Que bom que estão gostando :D... Abração a todos...
De noite a dúvida veio na minha cabeça, onde eu dormiria? Fui até o Betinho e perguntei, ele falou pra eu ir perguntar pro Digão. Ele estava deitado mexendo com seu celular.
- Com licença? – mas ele me ignorou – onde eu posso dormir?
- no chão!
- mas tem cama ali... – ele levantou e me deu um tapa na cara.
- No chão caralho! Sem lençol, sem nada, deita ai agora! – fiquei muito puto com ele. Mas seguindo o conselho do Betinho, eu simplesmente deitei. Não consegui dormir, fazia dias que não via minha filha, nem minha mulher, eu estava muito revotado com aquilo tudo, com aquela injustiça, tanto que as lágrimas começaram a rolar. Não consegui dormir, no meio da noite notei uma movimentação na cama do Digão e alguns gemidos, ele deveria estar batendo uma punheta. Se eu tivesse uma faca eu ia enfiar nele ali mesmo. Agora sei porque dizem que as pessoas saem pior dos presídios.
Logo amanheceu e uma sirene informou o café da manhã. Fomos para o refeitório e pegamos nosso café da manhã. Depois era a hora do banho, cada andar tinha seus alojamentos e cada alojamento ia por vez. Como eu era o novato, era o último pra tudo, cada um tinha 5 minutos pra tomar banho de água gelada. Iam de 5 em 5 e por fim eu entrei no chuveiro, acabei ficando do lado do Digão, que estava antes no telefone. Tirei a roupa e entrei no chuveiro tomei meu banho e sai. Ao passar pelo Digão, ele me seguiu com os olhos. Eu não entendia porque ele tinha pego tanta implicância comigo.
Depois disso passamos o dia na cela, eu fiz mais um colega, o Wellington que havia roubado algumas casas. Logo um foi me apresentando ao outro e eu conheci a metade dos rapazes, mas com o Digão eu não queria nem proximidade. Porém ele e seus capangas me faziam de escravo, tudo o que ele queria era eu quem fazia, segundo o Betinho era porque eu era novo, estavam me treinando para obedecer, mostrando quem mandava, mas depois de um tempo iam me deixar na minha.
A noite foi a mesma coisa, deitei no chão, do outro lado do quarto, comecei a dormir já que não tinha dormido na noite anterior. Estava sonhando com minha família, longe dali quando sinto um chute forte na barriga. Meu ar vai todo embora, começo a tossir e a buscar ar.
- Seu lugar de dormir não é ai oh viado! Vai pra sua cama agora! – falou um rapaz que não sabia o nome.
Tentei levantar com muita dificuldade, não estava conseguindo, então ele me pegou pelo pé e me arrastou pra perto da cama do Digão, continuei tossindo e gemendo de dor. O Digão levantou, colocou o pé na minha cara e ficou me olhando com certa raiva no olhar.
- Você é idiota ou maluco? – não conseguia falar, só tossia e puxava o ar. – seu lugar é aqui, seu merda! – ele fez algo que não acreditei e que me senti muito humilhado. – Acho que você precisa de um banho pra ficar esperto!
Falando isso ele abaixou o short e começou a mijar em mim. Minha carne tremia de ódio, eu estava em ponto de explodir, não aguentaria essa humilhação por muito tempo. Enquanto aquele líquido quente caia sobre mim eu pensei na minha mulher e na minha filha, que graças a deus elas não estavam vendo aquilo e eu resistiria por elas, que precisavam de mim. Após urinar fartamente, falou pra eu limpar o chão e deitar pra dormir. Eu levantei e percebi que todos olhavam pra mim, me senti mais humilhado ainda e fui a “cozinha” pegar o pano de chão. Limpei tudo e deitei onde antes tinha uma poça de mijo, ainda sentia aquele cheiro horrível e não consegui dormir, com medo dele fazer alguma coisa pra me machucar de noite. Como não dormi, voltei a ser religioso, pedia aos céus para me salvarem daquele esgoto em que tinham me enfiado.
O terceiro dia foi “normal”, a mesma coisa de sempre, acordar, tomar café e sofrer humilhações e insultos até dormir, exceto que nosso banho seria no final da tarde, logo passei o dia fedendo a urina. Por isso fiquei o dia todo longe de todo mundo, com muita vergonha de todos. O único momento que fiquei mais perto de todos foi na fila do banho e logo atrás de mim estava o Digão, mas eu nem ligava porque na frente dos guardas ele não fazia nada. Eu me sentia como aqueles meninos gordos de escola que apanhavam dos mais velhos. Nesse caso era o garoto mais novo que me subjulgava. Tinha alguma coisa no Digão, sei lá, ele me observava muito e sempre com raiva. Naquela noite eu me deitei antes dele, assim que ele me viu, pisou nas minhas costas e deitou na cama, mas depois sentou e apoiou os pés em mim.
- parece um cachorrinho... deitado aos pés do dono. – não aguentei.
- você não é meu dono. – nesse momento muitos rostos se viraram para mim.
- como é?
- você não é meu dono, pode ser mais poderoso que eu, posso estar sendo subjulgado por você, mas você não é meu dono. – eu não olhava pra ele, falava tudo ainda com meu rosto virado.
- você é corajoso cara! – falou ele levantando. Eu me preparei porque sabia o que viria. Logo ele começou a me chutar, mas eu não me mexia, acho que isso o irritava mais.
Eu sentia uma dor horrível, mas me mantive lá, estava quase desmaiando quando Deus olhou pra mim e um dos comparsas disse:
- Digão, se ele se machucar muito você vai arrumar problemas, mas se quiser pode continuar, depois eu falo que fui eu.
Ele deu mais dois chutes e deitou na cama
- Filho da puta corajoso! Amanhã vai tomar mais corretivo.
Não me arrependi de ter enfrentado ele, mas doía demais. Eu não consegui dormir de novo, já eram 3 dias. Minutos depois vi cama dele balançando de novo e senti nojo daquele marginal imundo. De manhã tocou o sinal, mas eu não conseguia levantar.
- Levanta machão – falou um dos capangas.
- não consigo. – falei com dificuldade.
- Vamos, pega ele e coloca em uma cama, rápido! – o Digão sabia que se me pegassem arrebentado ali no chão iam saber que foi ele.
Eles me pegaram e colocaram numa cama do canto e fecharam as cortinas. Fiquei deitado o dia todo, aproveitei pra dormir tudo o que eu não tinha dormido. A tarde um dos meus “colegas” me deram minha quentinha. Eu emendei um dia no outro, dormi direto.
Acordei com a campainha do café da manhã e sai pra comer, estava cheio de fome, mas aquele café-da-manhã não ajudava em nada, era horrível, feito de qualquer jeito... Que saudade da minha esposa! Passei o dia conversando com os rapazes, fiquei mais próximo dos outros que não faziam parte da gang. Por incrível que pareça naquele dia ninguém me insultou nem me obrigou a fazer nada, tinha certeza que as coisas iriam melhorar. Fomos tomar banho e como éramos o último grupo, pudemos ficar mais um pouco. Eu adorei, porque meu corpo estava dolorido demais ainda e a água gelada ajudou, acho que só psicologicamente, mas ajudou. O Digão estava do meu lado e me olhava. Eu, pra não dar confiança pra ele e nem motivos, fiquei de costas o tempo todo. Terminei e fui para a cela. Quando cheguei lá, não voltei pra cama, fui para o chão, ao lado da cama do Digão.
Ele simplesmente me pulou, sentou na cama e ficou olhando o seu celular. Como eu queria pedir pra ligar pra minha mulher, mas não faria isso. Algumas horas se passaram e eu ouvi a cama dele rangendo, mas fiquei na minha. Ele levantou e se abaixou do meu lado e falou no meu ouvido.
- Levanta! – eu mais que depressa obedeci, fiquei de pé na sua frente e ele ficou me olhando. Ele colocou minhas mãos para frente e tentou me amarrar.
- O que você quer cara? Me deixa em paz, por favor.
É galera, minha hora tinha chegado... vamos lá, to animado pra escrever rsrs