Sou interrompido, ele, que estava deitado do meu lado, leva seu rosto a frente do meu e beija minha boca suavemente, tudo em questão de segundos. Quando ele afasta o rosto, eu fico imóvel, não digo nada, não sei o que fazer, o que pensar. Saio correndo para a nossa barraca e fecho o zíper.
Fico muito apreensivo, meu coração batia muito forte, tento me acalmar e deito no colchonete. Mais cedo ou mais tarde ele viria, ele não tem onde dormir além daqui, eu teria que encará-lo. Passaram-se alguns minutos e eu ouvi uma voz do lado de fora da barraca.
- Daniel me desculpe por aquilo, não vei se repetir... por favor, vamos conversar... qualé, você sabe que eu não tenho onde dormir mais.
Me levanto e abro o zíper, eu nem tinha notado mais tinha começado a chover. Ele estava sentado bem em frente a barraca, eu me sento sobre meu colchonete e ele vai até o seu.
- Ei, desculpas... eu agi sem pensar.
- Adam se alguém de nossa família souber disso provavelmente seremos deixados na rua.
- Ninguém vai saber.
- Não sei não, dependendo de você... acha que eu não percebi seus olhares e a forma de como você sempre...
- Uau! Você é bem observador.
- Você que não consegue ser discreto!
- Então devemos aproveitar as oportunidades .
Ele levanta e fecha o zíper da barraca, logo percebo seu olhar quando ele se vira para mim.
- Fique parado bem aí!
- Ah qualé Daniel! Eu sei muito bem quando alguém gosta do meu beijo, e você adorou.
Ele avança em mim, tento pará-lo, mais no fundo eu quero isso, sinto um fogo no meu corpo, uma sensação indescritível. Ele logo me beija, e com ambas as mãos acaricia meu rosto, meus cabelos, que eu já não cortava fazia um tempo. Eu não conseguia fazer nada, pensar nada. Ele para de me beijar e tira a camisa na minha frente, meu coração começou a bater muito forte.
- Para, para! Isso não é certo.
- Seu bobão, eu sei que você me quer.
Ele tira a minha camisa, foi fácil para ele, eu não conseguia mover um músculo. A chuva caia forte lá fora. Ele começa a beijar meu peito, barriga (que, só pra constar, já tinha diminuído bastante hehe). Quando eu percebo que ele vai tirar minha bermuda e cueca, o empurro para seu colchonete e fico em cima dele e começo a beijá-lo, passando minhas mãos nos seus cabelos loiros. Eu estava gostando daquele momento, porém tinha muito medo de avançar para algo mais explícito. Contudo, eu não conseguiria controlá-lo por muito tempo, enquanto nos beijávamos, suas mãos deslizaram minha bermuda pelo meu bumbum começando a acariciá-lo e apertá-lo. Eu fiquei fora de mim, beijei seus mamilos, sua barriga e acabei puxando sua bermuda, seu pênis duro pulou para fora , eu comecei a observá-lo. "Não acredito que eu estou fazendo isso" pensei, meu coração estava a mil, meu corpo queimava por dentro. Então Adam com suas mãos leva levemente minha cabeça ao seu pênis, eu começo a dar leves beijos no seu pau e boto a cabecinha na minha boca, percorro toda a circunferência dela com a língua. Eu olhava para ele e ele parecia aéreo, nas nuvens. Depois de um tempo Adam me tira de cima dele e me beijando tira minha bermuda, meu pênis esta muito duro, ele me beijava e me masturbava, será que eu estava delirando?
Nos assustamos quando do nada ouvimos minha mãe chamando meu nome. Isso me fez voltar à realidade. A chuva tinha se intensificado, em nossa barraca tinha um sistema de contenção de chuva, todas tinham, mas não foi o suficiente, tinha várias infiltrações na nossa barraca. Eu e Adam nos vestimos o quão rápido pudemos, eu ainda estava atordoado com tudo. Quando saímos, eu vi que estavam começando a desmontar as barracas. Então meu pai fala...
- Daniel! Adam! Nos ajudem a desmontar as barracas! Não podemos ficar mais aqui.
A chuva estava muito forte, e começou a ventar. Era engraçado ver o desespero das minhas primas, Thalia era a mais velha com 16 anos e Laila tinha 14. Demorou, mas conseguimos guardar as coisas e fomos aos carros, que estavam a meio quilômetro dali. A volta para o sítio durou cerca de quarenta minutos, eu fui pensando o tempo todo no que tinha acontecido, não pensava pelo sentido religioso, só pensava no Adam. Meu irmão ao meu lado no carro dormia, sempre tive inveja dessa capacidade dele de dormir tão rápido e em lugares tão desconfortáveis. Chegamos umas 4 da madrugada, todos se enxugaram e foram para seus quartos. No meu quarto tinha 2 camas de solteiro, uma para mim e outra para o meu irmão. Felizmente não foi difícil cair no sono, eu estava exausto.
Acordei quase meio dia, dormiria mais se não fosse meu pai me chamando para o ajudar a enxugar o interior do carro. Tínhamos molhado tudo na confusão de madrugada, e para piorar , os carros eram alugados. Adam ajudava seu pai também perto de onde eu estava, nós nos olhávamos e sorríamos. Quando terminei, fui sentar no pé de um cajueiro para descansar, logo Adam chega e senta ao meu lado.
- Consciência pesada?
- Na verdade eu ainda não parei para pensar por esse lado.
- Não fique se culpando, ambos estávamos com vontade, não ferimos ou prejudicamos ninguém, certo?
- Mas se descobrissem a gente...
- Não vai acontecer, eu não falarei nada, e você?
- Claro que não.
- Ótimo, agora vamos jogar play2?
- OK.
Fomos para seu quarto e jogamos por várias horas, depois nossas primas chegaram com vários jogos de tabuleiro, jogamos banco imobiliário, damas e claro... Xadrez, o que logo me lembrou do Luan. Jogamos eu e Adam, eu o venci, ele não sabia quão bom era meu professor. Faltavam poucos dias para a eu ter que voltar a Recife, Adam e eu ficávamos poucas vezes a sós, e quando acontecia não era por muito tempo, por isso não falamos mais do que tinha acontecido.
Logo o dia de voltar para casa chegou. Todos haviam guardado suas coisas e começaram as despedidas, me despeço dos meus avós, tios e primas. Quando vou falar com Adam ele me abraça e diz em meu ouvido...
- Espero terminar o que começamos um dia, vou sentir saudade.
Não pude responder outra coisa a não ser "eu também". Só que eu quis dizer que eu também iria sentir saudade, eu tinha medo do "terminar o que começamos". Mais na hora nem pensei em como ele tinha entendido, afinal me concentrei bem naquele sorriso e naqueles olhos, sabia que não o veria por um longo tempo.
Durante a viagem de volta para Recife eu pensava muito na minha vida, "e se eu realmente nasci assim?", "como pode ser pecado se é algo natural do meu corpo?", "algo que eu não posso controlar?", "que ótimo, alguém como eu nerd, tímido, sem amigos, só podia ser gay também!" Mais eu tinha sim amigos, pensei, por muito tempo Melissa foi uma grande companhia, e agora eu tenho o Luan, mas eu não tinha certeza de meus sentimentos por ele, será que isso que eu sentia era normal em uma amizade verdadeira? Ou eu realmente o queria mais do que como um amigo, mais do que como um irmão?
Chegamos em casa, faltavam ainda cinco dias para as minhas aulas começarem, logo no outro dia após minha chegada fui comprar meu material escolar, passando-se uns dois dias e resolvi tentar ligar para o Luan, na casa dele ainda não tinham telefones celulares, só mesmo aqueles fixos. A mãe dele atendeu e disse que ele não estava, porém ela me convidou para ir para lá no outro dia. Chagando o outro dia, peguei o ônibus e fui. Chegando lá, toquei a campainha e imediatamente a porta se abriu, Luan rapidamente me abraça e ainda mais, me levanta também.
- Ei ei ei... calma Luan!
- Cara que saudade, (ele me bota no chão) como você está?
- Estou muito bem, obrigado.
- Nossa! Como você está magro, fiquei surpreso quando levantei você! Passou fome lá foi?
- É que a cozinheira não era muito boa.
- E essa cabeleira? (ele bagunça meu cabelo com uma das mãos)
- Deixei crescer, queria mudar o visual. (depois que meu cabelo cresceu ele ficou parecido com o do Harry Potter)
- Então aproveitou bem São Paulo... porque você não vai voltar lá tão cedo, certo?
- Sim sim, aproveitei.
- Você visitou alguma base da marinha?
- Claro que não mano, meu pai foi lá a férias seu bobo. (risos)
- Certo certo. Então, bote suas coisas lá dentro, eu quero que conheça alguém.
Fiquei intrigado, quem ele queria que eu conhecesse? Luan era uma pessoa muito legal, todos gostavam dele, mas ele já havia me falado que amigos mesmo, ele tinha só a mim. E agora tem outra pessoa que ele faz questão de que eu conheça? Então eu vou e guardo minha mochila que eu sempre trazia com escova de dentes, desodorante, toalha, essas coisas, e começo a segui-lo. Paramos em uma rua de terra com muitas pedras, Luan pega uma pequena e acerta uma janela que estava no primeiro andar de uma casa, a pedra entra pela janela e é jogada de volta.
- Não atire pedras na janela dos outros, está louco?
- Talvez.
Então, para a minha surpresa, a porta da casa se abre e uma menina morena e da minha altura vem ao nosso encontro...
- Daniel, quero te apresentar a Karla, minha namorada.
- Então você é o Daniel! Luan fala de você o tempo todo!
Eu estava tonto, tive vontade de sair correndo, mas não podia, por mais que eu estivesse triste eu tinha que encarar.
- Olá, prazer em te conhecer... Karla, Luan nunca me falou de você (juro que na hora nem percebi se fui grosso).
- Ah, é que eu a conheci faz duas semanas, sempre moramos perto, mas só tive coragem de falar com ela agora.
- Ah sim, então... parabéns ao casal!
- Amor, tenho que ir agora, eu estou no meio de um trabalho com minhas amigas, te vejo mais tarde. Prazer te conhecer Daniel.
- O prazer é todo meu (todo seu eu diria), até outro dia!
Depois que ela voltou para sua casa, eu e Luan fomos em direção a dele, no caminho ele fala...
- O que você achou dela, ela é bonita?
- Sim Sim, você tem bom gosto, mais eu prefiro pessoas loiras de olhos azuis (sim, falei de propósito).
- Nossa, deixa de ser racista.
- Como? Não, é só uma preferência, e minha mãe é quase negra, não vem falar que eu sou racista não.
- Então ta, desculpas.
O resto do dia correu normalmente, claro, eu estava triste, Luan até me perguntou se aconteceu algo, mas eu lhe disse que era só sono. Logo voltei para casa e se passaram os dias até que chegaram o início das aulas. Por um lado foi muito bom ter Melissa e Luan ao meu lado todos os dias de novo, mais eu estava distante, e Luan percebia isso. Eu ia poucas vezes à casa dele agora, e ligava poucas vezes também. Agora eu vejo que eu realmente o estava amando, porém é algo impossível de se acontecer. Por volta de abril Luan começou a cometer faltas, praticamente ia pra escola dia sim, dia não. Ele me dizia que era porque tinha perdido o ônibus ou que ele não tinha dinheiro para a passagem de ônibus. Em maio ele faltou uma semana inteira. Eu fiquei com muita raiva, não sei porque mas não o compreendia, acabei nem ligando pra ele nessa semana. Na segunda feira eu e ele chegamos quase que ao mesmo tempo na porta da escola...
- Ei Mano, a quanto tempo! (ele vem e me abraça, porém eu não correspondo)
- É pois é.
Ele me olha com uma cara estranha, acho que para ele quem estava estranho era eu. Logo eu falo...
- Vamos entrar, já já começa a aula.
Fomos até a sala sem falar nada, sentamos em nossas carteiras, ele sentou atrás da minha, o silêncio entre nós continuou até que virei para ele e falei...
- Então como foi sua semana? Namorou muito? Curtiu bastante né? Porque cara, você tá ferrado... tem ideia de quantos assuntos e anotações você perdeu?! E espero que você não esteja pensando que quem vai te explicar tudo sou eu.
- Calma Daniel, eu to passando por uns problemas.
- E daí Luan? Se você quer tanto alcançar seus sonhos, você tem que se concentrar nos estudos!
- Você acha que não sei disso?
- Pelo que eu to vendo...
- Daniel, minha mãe não pode pagar essa escola por muito tempo, eu vou ter que sair.
- O que? Mais... mais você não era bolsista?
- Isso foi ano passado. Não consegui renovar para esse ano.
Cara, como eu queria meter minha cabeça em um buraco que nem um avestruz, eu estava completamente arrependido da minha atitude.
- Nossa mano, me desculpe, eu não sabia... cara como eu sou um idiota, eu estava morrendo de raiva de você.
- Não diga isso, eu te entendo, você só se preocupou comigo.
- Mano eu não quero que você deixe a escola, como eu vou ficar? (eu estava sentindo um aperto enorme no peito)
- Ei, como você mesmo falou, continue estudando, siga o caminho que te levará a ser um grande médico, deixe as interações sociais em segundo plano ok?
- Vou tentar, então... você vai mesmo ir embora?
- Tenho que ir para uma escola mais barata, depois das férias de julho eu me mudo. Mas isso não quer dizer que nossa amizade acabou certo?
- Certo.
O dia correu normalmente, pelo menos até certo ponto... estávamos na aula de Literatura, o professor era um gordinho que tinha fama de gay, mas ele explicava muito bem, depois de ele mandar fazer uma atividade, todos que acabavam iam na mesa dele para ele corrigir, eu estava acabando a minha, Luan já tinha terminado e entregado, ele estava silencioso sentado atrás de mim, quando eu concentrado, levo um susto dele me chamando...
- Daniel, Daniel! Me ajuda!
Olho para trás e vejo o Luan, que estava sentado, colocando rapidamente a mão esquerda no olho esquerdo e a mão direita no olho direito. Ele rangia os dentes, parecia apavorado falando...
- Me ajuda! Me ajuda!
- Luan o que está acontecendo?
Uns segundos depois ele começou a tremer de leve... eu olhei ao meu redor... tinham muitos alunos ao redor da mesa do professor, e os que não estavam lá, estavam conversando ou concentrados na atividade, ninguém estava percebendo o que estava acontecendo.
- Luan você está me ouvindo?!
Parecia que eu estava em um filme de terror, ele tirou as mãos dos olhos. Os olhos dele estavam virados para cima, e tremiam também, todos os músculos dele começaram a tremer cada vez mais forte, até mesmo os músculos do rosto.
"O que eu faço?"... pensava eu desesperado.
[CONTINUA]
Galera, obrigado pelos comentários, espero que estejam gostando!
Já vou avisando que não vou postar as continuações com frequência infelizmente, eu estudo em tempo quase que integral, então depois do carnaval eu só vou ter tempo de escrever nos finais de semana, mesmo assim espero que a demora valha a pena!
Se gostaram desse capítulo, comentem!
Abraços.