Na vida de Pedro Soares tudo estava bem, excerto que ele estava entediado. A toda hora quando assistia TV, quando lia o jornal e até mesmo navegando na internet, ele sentia falta de sua vida como publicitário. Ele possuía um caderno de anotações onde explodiam ideias, mas ele preferia esconder, pois, o seu esposo estava finalizando mais uma etapa dos seus estudos e precisava de tempo para finalizar um projeto.
- Eu não sei... talvez eu esteja errado... e se eu ficar velho e sozinho sendo dona de casa? – questionou Pedro. – Você sabe... não é nada pessoal... eu amo você, mas também tenho a minha vida... o que eu to tentando dizer é... nem sei... – ele disse.
Pedro e riu, terminando de colocar a fralda do Pablo.
- E você Patrick? Quer discutir com o papai sobre a crise existencial dele? – Pedro falou rindo.
- Papai? Olha o que fiz. – disse Paulinho.
- Que lindo Paulo... o que é? Um macaco? – perguntou Pedro.
- Não... macaco nada é o senhor. – ele disse.
- Nossa... os anos fizeram mal para a minha pele... e eu acho que estou um pouco fora de forma. – Pedro falou.
- Papai.... onde está o papai Mauricio? – perguntou Paulinho sentado no chão continuando a desenhar.
- Está no hospital amor.
- Ele só vive lá. Queria brincar com ele... o senhor nem sabe jogar futebol.
- Valeu pelo apoio filhão. – disse Pedro rindo.
- Papai estou falando sério. Se a gente for ajudar o papai Mauricio ele sai mais cedo?
- Filho.. deixa eu colocar o teu irmão aqui no berço. Né campão? – disse Pedro. – Vem cá, senta aqui com o papai. Bem... o papai Mauricio te ama... muito... muito... muito, mas ele tem que trabalhar... que é para comprar os teus brinquedos, as tuas roupas. E porque ele gosta também, ele precisa de um tempo só para ele.
- Eu sei papai... mas eu queria ele aqui.
- Vamos cuidar de fazer o almoço? Deixa eu ligar a babá eletrônica. – disse ele antes de sair do quarto.
Na faculdade Phelip e Fernanda conversavam sobre a recuperação de Duarte e os planos deles. Os jovens estava realmente mais unidos e compartilhavam informações de tudo o que faziam. Parece que a promessa feita anteriormente era para valer. Os dois além de amigos estavam se tornando irmãos.
- Graças a Deus que tudo acabou. – disse Fernanda.
- Na verdade não, falta encontrar o cretino que fez isso com o Duarte. – disse Phelip mudando de expressão.
- Calma lindo... vingança não resolve nada. – ela disse tentando amenizar.
- E ai galera?! – disse um rapaz sentando na mesma mesa que eles.
- Eu não sabia que vocês haviam voltado? – ele perguntou.
- Quem... nós?!! – perguntou Fernanda perplexa olhando para o Phelip.
- Que bom... lá da escola vocês eram o meu casal e tanto. – ele disse rindo.
- Obrigada Arnoldo ... mas nós....
- Nós não gostamos de lembrar quando a gente se separou... por isso, estamos de volta. – disse Phelip.
- Nós voltamos? – perguntou Fernanda.
- Sim... claro... – disse Phelip fazendo cara de pânico.
- Eii que bom que vocês estão estudando aqui também... não vou perder vocês de vista. – disse ele se retirando.
- Quer me contar o que foi que aconteceu aqui? – perguntou Fernanda.
- Não sei...
- Você acabou de passar por maior provação esse último mês?
- Eu sei... mas quando eu vi o Arnoldo entrei em pânico... me perdoa... mas se ele contar para alguém da escola? E se alguém na faculdade souber? – ele questionou.
- Realmente Phelip... eu não entendo você. Se os teus pais que já aceitaram numa boa... e são os maiores responsáveis por você... aceitaram. Agora todo mundo vai pensar que eu namoro você. Só espero que o Duarte não descubra isso. – disse ela saindo da mesa.
Phelip ficou sentando por quase uma hora pensando no que havia acabado de ouvir. Ele estava divido entre o amor de sua vida e o medo do preconceito. Seu coração não conseguia escolher qual dos caminhos escolher.
Depois de alguns dias de recuperação Priscila voltou para o hospital e achava que já estava melhor, mas dentro dela algo ainda faltava. Toda vez que ela passava no berçário pensava no seu filho.
- Doutora Priscila? – perguntou um homem ruivo.
- Olá? – ela disse se assustando.
- Me perdoe. Não quis assusta-la. – ele disse pegando no ombro de Priscila.
- Tudo bem... não se preocupe.
- Perdoe-me. Meu nome é Vinicius... digo Doutor Vinicius Sperd. Fiquei atendendo algumas casos seus enquanto esteve enferma. O Doutor Emanuel pediu para eu te atualizar. – ele disse enquanto a levava para a sala de reuniões.
- Claro, vamos.
Enquanto isso no laboratório do hospital, Mauricio tentava não dormir. A pesquisa que ele estava fazendo era essencial para o avanço de seu trabalho de Mestrado. Carlos seu melhor amigo também estava o auxiliando no projeto, já que os dois estudavam juntos.
- Caramba Mauricio está demais. – disse Carlos.
- Está sim, mas eu estou acabado. Com o trabalho, os meninos e o Pedro...
- Sim... eu sei. Eu por exemplo, apenas com a Luciana me desespero. Imagina com filhos, uma casa. – ele disse enquanto escrevia algo no computador.
- Sabe... eu não gosto de falar isso, mas eu estou muito cansado sabe...
- Cansado da tua família? – ele perguntou assustado.
- Não... do trabalho, de estudar... a minha família sente a minha falta eu sei disso... o Pedro me ama demais para falar uma coisa dessa... eu me sinto tão inútil.
- Também não é assim... você tem sua prioridade... e por enquanto é o estudo.
- Mas tudo na medicina é estudo, vê o Doutor Emanuel é chefe do hospital e tem que participar de cursos e mais cursos.
- Mauricio... você está cansado demais... vai para casa... tira o dia de folga. – Carlos falou.
- Não. Já estamos na conclusão, passamos tanto tempo nessa pesquisa.
- Em breve toda a luta vai acabar e vamos apenas aproveitar a vida... e os outros cursos que virão. – disse Carlos rindo.
Na faculdade Fernanda continuava a evitar Phelip. Ela estava chateada pelo fato de o próprio não se aceitar. No intervalo, ao vê-lo sentado passou direto, no final da aula também ela preferiu ir sozinha para casa. Ele teve que ir pegar o namorado na fisioterapia.
- Você está bem? – perguntou Duarte enquanto pegava no cabelo de Duarte.
- Sim. Porque não estaria?!
- Cadê a Fernanda? – ele perguntou.
- Decidiu ir para casa. Não sei porque.
- Hum... vou ligar para ela...
- Não!!! Não... ela pode estar sei lá com algum problema. Vamos almoçar apenas nós dois. Algo mais intimo. – disse ele quando o celular atendeu.
- Fala Phelipão... hoje tem uma festinha na minha casa... vê se leva a tua namorada. – disse Gustavo um amigo que cursava administração com ele.
- Gusta... fala amigo... como assim? – perguntou ele.
- Um carinha que te conhece disse que tu está namorando aquela loirinha... que faz jornalismo, a... a... Fernanda.
- Claro... eu... vou ver se dá. – ele disse disfarçando.
- O que você vai fazer amor? – Duarte perguntou.
- É uma festa. Mas eu não vou... você está se recuperando e não pode ter emoções. – ele disse.
- Ok. Ahh... semana que vem eu vou voltar para a escola depois de quase um mês sem poder ir... o pessoal foi me visitar ontem. São uns amores.
- Que bom amor... ei hoje você pode dormir lá em casa, estou com saudades... quer dizer... estamos com saudades. – ele disse rindo.
- Vou falar com a minha mãe. – disse Duarte rindo.
Pedro preparou um jantar especial para Mauricio e colocou as crianças para dormir. Ele sentou no sofá e começou a assistir televisão. Depois do segundo filme ele começou a dormir. Quando acordou Pedro olhou no relógio e já eram meia noite. No celular, havia uma mensagem do seu marido.
“PERDÃO. EU NÃO VOU CHEGAR CEDO EM CASA. TE AMO.”
- Novidade. – disse Pedro para ele mesmo.
Pedro pegou toda louça e guardou um prato no microondas. Ele subiu, tomou banho e deitou-se na cama. Não demorou muito para dormir. Alguns minutos depois Mauricio chegou em casa e se deparou com tudo apagado. Ele sabia que os estudos estavam atrapalhando uma parte importante de sua vida. Estava faminto e encontrou uma carta na geladeira.
“VI SUA MENSAGEM. SUA JANTA ESTÁ NO MICROONDAS. SE VOCÊ PUDER ESQUENTAR.”
Mauricio sentou na mesa sozinho e viu o desenho que o Paulinho fez e deu um pequeno sorriso. Sozinho ele jantou e subiu para tomar banho. Quando olhou no relógio já eram 02h. Ele deitou e ficou vendo o marido dormir por alguns minutos. Ele repousou o rosto no peito dele e dormiu. Para ele além de estar com os filhos, este era um momento único e que ele nunca gostaria de perder.
Barulho do Despertador.....
Pena que para ele, esse momentos duravam pouco e logo o trabalho, estudo o chamavam para continuar uma rotina que para ele já estava ficando um peso impossível de carregar.
- Mãe. A senhora acha que eu tenho que contratar uma babá para cuidar do Paulinho, Patrick e Pablo? – perguntou Pedro.
- Porque filho? – ela perguntou preocupado.
- Queria voltar ao mercado. Os gêmeos já estão grandinhos... e eu me sinto um pouco sufocado. Eu sei que é horrível um pai está falando isso, mas...– ele disse.
- Calma. É normal amor... eu também passei por isso. E olha que eu sou mulher. Você tem que contratar pelo menos duas moças. Uma para cuidar da casa e do Paulinho e a outra para cuidar dos gêmeos. Assim você não gasta muito dinheiro. – ela disse.
- Mas eu tenho medo mãe... de deixar eles com um estranho. E depois somos um casal gay.
- Meu filho uma hora ou outra vocês irão ter que contratar alguém, são três crianças. E se você quer voltar para o trabalho melhor ainda. – ela disse deixando o filho mais tranquilo.
- A senhora não existe mesmo dona Paula. – ele disse beijando a mãe.
- Eu sei... olha... eu tenho uma amiga que é evangélica e ela disse que existem mulheres lá que precisam de trabalho.
- Mãe.... só se elas fossem crucificar a gente.
- Meu filho... é um trabalho. Elas precisam e por isso tem que ser profissionais.
- Ok... vou pesquisar algumas agências de emprego e vou pedir pessoas apenas com carta de recomendação. Mãe e a Priscila como ela está?
- Ai meu filho, sei que ela tenta ficar alegre, mas... está sendo difícil para ela. Espero que essa fase ruim passe logo. – disse Paula abraçando o filho.
- Mãe... eu sinto tanta falta do Paulo nesses momentos. – disse Pedro fechando os olhos.
- Eu também meu filho... eu também.
SÃO PAULO – 10 ANOS ANTES
- Não Paulo!!!! – disse Pedro chorando. – Eu não quero contar mais!!
- Você precisa... eu não quero mais te ver fazendo essas loucuras. Eles devem estar chegando da festa. – disse Paulo segurando forte o braço do irmão.
- Me deixa em paz!!! – gritou Pedro pegando uma mala e colocando várias roupas e objetos dentro.
- O que você vai fazer?! – perguntou Paulo tentando não chorar. – Vai embora?! E a nossa promessa?! – ele gritou.
- A tua promessa... essa família não precisa mais de mim... deixa eu ir. Eu não quero mais viver escondido, não está fazendo bem para mim.
- Ok! Arruma as tuas coisas. – disse ele saindo do quarto de Pedro.
Pedro era praticamente uma criança, ele não sabia o que fazer. E os sentimentos dele estavam embaraçados. Chorando copiosamente ele terminou de guardar as suas roupas e alguns itens pessoais. Ao olhar para porta Pedro ficou paralisado. Seu irmão estava com uma mochila e uma bolsa de mão, com os olhos cheios de lágrimas.
- Se você for... eu também vou. – ele disse para o irmão mais novo.
A única reação de Pedro foi correr e abraçar o seu irmão mais velho. Naquele momento Paulo ganhou totalmente o respeito do seu irmão. Que agradecia a Deus que pelo menos uma pessoa o ajudaria em momentos de crise.
- Eu te amo... e não importa o que você seja... você é meu irmãozinho... sempre vai ser. – disse Paulo chorando.
- Não deixa a gente... luta... vamos lutar... eu nem tenho ideia do que você está passando, mas quero entender... e quero te ajudar...
- Chegamos!!! – gritou Rodolfo.
- Estamos preparados?! – perguntou Paulo enquanto enxugava as lágrimas nos olhos de Pedro.
- Sim... estamos!. – disse Pedro.
Pedro deu a mão para Paulo e juntos foram até o escritório do pai para a Grande Conversa.
- Mãe. Pai. O Pedro tem uma notícia para dar a vocês.... Pode falar.- disse Paulo sem soltar a mão do irmão mais novo.
- Eu...eu... – disse Pedro gaguejando e olhando para o irmão.
- Pode falar. – disse Paulo.
- Eu sou gay!!
Sim... Pedro sabia que desde aquela época havia amadurecido muito, mas dentro dele algo pedia para ser protegido. O único problema é que ele não era mais um adolescente pedindo por ajuda. E sim um adulto que não queria se perder.