-Fica comigo amor – ele não sabia se dirigia ou se tentava me manter acordado, vivo – não faz isso comigo, eu te amo.
-Eu… Pertenço… A você! – a minha visão começou a escurecer, estava na hora, a história do filme da sua vida realmente era verdade, eu vi todas as minhas tristezas, felicidades, orgulhos e arrependimentos, estava acabado, tudo que eu quis pra mim, meu sonho virou cinzas, ao fundo eu ouvia o Matheus gritar meu nome, mas eu não era capaz de me pronunciar, fechei meus olhos e então num suspiro profundo, eu descansei…
Luzes fortes, tudo tão claro, tão branco, tão calmo, eu não sabia onde estava – era uma lugar lindo, de natureza única, muitas árvores e flores, o céu completamente azul, o sol brilhava esquentando minha pele, sentia a brisa do vento no meu rosto, havia uma paz naquele lugar.
Comecei a andar por aquele belo lugar, explorando cada parte daquela maravilha, até que enfim eu vejo bem de longe alguém parado de costas, fui em direção aquele rapaz, coloquei a mão em seu ombro e então ele se virou.
-Olá Leo.
-Como… como isso é possível? – estava assustado com o que tinha visto.
O rapaz a minha frente era um espelho de mim, eu não entendia mais nada, além de estar em um lugar desconhecido, agora tinha outro Leonardo…
-Quem é você? Onde estou?
-Eu sou você e aqui é onde você quer estar agora.
-Aqui é bom, não tenho com o que me preocupar, não tenho culpa e não fico triste.
-É verdade, aqui é ótimo, mas não é seu lugar, você deve voltar para sua família, amigos, seu namorado…
-Não sei se quero isso, talvez o que aconteceu comigo, minha morte, tenha sido melhor pra todos, eu nunca seria um orgulho pros meus pais sendo quem eu sou, a Alice era melhor antes de mim e eu tenho medo do que pode acontecer entre eu e o Matheus, tudo isso foi minha culpa e seria horrível ver ele me tratar com desprezo por causa disso.
-Tenho que te mostrar uma coisa, me dê a mão.
Hesitei, mas dei a mão pra ele e então estávamos em minha casa…
-Estou em casa – andei pela casa, passei pelos quarto, até chegar ao quarto dos meus pais - é minha mãe?
-Sim.
-Eu a amava tanto, ela sempre foi bem carinhosa comigo, eu faria tudo por ela, mas cadê meu pai?
-Já faz 5 anos que você morreu, 1 mês após sua morte seu pai não aguentou de tristeza, teve um ataque cardíaco e sua mãe ficou tão amargurada com as perdas que desde o acontecido ela não saiu mais de casa, ela tem medo de tudo e de todos.
-Que coisa horrível, não queria que ela estivesse assim.
-Vamos, temos mais coisas pra ver.
Dei a mão pra ele novamente e de repente estávamos num quarto com várias pessoas, era um sanatório.
-Está vendo ali no canto? É sua cunhada, a Alice ficou doida depois que ficou sabendo da sua morte, a culpa tomou conta dela e agora vê seu espírito em toda parte, nos primeiros meses os pais acompanhavam o tratamento, mas agora eles desistiram, já fazem 3 anos que ela não recebe uma visita.
-Ela já era louca, minha morte não influenciou em nada.
-Talvez se você estivesse vivo, ela poderia se arrepender de quase ter te matado e teria mudado.
-Talvez…
-Tem mais um lugar que você precisa ver.
Fomos parar num cemitério, aquela terreno plano de grama verde, aquelas lápides bonitas no chão, alguns com flores, outros abandonados, um ar até que amigável para um cemitério, estávamos atrás de um túmulo…
-É meu túmulo?
-Veja você mesmo.
Dei a volta na pedra de mármore branco e comecei a ler o epitáfio:
“Matheus Sartori de Almeida (1990 – 2011)
Querido filho, irmão e amigo.
Descanse em paz!”
-O que? O Matheus morreu? Quando foi isso?
-Dois meses depois da sua morte, ele tentou, mas não conseguiu superar sua perda, ele te amava muito e não conseguiu continuar sem você… - meu outro eu fez uma pausa, abaixou a cabeça e completou – ele se matou.
-Mas… Porque? Não é justo, ele não podia ter feito isso.
-Assim que as coisas são Leo.
-Eu amava ele e não queria que isso tivesse acontecido, mas porque eu não estou triste?
-Aqui não tem tristeza, as lágrimas são apenas de alegria.
-Está tudo tão confuso, não sei o que fazer.
-Você não vê Leo? Você é uma parte importante na vida das pessoas que te rodeiam, eles te amam, eles precisam de você…
-Mas e se eu não souber como resolver tudo? Eu não tenho todas as respostas
-E vai morrer sem saber, você nunca vai ter certeza de tudo, a vida vai te ensinar a tomar decisões, às vezes certas, outras erradas, mas o que importa é viver sem arrependimentos…
-Entendo.
-Você está preparado pra voltar?
-Acho que estou.
Ele chegou perto de mim segurou meu rosto com as duas mãos, chegou bem perto do meu rosto e soprou…
De repente senti como se algo estivesse me puxando, estava me tirando daquele lugar, era algo tão fora do meu entendimento, e num suspiro eu acordei…
Eu aos poucos consegui abrir os olhos, a claridade machucava meus olhos, com o tempo fui me acostumando até conseguir abri-los totalmente, me virei pro lado e o Matheus estava lá, dormindo, ele era tão lindo, estava tão feliz de ter voltado pra ele, seu rosto transpassava cansaço - há quanto tempo eu estava ali?
-Matheus – o chamei bem baixo, ainda não estava recuperado.
Ele levou um susto que o fez acordar, quando ele viu o que era, ele sorriu pra mim – só aquele sorriso já me fez melhorar um pouco – e saiu pela porta do quarto correndo.
-Enfermeira? Alguém? – ele gritou pelo corredor do hospital.
-O que foi? – disse uma mulher, provavelmente a enfermeira.
-Ele acordou.
CONTINUA...
