Nas aulas seguintes, Miguel estava bastante distraído, tendo sido chamado à atenção pelos professores que estranhavam uma vez que ele era um dos alunos mais aplicados. A Carla que se sentava ao lado dele também reparou, perguntando-lhe o que se passava, ao qual ele respondia sempre “nada, apenas estou num dos dias não”.
As aulas acabaram e quando se encontravam no portão da escola:
Miguel: Não vou com vocês para casa, vou ter com a minha mãe ao hospital.
Carla: Ok, e vê se te animas. Até amanhã!
Miguel despediu-se dos amigos, no entanto, antes de ir para o hospital, voltou a entrar na escola, dirigindo-se à secretaria.
Miguel: Olá, soube que o Professor Telmo sofreu um acidente e encontra-se internado no hospital, no entanto, não sei qual é o hospital, será que me podia dizer?
Funcionária 1: Olá, o que me disseram foi que o acidente ocorreu já perto de Lisboa, pelo que presumo que esteja sido transferido para um hospital na cidade.
Miguel: Não sabe exactamente qual é?
Funcionária 1: Nisso não posso ajudar, é que só entrei agora de serviço, o meu turno acabou de começar, pelo que a única coisa que ouvi foi isso, o hospital em que estava não me chegaram a dizer, provavelmente a colega do turno anterior sabia, mas ela já foi embora.
Miguel agradeceu e despediu-se da funcionária, no entanto estava desapontado por não saber em que hospital o Professor Telmo estava. Tal como tinha dito aos amigos, foi para o hospital, “talvez a mãe dele soubesse alguma coisa, ou conseguisse saber, afinal ela era médica e além de conhecer muitos médicos noutros hospitais, também conhecia o Professor Telmo e podia saber que tivesse notícias”. Com este pensamento acelerou a passo em direcção ao hospital.
Já no hospital:
Miguel: Olá, sabe se a minha mãe está no gabinete.
Secretária: Não tenho a certeza, pois ela estava a cuidar de um amigo que sofreu um acidente, ele costuma de passar por aqui de vez em quando, não me lembro do nome dele.
Miguel: Mas sabe onde ela está ou não? – perguntou impaciente, quase adivinhando de quem se tratava.
Secretária: Espera só um momento, deixa-me ligar para a minha colega que trabalha na clínica do hospital.
2 minutos depois…
Secretária: A minha colega disse que a sua mãe está na clínica do hospital, tal como disse, ela estava a cuidar de um amigo, parece que ele sofreu um acidente de carro…
Sem se despedir o Miguel saiu a correr para a clínica, de certeza que era o Professor Telmo de quem a sua mãe estava a tratar, só podia ser ele, “acidente de carro, costumava passar pelo hospital e era amigo da mãe” – pensou – “eram coincidências a mais.”
Na clínica…
Miguel: Olá, sabe se a minha mãe cá está, ela é a doutora Alzira?
Secretária 2: Deixa ver – disse, olhando para o computador – ela está na sala 1A.
Miguel: Obrigada. - Disse saindo, novamente, correndo.
A sala 1A era uma sala de paredes brancas, com cerca de 10 camas, cinco de cada lado, parte das camas estavam ocupadas, outras estavam vazias, havendo ainda algumas que não se conseguia ver, uma vez que tinha cortinas brancas a tapá-las e quem quer que estivesse por detrás delas.
O Miguel entrou na sala e não viu a sua mãe, presumindo que esta estivesse por detrás de alguma das cortinas, ele aproximou-se de uma:
Miguel: Mãe estás aí? Sou eu o Miguel.
A: Olá filho, não devias estar aqui, apenas é permitido a médicos e enfermeiros aqui estar.
Miguel: A secretária da clínica disse-me que estavas cá e pensei que não fizesse mal.
A: Para a próxima espera lá fora, mas já que cá estás penso estar aqui uma pessoa que gostavas de ver.
Miguel: Quem é? – Perguntou embora tivesse quase a certeza da resposta.
A mãe do Miguel puxou as cortinas que até então formavam uma barreira entre ela e o filho, impedindo-o de ver de quem ela estava a cuidar.
Paciente ???: Olá Miguel, há quanto tempo…
Para desespero do Miguel, não era o Professor Telmo que estava à sua frente, mas sim o seu antigo professor de química, o que se tinha reformado.
Alzira: Aqui o Rui sofreu um acidente de carro, como sabes a mulher dele é enfermeira aqui no hospital e pediu-me para lhe dar uma olhadela a ver se estava tudo bem. Felizmente que sofreu apenas uns cortes nos braços e na face quando os vidros se partiram, ou poderia estar em pior estado. Ainda para mais, devido à idade que tem…
Miguel: Há…
Rui: Então Miguel, não pareces muito contente por me ver, diria que estás desiludido, não estás contente por ver o teu antigo professor? Diria que estás até desiludido.
Miguel: Não é isso, apenas estava à espera de encontrar outra pessoa.
Alzira: Quem filho?
Miguel: Apenas disseram que o novo professor de química também tinha tido um acidente de carro e como me disseram que estavas a cuidar de um amigo que costuma passar pelo hospital, então pensei que fosse ele.
Alzira: Infelizmente já soube dessa notícia…
Rui: Parece que não fui o único a sofrer um acidente então.
Alzira: Na verdade, o acidente foi o mesmo que você esteve envolvido.
Rui: Como assim?
Alzira: Bem você disse que tinha batido contra um carro quando este parou bruscamente, mas segundo os bombeiros e enfermeiros que foram ao local tratar e buscar os feridos para o hospital, tratou-se de um choque em cadeia, esse choque foi desencadeado por um acidente de um automóvel contra um camião que circulava em sentido contrário. Parece que o condutor do camião adormeceu ao volante, o que fez com que fosse para a via da estrada que circulava em sentido oposto.
Miguel: Como está o Professor Telmo, afinal? – perguntou apressadamente.
Alzira: Infelizmente, no carro que colidiu contra o camião encontrava-se o T, como era de prever num estado destes, os danos são graves. Ele foi operado mal chegou ao hospital e está vivo, no entanto não chegou a acordar após a operação e encontra-se em coma.