PAULA: Cada coisinha aqui dentro representa uma lembrança presente no meu coração sobre nossa história.
Não conhecia esse lado romantico dela, sempre foi tão objetiva, fria muitas vezes, me surpreendi muito naquele momento.
GISELA: Muitas coisas aqui são minhas, não acredito que guarda isso - segurando um saquinho com embalagens de bala.
PAULA: Quase todas que você me deu.
GISELA: Nossa só estas? Na vida inteira?
PAULA: Pois é, mas cada papelzinho desse tem um significado unico para mim.
GISELA: Mas é muito pouco, eu prometo que vou te dar um sacão de balas hoje mesmo.
Rimos juntas enquanto ela procurava alguma coisa no fundo da caixa.
PAULA: Lembra daquela aposta?
GISELA: Meu deus, meu cabelo - peguei um punhadinho de cabelos que um dia foram meus, ressecados - credo que nojo, isso tá uma palha só.
PAULA: Você quer o que né Linda? Fazem oito anos.
GISELA: Oito anos! Parece que foi ontem né meu amor.
Me ajeitei na cama ficando frente a ela, afastei a caixa que nos separava e beijei-a. O primeiro beijo em que a iniciativa foi minha, não por não querer beijá-la antes, mas por receio de me tornar muito lésbica - eu era uma idiota homofóbica nesta época. A Paula é um exemplo de mulher embora nessa época ainda dependesse $ dos pais, ela não se importava com o pensamento das más pessoas que nos julgariam e se afastariam. Mas eu sou o extremo contrario dela, me preocupo com minha imagem de forma que chega a parecer egoismo da minha parte - talvez seja.
Aquele beijo estava tão bom que me recusava a soltá-la, mas ela precisava respirar coitadinha.
PAULA: Tenho a impressão que esse foi o beijo mais verdadeiro que me deu.
GISELA: Não sabia que existia beijo falso.
Me levantei toda nervosinha e cheia de bicos como diz a Paula e fui para a cozinha. Fiquei lá por um bom tempo preparando um pão integral para dia seguinte e a cara de pau nem para vir atrás de mim para pedir desculpas.
Subi revoltada as escadas e já entrei no quarto gritando.
GISELA: Escuta aqui Pa...
Ela não estava lá, procurei no banheiro e também não estava, procurei pela casa toda, quando fui me sentar na sala para chorar(de raiva) vi o Ted com um papel enrolado no tercinho dele. Era um bilhete dela que resumidamente dizia assim "estou indo, quando estiver mais calma e quiser conversar, me liga. Vou te encontrar correndo. Não importa se será amanhã ou na década próxima. Eu te amo". Meu choro de ódio se transformou em remorcio.
Eu tinha que ir atras dela, meu coração pedia isso, mas essa cabeça dura me impedia. Mas eu fui forte e pelo menos uma vez na vida contrariei minha razão e deixei o meu amor por ela falar.
Cheguei na casa dela estava tudo aceso, uma musica altíssima, poderia achar que a louca estava dando uma festa, mas só se a musica não fosse 'all by my self - Celine Dion', entrei sem autorização como sempre fiz e vi a pequenina de costas deitada no tapete. Desliguei o rádio e ela nem se moveu, acho que sentiu minha presença.
GISELA: Me desculpa - sentando-me ao seu lado - eu nunca quis te magoar, eu te amo, mas eu não posso amar você.
PAULA: Não pode ou não quer?
GISELA: Não posso, você sabe muito bem disso, o que vou dizer para os meus pais? E as pessoas? Nossos amigos? Todo mundo?
PAULA: Não sabia que todo mundo pensava primeiro em você do que em si mesmo. As pessoas fazem o que tem que fazer, não o que a sociedade julga melhor.
GISELA: Mas o problema não é a sociedade, eu também não acho certo isso.
PAULA: Isso o que Gisela?
GISELA: Nós duas, segundo a Biblia - Levitico 18:22 "com homem não te deitarás, como se fosse mulher, abominação é" isso vale para ambos os sexos, é apenas uma representação para ativar o temor a Deus.
PAULA: Se é essa opinião do teu Deus eu não posso fazer nada. Mas se é Ele quem criou tudo inclusive nós, por que você acha que ele te fez assim?
GISELA: Não foi Ele quem me fez assim, foram as tentações que Ele me enviou para provar-Lhe o meu amor.
PAULA: Eu não entendo por quê amar tanto uma coisa que não confia em você, uma coisa que nem existe, foram as pessoas que criaram um certo Deus para ter esperança de recompensa quando fazem algo certo ou temor por represália se fizer algo errado.
As palavras da Paula feriram o intimo do meu coração, ela estava tentando me fazer desacreditar em tudo que havia aprendido desde criança, eu tenho certeza que o meu Deus existe e que Ele me ama e sabe das minhas forças e fraquezas. Não era justo abandonar um Deus tão fiel, que me concedia a vitória por algo ou alguém que n'Ele não acreditava. Estava confusa, sangrando por dentro em ter que escolher entre coisas tão distintas mas que me faziam tão bem.
GISELA: O meu Pai é fiel e n'Ele eu tenho fé, não adianta argumentar eu não me sinto em paz com essa nossa relação. Deus tocou no meu coração soprando que isso não vai dar certo.
PAULA: O seu Deus te faz covarde, Ele te impede de tentar.
Quando ia proferir palavras definitivas ela me prendeu em uma abraço, olhando em meus olhos e beijou-me os lábios estupidamente.
CONTINUA!
