Eles eram doidos... Viajar assim para outra cidade, nem eu fiz isso. Esperei esse bendito sábado como um crente espera Jesus. Eu me arrumei, e quase que não conseguia deixar meu cabelo no lugar, ele é ondulado e preto, e não muito grande. Coloquei uma calça preta e uma blusa branca um pouco só largada, porque eu sou meio magro, porém eu era mais forte do que magro. Não malho, mas fiz anos de natação, o que me deixou com o corpo em forma. Esperei Mariana, e ela chegou toda perfumada e bonita com Matheus que estava mais lindo ainda.
— Vamos meu bebê! – ela riu. Matheus olhou com cara feia para ela que retribuiu com um beijo carinhoso. — Para com esses ciúmes amor! – deu uma batida fraca no seu peito.
— Vamos povo! – eu disse irritado, já tava escurecendo. Eu tinha falado uma mentira para minha mãe dizendo que agente ia para uma festa de uma colega e que não precisava se preocupar. Ela aceitou e disse qualquer coisa era para ligar. Então fomos para o ponto de ônibus, eu já morrendo de medo dessa travessura que tava aprontado. Tinha muita gente lá no ponto, o resto da minha turma e um monte de gente do colégio. Povo maluco. Quando o ônibus chegou, eles foram logo entrando eu quase que fui um dos últimos, mas agora Camila que me puxou, dizendo que eu sentaria do lado dela. Eu sorri por causa da situação, ela estava me guiando. Quando estou subido à escada quase tropeço e caio quando eu vejo um garoto sentado na frente. Ele era forte, não muito, tinha um cabelo castanho liso lindo, olhos verdes e uma boca vermelha e carnuda. Volto a terra quando Camila me grita.
— Vamos PORRA! – eu sorri e a acompanhei até o acento quase entorpecido. Eu já tinha contado a Camila sobre minha sexualidade e ela aceitou normalmente. Quando nos sentamos fui logo perguntando.
— Quem é aquele garoto lá na frente? – ela olhou para mim, e riu.
— O nome dele é Caio. Estuda em outro colégio daqui, não sei o nome. Mas ele não é lindo? Se não for gay, eu pego ele. - disse rindo.
— É maravilhoso. – O ônibus começou a andar. O povo fazia um bagunça, cantava, brincava e eu e Camila também na onda com Matheus e Mariana que estavam logo na nossa frente.
Quando chegamos à cidade, vi logo a diferença, ela era bem maior, tinha muito mais lojas e praças. Paramos em frente ao shopping e descemos. Estávamos todos empolgados. Fomos para praça de alimentação e ficamos em uma mesa com a nossa turma, o resto do povo tinha se espalhado pelo shopping e outros também vieram, o cara lindo estava na mesa com os amigos dele bem perto da nossa, e às vezes me pegava olhando para ele. Nossa, eu tinha que parar com isso. Eu já me iludi varias vezes, já fui magoado muitas vezes, não queria sentir aquelas coisas de novo. Mas Caio era lindo, não tinha como essa pessoa existir.
Conversei muito, até de mais pro meu gosto, porque sou um pouco tímido. Comemos e bebemos, eles enchiam meu copo de coca toda hora! E Eu tentando não olhar para Caio quase todo tempo. Os amigos deles saíram aos poucos e ele abraçou uma garota e se despediu. Depois veio na direção da nossa mesa. Ah meu Deus, Ah MEU DEUS! Ele tá vindo para cá! Meu coração acelerou e comecei a soar nas mãos. Droga! Odiava ficar assim.
— Olá gente, posso sentar aqui com vocês, por enquanto meus amigos foram ali? – sua voz era baixa e agradável, um pouco rouca, o que fazia eu quase em derreter ali na mesa.
—Claro! Senta aqui cara! – disse Camila, logo dando em cima dele. Caio sorriu, e eu não pude ter uma visão melhor do mundo. Seu sorriso era lindo! Seus dentes eram brancos e alinhados. Eu quase tive um troço. Mas me controlei. Eles conversavam sobre ele e tal, eu quase nem prestava atenção em nada... só nele. Depois de um tempo, Mariana percebeu que eu tinha me calado.
— O que foi Daniel? Porque ficou calado assim!? – eu gelei. Todos se viraram para mim, até Caio parecia que queria uma resposta. Então eu tive que mentir... Óbvio.
— Eu só estou preocupado. – disse colocando o canudo na minha boca.
— Preocupado com o que? – perguntou de volta Mariana.
— Com minha mãe, ela vai me matar se descobrir! – ela revirou os olhos.
— Novato? – perguntou Caio para mariana depois me olhou com um olhar de tédio. Ótimo! Eu era o novato. Mariana balançou a cabeça em um sim.
— Daniel... são dez horas. Você disse que sua mãe tinha deixado você ficar na “festa” até as 12, então... para de drama. – disse ela. Eu ri com a parte do drama.
—Tá, então vamos logo pro cinema? – perguntei e todos levantaram. Camila estava com uma conversa doida com ele, já estava com ciúmes kkk. Eu estava com Bruna e Thiago agora. A gente conversava sobre tudo, Bruna me mostrava tudo no shopping. O cinema estava um pouco vazio, porque o filme era de comédia. Eu sentei do lado de Bruna e Thiago, e Matheus e Mariana sentaram mais em cima. Caio e Camila já estavam se beijando. MARAVILHA! E sentaram bem na nossa frente. Porque na minha frente? Era pra me irritar? Eu não agüentei nem a metade do filme, e saí. Não sei por quê. Sentei em um banco e abaixei a cabeça. Bruna logo chega e pergunta o que houve, eu apenas disse que estava mal e queria ir para casa. Ela disse que era para esperar o filme acabar para irmos todos juntos para casa, e que também, eu não conhecia nada aqui. Aceitei então fazer o quê? Quando o filme acabou, eles voltaram todos felizes, mas não pelo filme.
— O que foi que aconteceu Daniel? – perguntou Mariana entediada comigo. Eu expliquei tudo, mas o pior de tudo foi o comentário maldoso de Caio.
— Isso é que dá trazer novatos e criançinhas ainda por cima. – disse em tom de deboche, todos riram menos Bruna. Eu apenas olhei para ele sério, me magôo muito rápido, e quando ele disse aquilo foi o fim. Pedi que Bruna me levasse ao ônibus, ela voltou depois porque ela iria à balada com eles ainda.
Depois desse dia Bruna se tornou minha melhor amiga. Marina me abandonou aos poucos, mas nunca contou meu segredo para ninguém. Nem mesmo para Matheus. Eu parei de ir nessas viagens e me contentei em casa mesmo. Bruna me dizia que nas viagens ninguém sentia minha falta, só na outra semana que o Caio tinha perguntado: “Onde está o novato?” Bruna não gostava muito dele também, como agora eu também estava criando uma apatia por ele.
Bruna me disse que Caio era rico, mas tinha feito uma burrada – não sabia o quê - e os pais dele tomaram tudo dele, e ainda o fizeram trabalhar para pagar suas coisas. Ele voltaria a estudar lá no “nosso colégio” ainda esse ano. Ele trabalhava em uma padaria perto da minha casa, e depois que eu descobri isso, só passei a comprar pão lá. Ele tinha me irritado, mas todas as vezes que eu olhava para seus olhos, tudo mudava e o encanto voltava. Não gostava nem um pouco do efeito que ele tinha sobre mim.
Um dia quando eu estava indo comprar pão, - na padaria do Caio kkk – ele forçou um papo comigo, coisa que adorei. Quando cheguei lá, estava um pouco vazio, tinha um cheiro forte de pão e outros doces e guloseimas. Não tinha ninguém no balcão. Eu me aproximei e coloquei a mão no balcão.
— Tem alguém aqui? – perguntei um pouco alto. Quando o vejo saindo de trás do balcão, me segurei para não cair para trás. Sua beleza era muito simples, mas ao mesmo tempo me surpreendia.
— O que deseja? – perguntou com cara de tédio. Demorei um pouco para responder.
— P-pão. – disse gaguejando. Odiava quando gaguejava. Ele sorriu. Foi ai em fiquei mais nervoso ainda, seus dentes eram lindos.
— Quanto? – ele apresentou paciência.
— Três reais. – disse agora firme. Ele pegou um saco de papel e foi colocando os pães, paguei. Mas quando ele foi me entregar o saco, quase tenho um treco quando seus dedos tocam minha mão. Abaixei a cabeça, para que ele não me visse corar ou coisa do tipo. Mas ele me surpreendeu com a sua pergunta.
— Porque não foi mais á viajem? – disse baixo. Eu só tinha ficado duas semanas sem ir, nem foi tanto tempo.
— Por que o “novato” aqui, não queria ser seu alvo de brincadeiras. - falei secamente. Ele ficou sério, depois soltou uma risada baixa.
— Tudo isso porque eu te chamei de novato? – claro que não era! Eu que não queria ficar o vendo pegando todas as garotas na minha frente!
— Pode ser. – ia saindo, mais ele segurou meu braço.
— Desculpa então. – falou com a voz um pouco mais alta. Olhei sério, e me soltei da sua grade mão. — Espera! – disse ele quando estava saindo.
— O que foi agora? – disse nervoso. Ele estendeu a mão.
— Seu troco. – e riu. Eu acho que ele estava se divertindo bastante comigo, ele ria á toa. Sai sem falar mais nada. Essa historinha de “Porque você não mais á viajem” não tinha decido.
E o desgraçado não saia da minha cabeça. Bruna disse que já estava apaixonado, eu disse que não lógico. Até que eu fui tentar entrar no joguinho de “amiguinhos de volta?” dele e acabei me ferrando.
Quando ele estava saindo da padaria á noite, ele me encontrou em uma praça perto da minha casa com Bruna e um povo lá do colégio. Ele conversou, e conversou até só sobrarmos eu, ele e Bruna. Que ria de alguma coisa que ele havia dito.
— Você é hilário cara! – Bruna ria alto. Eu acho que a raiva dela sobre ele tinha passado. E eu só revirando os olhos. O celular dela toca, uma musica bem calma de Coldplay.
— Tá bom! Tá! Já estou indo! – estava irritada, com certeza era sua mãe. — Droga, minha mãe mandou ir para casa. – revirou os olhos. — Já estou indo meus amores, tchau! – beijou Caio e eu no rosto e saiu.
— Tchau. – disse eu e o Caio em coro. Depois que ela foi embora, ficou uma coisa tensa entre eu e o Caio, e fui eu que tomei a iniciativa de quebrar o gelo.
— Acho melhor eu ir para casa, o “novato” está cansado. – disse adorando irritá-lo. Levantei-me, mas ele segurou meu ombro e fez sentar de volta. Já estava com medo do escuro, e tinha poucas pessoas.
— Cara, eu já te pedi desculpas. – disse ele sério. Olhei seus olhos que agora estavam negros por causa do escuro. Mas ainda dava para ver suas feições perfeitamente por causa da luz do poste.
— OK, está desculpado! – me dei por vencido. Ele sorriu. — Agora pode soltar meu ombro? – perguntei um pouco sério. Ele virou o rosto, ele devia ter corado, mas eu não enxergava nada quando ele virava o rosto. Comecei a ficar nervoso outra vez.
— Vamos com a gente sábado que vem? – ele perguntou voltando a me olhar e pondo sua mão perto da minha. Estávamos a um palmo de distância. Sua respiração ficou desregular. E a minha ficou forte.
— Vou pensar. – sair quase correndo daquele lugar. O deixando sozinho.
Cheguei em casa ofegante, e tomei banho. Desejando meu piano de volta. Ele era quase a saída de todos meus problemas. Minha vó que me ensinou, depois que ela morreu, praticamente entrei em depressão. Não queria saber de piano nem nada. Eu gostava muito dela. Minha mãe vendeu meu piano de armário que havia ganhado do meu tio – rico muito rico. – para poder pagar nossa mudança. Eu chorei, esperneei, fiz um escândalo, mas não adiantou. Hoje sinto muita falta dele.
Bruna ficou louca, dizendo que Caio era um fofo na verdade, e que eu estava caidinho por ele. Mas eu só negava. Ele estava fazendo alguma brincadeira de mau gosto comigo. Deu que ela me forçou a ir a viajem. Eu agora pensava na próxima desculpa que daria a minha mãe.
Fim da segunda parte, que ficou enorme kkk. Obrigado pelos comentários : )