Caio, estou meio ardido.
Ao falar ele olhou pra mim.
-Nossa Eric – ele fez uma cara de espanto que me assustou também – nossa, você está... – ele então abaixou o espelho do banco do carona e começou a rir do nada.
Quando me olhei no espelho, eu levei o maior susto, eu estava mais vermelho do que pimenta, meus braços estavam rosa, só de ver eu já comecei a sentir dor de queimadura.
-Ai, está ardendo muito, dói tudo.
-Você está horrível, quem mandou ser branquelo?!
-Para de rir de mim.
Chegamos em casa, estava andando igual um robô, meus braços abertos para não encostar no tronco, sem camisa, fui direto tomar banho.
Desci pra jantar praticamente sem roupa, apenas um short bem largo e curto, tudo pra não ficar encostando muito.
-Nossa meu filho, o que aconteceu com você?
-Me queimei um pouquinho.
-Coitado, vou comprar uma pomada pra isso urgente – disse ela saindo da cozinha.
-Está muito ruim? – perguntou o Caio dando uma risadinha baixa pra me provocar.
-Não interessa – eu já estava bravo com aquilo.
-Desculpa, não fica bravo, só queria dizer que foi legal hoje, foi bom ter falado com você sobre meu pai, nunca tinha falado dele com ninguém.
-Obrigado você, foi ótimo relembrar o passado, a praia foi ótima, o bronzeado nem tanto – disse rindo – mas eu gostei de tudo.
Jantamos, a Fátima chegou com a pomada e passou em mim, aliviou um pouco a queimação, então fui dormir.
No dia seguinte não estava muito dolorido, mas a vermelhidão ficou, eu parecia qualquer coisa, objeto ou ser vivo de cor avermelhada, eu quase não fui pra escola, a Alana foi a primeira a zombar de mim.
-Oi, Eric que bronzeado bonito.
-Sem graça.
Fomos pra escola, o tempo todo ela me dando apelidos diferentes.
-Patrick Estrela.
-Você parece um camarão.
-Não, você está igual um vidro de ketchup.
-Ou o Power Ranger vermelho.
-Chega Alana, que chata.
Na escola não foi muito diferente, ouvi bastante apelidos, a maioria veio da minha melhor amiga – perversa – o único que não estava zoando era o Félix, parecia estar com pena de mim, chegou a perguntar se estava ardido umas 3 vezes.
Passaram-se três dias, eu já estava na minha cor normal, os dias passaram na minha mesma rotina de sempre, escola, casa, fazer nada, dormir, nada que fosse interessante, estava na escola.
-Gente, podemos começar hoje o trabalho?
-Tudo bem – disse Félix positivamente
-Por mim está bom – concordou Alana.
Combinamos o horário, fui pra casa logo, almocei e preparei as coisas para fazermos o nosso trabalho, era algo grande, não conseguiríamos fazer tudo em um único dia, provavelmente.
Eles chegaram em minha casa e logo começamos a fazer as pesquisas e tal, passamos umas 3 horas montando tudo, estava muito cansativo, decidimos terminar o trabalho em outro dia.
-Amanhã terminamos – disse alongando os braços.
-Mas amanhã eu não vou poder vir, tenho dentista – disse Alana nem um pouco triste com a coincidência.
-Tudo bem, eu e o Eric terminamos sozinhos, não é Eric?!
-Claro, vou te dar essa folga Alana.
-Valeu amigo.
Todos foram embora e depois o Caio entrou no meu quarto.
-Quem era aquele garoto? Nunca veio aqui.
-Ele é novo por aqui, aí acabamos fazendo o trabalho com ele, ele é bem legal.
-Parece estranho.
-Estranho? Estranho como?
-Tipo aqueles caras loucos, maníacos, que colecionam cabelo de pessoas mortas.
-Com certeza, eu sou a próxima vítima, ainda mais que meu cabelo é bonito – disse rindo, fazendo piada com a história absurda – você é muito bobo e implicante.
-Sou nada, só estou protegendo você.
-Agradeço a proteção desnecessária, afinal eu já tenho 18 anosQuase 18... – ele me interrompeu insistindo na idade.
-17 é 17, 18 é 18.
Ficamos nessa conversa, a noite chegou e logo já estávamos dormindo, eu demorei um pouco pra dormir, então quase não acordei no outro dia, mas mesmo assim fiz o sacrifício – só vale lembrar como o ensino médio é chato – peguei minha coisas, encontrei minha amiga e fomos pra aula.
Sentei no meu lugar e então Félix começou a falar comigo.
-Tudo certo pra hoje?
-Sim, confirmado.
De tarde, estávamos em casa, no meu quarto fazendo o trabalho, eu na cama e o Félix no computador, depois que terminamos, Félix sentou na cama também e começamos a conversar.
-Sabia que a Alana gosta de você? - disse enquanto escrevia no meu caderno.
-Acho que sim, achei que poderia ter alguma coisa, mas não é dela quem eu gosto – ele fez uma cara triste.
-Então você gosta de alguém, quem é?
-Ah, uma pessoa muito legal, muito bonita, mas ela nem sabe que eu gosto dela, não falei pra ela.
-Cara, que bobeira, você tem que correr atrás disso, você tem que contar a ela, mostra o quanto você gosta dela, com certeza ela vai gostar de você também, você é maneiro.
-Mas... – ele estava meio sem palavras, nem completou a frase.
Eu sempre gostava de dar uma de cupido, sempre tentando juntar os casais, mas eu nunca fui muito bom nisso - só juntei um casal, mas nem durou.
-Cara, pega seu celular.
-Pra que? – ele realmente ficou surpreso.
-Liga pra essa pessoa agora e fala que você quer falar com ela, ou encontrar ela, ou fala de uma vez que você gosta dela, de qualquer jeito você não tem ela, então você só pode ter um sim ou um não como resposta – dei uma pausa – quer arriscar?
CONTINUA…
