Sentada a mesa degustando as delicias que Bruno havia me preparado, tentava argumentar ao meu favor. Naquele momento tive certeza que tinha escolhido a profissão certa, pois havia convencido meu "rival" que era dona da razão e com os mesmo argumentos anteriores, de justiça matrimonial, meu sonho profissional e precipitação, além do mais na prática já eramos casados, ele não saia de minha casa e viviamos em Lua de Mel.
O clima após o café estava me deixando irritada, o Bruno não disse uma palavra entre as refeições e no almoço estava ele lá novamente calado. Mal ouvia sua respiração.
GISELA: Eu te amo ... do meu jeito, mas te amo.
Ele ainda permaneceu calado, apenas olhou eu meus olhos e forçou um sorriso sem mostrar os dentes. Chateada com a situação, decidi deitar um pouco, me sentia mal por fazer ele sofrer. Sentia uma forte dor de cabeça e vontade de chorar. Permaneci ali por horas, aerea. Ele adentrou o quarto ainda em silencio, sentou se na poltrona em frente a mim, mas nem dei bola. Me levantei também silenciosa e fui para o banheiro, fiquei um tempo por lá tentando identificar o que tinha de diferente em mim, estava mais gordinha eu acho - pizza toda semana não é legal - com um rosto pouquinho mais redondo. Seios mais redondinhos e firmes também - estava a maior gostosona kkk - e o Bruno nem aí. Ainda no banheiro me senti um pouco tonta, me apoiei na pia derrubando alguns frascos de cosméticos. E nada do Bruno aparecer, nem ligou para o barulho. Quase restabelecida ajeitei o máximo que pude e me encaminhei ao quarto. Deitei na cama com uma forte dor no pé da barriga, mas que eu fortemente suportava, de repente a dor se fez cinco vezes pior e como resposta eu gritava.
GISELA: Bruno, ain tá doendo muito, parece q ...
* estava desmaiada nesse trecho, e como conto esta história sozinha, não posso saber o que houve durante esse tempo *
acordei no hospital na presença de minha médica ginecologista.
GISELA: Onde está o Bruno?
DRA. MARCIA: Calma querida, ele está bem ali fora, está tudo bem agora, foi só um indisposição.
GISELA: Chama ele.
Ela pediu para que ele entrasse, e ele estava com um sorriso bobo nos lábios. Olhei para eles intrigada.
BRUNO: Tudo bem meu amor?
GISELA: O que que aconteceu comigo? Me leva embora, eu já estou melhor quero ir para minha casa.
DRA. MARCIA: Calma Gisela, ainda ficará por umas horas para avaliarmos seu quadro geral e fazermos exames.
GISELA: Mas estou ótima, não tem porque ficar, foi só um desmaio a toa.
BRUNO: Calma meu amor, passa rapidinho, e eu estou aqui do seu lado. Para sempre.
DRA. MARCIA: Vou deixar que conversem uns instantes, mas ela não pode se alterar.
Ela saiu nos deixando a sós, fiz um interrogatório ao Bruno e ele só me enrolou. Não dizia coisa com coisa. Até eu me alterar.
GISELA: Pára de enrolação e fala logo, o que eu tenho? É muito grave? Eu vou morrer?
BRUNO: Só se for morrer de felicidade, meu amor você está grávida.
Disse alisando minha barriga inexistente. Fui do céu ao inferno em segundos. Grávida, que mulher inteligente deixa uma gravidez indesejava acontecer. Como eu sou burra meu Deus. Não disse nada, apenas chorava, mas não de emoção, de raiva, ódio de mim mesma, por ter estragado a minha vida. E a faculdade, e o escritório e as minhas despesas como iria pagá-las, e mais uma criança para sustentar. Como fui burra ... Não, mas e as injeções anticoncepcionais que eu tomava? E as camisinhas que sempre usamos. Deus tava de sacanagem com minha cara, com tão poucas possibilidades, tinha acontecido.
Estava revoltada, não queria mais nada da vida.
Quando recebi alta daquele martírio horas depois, me senti apenas um pouco aliviada, afinal aquele branco completo me deixava sentir-me uma louca, internada em um hospital psiquiátrico.
Em casa não queria mais saber de nada, acredito que estava em depressão. Abandonei o emprego e faculdade e vivia do dinheiro de Bruno, ele me fazia tudo, me dava do bom e do melhor, mas nunca estava satisfeita, tudo aquilo que comia seria mais saboroso se comprado com meu próprio dinheiro. Todas as coisas que me dava seriam mais bonitas se fossem adquiridas com meu próprio dinheiro. Estava me sentindo nada, um grãozinho de arroz, totalmente sem chão e excluida do mundo. Passadas umas semanas, nem do quarto saia mais, e o Bruno pacientemente fazia tudo por mim, sei que estava sendo a pior "esposa" do mundo. Ele estava feliz, mas não totalmente satisfeito. Naquela situação deixei de satisfazê-lo, sentia repulsa dele e pedia constantemente que procurasse uma amante, ou até mesmo uma namorada. E ele sempre se recusava.
Não estava nada atraente, usava as roupas mais largas possíveis, sentia nojo de mim mesma, não queria imaginar que ali na minha barriga crescia um ser tão odiado. Odiava aquela criança não por acaso, mas por ela ter me sentenciado a vida mediocre que vivia. Aquela garota alegre e independente não existia mais por causa daquela criança infeliz.
Nada me tiraria daquela situação a não ser uma pessoa ...
CONTINUA !