Meus dias seguintes foram um tanto quietos, silenciosos, e solitários, momentos depois da festa lá estava eu, em minha cama, com o travesseiro no meu rosto, janelas e portas fechadas, não quis ver ninguém, disse aos meus tios que precisava de um tempo a sós, desliguei qualquer aparelho que pudesse ser usado para se comunicar comigo, o único que não pude desligar foi o telefone da casa de meus tios que na maioria das vezes que tocava era Jéssica, querendo falar comigo, disse a secretária de meus tios que a avisasse da minha ausência ou que não podia atender no momento.
Passei meu domingo pensando no que vi, e quanto mais eu queria chorar, mais eu sabia que o que eu sentia por ele não iria passar tão cedo, tinha certeza de que o amava, o que eu poderia fazer? Esquecer? Não, mas superar, por isso achei melhor voltar as aulas somente na terça, esperava já estar melhor até lá.
Após meu domingo entediante e cansativo, veio uma segunda-feira reflexiva, como havia planejado, não fui à escola, queria transparecer um pouco, dá um tempo pro meu coração se situar com o momento. Logo de manhã fui andar pela cidade, disse aos meus tios que iria ao colégio, sozinho e que não precisava de carona, menti. Peguei o metrô e fui parar do outro lado da cidade, andando e andando, reparando nos casais que ao meu redor circulavam, eles estavam provavelmente jogando na minha cara que eu estava desacompanhado e que não seguia a trajetória de muitos ali. Ri de minha conclusão.
Voltei pro apartamento dos meus tios no horário final de aula, como se tivesse ido à aula normal, mas nem tudo saiu exatamente como eu planejava.
Ao entrar, cumprimentei Carlota, a secretária de meus tios, que estava sentada no sofá vendo TV. Provavelmente como ela estava com os pés na mesa de centro, deduzi que meus tios não estavam.
- Não quer falar o motivo de não ter ido a escola hoje? Aquela sua amiga Jéssica ligou pra cá e e me perguntou o porque de sua falta - Disse Carlota desligando a TV.
Exitei, e vi que meu pequeno plano de tentar enganar uns e outros sobre minha falta tinha ido por água a baixo.
- Não, não acho uma boa ideia falarmos sobre isso... Mas se você não contar sobre eu ter matado aula, eu não conto sobre você estar de pés relaxados na mesa de centro e assistindo TV, fechado? - Estendi minha mão para selar o contrato que aparentemente funcionou.
Entrei em meu quarto e tranquei a porta, peguei meu celular e fui chegar as mensagens, primeiramente haviam várias ligações, o que era estranho, pois quando estava com ele em meu bolso o tempo todo, recebia poucas ligações importantes.
Jéssica havia me ligado duas vezes, Caio uma, Nicolle uma vez, 2 números desconhecidos, uma de meu pai e por último e mais recente, estava lá... Gabriel, com cinco ligações, todas recentes... Mas tudo o que fiz foi guardar o celular em alguma gaveta aberta e me jogar na cama. Quando Carlota bate na porta.
- Com licença, mas tem um garoto na portaria querendo falar com você... Ele diz ser um amigo seu, Gabriel. - Ela tentou abrir a porta enroscando a maçaneta.
- Ok, eu vou descer... Peça pra ele aguardar 1 minuto. - Cobri minha cabeça com minhas mãos.
Ele com certeza teria vindo saber o porque de eu não ter atendido as ligações, daria uma desculpa qualquer pra me evitar dores futuras, ele ter vindo aqui não era exatamente o tipo de situação que eu desejava naquele momento. Seria difícil falar olhando em seus olhos novamente. Eu o amava, mas o odiava por me ter feito acreditar em algo maior do que o possível, a culpa era toda dele... Ou seria minha? Não, com certeza era dele, não pedi para ele aparecer e sentar do meu lado no primeiro dia de aula, e não pedi para me tratar tão bem, não pedi para ele me fazer sentir bem...
Cheguei a portaria, a primeira coisa que vi foi Gabriel sentado em um banco próximo a área da piscina de cabeça baixa. Ele estava tão lindo, seus cabelos dançavam com a brisa que batia, estava com uma camisa xadrez azul, uma calça deans escura com seus tênis brancos. Aquilo me matava aos poucos passos que eu dava em sua direção, me controlei para não dar meia volta e voltar para meu quarto e me esconder do mundo. Permaneci 3 metros de onde ele estava, parecia sério, talvez nem notasse minha presença ali.
- Queria falar comigo? - Falei num tom pesado, meio cansado, fraco... Foi o suficiente para que ele ouvisse e se levantasse.
- Sim, eu queria... Quero - Se corrigiu - Thales, eu fui um completo babaca, deveria ter ido atrás de você naquela noite quando saiu, mas não fui. Tive medo de não te ver de novo caso eu fosse falar com você, tentei te ligar depois, mas você não me atendia, eu...
Parado, nocauteado pelas palavras que ouvia saírem de seus lábios, queria falar algo mas ele me impedia.
- Não fale ainda, por favor me escuta. Antes de você chegar, fui pegar bebidas para mim e alguns dos que estavam na mesa, então, a garota, Marise apareceu e foi se jogando pra cima de mim, eu disse que não estava afim dela, pedi pra que ela parasse, ela foi embora... Porém no caminho da mesa, eu vi você, beijando uma garota, aquilo acabou comigo, então me virei a caminho da Marise que estava na pista de dança, e a beijei... Fui idiota por agir por impulso, eu senti ciúmes, e queria provar pra mim mesmo que aquilo não me afetaria, mas afetou, ainda mais quando vi você na nossa frente. Eu, eu te amo Thales! Agi errado, pensei errado, e desculpa se eu deixei meus sentimentos atrapalharem nossa amizade, mas eu precisava te contar... Me perdoa.
Como eu me sentia com tudo aquilo? Não existia, ou pelo o menos, não conhecia uma palavra ideal para definir como eu me sentia. Sua voz doce, seu olhar arrependido e carinhoso, me dizendo que me amava, ele ME amava, como fui tão inconsequente em estragar tudo naquela noite?
- Como eu não iria perdoar a pessoa por qual estou completamente apaixonado? Na verdade, você não deve pedir desculpas, o único que deve desculpas, sou eu. - Sorri, e como de costume, ele retribuiu com seu sorriso.
- Espera, você acabou de dizer que também me ama? - Ele parecia surpreso, ou talvez outra palavra para a qual eu também não a conhecia, mas deveria existir alguma que retratasse sua expressão.
- Gabriel, antes... - Eu iria explicar o que eu sentia, ou o que se passou comigo naquela noite, mas preferi poupar palavras e demonstrar o que sentia - As explicações podem esperar, mas isso não.
Toquei seu rosto como sonhava em fazer toda vez que dormia pensando nele, ele pôs suas mãos em minha cintura me deixando o mais próximo dele o possível, e como um toque entre o vento corrente e a água cristalina, nossos lábios se tocaram. Achei que alguém pudesse estar vendo, mas então pensei "E daí? Eu não ligo pro que vão pensar", eu estava provavelmente num dos momentos mais felizes da minha vida até então, se possível, o mais importante, o que poderia estragar aquilo? Nada, o tempo, problemas e subjeções não eram mais bem vindos ali, somente o amor, eu poderia ficar com ele pra todo meu sempre, estava tão feliz que poderia morrer de felicidade. E estaria tudo bem.
Obrigado a todos os que tem comentado e e gostado dos contos anteriores, talvez eu preveja a continuação para daqui a 2 dias, aguardem. Abraço a todos!