Era melhor botar um ponto final de vez nessa história, era melhor eu ir falar com ele uma última vez.
Depois do jantar voltei para casa, peguei umas coisas básicas, iríamos ficar em Recife por três dias, até o sábado. Combinei de encontrar com meus pais no aeroporto as 7 da manhã de quinta, meu pai pagaria todas as passagens.
De manhã no aeroporto encontro com eles e vamos para o avião. Foi um voo rápido, direto, durou umas três ou quatro horas acho... não percebi o tempo passar, só pensava no que eu estava e no que eu ia fazer... como vou achar ele? Não tinha certeza nem mesmo do que falar com ele. Chegando no aeroporto de Recife meu celular toca... era Adam. Essa viagem nem foi planejada direito, foi tudo tão rápido que eu nem avisei meu próprio namorado... me afasto dos meus pais para atender...
- Oi Adam, cara me desculpa.
- Desculpar pelo quê?
- É que... é que eu não estou no Rio.
- Como?
- Eu estou em Recife, acabei de chegar.
- Deixa de onda Dan, sério mesmo?
- Sim, a doida da minha mãe teve a ideia ontem a noite, ela estava morrendo de saudade das amigas, então todos acabamos vindo.
- Então quer dizer que eu não vou ter meu namorado nesse feriadão?
- Sinto muito.
- Deixa dessa, fico feliz por você, você tava precisando mesmo se distrair, se divirta muito aí beleza?
- Valeu Adam.
- Te amo, não esquece de me ligar de duas em duas horas viu?
- (risos) Ta bom seu bobão.
Depois me encontro com meus pais e saímos em busca de algum hotel, ficamos em um perto da praia de Boa Viagem, agora que meu pai tinha se livrado dos dois filhos ele tava cheio de grana. Me alojei no meu quarto, muito chique por sinal, e saí para caminhar na praia... pensei se eu deveria procurar o Luan no centro, o que seria imensamente difícil, ou ir na sua casa, que eu não sabia se ainda morava lá. Resolvi então ligar para Mel, tinha pego o número dela por MSN há algum tempo. Logo que eu falo que estou em Recife ela fica muito animada, pergunto se não teria problema dela me encontrar na praia, ela logo diz que me encontraria em 15 minutos, e não estava brincando, quinze minutos ela me liga...
- Daniel eu estou aqui, mas não sei quem é você ashuahsuahus...
- Ah é claro, estou de bermuda jeans e camiseta preta.
Digo isso olhando ao meu redor, tinha muita gente caminhando pela praia, então eu vejo uma garota no celular, quando ela me vê sai correndo já com braços abertos e me agarra em um abraço.
- Meu Deeeeuss... como você tá diferente! Já tinha visto fotos, mas pessoalmente, tô surpresa!
- (risos) Olá pra você também.
Ela havia mudado muito também, tinha emagrecido um pouco, não que ela fosse gorda, também tinha crescido e estava mais bem cuidada, o que eu achava bonito nela era os cabelos longos que iam até a cintura. Ela me beijava muito nas bochechas, então eu digo...
- Ta bom ta bom menina, assim você me mata... (sem trocadilhos com Michel Teló heim rsrs)
- Ain desculpa, é que eu estava muito ansiosa pra te ver... então, o que você veio fazer por aqui?
- Vim ver minha melhor amiga.
- Ah tá, você acha que eu acredito? Você veio atrás do Luan não é?
- Mais ou menos, na verdade nem sei se devo ir atrás dele.
- Ah deixa disso, vem comigo, eu te leva até onde eu vi ele...
Pegamos um ônibus para o centro, chegando lá começamos a caminhar, íamos de loja em loja perguntando por algum Luan que trabalhava de segurança, sem resultados... então almoçamos, conversamos um pouco e decidimos continuar procurando... até que em uma loja um pouco mais afastada do centro eu pergunto pra atendente se algum Luan trabalhava lá, ela respondeu que não sabia e chama a gerente...
- Olá senhora, será que você podia me ajudar? Eu estou procurando por um irmão que não vejo ha muito tempo, ele se chama Luan, e me informaram que ele trabalhava em alguma loja do centro de Recife, será que o senhor não se lembra de algum, Luan?
- Ah sim! O Luan! Um garoto adorável, ele trabalhou por quase um ano como segurança da minha loja, mas pediu demissão há cinco meses, uma pena.
Digo algumas características físicas do Luan e a senhora confirma todas, pergunto se ela saberia me responder onde ele morava, ela disse que poderia recuperar a fixa de emprego dele do computador, após algum tempo, ela nos fala um endereço que eu não reconhecia muito bem, era um bairro diferente, eu nunca tinha ido lá.
Eu e Mel pegamos um táxi, passo o endereço ao motorista que diz saber chegar lá, depois de mais ou menos meia hora chegamos... era uma casa com a faixada desbotada, muito menor do que a antiga, o bairro aparentava ser humilde. Saio do táxi, mas percebo que Mel não...
- Não vai vir Mel?
- Claro que não, não quero estragar o momento, depois me ligue e me fale tudo, ok?
Então ela vai embora no táxi. Fico olhando o carro se afastar, pensando, tomando coragem, vamos acabar logo com isso... Bato na porta... até que um cara vem atender, eu o reconheço, ela o irmão do Luan, estava mais velho, com uma cara mais responsável rsrsrs... ele não havia me reconhecido, ou então nem se lembrava de mim...
- Olá, o que deseja?
- Boa tarde, algum Luan mora aqui?
- Sim, meu irmão...
- Eu sou um velho amigo, gostaria de falar com ele.
- Ele não ta agora, está pro quartel, mas ele tá para chegar, se quiser esperar...
- Se não tiver problema...
- Entra aí...
Ele pergunta se eu não queria um copo d'água, eu aceito, me sento no único sofá que tinha na pequena sala de estar, penso no que o irmão do Luan disse, quartel... então o Luan deixou de ser segurança para trabalhar em um quartel, provavelmente como soldado, mas já era alguma coisa, embora estivesse bem distante de um oficial da marinha. Então o irmão do Luan pega uma cadeira da mesa da cozinha e coloca um pouco afastado do sofá... ele começa a conversar comigo...
- Você estudou com ele ou algo assim?
- Foi sim, no primeiro ano.
- Desculpa, mas como é seu nome?
- Daniel.
- Acho que eu já te vi não?
- Sim, eu ia muito na casa antiga de vocês, via pouco você pois você estudava a tarde.
- Pera aí, você é aquele garoto gordinho que ia lá toda semana?
- Pois é.
- Nossa cara, como você mudou, nunca que eu ia te reconhecer só por olhar.
Rimos um pouco e um silêncio se instaurou, felizmente a TV estava ligada pra distrair, então eu falo...
- Onde está a mãe de vocês?
Ele então abaixa a cabeça, demora um pouco a responder...
- Ela, ela faleceu... há cinco meses... acidente de trânsito.
- Nossa cara, eu... eu sinto muito, sério... muito mesmo, ela... ela era uma pessoa amável.
- Sim ela era...
Então alguém bate na porta e ele fala...
- Acho que ele chegou.
Fico ofegante, meu coração dispara, mas me controlo, não queria parecer nervoso. Ele abra a porta, mas não era Luan, era um homem um pouco senhor já, não tinha anatomia de velho, era até encorpado, mas seus cabelos grisalhos denunciavam a idade...
- Olá filho, e... olá garoto, quem é você?
- Olá, eu sou Daniel, um antigo amigo do Luan, eu estou esperando ele.
Ele vem e aperta minha mão, seu rosto estava com uma expressão curiosa... eu sabia muito pouco do pai do Luan, mas uma coisa eu sabia, ele era gay, Luan tinha me dito como ele tinha abandonado sua esposa e filhos para morar com outro homem em um interiorzinho, eu realmente não esperava encontrar ele ali...
- Pai será que você pode fazer companhia ao Daniel? Eu preciso ir na casa da Adriana.
- Sim filho pode ir, diga a ela que eu mandei um abraço. (o irmão do Luan então sai e após um tempo ele fala) Então... meu nome é Ricardo, acho que nunca te vi estou certo?
- Não, nunca.
- Pois é, eu passei um longo tempo ausente da vida dos meus filhos... você é um amigo de escola?
- Sim, estudamos juntos o primeiro ano.
- Daniel... Luan já me falou de você, vocês foram grandes amigo não é?
- Sim, é que eu precisei sair da cidade.
- Tristes caminhos da vida. Você veio para Recife de férias?
- Mais ou menos, vim com meus pais passar o feriadão.
- Qual é mesmo a cidade que você está morando?
- Rio de Janeiro, faço um curso de medicina lá.
- Legal... você tem namorada te esperando lá?
Eu já estava pensando no porquê do Luan ter falado algo sobre mim para o pai dele e porquê o pai dele estava ali, mas com essa pergunta eu fiquei incomodado, o fato de eu ser gay me fez aguçar a minha desconfiança, como se eu conseguisse detectar as intenções de alguém através das indiretas, principalmente de homens, somando isso ao fato de eu já saber que ele era gay e ao fato da pergunta "você tem namorada" ser geralmente um início de uma cantada, penso... será que ele estava pretendendo alguma coisa comigo? Será que ele seria capaz de tentar algo com um amigo do seu filho? Decidi agir normalmente...
- Sim, tem uma pessoa me esperando. (não especifiquei gênero, só estava sendo verdadeiro)
- Ah... (então ele fica com uma expressão vaga) ...vou no meu quarto trocar essa roupa, fique a vontade.
Fiquei olhando a TV, mas eu estava viajando nos meus pensamentos, eu estava desconfortável, era melhor ir embora, tentar esquecer novamente, continuar minha vida que estava indo tão bem, mas eu poderia me arrepender no futuro, então decidi continuar ali, até porque mesmo que eu fosse embora, não teria mais volta... alguém estava batendo na porta...
[CONTINUA]
Galera... queria agradecer os comentários e os votos, fico feliz em saber que vocês estão gostando! O próximo capítulo já está sendo escrito e amanhã será lançado, não esqueçam de comentar e votar... grande abraço!
