Naquela manhã eu tinha acordado mas enrolei na cama, que era desconfortável pra caralho diga-se de passagem. Dormi em um quarto que tinha duas camas, uma de solteiro e outra de casal. Eu fiquei na de solteiro enquanto três outras pessoas dividiam a de casal. Ate porque eu sou um cara grande não daria certo dormi com tanta gente na mesma cama, fora que o fato de eu ser gay não ser segredo pra ninguém, meio que de maneira velada preferiram me deixar dormir sozinho em uma cama. Na verdade Bruno que costumava dormir naquela cama sozinho. As palavras exatas foram: “-É mais fácil dormir com um touro brabo do que com Bruno”, ele se mexe demais na cama, e este por sua vez cedeu a cama para mim e dormiu no sofá da sala, pelo menos essa deveria ser a historia oficial, mas não acredito que ele dormirá sozinho naquela noite. Éramos um grupo grande, em torno de 15 pessoas, embora fosse grande a casa, não havia quarto para todos.
Acordei de ressaca, eu sou o tipo que duas doses de uísque ja bastam para me deixar de ressaca. Peguei o celular em baixo da cama e o aplicativo de mensagens de voz informava que a caixa estava cheia, 30 mensagens da mesma pessoa. Justin, decidi que não iria ouvir naquele momento, afinal eu já sabia do que se tratava. Minha relação com Justin estava errada desde sempre. Eu era apaixonado por ele quando o conheci e antes de saber da existência da família dele. Depois viramos amigos para depois reatarmos, porem não sentia por ele mais a mesma coisa, na verdade eu estava apaixonado por outro. “Quer saber? Justin que cuide da familia dele”. Levantei, lavei o rosto e desci a procura de Bruno.
Ele estava no mar, já havia saído da água e conversávamos. Eu estava pronto para dizer a ele o que sentia, quando ela chegou.
Ela nem me deu bom dia, se agarrou nele e beijou a boca, longa e demoradamente.
Eu observava, e conforme os segundos daquele beijo se passavam um ódio crescia em mim proporcionalmente ao tempo do beijo.
Sandra: -Bom dia meu Adonis.
Bruno com uma cara de safado que nunca tinha visto antes: -Bom dia minha linda.
Sandra olhando pra mim e com um sorriso que tenho q adimitir, era bonito: -Oi, bom dia!
Eu bem seco: -Bom dia.
E em seguida me levantei rapidamente da areia.
Eu: -Bem o papo tá bom, foi tudo ótimo, mas preciso voltar para São Francisco. Tchau Bruno, Sandra, divirtam-se
E fui me virando e indo em direção a casa, ainda ouvi Bruno me chamando mas ignorei.
“Puta merda, é lógico, um homem do cacife dele dando mole por ai, alguém ia pegar, claro, eu ja sabia que isso ia acontecer, sempre soube, e eu pensando em me abrir pra ele...”
Entrei na casa, juntei minhas coisas desci me despedi do pessoal apressadamente:
Eu: -Lembrei que tenho que entregar um relatório amanhã no trabalho, havia me esquecido totalmente. Preciso voltar pra casa!
Essa era a desculpa para todos do grupo que estavam na sala quando fui saindo. Entrei no carro, dei uma ré para sair da vaga e quando comecei a ir para frente ouvi as pancadas na lataria do carro, na parte de trás. Freiei e Bruno apareceu na janela fazendo sinal para que eu a abrisse. Ao abrir a janela perguntei:
Eu: -O que foi?
Ele passou a mão para dentro do carro de abriu a porta por dentro, entrou se sentou e bateu a porta
Bruno: -Nada, pode ir. Porra quase não te pego.
Eu: -Você vai comigo?
Bruno: -Claro, eu não vim com você?
Eu: -Mas e o pessoal ai...
Bruno: -Eles não vieram comigo não primo, não sei deles não.
Eu: -Cara não quero estragar o seu fim de semana.
Bruno: -Não ta estragando. Você disse que não queria ficar sozinho, eu não vou te deixar sozinho.
Eu ri de leve e acelerei indo embora. Fizemos uns 20km calados, sem falarmos nada, cheguei a pensar que ele estivesse irritado. A rodovia seguia beirando o oceano quando passamos em frente uma baia onde não haviam construções, apenas o mar.
Bruno: -Caraca! Toda vez que passo por aqui fico loco pra dar um mergulho nesse lugar, isso aqui é demais.
Eu: -Então vai ser hoje.
Sai da rodovia estacionei o carro e fomos a praia. Sabe, algumas coisas em Bruno são apaixonantes. Não me refiro ao físico do seu corpo, ou ao desenho do seu rosto nem a nada palpável. São simplesmente suas atitudes. Sua maneira de agir. Como ele fica feliz com coisas simples. Ele parecia uma criança apenas por estar no mar. Essas coisas me fascinavam nele.
Bruno: -Vem tu também primo!
Eu que o observava de fora da água: -Não mesmo!
Bruno: -Vem cara, ta massa!
Eu balançando a cabeça em negativa: -Cara isso deve estar gelada, vou ai não.
Ele fez uma cara tipo quem diz “Ah! Não vem não?”, e começou a sair da água e veio em minha direção. Eu apenas fiquei parado vendo aquele homem andando para fora da água. Ele chegou perto de mim e disse:
Bruno: -Ja que Maomé não vai a montanha, eu levo a montanha ate Maomé.
Quando eu ia dizer que o ditado estava errado, eu pude pela primeira vez ter alguma dimensão da força de Bruno, ele pegou por um braço com uma mão, pela cintura pela outra, me retirou do chão e me jogou sobre o ombro esquerdo dele como se eu fosse feito de isopor.
Eu: -Bruno espera...
Bruno: -Porra de espera rapa!
E correu pra o mar e me arremessou na água tal e qual um boneco de pano. Quando fiquei em pé dentro da água fiz uma cara seria, notei que ele se assustou com minha cara.
Eu: -Que porra é essa velho! Você é forte pra caramba!
Dai começamos a rir. Meu deus do céu, que momento legal tivemos ali. Eu andava estressado e chateado e meio que não lembrava mais porque tinha me apaixonado por ele. Ainda que estivesse completamente arriado por ele, eu nem lembrava mais como isso começou, mas ali, naquele momento, brincando na água, dando risada por besteiras que trocávamos, e eu inutilmente tentando meter a cabeça dele na água para dar um (Como chamam na Bahia) caldo nele. Putz, foi um dos momentos que vou lembrar para sempre, não por minha memória eidética, mas sim por que guardei no coração.
Sai do mar e caí deitado na areia ainda rindo, ele se sentou ao meu lado.
Eu: -Que legal hein cara?
Bruno: -É irmão, muito bom, me ligo no mar. Tenho uma relação com o mar que sei la man. Eu adoro isso aqui.
Eu: -Deve ta sendo duro morar aqui né?
Bruno: -Um pouco, mas tipo, ta melhor do que lá saca? Chance de recomeçar. Não quero viver na roça como meus pais. Sei que nunca vou ter a vida que tu tem, mas a que ja to levando ta melhor, bem melhor.
Eu: -Isso é so o começo cara, você vai mais longe que isso. E eu vou te ajudar.
Bruno rindo satisfeito: -Ta vendo? Eu precisava de alguém como tu pra me ajudar primo. Nunca tive isso na vida.
Eu apenas sorri
Bruno: -Qual foi?
Eu: -Lembrei de Sandra. Você largou ela la e saiu assim?
Bruno: -Ah cara, Sandra é só um pega pra aliviar a tensão. Nem quero mulher no meu pé. Ali era só pra descarregar. Tu é mais importante que essas vadias.
Eu sem conseguir esconder o sorriso de alegria por ouvir aquilo: -Porra, valeu pela consideração.
Bruno: -Não é consideração.
Eu: -Não?
Bruno: -Não.
E ficamos um pouco mudos.
Eu: - Bruno, o que houve que te fez aparecer com o supercilio assim?
Bruno: -Primo, se eu te contar tu vai se irritar. Não quero isso, nem quero te deixar mal com ninguém. Eu resolvi o problema, ta tudo tranks, não precisa se preocupar com isso mais.
Eu claramente confuso: -Como assim?
Ele só balançou a cabeça.
Eu: -Bruno, a gente esta passando por uma situação que ta gerando um clima estranho entre nos dois, eu não gosto disso, gosto desse clima que estamos vivendo agora. Não deixa isso se perder novamente. Me diz o que aconteceu.
Bruno respirou fundo: -Olha, eu não quero que tu faça nada depois que eu te contar. Você promete?
Eu: -Prometo
Bruno: -Teu namorado andou meio irritado comigo não sei porque e me mandou um recado.
Eu gelei
Eu: -Como é Bruno?
Bruno: -O teu namorado, o Justin, mandou uns amigos dele pra me darem um recado.
Eu fiquei atordoado com a noticia.
Eu: -Qual recado?
Bruno: -Que aqui não é o meu lugar, que eu tenho que voltar para o Brasil e que se eu não voltasse em 30 dias a próxima surra seria seguida com uma denuncia de agressão contra ele e uma ligação para a imigração.
Eu fiquei mudo.
Bruno: -Eu saquei que vocês tava se pegando a uns tempos dai quando fui falar com ele do Seguro Social disse pra ele que ja tava sabendo e so queria que ele não sacaniasse com você, porque ele é casado e tals, acho que ele não curtiu e me devolveu esse recado.
A única coisa que eu consegui dizer foi: -E como alguém foi capaz de fazer isso em você?
Bruno: -Isso o que?
Eu: -Te dar uma surra.
Bruno: -Primo eu sou forte e sou bom de braço, mas não sou invencível ne? Eram em três e três monstros grandes, eu nem pude me defender, dois me pegaram e me seguraram e o que me deu o recado me acertou o direto na cara, por isso que foi so o supercilio que teve problema, os caras eram grandes, eu podia ate machucar eles um pouco, mas eles iam me quebrar todo se eu parto pra uma briga ali.
Eu continuava calado.
Bruno: -Primo ta de boa, ele cismou. Ele sabe que tu tem um tesão ae por mim, ta tranqüilo, eu não vou procurar revida não. Deixa lá, mas eu não vou embora não. Não vou comer reggue so porque ele ta ciumando de um tesão bobo que tu tem por mim.
Eu que respirei fundo dessa vez
Eu: Bruno, o problema não é o tesão, eu não queria ficar so porque terminei com Justin.
Bruno: -Bem, então posso ficar sussa porque ele não tem mais razão pra ciumar de mim né?
Eu: -Ai é que esta Bruno, eu acho que agora que a situação piorou.
Bruno: -Porque?
Eu: -É, chegou a hora ne?
Bruno com certa confusão no olhar sem entender o que eu dizia.
Eu: -Eu terminei com ele porque estou completamente apaixonado por você.
Ele apenas me observou dizer aquilo e em seguida, ele que estava sentado na areia, se deitou e respirou fundo.
Eu apenas fiquei ali, aguardando a reação dele, que não chegava nunca.
CONTINUA...