Você viu o que minha mãe falou? Queria que você fosse da família.
-Sim, sua mãe é muito simpática, gosto muito dela também.
-Amor, você não está vendo a oportunidade?
-Ela vai me dar um emprego? – fiz uma piadinha e ri.
-Não bobo, pode ser uma oportunidade de contar a ela sobre nós, ela te adora, tenho certeza que ela vai nos apoiar.
-Isso… Isso é tão… Repentino, não sei se é o melhor a fazer.
-Não, na verdade não, eu já pensei sobre contar aos meus pais há muito tempo, só não tive coragem, mas agora eu tenho um motivo, não quero viver o resto da vida com você escondido, quero poder dizer em voz alta e pra todos ouvirem o quanto eu te amo… - ele segurou minhas mãos - o que você acha da gente contar aos nossos pais?
-Não sei… - eu estava relutante, não sei se queria isso, depois que contasse, com certeza haveria uma mudança enorme na minha vida – você quer mesmo fazer isso?
-Uhum.
-Mas… Vamos contar só para os seus pais, para os meus a gente conta depois, tudo bem?
-Sim, vamos contar no almoço.
A gente não falou mais nada depois dessa conversa, ficamos apenas parados, sentados um do lado do outro, eu estava realmente pensando no que eu falaria, se falaria ou se deixaria por conta do Matheus, qual seria a reação dos pais deles? A Dona Lilian talvez aceite numa boa, mas o Seu Marcos - pai do Matheus, se eu não me engano, nesses 5 meses que eu estava com o Matheus, o vi umas 6 ou 7 vezes, ele sempre estava trabalhando – eu nem imaginava a reação dele – se ele tentasse cortar minha garganta, saberia de onde vinha a loucura da Alice – o Matheus também estava calado, devia estar pensando nas mesmas coisas que eu, é claro que pra ele era dez vezes pior, ele iria contar um segredo de 21 anos.
-Gente, o almoço está pronto – Dona Lilian apareceu na porta e ficou esperando.
-Nós já estamos indo, 2 minutos – disse pelo Matheus, ele nem olhou pra mãe dele, eu já estava vendo ele desistir, o que não significaria que ele era covarde.
Ele deu um suspiro e abaixou a cabeça.
-Amor? – segurei seu braço – Vai dar tudo certo, você só precisava fazer isso se quiser, podemos adiar mais um pouco… Vamos ficar bem – levantei seu rosto e dei um beijo na sua bochecha – Eu te amo, ta?!
Ele acenou positivamente com a cabeça e se levantou, fomos andando pra cozinha, nos servimos, nos sentamos, começamos a comer, o Rafael estava do meu lado e os pais do Matheus a nossa frente juntos, o Matheus estava totalmente inquieto, suas pernas balançavam e suas mãos tremiam.
-Gente… - ele interrompeu o almoço e todos olhamos pra ele – eu… - ele hesitou – nada, pode deixar.
Todos voltaram a comer, por um instante eu fiquei aliviado, mas ao mesmo tempo eu queria fazer isso, seria como viver livremente, sem precisar me esconder, eu não tinha matado ninguém.
-Eu tenho uma coisa pra falar… - dessa vez eu gelei, pois ele não gaguejou, sabe quando você sai falando tudo rápido, na adrenalina, foi mais ou menos isso, eu estava ciente de que iria embora assumido dali – então, pai, mãe, eu queria dizer que eu amo vocês independente de qualquer coisa e quero pedir que vocês façam o mesmo.
-Matheus, aonde você quer chegar com isso? – falou o Seu Marcus, ele tinha um tom autoritário natural na voz.
-Eu estou… Namorando, já faz algum tempo.
-Nossa filho, namorando? Que… Bom - Dona Lilian estava sorridente - quem é a sortuda?
-Na verdade vocês já conhecem, é uma pessoa maravilhosa, engraçada, inteligente, gosta de mim e eu gosto dela, nascemos um para o outro e espero que vocês aceitem isso da melhor maneira possível.
Eu estava com o coração quase explodindo, a garganta seca, parecia estra queimando por dentro, que sensação horrível, o Matheus se levantou e ficou parado, logo depois ele me puxou pelo braço, segurou minha mão e disse:
-Estamos namorando.
Eles não falaram nada, apenas ficaram sérios, Seu Marcus era um sério decepcionado e Dona Lilian era um sério brava, ninguém sabia o que fazer, nem o que falar, a bomba tinha explodido.
-Estou sem fome – Seu Marcos se levantou e saiu da cozinha, deixando metade do prato cheio.
-Eu vou ver seu pai – disse Dona Lilian se levantando e indo embora pelo corredor.
Ficamos ali, eu e o Matheus sozinhos na cozinha, deixados de lado pela família dele, o Matheus estava triste com a situação, ele não sabia o que iria acontecer, não sabia o que estavam pensando.
-Não foi como você esperava né?
-Não.
-Amor, fica tranquilo, tudo vai dar certo, eles são seus pais, não importa o que eles vão te amar e ter respeitar, terão que entender.
-Espero que sim, mas acho que você já desistiu de falar com a sua família depois de agora.
-Não desisti, apenas estou com medo, mas nós vamos fazer isso juntos, como combinamos.
-Vamos fazer isso agora?
-Não tem como a gente simplesmente ir embora assim, e seus pais?
-Não vou ter coragem de olhar pra eles agora mesmo.
-Tudo bem – disse depois de um suspior.
Fomos de carro pra minha casa, minha mãe estava lá, meu pai estava trabalhando, entramos, minha mãe cumprimentou o Matheus e nos sentamos em frente a televisão.
-Mãe, eu quero falar uma coisa.
-Que coisa?
-Eu… - eu quase desisti, mas não podia fazer isso agora, uma hora teria que contar, o melhor jeito pra contar coisas difíceis é dizer tudo de uma vez – eu estou namorando o Matheus e eu estou muito feliz, eu queria te falar isso há um tempo, mas eu tive medo do que você pensaria, não quero que fique algo estranho em relação a isso.
-Filho… Na verdade, eu meio que já sabia, só não falei nada porque queria que você me contasse.
-Mas, sabia como?
-Eu vi uma vez vocês se beijarem.
-E?
-Eu acho que você já é bem grande e sabe o que faz, se é isso que você quer, se está feliz, ótimo, só não fique de agarração perto das pessoas, fica chato.
-Tudo bem, você pode falar com o pai sobre isso?
-Meu bem, eu conto tudo pro seu pai, ele já sabe também.
-Nossa, que fofoqueiros.- fiz uma piada pra tirar o clima tenso.
Foi uma situação meio que engraçada, eu não esperava aquela conversa, esperava algo pior, mas acabou que minha mãe entendeu – ela entende, mas não concorda, mais ou menso isso – e o Matheus ficou só quieto, não sabia se falava alguma coisa, acho que ele ficou pensativo com a diferença entre as reações.
-Matheus, você quer falar alguma coisa? – minha mãe disse olhando pra ele.
-Eh, eu só queria dizer que eu… Eu amo seu filho e vou fazer ele muito feliz, ele foi a melhor coisa que aconteceu comigo.
-Ainda bem, porque meu bebê merece.
-Mãe! – mães tem a obrigação de tentar envergonhar…
Nós passamos a tarde lá em casa, eu estava super a vontade coma minha mãe, era pra ser algo agradável, mas não estava sendo pro Matheus, sua cabeça estava na sua própria casa.
-Amor, você está bem?
-Na verdade não, eu tenho que voltar pra casa, falar com meus pais.
-Sim, quer que eu vá também?
-Não, preciso resolver isso, não sei o que eles estão pensado, não quero que eles te tratem mal de alguma forma.
-Tudo bem.
Ele foi embora e eu fiquei em casa, meu coração estava voltando a bater num ritmo normal, agora tinha passado toda a adrenalina, estava tendo um sentimento de “alívio”, não precisaria ficar escondendo nada, mas estava preocupado com o Matheus, ele passou o dia inteiro e não ligou, mas eu também nem liguei pra não ser chato.
No dia seguinte o Matheus foi até a minha casa de tarde, dessa vez nós estávamos mais a vontade, minha mãe não ficava rodeando e nem falava nada, mas também não ficávamos nos beijando o tempo todo.
-Amor, como foi ontem, quando você voltou pra casa?
-Bem.
-E seu pai? Ele parece ter ficado bem… - decepcionado? Chateado? Bravo? Não usei palavra nenhuma, não sabia qual se encaixaria melhor.
-Está bem também, tudo está bem.
-Que bom que no final tudo deu certo, a gente ficou com um pé atrás, mas acabou que eles entenderam, agora a gente vai ter mais liberdade, vai ser ótimo.
-Sim, eu vou começar a morar na minha casa pra valer.
-Porque? Achei que fosse esperar você se formar e ir pra lá.
-Não, vai ser melhor assim, vou ter mais privacidade e também eu acho que já está na hora de eu ficar mais independente.
-Que legal amor.
-Você… - ele ficou meio envergonhado - gostaria de vir morar comigo?
-O que? Morar com você – eu fiquei surpreso, feliz, mas confuso, em dúvida – não sei se vai ser o melhor, eu tenho a faculdade e também tem meus pais e…
-Porque você sempre tenta arrumar respostas e justificativas pra tudo? Uma vez na sua vida, age sem pensar, faça o que seu coração mandar…
Olhei profundamente em seu olhos, naquela hora eu estava realizando meu maior sonho, arrumar alguém, “formar uma família” e ir morar junto era um grande passo, eu só poderia dizer uma coisa.
-Sim – falei dando um beijo enorme em sua boca.
Contei a novidade para meus pais, no início eles relutaram, mas acabaram cedendo, os pais do Matheus já estavam cientes disso antes de mim, então nós nos mudamos.
No começo foi um pouco estranho, eu simplesmente estava morando com ele, mas era a melhor coisa do mundo, nós estávamos tão apaixonados e aquilo era um sonho que não queria nunca acordar, estamos morando juntos já faz um tempinho, estamos pensando em nos casar e pelo jeito, vai rolar…
Fim…
...”A vida como ela deveria ser.”, essa história foi baseada em partes da minha vida de verdade, só que a melhor parte dela não foi desse jeito, o meu “Matheus” não terminou comigo, a verdade é que ele não me amava tanto quanto eu o amava e agora ele está com outra pessoa e eu acabei sozinho, meus pais não me aceitam de verdade e mesmo depois de saberem de mim, eles tentam arrumar namoradas pra mim, isso quando não estão me ofendendo, ninguém sabe sobre mim e eu não tenho nenhum amigo pra contar nada sobre isso, esse conto foi uma maneira de dividir algo sobre mim com alguém, agradeço a todos vocês por terem lido, pelos comentários, de verdade, sei que esse não foi um fim muito legal e comovente como de costume por aqui, mas foi o mais apropriado e verdadeiro, não sei se vou e quando postarei outro conto, mas se postar, podem ter certeza que será melhor, pois ele não será baseado em fatos reais, então poderei ter mais liberdade na criação e com certeza um final mais decente.
Se alguém quiser meu msn é: leo.alvesmartins@hotmail.com
