Eu deixei os papeis caírem da minha mão e uma lágrima escorreu do meu rosto.
Sabe aquela sensação de boca seca, coração palpitando e uma cachoeira nos seus olhos? Eu sei. Aquela cena congelou na minha mente e eu não tive outra reação a não ser sair correndo. O Doutor Emanuel apareceu na minha frente do nada e nos esbarramos, pedi desculpas e saí correndo. Estava tão nervoso que não conseguia dá partida no meu carro, quando o Mauricio bateu no vidro e me assustou. Ele pediu para eu abrir a porta, ele estava visivelmente abalado, acho que ele me viu e foi correndo atrás de mim. Meu coração estava vazio, assim como a minha alma. Eu dei partida no carro e saí em disparada. Deixando o Mauricio caído de joelhos no chão.
Cheguei em casa e o Phelip estava em casa namorando com o Duarte, eles se assustaram e eu subi correndo. Peguei uma mala e coloquei algumas roupas dentro e roupas do Paulinho também. Ouvi o Mauricio falando na sala, ele praticamente gritou, por mim. Eu tranquei a porta do quarto enquanto arrumava a minha mala. Ele começou a bater e pediu para eu abrir.
- Pelo amor de Deus precisamos conversar!!! – ele gritou do lado de fora.
- Mesmo... conversar como a boca daquela desgraçada foi parar na sua!
- Pedro... não foi tudo aquilo que você viu, ela me beijou, mas eu afastei ela... pelo amor de Deus acredita em mim! – ele gritou chorando.
- Eu acredito no que eu vi... tantas promessas!!! Tudo culpa sua!!! – eu gritei chorando.
Abri a porta do quarto e ele perguntou para onde eu ia. Não respondi nada e desci. Ele segurou forte no meu braço e falou que de lá eu não iria sair até eu saber de tudo. O Phelip ao ver aquela cena se me teu no meu e eu pedi para ele ir pra casa, ele levou a minha mala e foi embora meio contra vontade. O Mauricio estava com os olhos vermelhos, e disse que estava cansado depois de uma cirurgia que levou horas, quando a Marcela o chamou para conversar ele disse que do nada ela havia o beijado. Eu o chamei de mentiroso e disse que eu vi eles se beijando e que ele estava adorando.
Quando eu fiz menção de sair, ele segurou forte e me machucou, eu o empurrei e dei um tapa no rosto dele.
- Nunca mais olha para mim... você ainda pensando que eu tinha dúvidas sobre essa relação, quando quem estava era você? – falei chorando e saindo de casa.
Pensei que ele iria atrás de mim, andava na rua chorando, parece que para chegar na casa da minha mãe eu tive que andar quase 1 quilometro. Fiquei aliviado e triste ao mesmo tempo, pensei que ele lutaria mais por mim. Mas como diz o ditado, quem cala consente. Chamei a minha mãe em particular e expliquei tudo o que havia acontecido, minha mãe me brigou e falou que era impossível.
- Eu vi mãe... não estou inventando ou tendo um ataque de ciúmes. Eu vi. Os dois juntos se beijando... e ouvi da boca dele. – falei chorando.
- E o que você vai fazer?
- Não sei... eu quero morrer mãe.
Subi para o quarto e só fiz chorar, estava cansado, mas não tinha sono, estava com fome, mas não tinha vontade de comer. Queria apenas chorar.
- Mãe? Cadê o Pedro? – perguntou a minha irmã.
- Está no quarto, o Paulinho está no meu dormindo. Seu pai foi conversar com o Mauricio. Mas o seu irmão está irredutível. Ele quer o divorcio.
- Todo mundo no hospital já sabe. Amanhã quando eu vê aquela vaca eu...
- Olha, já está tudo confuso, não vamos atrás de confusão. – disse a minha mãe indo até a cozinha.
Minha irmã subiu e o Phelip estava na porta do meu quarto, com um sanduiche e um suco de maracujá nas mãos. Ele se assustou quando a Priscila se aproximou. Ela fez sinal de silêncio com as mãos.
- Eu estou aqui pensando se eu entro ou não. – ele disse.
- Ele precisa de nós... se fosse comigo, ia querer um afago de irmão. – ela disse.
O quarto estava escuro e a cama cheia de lenços de papel. Meu irmão sentou perto de mim e deu a bandeja para a Priscila. Ele me levantou e sentou mais perto de mim. A Priscila ajustou a uma mesinha e colocou na cama entre as minhas pernas, a minha irmã sentou do meu lado direito e o Phelip do esquerdo.
- Acabou... minha vida acabou... – falei chorando.
- Não... você tem motivos para lutar... não pode se entregar é o que aquela vadia quer... – disse a Priscila me dando suco.
Comi o sanduiche e tomei todo o suco e deitei na cama. O Phelip deixou a mesinha e a bandeja de lado e levantou a minha cabeça e colocou apoiada no colo dele, ficou fazendo carinho na minha cabeça. A minha irmã ficou segurando a minha mão até eu pegar no sono. Acordei no outro dia sozinho, levantei e fui até o banheiro. Olhei no espelho e o meu rosto estava horrível, eu parecia um morto vivo. Escovei os dentes e tomei um banho. Eu não ouvia nada, apenas um zumbido no meu ouvido e a sensação de vazio. Como se eu tivesse perdido algo muito importante, de fato eu havia mesmo.
Na mesa da cozinha a minha mãe dava papinha para o Paulinho, ele estava alegre e não sabia o que estava acontecendo. Sentei na mesa e comecei a chorar, minha mãe fez uma cara de reprovação e eu parei.
- Papai tá triste? – ele perguntou oferecendo a colher para eu comer.
- Não amor... está tudo bem... vamos ficar bem.
Liguei para a Emilly e avisei que não iria trabalhar naquele dia, queria colocar minha cabeça em ordem. Fui em casa e encontrei algumas garrafas jogadas no chão, e tudo de cabeça para o ar. Organizei algumas coisas e não me segurei comecei a chorar. Peguei uma camisa do Mauricio e levei comigo. Decidi ir passear na praia que havia perto de casa, na verdade era legalzinha, mas dificilmente eu ia lá. Corri um pouco, aproveitei a brisa batendo no meu rosto, amaldiçoei a Marcela e pedi a Deus que não quebrasse a cara dela no outro dia, afinal eu tinha um filho para criar.
Meu pai me chamou no escritório dele naquela tarde, ele me explicou que conversou com o Mauricio e que o beijou aconteceu, mas que ele o amava. Meu pai não entendia o que eu sentia por dentro, para mim aquilo foi pior que uma punhalada no peito. Chorei e o meu pai vendo aquilo se compadeceu e me abraçou. Eu era o filho dele e estava precisando de um abraço. Ele disse algumas palavras carinhosas no meu ouvido e depois falou que tudo ia ficar bem, que independente da minha escolha ele iria me apoiar.
- Pai... e o que eu devo escolher? – falei abraçado com ele.
- Aí meu filho... esse é o problema da vida, ela não vem com instruções. Você tem que fazer o que o seu coração desejar. Mas o papai vai sempre estar aqui... Pedro aos meus olhos você ainda é uma criança, que eu devo proteger e amar. – ele disse se emocionando.
- Aiii pai... obrigado por existir na minha vida. – falei chorando.
Passamos a noite conversando, minha mãe fez meu filho dormir e meu pai se recolheu. Fiquei um com a consciência pesado, naquele dia eu mal havia visto o Paulinho, deveria ser forte pelo meu filho agora ele era a única coisa que importava. Fui ao quarto da Priscila e ela não estava lá, provavelmente no hospital. Cheguei ao quarto do Phelip e ele estava dormindo, me aproximei e deitei perto dele. Ainda estava me sentindo vazio sem vida, o mundo para mim não tinha mais cor. E eu tinha medo de fazer algum tipo de loucura, então procurava ficar perto de pessoas.
No trabalho as coisas estava fluindo, todos da diretoria gostaram do comercial que eu fiz para a extensão da clinica.
Muitas pessoas estavam falando mal da Marcela, e os poucos que falavam com ela pararam de falar. No refeitório as pessoas sentavam longe dela, eu e o Mauricio apesar de tudo eramos queridos por todos do hospital, médicos, enfermeiros, serviço gerais, todos eram nossos amigos, mas de todos que estava dando um gelo nela a minha irmã era a mais cruel. A Priscila é daquele tipo de pessoa vingativa, ela luta pelos que ela ama.
- Opa!!! – disse ela derrubando um prato de sopa em cima da Marcela.
- Sua louca!!! Olha o que você fez!!! – gritou a Marcela.
- Louca?! Eu pedi desculpa, tropecei sem querer... aí.. amiga que desastrada que eu sou... me perdoa. – disse a Priscila rindo.
A risada da minha irmã foi tão forte que todos riram junto. A Marcela saiu correndo para o banheiro. O Mauricio entra sem entender muito bem o que está acontecendo, e senta na mesma mesa que a gente. Pedi licença e ele segurou no meu braço.
- Com licença Doutor Mauricio, eu preciso... trabalhar. – falei me retirando.
- Pedro espera eu vou com você! – disse a Priscila.
Cheguei na minha sala e o Mauricio entrou e trancou a porta.
- Doutor eu peço que você se retire da minha sala agora.
- É assim? Por causa de algo que eu nem planejei, eu nem gostei, você vai fazer isso comigo? – ele disse com os olhos vermelhos.
- Não... eu que digo... sabia que eu tive a chance de te trair lá no México... mas sabe o que eu pensei... “Não... eu amo o meu marido... ele é a minha vida”... e você vem e apronta uma dessa comigo... e logo agora que a gente vai ter gêmeos?! – eu gritei chorando.
- Amor... nós superamos tantas coisas... pelo amor de Deus, não acaba com o que a gente tem? – ele disse tentando se aproximar.
- Não... eu... eu... quero o divorcio! – falei sem olhar para ele.
- Não!!! Eu não vou te dar o divorcio. Eu amo você... pelo amor de Deus... você quer que eu faça o que?
- Eu quero que a gente entre num acordo quanto aos gêmeos. Temos que fazer uma decisão, e quanto ao divorcio eu já acionei os advogados... agora Doutor Mauricio você pode se retirar. – falei me sentando.
- Eu não vou desistir de você... – ele disse saindo e batendo a porta.
- Meu Deus... me ajuda!!! – falei chorando.
Realmente talvez eu estivesse sendo um pouco extremo na minha decisão, mas aquela cena do beijo voltava e vinha na minha cabeça várias vezes. Informei ao psicólogo que estava trabalhando conosco e ele falou que era uma decisão difícil de tomar. Depois de uma reunião eu e o Mauricio decidimos ficar com os gêmeos. Ele criaria um e eu o outro e ficaria com a guarda do Paulinho.
No hospital eu procurava sempre evitar a Marcela, mas era quase que impossível. O Doutor Emanuel me chamou para conversar infelizmente o ocorrido no hospital chegou aos ouvidos dele. Ele disse que sempre acreditou na igualdade, e perguntou se eu estava seguro ao pedir o divorcio do Mauricio. Respondi que sim, e que mesmo com tudo o que estava acontecendo eu esperava que o meu trabalho no hospital não fosse prejudicado. Ele riu e disse que o hospital estaria em apuros se eu saísse, por isso tivemos aquela conversa.
Entrei no elevador e quando a porta estava se fechando uma mão para a porta, era a bruxa do 71, ele estava com o vestido manchado, acho que outra pessoa caiu em cima dela. No segundo andar o Mauricio entrou as coisas não poderiam ficar mais esquisitas. Ficamos calados, e o meus olhos começaram a encher de lágrimas. O Mauricio apertou o botão de parar do elevador e chorando pediu.
- Marcela por favor... fala para o Pedro que não aconteceu nada entre a gente!
- Como assim? – ela disse se fazendo de desentendida.
- Fala para ele...
- O nosso beijo de amor! Mas foi tão puro e sincero! – ela disse séria.
Eu empurrei ele e liguei o elevador novamente, mal a porta se abriu eu saí correndo.
- Como você pode? – ele perguntou chorando.
- Mauricio, você é meu... temos que ficar juntos! Somos médicos, bonitos e bem sucedidos... – ela disse tentando abraçar ele.
- Sabe quando eu vou sentir algo por você? Nunca... eu posso passar a vida inteira sozinho, mas ficar com alguém que engana as pessoas e destrói vidas, eu nunca vou ficar. E o pior é que eu não tenho raiva de você, eu tenho pena. Você é patética. – ele disse saindo do elevador.
Os pais do Mauricio foram lá em casa, coitadinhos, eles conversaram com meus pais que queriam entregar o apartamento que nós demos. Meu pai foi a loucura, ele disse que mesmo nós nos separando eles seriam da família. Minha mãe chorou abraçada com a dona Antônia. Eu estava cego, realmente não percebi que estava causando dor só para mim, estava afetando a todos.
Eu e a minha irmã fomos a shopping comprar roupas e quando ela começou a experimentar milhares de vestidos, quando eu pego outro vestido para ela experimentar a Marcela aparece carregando algumas roupas. Abaixei minha cabeça e pedi força a Deus.
- Sabia que você era bichinha, mas não sabia que vestia roupas de mulher. – ela disse com ironia.
- Senhora... não permitimos insultos de qualquer tipo nesse provador. – disse a vendedora.
- Quem é você para mandar ou desmandar aqui? É apenas uma vendedora inútil.
- Nossa Marcela a cada dia você se supera... ela pode ser uma vendedora sim, e eu posso ser uma bichinha, mas eu tenho certeza que nenhum de nós dois carrega essa alma negra que você. Você é uma pessoa podre Marcela... do que adianta ter beleza, dinheiro, ter conhecimento se você é uma pessoa má, rancorosa e preconceituosa. – falei.
No momento em que ela ia me dando um tapa a minha irmã sai do provador e fica na minha frente, recebendo a pancada que era para ser minha.
- Ahh não!!! – gritou a Priscila. – Você viu isso? – ela perguntou olhando para mim.
- Eu... eu... vi... vi sim... ela te bateu. – falei.
- Você viu isso senhora? – ela disse olhando para a vendedora.
- Vi sim senhora.
- Hum hum... você não deveria ter feito isso!!! – gritou a Priscila.
Minha irmã saiu agarrando a Marcela pelos cabeços pelo shopping, ela gritava e a minha irmã dizia que era para ela aprender a respeitar as pessoas. Todos começaram a olhar.
- Essa mulher aqui gente!! Tem todo o conhecimento que você pode imaginar, mas tem a mente pequena!! Vamos ver se ela enxerga a luz!!! – gritou a minha irmã empurrando ela na piscina que ficava bem em frente ao shopping.
- Sua louca!! Eu vou te processar!!! – ela gritou.
- Vai é vadia!! Pois processe que eu tenho três graves acusações contra você gravada lá na loja!! Racismo e agressão!!
Cara você está tão acabada!!! Amargurada!!! –gritou a minha irmã saindo da piscina e cuspindo.
No outro dia no hospital a Marcela era o comentário do dia. Todos estavam sabendo da surra que ela levou da minha irmã. Ela denunciou a Priscila na administração do hospital, mas não aconteceu muita coisa afinal a confusão aconteceu fora da área de trabalho. Naquela tarde eu teria a minha primeira reunião com o advogado de divorcio.
- Pedro... você sabe que a separação de vocês é um pouco diferente de um casal hetero. – o advogado explicou.
- Sim eu sei... mas eu quero fazer isso... eu preciso me livrar desse fardo.
- Você tem certeza que essa é a única maneira? – ele perguntou.
- Eu estou te pagando para me divorciar não estou pedindo conselhos. – falei sem pensar.
- Tudo bem.
- Nossa Villar me perdoa... pelo amor de Deus... toda essa agitação... eu não estou pensando direito.
- Pedro, eu soube que ele vai ficar com um dos gêmeos... se você quiser você pode ficar com as três crianças. – ele disse. – E então?!! Será melhor para você, deixar ele sem nada, nenhum vinculo com você!
“Meu Deus... eu cheguei tão longe... o que eu tenho que fazer?”
*Se vocês curtiram, por favor comentem e votem no meu conto e ajudem a divulgar também para amigos e colegas. Agradeço vocês e boa leitura.
Se tiver dúvidas ou comentários podem enviar para o email:
contosaki@hotmail.com