Caminhos da Vida
Bem é sempre difícil começar, principalmente aquilo que será derradeiro em nossas vidas. Estou eu, com meus dezesseis anos, prestes a completar 17, e ter que tomar um rumo em minha vida, e o pior é que esse rumo dado me perseguirá até me aposentar. Isto é complicado. Me levantei pensando nisso, em um futuro que insiste em chegar a minha porta e com minha mãe me avisando que como sempre, iria perder o horário, mas como eu não tenho o costume de tomar café da manhã sempre dá tempo.
Sai de casa normalmente às sete horas e quinze minutos caminhando calmamente e nem me importando com o sinal que toca insistentemente às sete e meia. Como sempre passei a casa de Marcelo - este era amigo meu desde que me conheço por gente, distante era essa a palavra que definia Marcelo, sempre com um olhar perdido, mas um ótimo conselheiro e ombro amigo – ele por sinal me esperando há séculos. Assim que me viu em sua calçada, deu um beijo em sua mãe de já veio até mim gesticulando.
_ Fabinho, você sabe que horas são?
_Calma Celo, como se no primeiro dia as aulas fossem começar às sete e meia em ponto.
Marcelo fingiu que acreditava em mim e seguimos falando coisas banais, chegando ao colégio público e único em nosso município, município este de apenas nove mil habitantes que conheciam minuciosamente a visa de todos munícipes. Revemos antigos amigos e adentramos em nossas salas esperando os professores, as matérias, além dos horários e das carteirinhas, que são usadas como forma de se evitar que os alunos cabularem as aulas.
Na mesma semana começaram nossas aulas na academia e a cada dia que se passa, percebo um olhar esquisito vindo do Celo, até a professora da academia percebe e o questiona e ele somente diz que são coisas da vida, e quem sou eu pra duvidar. Fora isso nada de anormal, além de perceber frente ao espelho que necessito urgentemente de mais academia e complementos, visto que possuo uma envergadura de um metro e oitenta centímetros e pesando sessenta e nove quilos, sou meio magro, meio diferente do Celo que mesmo sendo tímido e na dele, é um pouco mais baixo que eu, na verdade cinco centímetros, mais é mais forte em seus braços e com o peitoral definido, isto também se deve ao trabalho dele, no supermercado de sua família. Sem muitas coisas o que fazer neste município minúsculo proponho a minha turma um acampamento na fazenda do meu pai. Prontamente todos topam dependendo apenas da autorização do meu pai de ceder o espaço e dos pais de meus amigos de confiarem em seus filhos, está aí à parte mais difícil.
Contei para meu pai do acampamento e ele logo de início fez uma série de questionamentos, visto que era um homem que vinha de uma família humilde e recebeu uma educação em que o filho só obedecia não questionava, se fechando para o trabalho, e com o trabalho meu prosperou e muito tem agora três postos de combustíveis e quatro fazenda produtoras de cana-de-açúcar, além de pequenos pontos de aluguel de comércio; meu pai me deu uma série lamúrias, mas no final acabou cedendo, desde que em vez de acampar, ficaríamos na casa da sede, topei de imediato com medo de um desvio de ideia.
Comuniquei à galera que seria no primeiro final de semana de volta as aulas e assim Celo veio em casa para continuarmos com o projeto “Volta às chatas Aulas”, assim que a galera ficou combinando o final de semana. Vimos o que teríamos de comprar, e eu já fui logo avidando que comida não precisava porque na fazenda já havia, só teríamos que nos preocupar com as bebidas e como o pai de Celo tinha mercado, compraríamos lá e dividiríamos os gastos.
Sexta –feira chegou e com tudo preparado seguimos para a fazenda, meu pai estava de boa e meu deu sua caminhonete pra eu ir dirigindo e deixar lá caso ocorresse alguma coisa. Quando cheguei na casa do Celo ele quase teve um enfarte ao perceber que meu pai deu a caminhonete para o passeio. Foi mais o Davi com outro carro visto que ele já era de maior, ao total foram oito pessoas e comigo e o Celo completamos dez. Na turma havia a Nayara que pegava o Daniel, a Larissa que namorava o Augusto, a Letícia com o Marcos, o Davi com a Carol e somente eu e o Celo sem meninas, coisa já natural visto meu temperamento difícil que somente o Celo e minha família aguentavam e o Celo que era muito tímido e não ficava com meninas, a não ser quando eu ajeitava pra ele.
Chegamos a quando estava anoitecendo e acendemos uma fogueira no pátio e fomos beber unas cervejas e cantar, já que o Davi e o Daniel trouxeram seus violões se sempre estavam dispostos a cantar. A noite se adentrou animada, a lua brilhava no céu e as estrelas dançavam, tudo muito animado até que os casais começaram com seus namoricos e nessa hora Nayara diz que já são três da madrugada e como havíamos preparados alguns passeios resolvemos que já era hora de dormimos. Já em casa separei os casais em dois quartos e um ficaria na sala com um colchão já preparado, na sala ficaria o Davi com a Carol que eram menos tímidos por assim dizer, já eu e o Celo, ficaríamos no quarto dos meus pais em sua cama, coisa normal dormimos juntos, visto nossa cumplicidade e longa amizade.
O sono chegou e como me dei por conta eram umas quatro da manhã o Celo já estava dormindo, mas se mexendo e gemendo muito, dizendo frases soltas e sem sentido do tipo:
_ Não, eu não posso ... Tenho que esquecer ... nunca isto nunca ...
Ao mesmo tempo chorava, toquei nele e ele estava gelado, me assustei e comecei a chama-lo pelo nome e não acordava, chamei mais alto e mesmo assim, nada de terminar aquele sonho que estava por angustiar meu amigo, o chacoalhei e nada até que de repente ele dá um grito com meu nome e acorda. Assustado ele me pergunta o que estava acontecendo e eu tentando o acalmar digo que ele estava tendo um pesadelo, que devia ser horrível, pois ele gemia e suava muito me dizia palavras e frases sem nexo. Com uma cara apavorada ele me pergunta o que estava falando, eu dizia não compreender, percebendo somente meu nome ao final, quando ele gritou e acordou. Depois que lhe contei o ocorrido ele se acalmou e voltou a dormir.
No outro dia lá pelas dez da manhã a galera toda acorda e tomando café conversamos animadamente sobre o passeio de barco que faremos após o almoço onde uns iriam pesar e os outros se refrescarem no rio, mas isso somente após o almoço como comentou Judite, empregada da fazenda havia anos, então antes do almoço caminhamos por entre os pomares e exploramos o lugar, até mesmo eu me esquecera de como era linda e enorme a fazenda Vitória Régia, visto que quase nunca ia para lá.
Após o almoço saímos para nosso passeio de barco e tudo nos conformes, nos divertimos bastante, o Augusto e o Marcos pegaram uns peixes grandes que seriam a nosso jantar. Após retornarmos Larissa me pergunta se algo aconteceu com o Marcelo, porque ele ficou em um canto e quase não falou com ninguém, disse a ela que ele queria um tempo para pensar em sua vida e que ele foi ao passeio para relaxar das cobranças do pai. Após esse comentário comecei a observar o Celo, realmente ele estava distante ainda mais que o normal, somente falava monossílabos e sempre ficava de fundo ou aos cantos.
Após a maravilhosa refeição preparada pro Judite para o jantar assistimos a uns filmes e fomos dormir cedo, era quase uma da manhã, pois estávamos exaustos. Quando entrei no quarto após o banho para dormir, pensei que seria o momento certo para investigar o porque o comportamento do Celo naqueles últimos dias. Deitados na cama com a luz apagada me viiro para o Marcelo:
_ Celo, você se considera meu amigo?
Ele se virou repentinamente e questionou o porquê da pergunta.
_ É que você anda distante de todos, não fala comigo, penso às vezes que até te fiz algo para lhe magoar.
Ele com a voz mais serena do mundo:
_ Você sabe que eu te considero muito, muito além de um amigo, como um...-as palavras fugiram por um segundo de Marcelo e questionei:
_ Como um ... o que ... um o quê?
Ele terminou a frase com engasgos:
_ Como um irmão e você sabe disso! Eu estou cansado das cobranças, do meu pai e de tudo e de todos.
Virei para ele com a mão em seu obro:
_ Até de mim você está cansado?
Ele tirando a minha mão de seu ombro respondeu:
_ De você apesar de tudo nunca me canso. Dito isso rimos e fomos dormir. Após esta ligeira conversa Celo se animou uma pouco e participou do resto do fim de semana. Tudo transcorreu ao normal e voltamos para casa domingo à tarde visto que teríamos aula na segunda.
Pessoal este conto é composto de 10 partes, esta é a primeira, espero que gostem, aguardem pois vem muito mais. Aguardo comentários, pois sendo meu primeiro conto, preciso avaliar se estou fazendo certo. Bjaum