Afonso: Meu amor, eu acho que você deve procurar outros sonhos… - dizendo isto virou o meu rosto para ele e beijou os meus olhos…
Fiquei em silêncio pensando o que eu queria dizer.. Eu percebia o que ele queria dizer, ele não queria que eu sofresse em busca de um milagre.
Eu: Meu amor, você sabe qual é o meu maior sonho?
Afonso: Sim, é voltar a ver. Eu sei que esse é o seu maior sonho.
Eu: Mas sabe o que é que eu mais quero ver na vida?
Afonso: O céu… O mar… Os seus pais… Sílvia… A mim… Não sei, acho que você quer ver tudo.
Eu: Sim, eu quero ver isso tudo. Mas quase tudo o que você falou eu já vi.
Eu continuava deitado no seu peito dentro da banheira. Ele com certeza percebeu o que eu queria dizer porque senti o seu peito encher de ar e depois um suspiro.
Afonso: Eu não quero que se submeta a mais um tratamento, que o vai fazer sofrer, por minha causa. - disse com angustia.
Mas eu queria que ele percebesse o porquê de eu insistir nesta ideia.
Eu: Me descreva o seu rosto…
Afonso voltou a suspirar…
Eu: Me descreva por favor…
Afonso: Você já ouviu a descrição milhares de vezes.
Eu: Mas para mim não foram suficientes.
Afonso: Porquê?
Eu: Porque eu não consigo vê-lo! – explodi – porque eu nunca vi o seu rosto – a primeira lágrima começa a cair – porque quando durmo e estou a sonhar sou capaz de ver qualquer coisa menos o seu rosto! – agora já chorava com vontade – e isso me mata!
Afonso me abraça e tenta me acalmar.
Afonso: Me desculpa. Eu sou burro mesmo. Só faço besteira. Me desculpa meu amor.
Tento controlar o choro, limpo as lágrimas e tento me levantar.
Eu: Vamos sair porque já estou ficando com frio.
Afonso: Me perdoa meu amor, me perdoa?
Eu: Vamos, amanhã você tem de ir trabalhar e hoje já teve uma corrida e um dia bem puxado, tem de descansar.
Afonso: Eu sou um besta – ouço Afonso sussurrar.
Ele falou baixo para eu não ouvir, mas como devem saber um invisual tem os outros sentidos mais apurados, e eu conseguia ouvir muito bem.
Saímos da banheira e nos limpamos. Ninguém falou. Ele sabia que já não valia a pena insistir.
Afonso: Já vai pra cama?
Eu: Sim, e você devia fazer o mesmo.
Afonso: Vou só comer qualquer coisa e vou já.
Eu: Então boa noite.
Afonso: Eu não demoro.
Eu: Mas eu estou mesmo cansado e vou adormecer logo.
Afonso: Boa noite então. – disse triste.
Fui para o quarto e me deitei. Estava realmente cansado, mas ainda ia demorar a adormecer. Tinha muita coisa na cabeça. O tratamento, esta discussão com Afonso e a quase esquecida vitória na corrida. Incrível como um dos momentos mais importantes da minha carreira como corredor passou quase despercebido. A minha vida era mesmo muito agitada.
Tinha saudades do tempo em que eu e Sílvia passeávamos de bicicleta junto ao mar enquanto nossos pais ficavam observando do alpendre da casa de praia do meu avô. Era tudo tão simplesLembro que uma vez, tinha eu 5 anos e a Sílvia 6, caí e fiquei com um joelho esmurrado e Sílvia aflita com tanto sangue correu chamando nossos pais. Pouco depois logo meu pai apareceu correndo e me levou ao colo para casa.
Eu: Papai tá doendo – disse eu choramingando.
Pai: Cadê o meu filho valentão, então você não é o Super-Homem? – diz ele sorrindo para mim.
Eu: Ah pai o Super-Homem não precisava que o levassem ao colo, ele voava – disse sorrindo e esquecendo um pouco a dor.
Logo chegamos em casa e quando minha mãe viu ficou logo preocupada, mas meu pai a acalmou.
Pai: Calma, não é nada. Já já vai passar.
O meu pai era capaz de acalmar um furacão, ele sempre tentava falar com tranquilidade.
A minha mãe chamou logo a empregada e pediu para trazer a caixa de primeiros socorros. A empregada voou trazendo tudo.
Empregada: Ah menino Pedro eu cuido disso rapidinho.
Mãe: Não, pode deixar. Eu mesma cuido. Obrigado Clarice. Obrigado.
Meu pai me deitou no sofá da sala e minha mãe logo tratou de mim.
Sílvia: Papai o Pedro vai ficar bom? - perguntou ela preocupada ou ver o sangue escorrendo do meu joelho.
Pai: Sim minha filha, logo logo ele vai andar correndo de novo por aí. Sua mãe tá tratando da ferida e cura rapidinho. Toda a ferida tem um remédio.
Assim como minha irmã, também eu acreditei que toda a ferida tinha um remédio até o dia em que fiquei totalmente cego.
Porque é que esta ferida não passava?
Mais uma vez queria acreditar no meu pai e pensar que toda a ferida tinha um remédioEntretanto ouço Afonso entrar mas eu continuo deitado sem me mexer. Ele puxa a coberta e se deita a meu lado.
Afonso: Já está dormindo?
Eu não respondi, continuei em silêncio sem me mexer. Ele suspirou.
Afonso: O meu cabelo é encaracolado, com muitos caracóis, de um castanho claro.
Eu suspirei. Ele ia descrever o seu rosto.
Afonso: Acho que vou ter de cortar um pouco, os caracóis quase que me tapam os olhos.
Eu: Não corta não. – digo me virando para ele.
Afonso: Vou pensar no seu caso… - disse sorrindo, eu o conheço muito bem e sei quando está sorrindo.
Eu: Continua… - digo deitando a cabeça no seu peito nu.
Afonso: Tenho os olhos verdes, um verde um bocado escuro, mas com o sol ficam mais claros. – diz ele fazendo festas no meu cabelo – os meus lábios são normais, não são carnudos demais rsrsrs e meu nariz é normal também, não sou nenhum narigudo rsrsrs ah, e minhas orelhas são normais também rsrs resumindo, acho que sou normal mesmo rsrsrs
Eu: Você é lindo!
Afonso: Não mais que você – disse já mais sério.
Eu: Fala mais de seu corpo..
Afonso: Nisso somos bem parecidos. Mas eu acho que meu corpo é mais definido que o seu rsrsrs
Eu: Eu sei que é – disse um pouco sério de mais.
Pelo tempo que demorou a responder deve ter ficado meio sem graça rsrsrs
Afonso: Continuando… Eu sou mais bronzeado que você, acho que o sol gosta mais do meu corpo rsrs já em relação ao pau eu ganho fácil – aí riu com vontade.
Eu: Ei! Não humilha, é só 1 cm maior do que o meu!! - falei, batendo a mãe no seu peito.
Afonso: Às vezes 1 cm faz toda a diferença rsrsrs mas os nossos paus são bem parecidos, perfeitinhos rsrsrs mas o meu tem um pequeno sinal na pele a meio comprimento.
Eu agarro no pau dele e pergunto.
Eu: Aqui?
Afonso: Não faz isso senão não respondo por mim rsrs
Eu: Pronto, pronto, eu não faço mais nada. Quero mesmo que você descanse hoje. Amanha tem de ir trabalhar bem cedo.
Afonso: Mas eu estou sempre pronto para entrar em ação rsrs
Eu: Calma meu garanhão, muita calma rsrsrs
Ele realmente sabia como acabar com nossas discussões. Sabia me dar um tempo e depois sim tentava resolver as coisas. Ele me conhecia bem demais.
Eu: Vamos dormir?
Afonso: Tem mesmo de ser?
Eu: Sim, tem mesmo de ser, se acalma aí – falei voltando a passar a mão no seu pau.
Afonso. Ah Pedro, assim é impossível!!
Eu: Pronto, já parei, eu vou-me comportar rsrsrs
Afonso: Vamos mesmo dormir?
Eu: Vamos sim – digo virando o meu rosto para o seu procurando a sua boca. – Boa noite meu amor – digo e de seguida o beijo.
Afonso: Boa noite minha vida. - diz dando outro beijo.
Deito a minha cabeça no seu peito e me aconchego no seu corpo. Assim deitado o sono não demoraria.
.
.
Poucos minutos depois abro os olhos e vejo o mar azul à minha frente. Sorrio imediatamente, amo o mar.
Sílvia: Vamos dar um mergulho? - Diz ela aparecendo a meu lado e sorrindo para mim.
Eu: Pode ir que já vou ter com você. – retribuo o sorriso.
Minha irmã era muito gata, moreninha, com cabelos pretos bem compridos bem ondulados. Olhos castanho claro que pareciam dourados num dia de sol e com algumas sardas bem claras que lhe davam um ar mais atrevido rsrsrs. Era daquelas mulheres que causava inveja a muitas mulheres e que fazia muitos homens enlouquecer só de a ver passar rsrsrs. Talvez por isso ainda não tenha encontrado o homem certo.
Eu: Cadê Afonso?
Sílvia: Está lá dentro com a mamãe na cozinha. Fui!! – diz ela correndo para o mar.
Eu levantei-me e fui para dentro de casa. Na sala encontrei meu pai, ele estava de camisa e shorts, não era muito comum vê-lo tão informal, andava quase sempre de fato. Estava com uns papeis nas mãos.
Eu: Nem durante as férias consegue deixar o trabalho? – digo sorrindo.
Pai: É rápido, só precisava tratar de uns assuntos. - diz ele sem tirar os olhos dos papéis – Pronto, já terminei – diz olhando para mim com um sorriso nos lábios.
Eu: Assim melhorou rsrs vou na cozinha ver se precisam de alguma coisa
Pai: Eu vou com você senão a sua mãe diz sempre que não ajudo em nada rsrsrs
Eu: Mas ele tem razão rsrsrs
Pai: Você também vai me difamar?
Eu: Ah pai você sempre me ensinou que é feio mentir rsrsr
Pai: Venha cá seu moleque! – diz ele rindo e correndo atrás de mim.
Às vezes parecíamos duas crianças brincando. Eu tentei fugir mas ele me apanhou e começou a fazer cocegas. Eu bem tentava fugir mas era impossível. A minha mãe ao ouvir a nossa barulheira apareceu na sala.
Mãe: Francisco deixa o menino, não vê que ele quase já não consegue respirar de tanto rir? – diz ela sorrindo.
Pai: Ah mas ele tava pedindo mesmo.
Eu: Mãe me ajuda, eu tava falando bem de você – digo tentando escapar dos braços dele, mas aí ainda foi pior ele fez ainda mais cocegas. Eu quase chorava de tanto rir rsrsrs
Mãe: Olha que o menino vai ter um treco, Francisco já chega – minha mãe agora tentava puxar o meu pai.
Pai: Você também quer entrar na brincadeira? – diz o meu pai olhando pra minha mãe.
Mãe: Francisco nem se atreva, sabe que detesto cocegas!
Pai: Eu só vou parar porque já me cheira a queimado, deixou alguma coisa no forno?
Mãe: Ai Meu Deus que deve tar tudo queimado!! – diz ela saindo apressada para a cozinha.
Eu: Mas pai não me cheira a queimado – digo eu admirado, ele já tinha parado de fazer cocegas.
Pai: Porque não cheira a queimado nenhum, mas adoro ver a sua mãe aflita a correr rsrsrs
Rimos juntos e logo aparece a minha mãe na sala com cara de poucos amigos rsrsr
Mãe: Francisco não gostei nada da brincadeira!
Pai: Mas eu já parei com as cocegas – diz o meu pai tentado parecer desentendido.
Mãe: Você sabe muito bem do que estou falando! Não cheira a queimado e o almoço está perfeito!
Pai: Pedro me ajude!
Eu: Mãe eu acho que agora cheira mesmo a queimado – digo com cara de preocupação e ela começa a correr de novo para a cozinha – estou brincando, devia ter visto a sua cara rsrsrs
Eu e meu pai caímos no riso.
Mãe: Tal pai tal filho. Meu Deus dai-me paciência para os aturar – diz levantando as mãos para o céu.
Eu: Mãe prometo que vou mudar, juro – digo em tom de brincadeira e dou-lhe um beijo na testa.
Mãe: E eu sei que não vai cumprir, mas não tem outro jeito mesmo. – disse sorrindo para mim – mas eu te amo mesmo assim.
Pai: E eu também estou desculpado?
Mãe: Ah não, você vai sofrer mais um pouco!
Rimos todos.
Eu: Mãe, cadê o Afonso?
Mãe: Ele foi ter com você lá fora, não o viu? – diz admirada.
Eu: Não, por onde ele foi?
Mãe: Pela porta da cozinha.
Eu: Então nos desencontramos, eu vou lá ter com ele – disse me dirigindo para o alpendre.
Lá fora podia ver um rapaz em pé só de sunga, mas tinha uma pequena árvore que me impedia de o ver dos ombros para cima. Mas pelo que via só podia ser Afonso. Mais moreno que eu, praticamente da mesma altura que eu, com uma pernas gostosas e uma bunda bem gostosa.
Eu: Afonso? – chamei por ele. – Afonso?
.
.
.
CONTINUA…