Daquele momento em diante, tudo parecia ter feito sentido, o motivo de eu ter voltado para SP pra mim agora era claro, eu vim procurar o que eu não achei da última vez, alguém que me intende-se de verdade, alguém pra chamar de meu, alguém pra transparecer o motivo de sorrir todas as manhas por saber que você ama, e está sendo amado. Eu tive sim um relacionamento com um garoto antes, não era algo do qual eu quisesse lembrar, mas me ajudou a crescer e descobrir o que eu realmente queria, acho que o quanto eu amadureci foi o suficiente para mostrar quem eu era de verdade, o que eu desejava pra mim, era fazer parte da vida de alguém, e ser tão importante quanto o oxigênio que eu meramente precisava respirar.
Na terça-feira seria o dia do qual eu iria experimentar ter Gabriel do meu lado, não como amigos conhecidos, mas sim como amantes, ninguém precisaria nos ver, o fato de que ele estaria lá todo dia e seria, todo dia meu, somente meu era o mais importante pra mim.
Logo quando saí para ir ao colégio, o porteiro do prédio, Roger, estava na frente da cabine sentado, lendo o jornal, não sei o porque, mais quando passei por ele, notei o seu olhar frio e ofegante, não me senti nada confortável com aquilo, era como se ele estivesse mirando em mim, ou procurando algo em mim, algo muito estranho. Para não me preocupar com besteiras resolvi esquecer o que vi, afinal, eu tinha coisas mais importantes para fazer, e uma delas seria ver Gabriel.
Entrando na escola, vi alguém que sinceramente não esperava encontrar, bem que eu sabia que ele estudava lá, porém nunca havia encontrado com ele, André. Estava com alguns garotos que deduzi que fossem seus novos amigos, eu estava feliz por ele, já que na época em que andávamos juntos, ele nunca era confortável o suficiente para entrar em um grupo e se localizar.
E quando eu menos espero, quem estava vindo diante daquela multidão de alunos? Ele, Gabriel, andando em minha direção. Como se fossemos só eu ele, não via mais ninguém que passasse adiante, meus olhos miravam seus passos e seus olhos encontrando os meus.
- Como você faz isso? - Inclinei minha cabeça em meio a pergunta.
- Isso o que? - Estava com cara de quem entendeu mas se fez de bobo.
- Isso! Você o que é, não finja! Vem com esse olhar sedutor e faz com que se derretam diante dos seus olhos... - Sorri desajeitado
- Bom, não creio que essa pergunta tenha uma resposta definida, mas... O que eu quero saber é se eu consegui tirar sua atenção - Ele sorriu e tocou minha mão esquerda, primeiramente claro que ele me tirou a atenção, não tinha como não tirar. Porém como tudo o que é bom dura pouco, me lembrei que não estávamos a sós, mas parecia que ele não se importava.
- Ei! Aqui não. Tudo bem que nós nos amamos mas eles não precisam saber disso, na verdade, eles não podem saber disso. - Achei estranho o modo como dei ênfase ao 'eles', era como se tivéssemos gente ao nosso redor só esperando o momento certo para atacar.
- Paixão não se questiona... - Ele baixou o olhar, como se estivesse com algo em mente - Muito menos a nossa.
Galã, ele sabia exatamente quando me fazer sentir apaixonado pelo seu jeitinho amoroso de ser, era intrigante, será que eu era tão fácil de ser comovido assim? Ou isso só ocorria quando ele estava por perto?
- Não sei o porque, mas você faz isso de propósito - Pisquei em desaprovação, ele levantou uma de suas sobrancelhas, enquanto no canto de sua boca, se formava aquele típico sorriso tímido e carismático.
- Vem comigo, preciso falar com você a sós - Ele posicionou sua mão sobre meu ombro e me guiou até um lugar mais distante do segundo andar.
Apesar da minha curiosidade enorme, resolvi me conter e não abri uma palavra até que ele me falasse do que se tratava. Comecei a pensar sobre um possível 'primeiro encontro' pois o que deveria ser um, tomou um rumo totalmente diferente do qual eu planejava na semana passada.
- Feche os olhos e abre a boca... - Ele pois sua mochila no chão enquanto olhava ao redor em que parte da escola nós estávamos. Fui obrigado após ouvir suas palavras a fazer uma cara de mais ou menos "O quê? Não vou fazer isso!" - Brincadeira, só feche os olhos e abra quando eu... Bom, você vai saber quando abrir.
Fiz como pediu, só não tinha certeza se saberia o momento certo de quando deveria abrir, mas eu estava confortável sabendo que ele estava ali do meu lado, não aconteceria nada de mal se eu permanecesse de olhos fechados.
Senti seus braços tocarem meu pescoço, e senti que ele posicionava um colar ou cordão, não sabia o que dizer, e interrompendo meus pensamentos, ele me beijou. Foi um beijo sereno, calmo, confesso que ali mesmo eu voei. Não era de acreditar em contos de pessoas que falavam que o beijo os levavam as alturas, para mim não era nada de mais, somente um beijo. Claro, isso até eu conhecer Gabriel.
Era minha deixa, meus olhos se abriam.
- Isso, é pra você não se esquecer de mim, nunca pense que eu estou longe de você, e mesmo que esteja longe fisicamente, saiba que... Nossa - ele riu - estou falando bonito, é estranho rsrs
- Não se preocupe, você está se saindo muito bem - O beijei
- Sério? Bom... Saiba que você estará aqui - Ele segurou as pontas de meus dedos e os levou até sua cabeça - e aqui... - Os guiou ao seu peito, indicando seu coração.
- Promete? - Juntei minha mão a sua
- Prometo.
Fomos para a sala, ele sentou em seu respectivo lugar, e eu no meu. Caio sentou-se ao meu lado e puxou assunto.
- Então, agenda lotada? - Perguntou com um tom de ironia, o que me fez ficar calado. Não queria ser grosseiro, mas ele deveria saber que ironia nunca é um tipo de brincadeira boa de se fazer. - Qual é, vai me ignorar na minha cara também?
- Não sei o porque tanta raiva, o que eu fiz pra você? - Me virei e subi o tom da minha voz, tive a impressão que muitos dos que estavam na sala estivessem olhando, não era confortável discutir com Caio, e ainda mais quando haviam pessoas por perto.
- Não é o que você fez, é o que não fez! Se você fosse mudar de melhor amigo, primeiro devia ter me avisado - Franzi minhas sobrancelhas, não fazia ideia do que ele falava.
- Caio... Aqui não é o lugar ideal - Tentei fazer com que ele esquecesse o assunto.
- Porque não atendeu minhas últimas ligações? - Me interrompeu
- Não estava em condições de falar com ninguém...
- Acha que eu não saquei o quanto você vive com Gabriel agora? Eu já saquei tudo - Não, ele não tinha sacado, e dei graças a Deus por isso. Fiquei feliz por ele não ter desconfiado, mas triste por saber que ele não confiava mais em mim pra saber que eu nunca retiraria o posto de melhor amigo, que até então nem sabia se ainda existia.
- Quer saber? Eu não preciso ficar aqui discutindo com você o que não é da sua conta. Eu ficaria bem melhor se você parasse de agir feito babaca e pensasse no quanto nó éramos amigos, e que não acabaria assim do nada por desconfiança.
Ele se calou, por um momento achei que o Caio que estava ali do meu lado, não era mais o mesmo Caio de antes, mas fora isso, não me senti bem ao ver que Gabriel nos ouvia assim como muitos da sala.
Tinha que ter algo pra estragar meu dia, fiquei apreensivo por Caio ter me tratado daquela maneira maneira, Jéssica tentava falar comigo e me interrogar sobre o que aconteceu comigo naquele sábado, eu tinha medo que ela descobrisse, mas no fundo eu sabia que se eu não contasse nada, estaria tudo bem.
No intervalo, encontrei Marise com Gabriel e mais algum pessoal no redor, não me senti nada confortável naquele momento, e esperava que Gabriel também não... Eu não deveria tomar conta da vida dele, afinal, depois de tudo que ele havia me contado e jurado, não era preciso me preocupar com mais nada, não iria me afetar pelos ciúmes de novo, meu último ataque de ciúmes me fez passar 2 dias na solidão.
Fui pra casa depois da aula sem falar e me despedir com ninguém, nem mesmo com ele, eu não o achei depois da aula e meu celular não estava comigo. Claro que eu não iria ficar o procurando feito um desorientado...
Roger, o porteiro, estava lá como de costume, parecia nem ter saído do lugar de onde o vi pela ultima vez, lendo o jornal, de cabeça baixa, e quando passo em sua frente, começa a falar comigo.
- E então, os amassos de ontem foram bons? – Senti o deboche em suas palavras
- O que? – Ele estava rindo, debochando, mas do que eu não sabia... Foi então que me lembrei que quando me beijei com Gabriel, ele poderia muito bem estar vendo, na verdade, qualquer um poderia estar vendo, então era aí que começariam meus problemas?
- Não finja que não sabe do que estou falando, ou já se esqueceu que o prédio tem sistema de segurança, e sim, isso inclui as câmeras. – De novo o sorriso de deboche dele era perceptível, mas agora estava ficando insuportável a maneira como ele se dirigia a falar de ‘nós’
- Sim eu sei, e o que tem? É proibido agora trazer um amigo pro condomínio? – Aumentei o tom
- Ho ho ho, calma ai, trazer um amigo é uma coisa, agora se agarrar com ele na beira da piscina é outra. – Ele guardou o jornal e ficou de pé, estávamos frente a frente, apesar dele ser um pouco maior que eu, não me deixei me intimidar pelo seu tamanho.
- Escuta aqui! Eu... – Tentei dizer algo que o fizesse calar a boca, no entanto ele foi mais ágil.
- Não! Escuta aqui você! Se não ficar quieto e fizer exatamente o que eu mando, essa pequena fita da gravação de ontem, vai parar nas mãos dos seus tios, e eu tenho certeza que “nós” não queremos que isso aconteça.
Ele estava certo, não queria em hipótese alguma que aquilo ocorresse, o que eu poderia fazer? Dizer que ele estava me ameaçando a mostrar a fita? E o que eu diria a todos? Que ele estava com a fita da qual mostra meu beijo com Gabriel? Não iria me expor... Por mais cuidadoso que eu fosse, não poderia deixar que descobrissem sobre nós, isso nos complicaria e eu perderia a única coisa que me prendia agora ali.
- O que quer que eu faça? – Engoli minhas próprias palavras a seco.
Ele me puxou pelo braço, e me levou para a escadaria.
- Que tal você me mostrar o que tanto chamou a atenção do seu amigo ein? Vai, me mostra! – Ele tinha o aspecto de violento, acho que só teria visto algo parecido assim em séries ou em filmes, mas agora, aquilo seria real.
Tirei minha camisa, enquanto ele somente me olhava, eu não queria, e não quis, na oportunidade que tive, parti pra cima dele, eu sabia que não tinha chance de ganhar, talvez até tivesse, mais sairia machucado.
- Se eu fosse você não faria isso! – Ele segurou minha mão já quase colada em seu rosto, tinha muita força envolvendo meu pulso contra do dele, ele poderia segurar minhas mãos, mas não minhas pernas...
- Ai! Desgraçado... Vai se arrepender moleque! – Estava se levantando do chão , a joelhada que eu dei em seus “atributos” agora era visível.
- Ei!
Não acreditava, mas era ele, sim, era ele. Gabriel entrou na escadaria e tomou posse do rosto de Roger, eu deveria ter feito algo, mas estava parado, deveria chamar alguém?
- Thales sai daqui! – Ele gritou
- Gabriel cuidado! – Roger acertou a barriga de Gabriel, que não se debateu mas reagiu.
Ele, não... Ninguém podia tocar nele! Não aceitaria que fizessem mal a ele, empurrei Roger contra a parede, mas Gabriel me puxou.
- Sai daqui! E não espere que vai se sair bem dessa, se por acaso falar algo, pense bem, pois acho que não iriam gostar de saber que o segurança do prédio bateu em dois jovens! Se manda daqui otário!
Roger limpou sua boca do sangue que em seu canto escorria, e saiu, deixando somente eu e Gabriel a sós.
- Ele te machucou? Você tá legal? – Ele estava preocupado, comigo, eu deveria me importar mais como ele estava, ELE foi o agredido...
- Gabriel eu estou bem! Mas porque você fez isso? Eu teria dado um jeito de sair dessa! – Olhei profundamente em seus olhos, quase podia ver o que ele via.
- Teria, teria... Mas quando ele já tivesse feito algo muito ruim com você... Não seja criança, só me diga se está bem!
- Eu estou, quer dizer... Estaria, mas ele ainda tem a fita... - Estava pensando em uma resposta para dar, e no modo mais simples de explicar a história da fita sem exitar.