“Meu Deus... eu cheguei tão longe... o que eu tenho que fazer?”
- E então Pedro?! Posso abrir o processo? – ele perguntou.
- Sim... sim você pode! – falei chorando.
Eu estava muito triste, não queria apelar para aquela artificio, mas seria melhor assim. O doutor continuava a nos atualizar sobre a nossa mãe de aluguel. Eu ficava muito feliz em saber que os meus filhos estavam se desenvolvendo saudáveis, mas minha barriga parecia que tinha um buraco negro, quando eu tentava pensar no futuro. Era tanto coisa na minha vida que eu havia esquecido que estava chegando o aniversário do meu filho. Perguntei para a minha mãe se iriamos fazer alguma coisa devido à situação. Fui até a sala do Mauricio e ele estranhou.
- Precisamos conversar... sobre o Paulinho. – falei me segurando.
- Claro, ele está bem? Quando eu vou poder ve-lo? – ele perguntou.
- Quando você quiser... se estiver livre hoje e quiser pegar ele na creche, sem problemas para mim. – falei.
- Tudo bem... e o que você gostaria de conversar?
- O aniversário dele está chegando é no...
- Sábado... eu sei. Eu não esqueci, na verdade eu já havia combinado algumas coisas com a tua mãe... antes... do... você sabe.
- Tudo bem... eu só queria te falar... a festa vai ser no sábado mesmo... chamei alguns parentes e amigos... espero que você não se importe.
- Não... tudo bem... Pedro... eu acho que você pode voltar para casa. Me mudei para o apartamento dos meus pais. – ele falou segurando o choro.
- Tudo bem... depois conversamos sobre isso, tenho um dia cheio.
Quando fechei a porta, meus olhos ficaram vermelhos e eu fiz força para não chorar. Fui até um local onde eu me sentia bem, o berçário. É incrível como criança ergue a nossa autoestima não importa a situação, o riso contagiante, mas o que eu mais amo nas crianças é a inocência, não há maldade, nem perversão. Eles são puros, anjos dos céus. Olhei para um que estava meio encolhido e ri. Quando o meu celular toca.
- Alô?
- Pedro, é a Luciana. Amigo desculpa está distante esses dias, mas vamos almoçar hoje?
- Claro.
- Beleza, estou passando para te pegar aí.
Quando chegamos no restaurante eu mais chorei do que comi. E a Luciana disse que iria passar, que não era para eu tomar nenhuma decisão estupida que me fizesse sofrer depois. Falei que só aquela cena me fazia sofrer.
- Pedro... você não entende, o Mauricio nunca seria capaz de beijar aquela mulher.
- Luciana, se pelo menos alguém tivesse me contando, mas eu vi... eu vi os dois agarrados.
- Aí amigo... eu realmente não sei o que fazer. – falei chorando.
- Não fica assim... estamos do teu lado. – ela disse me abraçando.
Conversamos bastante naquela tarde. Graças a Deus que todos os meus amigos estavam me apoiando, seria difícil não contar com o apoio deles naquele momento. Os preparativos do aniversário do Paulinho me tiraram um pouco do sério. Estava um pouco estressado de mal com a vida, e um pouco insensível. O Mauricio chegou de tarde para ajudar na organização, deu um pouco de trabalho. Quem tem filho ou ao menos foi numa festa infantil sabe como é.
- Pedro eu convidei o Duarte... tem algum problema?! –perguntou o Phelip.
- Sim, mas antes vê se toma um banho porque a situação não tá fácil para você. – falei brincando.
- Como se tu tivesse limpo né? Cheguei do futebol agora e eu não sabia que teria que prestar trabalho escravo.
- Falar em trabalho escravo quando você vai começar a trabalhar na empresa?
- O papai falou assim que eu me formar, quero começar a faculdade. Mas antes queria viajar com o Duarte, será que a mãe dele iria deixar?! – ele perguntou com cara de pidão.
- Não... não... não... eu não vou pedir da mãe dele para vocês viajarem. Ele tem 17 anos ainda não pode – falei enquanto organizava algumas mesas.
- Por favor!!! Puxa... eu queria ter uma relação igual a tua e a do.... – ele disse se tocando da besteira que estava falando. – Tudo bem, se você não pode... eu entendo.
- Aiii Phelip... tá bom, vou conversar com ela. Mas não agora. – falei entrando. – E vai tomar banho que até as ornamentações do Beckyardigans estão reclamando do fedor.
Fui me arrumar para receber os convidados e tive que colocar uma máscara naquela noite, mesmo o meu coração estando despedaçado. O meu filho estava lindo, comprei uma roupinha maravilhosa para ele e descemos. Algumas pessoas olhavam para mim com pena, eu detesto isso. Agi o mais normal que eu pude. Cumprimentei, brinquei e sorri.
Olhei para o lado e o Mauricio estava conversando com alguns amigos do futebol, ele parecia normal também, ou estava usando o mesmo artificio que o meu.
- Oi Duarte. – falei.
- Olá Pedro... ei valeu por ajudar a gente a dá uma fugidinha. – ele disse. – E onde está o bebê? Eu trouxe um presente.
- Está com a minha mãe. Pode ir lá. – falei rindo. – Ei.. vem cá. – falei puxando o Phelip.
- Lembra o que a gente conversou?
- Sim... não dar mancada.
- E você me chega, quando abraçando o menino... que tipo de discrição é essa?
- Tá bom... desculpa!
Minha tia chegou e fez o maior escândalo do mundo. Disse que isso não poderia ter acontecido se fosse com ela era teria matado a mulher. Pedi para ela ter calma e a levei para o quarto.
- Tia, está tudo bem. Temos um filho e é normal ficarmos no mesmo espaço. – falei.
- Não meu filho... homem safado temos que pegar pelo cabresto.
- Tudo bem tia... a senhora precisa descansar.
Eu estava maluco, minha cabeça girava e eu pensava justamente a mesma coisa da minha tia, mas como já disse não gostaria de ser preso. Queria fugir um pouco daquilo tudo, e decidi me refugiar no quarto do Phelip, eu não o tinha visto a festa toda, achei que tinha escapado com o Duarte, afinal adolescente é tudo assim impulsivo. Quando eu abro a porta dou um grito mais alto do mundo. O meu irmão em cima do Duarte na posição frango assado.
- Ohh Deus!!! Sinto Muito!!! Eu não vi nada!!! – gritei fechando a porta. – Caramba!!!
Quando desci a minha irmã chegou e falou que a Marcela estava na festa e estava me procurando. Eu fui até a direção dela preparado para o barraco quando eu ia gritar “Saí Daqui Piranha”, eu tive que me segurar... na verdade era a irmã do Mauricio, infelizmente ela tinha o mesmo nome da bruxa.
- Cade o meu sobrinho mais lindo? – ela perguntou.
- Está... hum... com o pai dele eu acho... – falei tentando me recompor.
- Pedro... eu sei que a gente teve nossas divergências. Mas puxa, o meu irmão te ama.
- Marcela... eu não quero conversar agora. Vamos curtir a festa... você já deu um abraço no Paulinho?
- Não, na verdade tenho que dar o presentinho dele.
- Vai lá... acho que eles estão no jardim.
A Marcela procurou um pouco e achou os dois brincando no jardim. Ela se aproximou e sentou ao lado deles.
- Essa é a cena mais linda que eu já vi na vida. – ela disse erguendo os braços e pegando o Paulinho.
- Tudo bem? Chegou quando? – perguntou o Mauricio.
- Cheguei a poucos minutos vim direito para cá. E como está o bebezão da titia?! – ela perguntou fazendo uma voz infantil.
- Titia trouxe presente? – ele perguntou.
- Claro que eu trouxe meu lindo. – Ela disse sentando ele na grama e abrindo o presente.
-Eba.. me dá. – ele disse praticamente puxando o brinquedo.
-E ai meu irmão?
- Você já deve estar sabendo né? – ele disse com os olhos marejados.
- Aí Mauricio, a Marcela? Eu sei que o que eu vou falar é o cumulo do absurdo, mas eu odeio a Marcela. Lembro que ela sempre ficava te diminuindo. Era uma verdade porca.
- Eu não fiz nada... esse é o problema. Ela me beijou e eu me afastei.
- Mas isso aconteceu justamente na frente do Pedro?
- Eu sei... mas ele... eu... – ele começou a chorar.
- Calma... calma... eu to aqui. Eu sei que esses últimos anos eu não fui um exemplo de irmã, e sei que o nosso relacionamento nunca vai se comprar ao deles, mas eu te amo meu irmão e você não está só. – ela disse abraçando ele e chorando. – Tudo bem chorar... eu sei como é com as suas emoções, está tudo bem... vamos ficar bem.
- Obrigado minha irmã. Obrigado mesmo. Você faz muita falta aqui.
- Mauricio, Marcela é hora do bolo. – gritou a mãe deles.
“Parabéns para você... nessa data querida muitas felicidades, muitos anos de vida”
A pessoa que inventou essa canção deve ser a menos conhecida do planeta. Mas ele mal sabe a repercussão que a ideia dele deu. Fiquei na esquerda e ele na direita, fizemos o nosso bebe apagar a velhinha ( não nossas mães), de três aninhos. Ele deu sinal de sono e o Mauricio me pediu para levar ele até o quarto da minha mãe e faze-lo dormir. Eu permiti e ele foi, na verdade o Mauricio sempre foi uma pessoa educada, ele sabia que não precisava pedir, afinal ele era mais pai do Paulinho do que eu. Ele cuidou do Paulinho quando estava doente, me convenceu a adota-lo então ele era o pai do meu filho.
As crianças aproveitaram a festa para comer doces e brincarem. Eu sentei na cadeira da varanda e tomei uma taça de vinho. Estava divagando nos pensamentos quando uma mão me toca o ombro. Era o Mauricio estava com ar de cansado e pediu para conversar comigo. Pedi para ele sentar.
- Eu recebi a intimação hoje... você quer tirar os meus filhos de mim? – ele disse chorando.
- Não... é isso. É que... você é médico, tem um horário louco, pelo menos comigo eles vão ter estabilidade.
- Está falando que eu não sou capaz de cuidar dos meus próprios filhos?! – ele gritou.
- Não... abaixa o tom de voz... eu estou dizendo que vai ser melhor para todos. – falei saindo.
- Sempre você... você manda em tudo... você... você!!! – ele disse se levantando. – Eu sempre te apoiei, sempre estive do seu lado nos momentos mais importantes e triste da sua vida... eu estava lá... eu... e não você! – ele disse saindo.
Segurei na parede e comecei a chorar, agora tinha certeza que ele não me amava mais... havia perdido o grande amor da minha vida. Minha mãe falou que o Paulinho estava realmente dormindo e eu fui para a minha cama. Quando cheguei o Phelip me parou. Estava totalmente embaraçado e com vergonha.
- Ei... tudo bem... é normal, mas deveria trancar a porta do quarto. Já pensou se fossem os nossos pais ou algum parente? – perguntei.
- Ei dorme comigo hoje. Acho que o Duarte terminou comigo. – ele disse triste.
- Como assim?
- Depois que você fechou a porta ele levantou se arrumou e saiu correndo. Nem deu tempo de eu vestir minha roupa.
- Pode ser... podemos ver um filme? Quero sorvete.
- Pode ser, eu pego o sorvete... chocolate ou baunilha? – ele disse andando para a escada.
- Os dois. – falamos praticamente juntos.
Fui até o quarto e revirei em alguns DVDs havia apenas comédias românticas, me diz se uma pessoa com dor de cotovelo poderia assistir a um romance?! Até que achei.... O Massacre da Serra Elétrica. O engraçado é que eu sentia falta do meu irmão Paulo e com o Phelip era diferente era como se ele fosse uma extensão do meu irmão. Dormimos depois de devorar o sorvete inteiro.
Acordei na praia. Aquele sonho para mim era familiar, a mesma sensação de quando perdi meu irmão. Será que aquela praia só aparecia na minha quando eu estava mal. O que será que aquilo representava na minha vida?
*Se vocês curtiram, por favor comentem e votem no meu conto e ajudem a divulgar também para amigos e colegas. Agradeço vocês e boa leitura.
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