Olá, galera estou muito satisfeito com os comentários e elogios que vocês tem feito! A história tá acabando e falta pouco pra terminar, mas foi muito bom ter escrito pra vocês e o melhor de tudo e saber que vocês gostaram. Continuem comentando e dando palpite sobre como deve ser o final! Boa leitura e valeu...
Eu o olhava ainda surpreso, mas certo da minha decisão. O motorista fechou a porta do ônibus e eu assistia Pedro chorar compulsivamente.
- Fica comigo, por favor.
O ônibus arrancou e Pedro fazia parte do meu recente passado. Ele ficou lá, chorando e eu seguia pra uma nova vida. Buscava por uma novidade que não me fizesse pensar no que estava acontecendo!
A viagem foi tranquila, tentei dormir mas não consegui. Liguei para minha mãe e a avisei da viagem, mas tive que desligar o celular porque Pedro não parava de me ligar. Eu me sentia culpado pelo que tinha feito, mas sabia que se continuasse como estava eu o faria sofrer muito mais. Vê-lo sofrendo ia ser muito pior e eu precisava mudar as coisas.
Mudei!
Cheguei na rodoviária de Belo Horizonte, peguei um taxi e fui pro centro da cidade. Encontrei um hotel barato e me hospedei. Procurei saber de algum evento ou festa que aconteceria na cidade e encontrei uma exposição de artes plásticas no Palácio das Artes. Caríssimo, mas dentro das minhas possibilidades. Tomei um banho ótimo e relaxante, me arrumei impecavelmente e segui pra exposição. Só queria espairecer. Fingir que tudo acabou e que eu podia esquecer o passado e me dedicar somente a mim mesmo.
Cheguei na exposição e já estava feliz por estar ali. Pessoas bonitas, aparentemente cultas e sociáveis. Fiquei admirando umas obras de arte, bebendo champagne. Estava tudo lindo.
Até que um homem, aparentemente 40 anos, toca meu ombro:
- Gostou da obra?
- Adorei, bem bonita.
- Que bom. Foi bem difícil fazer.
- Sério?! Você que fez essa escultura?
- Foi sim. Sérgio Moraes, prazer.
- Carlos Sales, prazer é meu.
Criamos um papo bacana e ficamos admirando as inúmeras esculturas daquele local. Confesso que bebi um pouco demais e estava meio alto, mas não sei se estava perceptível. Sergio era lindo, apesar de bem mais velho que eu. Seus olhos verdes contrastavam com sua pele morena clara. Era um pouco mais alto que eu e parecia ter um corpão. Continuamos conversando e sempre vinha alguém cumprimenta-lo. Pude ver que era bem conhecido e respeitado no local. As coisas só ficaram estranhas quando ele disse:
- Venha cá. Esses são minha esposa e meu filho, Marcia e Lucas. Esse é o Carlos, o encontrei admirando minhas obras.
Confesso que não esperava essa apresentação! Os cumprimentei e segui em direção ao banheiro. Já tinha bebido demais, estava tudo rodando e eu precisava ir embora, me enfiar num taxi e chegar ao hotel logo. Estava saindo do banheiro quando bati de frente com ele:
- Ficou triste ao ver minha família?
- Não... não é isso. É que, eu tô me sentindo meio mal. Acho melhor eu ir embora.
- Você tá meio alto. Vamos, vou te levar em casa.
Nem adiantou recusar. Ele me levou até o carro, e que carro, e me levou até o hotel. No caminho contei sobre minha vida, a escolha da faculdade, as cidades que morei. Até que despejei:
- Preciso te falar uma coisa. Eu sou gay. Eu sei que um cara como você, de família não vai querer ficar de papo com um viadinho, então até mais. Valeu pela carona.
Ia saindo do carro quando ele me segurou.
- Ei, por que essa tensão toda? Tá tudo bem. Não tenho problema com isso não. Você é um menino inteligente, muito maduro pra sua idade e só de ter gostado da minha obra já ganhou pontos comigo. Vou te levar até o apartamento.
Estava sendo incrível aquilo. Pela primeira vez um homem queria uma amizade séria comigo. Um pai de família, sem outras intenções, mas absolutamente gato.
Chegamos a porta do quarto e ele se despediu com um abraço, dizendo que voltaria no outro dia pra saber se eu tinha melhorado. Anotou seu telefone e colocou o papel em meu bolso.
Fechei a porta, me deitei na cama e eu me sentia como se tivesse feito a maior conquista da minha vida. Peguei meu celular para gravar o número do Sergio. Estava digitando quando o celular vibrou e eu atendi sem querer:
- Fala.
- Carlos, onde você tá? Em qual hotel? Me fala, por favor.
- Ai Pedro, são três da manhã. Me deixa em paz vai.
- Eu nunca vou te deixar em paz, eu te amo. Onde você tá?
- Tô num hotel. Boa noite, tô com sono.
Aproveitei do pileque pra agir como um bebum e desligar o telefone. Tava precisando me desligar dele, custe o que custar. Troquei de roupa, escovei os dentes e dormi.
Acordei no outro dia com as batidas na porta do quarto. Me levantei ainda cambaleando, fiz minha higiene rápido e abri a porta:
- Nossa, achei que o belo adormecido ia me fazer esperar o dia todo.
Ele estava mais lindo que no dia anterior. Me deu um abraço rápido e foi entrando. Fechei a porta:
- Sergio, já tá aqui tão cedo? Poxa, isso é que é vontade de me ver né. (foi uma piada)
- Pois é, mas já são duas horas da tarde dorminhoco. O que vai fazer hoje?
- Não sei. Por que?
- Tenho um programa pra você hoje.
- E eu faço programa por acaso.
- Tá engraçadinho hoje hein Carlos. Mas se arruma logo, vamos lá pra casa. Todo mundo te esperando pra almoçar.
Aiai aquilo estava muito engraçado. Eu conheço o cara num dia, me interesso por ele, me decepciono por saber que ele não curte e é casado e ele me bajula pra almoçar com sua família. Só comigo que essas coisas acontecem.
Me arrumei o mais rápido possível e aceitei ir. Que casa linda! O cara era rico mesmo. Casa perfeita. Entramos e ele me apresentou a alguns amigos como “o garoto que gostou da sua obra”. Foi até engraçado. Almoçamos e a comida estava maravilhosa. Todos foram jogar baralho e eu estava deslocado pra caramba. Sérgio percebeu e ficou conversando comigo quase a tarde toda, até eu pedir pra ir pra casa. Sua esposa havia me tratado muito bem, assim como ele, um extremo bajulador, mas eu não queria explorar deles.
- Eu só vou tomar um banho e te levo pro hotel, pode ser?
- Claro, eu espero.
Fiquei ainda contemplando a casa, até que fui ver o jardim. Como Pedro estaria hein? Provavelmente chorando e sofrendo muito. E João? Os preparativos do casamento deviam estar bem adiantado, já que faltavam poucos dias pra tão sonhada (não) união. Aff.
Estava tão entretido com meus próprios pensamentos que nem vi ele entrar. Lucas, a cópia do pai, só que mais fortinho e com uma boca bem vermelha, um tesão. Já tinha reparado antes, mas seu olhar de raiva me desconcertou:
- Fala de uma vez o que você tá querendo tirar do meu pai!
CONTINUA...