuda a escolher os brincos? - Ela estava cheio de brincos nas mãos e mais uma pilha de roupas jogadas na cama.
- Ok, mas antes eu preciso do fichamento. - Estendi minha mão - E acho que o azul fica melhor em você rsrs.
- Obrigada, já vou te passar o fichamento... Se você for para a festa comigo. - O que? Era uma chantagem? Eu sabia que ela pediria um favor em troca mas não sabia que seria um do qual eu não precisa-se.
- Tudo bem eu vou... Mas por favor, primeiro o fichamento.
- Aqui tome, mas vamos mesmo, ainda mais que seu novo amigo vai estar lá, o Gabriel - Exitei quando ela tocou no nome dele, desviei o olhar, fingi não me interessar no assunto - Ele é um gato! Acha que ficaria comigo? Você bem que poderia dar um toque nele por mim não é mesmo?
- Não! - O pensamento foi tão grande que algo fez com que eu dissesse em voz alta, fiquei sem jeito por ter gritado com ela, mas o fato dela estar gostando de Gabriel não era nada confortável. - Quero dizer... Não acho que você vai descobrir perguntando pra mim...
Espera, o que eu havia dito? Eu ajudei ela a dar mais um passo a frente em rumo ao Gabriel? Como eu disse, sou péssimo com palavras. Eu me lembrava da última quinta-feira em que foi anunciado a festa e que todos os alunos do 2º e alguns do 1º seriam convidados, claro os que fossem entregues as senhas, Gabriel estava comigo nessa hora, e ainda me lembro bem da expressão do seu rosto quando disse que não iria, era como se dissesse "Não seria o mesmo sem você", essa imagem permanecia em minha cabeça, e por mais que tentasse não ir, eu não queria deixar o Gabriel rodeado por outros se não eu.
Saí do apartamento da Jéssica sem saber se ela iria realmente seguir com meu conselho, mas se seguisse... Bom melhor nem pensar. Então meu telefone toca, era Gabriel.
- Alô? - A voz dele continuava a mesma voz alegre e graciosa de quando o conheci.
- Oi Gabriel, que surpresa você me ligando rsrs - Não era totalmente surpresa, eu sabia que ele iria me ligar, além do mais se ele não ligasse eu mesmo ligaria pra ele, nem que fosse somente para ouvir sua voz.
- Quando você diz "surpresa" você quer dizer surpresa boa ou ruim? - Ele tinha o dom de arrancar um sorriso, mesmo não estando ao meu lado, o seu jeito de moleque, fazendo as situações de sua vida um tanto prazerosas... Era algo que admirava nele.
- Surpresas assim são sempre boas! Ahaha.
Ele parou de falar, pude perceber que estava escondendo algo em pensamentos, pois só ouvia sua respiração, eu por minha vez decidi ficar calado e esperar ele me contar o que pretendia. Sem sucesso...
- Então Thales, você não vai mesmo pra festa?
- Agora que você me perguntou, sim eu revolvi ir, mas olha... - Percebi a felicidade dele do outro lado do telefone. - Eu não garanto que ficarei muito tempo.
Estava concordando em ir à festa, ainda mais depois de perceber que ficou feliz, eu iria vê-lo, não na escola, mas em um ambiente diferente, onde não precisaríamos de regras para conter as falas em devidos horários, e onde não precisávamos apreçar a conversa pelo tempo sobrando.
- Que ótimo! Eu ia sentir sua falta lá... Assim que chegar na frente você me liga ok?
- Ia é? - Isso sim me deixou surpreso. - Pode deixar, eu ligo.
- Então... É... Ótimo, nos vemos lá - Não sei se era minha impressão mais ele pareceu gaguejar, seria possível que ele estivesse nervoso por saber que eu iria?
Cheguei em casa, mas não havia ninguém, liguei para o celular dos meus tios mas não atendiam, como eu iria a uma festa sem ao menos avisá-los? E tudo em que pude pensar foi em deixar um bilhete explicando que voltaria tarde pois estaria na festa, e que qualquer coisa era só ligar que eu estaria com o celular por perto.
Peguei o primeiro táxi que consegui, estava a caminho da festa, e antes de chegar, fui repensando meus conceitos e sentimentos em relação ao Gabriel, queria que ele soubesse o que eu sinto, só precisava de alguma prova que ele sente o mesmo, do qual o motivo eu não durmo por estar pensando nele, e quando durmo, é só pra sonhar com ele...
Ao chegar na festa, como prometido teria de ligar para Jéssica, mas resolvi ligar pro Gabriel e avisar que havia chegado. Tentei 2 vezes mas o celular só dava em caixa-postal, então liguei para Jéssica que no primeiro toque atendeu.
- Jess? Tô aqui na frente, você já chegou? - Estava olhando a entrada procurando alguém para me acompanhar em alguma mesa, não queria ficar perdido lá dentro.
- Já estou te vendo, acabei de chegar! Me aguarda aí na frente. - Nesse momento avistei Jéssica, vindo correndo em minha direção
- Oi rsrs. Vamos entrar?
- Trouxe sua senha? - Fiz movimento de sim. - Então vamos!
Ao entrar na festa, que por sinal estava lotada, tentei procurar Gabriel ou a mesa em que Caio estava, mas Jéssica foi mais rápida e me levou com ela até a mesa onde estavam alguns colegas das salas, eu falei 'Oi' pra todos e fui me sentar já que não consegui achar Gabriel...
No entanto alguém vem e cobre meus olhos com as mãos.
- Adivinha quem é?! - Era uma voz de garota, não sabia realmente de quem era, a única voz que eu queria escutar não estava lá, chutei o nome de alguma menina da sala para acabar logo com a brincadeira.
- Ah... Não sei... Mariana? - Encostei as mãos nas mãos da garota.
- Errou ahaha seu bobo, sou eu a Nicolle! - E quase como imediato após se apresentar, me beijou.
Não podia ser ela! Nicolle era, na verdade foi, a namorada que eu tive antes de ir à Porto Alegre, nós terminamos em meio a minhas desculpas por ter que mudar, mas na verdade não tinha haver com isso. E sim sobre o fato de eu gostar de garotos, eu tinha 13 anos na época, não iria dizer o verdadeiro motivo, claro... Mas agora que eu voltei, o que eu posso dizer? Estava paralisado, não vinham palavras na minha boca, eu deveria arranjar uma desculpa para ela não ficar perto de mim na festa?
- Fala alguma coisa Thales! - Ela ficou chateada por eu não corresponder como ela queria, mas tudo o que pude fazer foi dizer "fez algo no cabelo?" ela ficou boquiaberta, foi aí que saí da mesa e perguntei de Mariana uma amiga da Jéssica, se ela tinha visto Gabriel por aí.
- Vi sim, ele estava nos fundos com um pessoal da outra sala, acho que ele ainda está lá - Ela estava estava tão vidrada em seu celular, que achei meio impossível ela ter o visto, mas fui procurar.
O que eu faria quando o visse? Essa pergunta estava na minha cabeça. Eu não saberia o que fazer, diria só um "oi"? Ou diria pra ele tudo o que eu sinto? Daria tudo certo?
Mas não era o que eu queria ter visto. Não era o que eu esperava ver... Lágrimas se formando em meus olhos, fui apedrejado pelo momento e enforcado por meus sentimentos.
- G... Gabriel? - Arranjei forças para falar com meus músculos paralisados.
Gabriel estava sim na festa, porém, estava beijando uma garota, Marise, e eu não precisava mais de provas para saber de seus sentimentos, eu havia me iludido ao acaso, queria estar em qualquer lugar menos alí...
- Thales, eu... - Ele me viu parado na frente dos dois, estava com um olhar confuso e querendo falar algo, porém não falou mais nada.
Saí da festa e Jéssica veio atrás de mim, eu dei uma desculpa de que precisava voltar pra casa pois não havia terminado o trabalho. Tenho certeza que ela não acreditou...
Meu telefone tocou várias vezes naquela noite, eu o desliguei, e não pretendia religá-lo tão cedo.
