- alguém por favor me conta o que esta acontecendo! – gritei no hospital.
Dona nika me fez sentar na cadeira de espera e me disse com lagrimas nos olhos e com uma cara terrivelmente triste que não vou esquecer:
- Allan foi atingido por um ônibus agora de manhã, jhow disse que ele ia de moto tentar te encontrar em um shopping. .. – ela falava tremendo. Jhow veio e disse para ela sentar que ele me contava o que havia acontecido. Eu comecei a tremer e jhow me conduziu pra um corredor mais afastado e me disse:
- o guidão da moto atingiu sua barriga no impacto mais precisamente no fígado dele, o fígado foi muito danificado, e ele esta com hemorragia interna, quebrou uma costela e a hipotermia esta dificultando muito as coisas. Assim que a ambulância chegou no local tiveram que reanimá-lo...
- reanimá-lo? Ele morreu?
- tecnicamente, sim... Mas por alguns segundos apenas – ele corrigiu o mais rápido que pode. – ele esta vivo agora, mais ainda corre risco de vida. Eles estão esperando uma bolsa de sangue para fazer uma transfusão, pois ele perdeu muito sangue.
Eu ouvi aquilo e uma dor que nunca tinha sentido tomou conta de mim, não sabia onde pisar, estava sem chão, tudo girava, hemorragia, risco de vida, transfusão... Era tudo culpa minha, se eu tivesse esperado no apartamento e ouvido ele, talvez nada disso tivesse acontecido, mesmo que agente tivesse brigado lá mesmo, pelo menos ele estaria seguro. Eu pensava que há algumas paredes dali ele poderia estar morrendo, dando seus últimos suspiros e tudo culpa minha. Eu tremia.
- é tudo culpa minha... – eu andava pra lá e pra cá no corredor.
- não é sua, é minha, eu não o impedi de ir atrás de você. Eu sou o culpado.
- não é não, ninguém segura ele, você não conseguiria impedi-lo mesmo que tentasse... eu coloquei ele em risco, tudo culpa minha. Eu devia ter ouvido, devia ter ouvido, devia ter ouvido. – eu cai em lagrimas, me ajoelhei no chão e soluçava e tremia, jhow sentou do meu lado e me abraçou, todos os pacientes e enfermeiras passavam e nos olhavam com dó, eles não podiam fazer nada, nem eu. Nem eu...
Depois de alguns segundos, eu não sei explicar, mas tudo parecia irreal, como se fosse um sonho, comecei a ficar sem ar e jhow tentou me acalmar, me reuni com o resto da família do Allan e ficamos ali sentados nos banco s sem dizer nada, apenas esperando. Dona nika segurava uma pequena cruz na mão e então me lembrei que Allan sempre fora muito chegado com DEUS, não ao ponto de ser fanático, mas eu sempre o pegava orando antes de comer ou dormir; eu não sei dizer, mas eu senti uma força que me deu uma idéia, eu corri para o banheiro, me fechei em uma cabine, e comecei a orar, fazia anos que eu não fazia isso e me sentia um babaca fazendo aquilo, como se fosse careta, mas minha opções tinham se esgotado, então eu me esforcei e orei, orei e orei, pedi pra DEUS salvar meu Allan, pra não tirar a vida dele, que ele era uma boa pessoa que tudo aquilo pudesse se resolver, e que ele pudesse voltar pros meus braços, eu chorava enquanto implorava para poder abraçá-lo de novo, pedi que DEUS me perdoasse por ter me afastado dele tanto, ao ponto de recorrer a ele como ultima opção. Eu chorava e implorava, pedia que eu pudesse fazer algo, que não me sentisse tão impotente, pedi que me levasse ao invés dele, eu estava desesperado, não tinha mais lagrimas para serem choradas, meu corpo estava totalmente dormente, a chuva caia lá fora e tudo parecia cinza, sem vida e sem cor. Eu olhei no relógio e eram 6:23 da tarde, e me lembrei de outra coisa, certa vez Allan me contou que quando criança brincava com sua mãe de ler salmo com as horas, que os minutos eram os salmos e a hora era a linha ou parte do salmo, que se escolhesse a hora certa do dia, poderia ler um salmo que deixasse você alegre, ele me disse que fazia anos que não brincava mais disso, mas que sentia falta; então resolvi brincar disso também, eu sei parecia imaturo na hora, mas eu estava desesperado e tinha que me distrair nem que pelo menos por alguns minutos.
Eu entrei na internet pelo meu celular e pesquisei salmo numero 23. E pré minha surpresa apareceu um salmo muito conhecido e bonito. então o li e pesquisei sua 6 parte, pois eram 6:23 da tarde e na sexta parte dizia “Sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha vida, e voltarei à casa do Senhor enquanto eu viver.
Gente eu não sei dizer se era por que eu estava muito triste ou era coisa da minha cabeça mas Eu senti tudo se desamarrando de mim, como uma mochila pesada senti cair ao chão minha culpa, meu rancor, meu desanimo, minha falta de fé, pode parecer que eu esteja exagerando ou tentando ser um daqueles fanáticos religiosos, mas é tudo verdade, eu me senti mais forte, como se tivesse um amigo comigo, me fez ter coragem de enfrentar aquele corredor e receber alguma noticia do Allan, a pessoa que eu mais amo. eu me levantei, enxuguei as lagrimas dos olhos e me recompus, eu teria que consolar os familiares, tinha que dar apoio, eu deveria ser forte. Eu sai do banheiro pisando firme no chão e andei com firmeza pelos corredores, me encontrei com a família e eles me disseram que o senhor Spencer já havia chegado, e como ele era enfermeiro também então ele estava participando dos procedimentos para salvar o Allan.
- alguma novidade? – perguntei pro jhow
- sim, já chegou a bolsa de sangue, e estão fazendo a transfusão agora, mas ele ainda muito mal. Acho melhor você ir para casa tomar um banho e voltar. Todos nós vamos fazer isso. Vamos revezar, você quer ir primeiro?
- eu não vou sair desse hospital, eu quero ver alguém tentar me tirar daqui hehe, eu vou pedir pra minha empregada passar em casa e trazer algumas roupas pra mim, eu tomo banho aqui no hospital ou me viro em algum lugar aqui perto, eu moro longe daqui, não vou arriscar.
- você vale ouro, vocês dois alias. Amo vocês.
Ele saiu e foi tomar um banho em casa, disse que voltaria mais tarde.
Eu esperei sentado no banco, e esperei e esperei, e esperei, e acabei dormindo.