Jeff sempre foi um gay atentado aos romances. Acompanhava novelas, contos de fadas, filmes românticos e sempre adivinhava o início e fim dos casais. É claro que sabia que neles havia um sexo quente, só que era censurado. E censura era algo difícil dele conseguir visualizar.
Lá estava Paulo e Diogo. Os dois nus, deitados na cama, suados, olhando para o teto e recuperando o ar depois de uma fervorosa foda.
— Foi incrível!
— Incrível é uma qualidade minha! — disse Diogo sentando.
— Essa trepada foi ao total extermínio do meu casamento. E a minha faculdade. — concluiu Paulo sentando-se.
— Ah, também tem o nosso novo emprego...
— Seu né? Eu consegui arranjar um novo emprego faz tempo!
— Exibicionista é qualidade só minha. Não a roube! — os dois riram, beijando-se — Além do mais, a quem importa?
— A mim! — gritou Jeff, pulando em cima da cama, sem se importar com a nudez dos amigos — A Super Bicha Pobre que é bancada pelas bichas finas!
— Jeff! — gritaram Paulo e Diogo juntos, constrangidos.
Aquele era um dia especial. E finalmente chegou a noite especial. Jeff e Diogo estavam arrumados, a espera de Paulo na sala. Diogo não escondia seu entusiasmo.
— Hoje é um dia especial. Ele já tem conhecimento dos melhores filmes, livros e músicas gays. Mas hoje ele pisará num universo jamais contemplado por seus olhos.
Jeff aplaudiu desanimado e ironicamente o suspense idiota do amigo.
— É sério! Tem tudo que ser perfeito. Nessas baladas gays tem de tudo que é tipo. Ah, e ele ainda quis escolher a roupa sozinho. Abstrai! Ele tem bom gosto. É ótimo em várias coisas, brilha com sua leve perfeição...
— Fabuloso! Os contos de fadas são sempre os mesmos. A bicha Alice tem o coração quebrado, jura revolta e não se apaixonar. Mas encontra um novo príncipe encantado e luta contra a paixão, mas acaba não resistindo!
— Eu não tou apaixonado por ele.
— Esse é o perigon dos boys toys. Sempre digo: Use e descarte junto com a camisinha.
Diogo ia protestar, mas foi interrompido com a chegada de Paulo. Ele estava lindo. Com sua barba por fazer, rosto de mau, cabelos cortados a maquina 3 complementando com sua calça jeans um pouco apertada e surrada, e uma camiseta branca com os primeiros botões abertos exibindo um colar colado em seu peitoral.
— Uau! — exclamou Diogo.
— Vamos? — disse Paulo sorrindo — Ah, espero que não liguem, mas eu chamei o Wander, o irmão da Suzana. Ele nunca foi a uma boate gay, então achei que ele seria uma boa companhia.
— Não haveria outra melhor — respondeu Diogo num tom irônico quase imperceptível
Paulo saiu andando e Jeff aproveitou para provocar Diogo.
— Ops! Admiração. Ops, again! Ciúme. Depois vem o amor?
Diogo deu uma cotovelada em Jeff, que riu, não cansando de provocar o amigo.
Ao chegarem à boate eles encontraram com Wander, um rapaz negro de corpo atlético, pois fazia natação, olhos castanho escuros, cabelos cortado a maquina combinando com um belo cavanhaque. O jeito afeminado de Jeff de cara o incomodou e ele não escondeu o seu desprezo, mas essa questão logo foi ignorada quando Paulo lhe deu um forte abraço. Diogo sentiu um ligeiro ciúme, porém ciúme maior foi ver Paulo sendo cantado por cada trecho que passava, e na intenção sempre é claro de protegê-lo, Diogo sempre afastava os rapazes.
No entanto houve um descuido. Enquanto Diogo, Wander, Paulo e Jeff estavam no open bar, um ‘ex’ do primeiro, passou deixando sua carteira cair. Ao perceber que foi o único a notar o que ocorrera, Diogo levantou-se sem avisar, pegou a carteira e entregou ao dono, acabando por ficar entretidamente pressionado. Ao perceberem o sumiço do cafuzo e ao avistarem com outro, Jeff foi o primeiro a protestar.
— Ele ta com o Vini? A barbie fake dadeira com neca mati!
— Eu não vou ficar aqui parado! — interrompeu Paulo, com raiva, saindo.
— Ei! Aonde você vai? Você é nosso newgay!
— Hã?
— Newbie, novato, bicha que acabou de sair pelo armário de Nárnia! — explicou — Os lobos vão te devorar!
— Eu sobrevivo na barriga deles! — Paulo virou-se para Wander — Você vai ficar bem?
Wander assentiu a cabeça positivamente, mas nada lhe agradava a presença do de Jeff, que deu de ombros, pois já estava acostumado com o julgamento das pessoas.
Após a boate, as coisas mudaram. Diogo não conseguia encontrar Paulo em casa, pois ele intercalava o trabalho, faculdade e noitadas. Isso amedrontava Diogo. E com esse medo, já amanhecendo, Diogo estava sentado tomando seu café, quando Paulo entrou.
— Parabéns! Conseguiu me evitar por três dias. E meus pêsames. Ficou três dias sem trepar com o melhor. — sorriu Diogo debochado.
— Me desculpa. É que você planejou tudo e me deu um perdido naquela noite.
— Ah não! Você não viu o cara que deixou a carteira cair? Era um ex-peguete e ficou me alugando. Quando eu consegui escapulir, grosseiramente é claro, você não tava lá. Até me preocupei, mas você tinha o suporte técnico Wander a tiracolo!
Paulo olhou incrédulo para Diogo, e pensou em rebater mas desistiu. O silêncio do constrangimento imperou. Para quebrá-lo, Diogo agarrou Paulo, o beijando calorosamente, mas logo Paulo se afastou.
— Ei! É uma forma de dizer que senti saudades sua. Dos papos amenos até os selvagens.
— Descobri que posso ter papos selvagens e prazerosos além do seu excêntrico cu — ao ver a grosseria, Paulo tentou consertar — Mas o seu papo é o melhor. E o cansaço ta bem maior.
Paulo e Diogo sorriram amenos. Diogo aproximou-se e acariciou o rosto de Paulo.
— Ok. Só se cuide — disse dando um selinho em Paulo e saindo, sem deixar transparecer a sua tristeza.
A semana se passou e pra Diogo a melancolia lhe fez companhia. Quase não conversava, transava, encontrava Paulo, não o tinha mais pra si. Sentia que a perda crescia entre eles.
— Ele ta deslumbrado com essa vida...
Diogo falava algumas palavras deitado no colo de Jeff, que acariciava seus cabelos. Mas logo Diogo levantou-se, decidido.
— O meu lance com ele é sexo!
— Aham... Senta lá, Claúdia!
— Sempre foi! É Química. Tesão no olhar e com mero toque, o sexo rolar. Felicidade! Sexo!
Neste momento Paulo entrou pela porta, e o Diogo já foi logo o agarrando, beijando. Porém, discretamente, Paulo se desvencilhou e afastou-se.
— Eu tô um caco! Não descobri a forma de comparecer com todos... — riu Paulo amenamente — Isso você não me ensinou.
Paulo deu um selinho em Diogo e foi para o quarto. Jeff se aproximou e deu tapinhas animadores no ombro do amigo, que se desvencilhou com raiva.
— Caso baseado só em sexo acaba rápido.
— Eu sei disso!
— E se é só sexo, porque você ta tão abalado que acabou?
Finalmente Diogo percebeu que a negação não oculta a verdade. Sim, desde o término do seu relacionamento com Gabriel suas trepadas resumiam a sexo casual. Mas a chegada de Paulo mudou tudo. Ele se envolveu afetivamente, comprando a luta e perdendo até seu antigo emprego por um cara que nem conhecia, e isso jamais seria só uma trepada. No inicio talvez, mas todas as coisas contribuíram pra uma amizade, trepada, companheirismo. E geralmente esses ingredientes juntos resultam no amor..
Já Jeff encarava o preconceito. Ele dividia a mesma sala com Wander, que estava de pé, a espera de Paulo. Era um clima bem hostil.
— Pára de me julgar com esse seu olhar hipócrita, sua Naja! — gritou Jeff levantando-se — Posso ser essa mona louca, mas nunca desrespeitei ninguém!
— Mas nasceu homem e vive desmunhecando pra tentar ser mulher! Grita por atenção e deixa todos pensarem que ser gay é ser uma bicha que sonha em ter uma buceta!
— Eu posso exagerar no meu jeito, mas nem todos gays tem a sorte de se esconder como hetero na multidão, meu amor! Os gays machinhos me acusam e heteros me julgam. Me restam algumas rachas que adoram esse meu jeito divertido!
— Seu jeito é escandaloso, repugnante e desnecessário! Até a Bíblia diz que os afeminados não vão...
— E você acha que falando grosso na rua, e gemendo como uma bitch escandalosa com a tora enfiada no cu, as chamas do inferno não vão dourar os seus lindos pelinhos da bunda?! E sobre Bíblia, o Diogo me contou que você ta no seminário pra ser padre. Atira a pedra na Maria Madalena, seu grande fariseu de bosta!
Jeff saiu com raiva e chorando. E ao olhar para a porta, Wander encontrou nos olhos de Paulo a reprovação.
— Esse Wander é um grosso! Também, irmão de quem é... — falou Diogo, subindo rapidamente as escadas com Jeff.
— Recalque define. Agora foco em subir de escadas até o apartamento e falar sobre o Paulo.
— Ok. Talvez eu esteja apaixonado por ele. Oh merda, eu estou!
— Choquei na banheira térmica! Ele admitiu toda!
— Eu não queria. Nunca imaginei que ele me deixaria assim, mas eu sinto falta do sexo dele! E odeio vê-lo com outro, e talvez seja ciúme de amigo. Mas sorrio pensando nele, mas talvez a amizade que é especial. Não! Sem drama gay! Eu gosto dele. — concluiu Diogo parando na escada.
— E daí? — argumentou Jeff continuando a subir os degraus.
— Como é que é? — voltou a subir — Você enche meu saco, derrete toda minha frieza que me serve de proteção, pra me lembrar o quão eu sou patético!
— Ufa! Chegamos.
Jeff e Diogo chegaram ao topo da escada, a poucos metros de seu apartamento.
— Não é preciso admitir que gosta para sentir. Depois de admitir, vem o agir. E o que você vai fazer agora? Do outro lado há alguém que você pode brincar de contos de fada, talvez até pra sempre. E nem todos tem esse privilegio.
Diogo olhou para Jeff pensativo, mas abriu um sorriso e acenou positivamente. Ele seguiu correndo para o apartamento, sendo seguido por Jeff, mas ao abrir a porta viu Paulo e Wander se beijando no sofá. Os dois se afastaram e olharam para Diogo, que emitia varias emoções em um olhar perdido.
Sim, Jeff até sabia como terminava os contos de fadas. Mas esqueceu das mágoas e decepções que podem ocorrer durante os contos até chegar o glorioso fim. Isso se aquele não fosse o trágico fim.