Fui pro meu quarto e fiquei refletindo sobre meu dia, sobre a falsa amizade da Alana, teria que ir vê-la de qualquer jeito, a tarde iria passar na casa dela.
Fui até sua casa, não liguei avisando, pois ela não atenderia, cheguei na sua casa e apertei o interfone, sua mãe atendeu e como não devia saber da briga, mandou eu entrar, fui direto para o quarto da Alana.
-Oi Alana!
-O que você está fazendo aqui?
-Vim conversar sobre aquela palhaçada de hoje de manhã?
-O que quer saber? – ela falou com uma indiferença, que me cortou o coração, nos conhecíamos há tanto tempo, ela não tinha o direito de fazer isso comigo.
-Quero saber onde estava minha amiga hoje? Alana eu não acredito que você estava com o Danilo, você estava lá pra ajudar a me humilhar.
-Traíras não têm amigos, são sozinhos.
-Traíra? A única que estou vendo é você, eu nunca fiquei contra você, sempre estive do seu lado e sempre te ajudei com tudo.
-E quanto ao Félix?
-Alana, ele nunca ia ficar com você, ele é gay, você não tinha chance.
-Esse não é o problema Eric, ele é gay, ótimo, o problema foi que meu melhor amigo me traiu 3 vezes, primeira, estava ficando com um cara e escondeu de mim, segunda, estava ficando com o cara que eu gostava, terceira, não me contou que o cara era gay e ficou me incentivando a ficar com ele.
Olhando dessa perspectiva, ela até que tinha um pouco de razão, eu causei toda essa confusão, se tivesse contado a ela tudo desde o começo, poderia ter evitado isso, mas agora já era.
-Mesmo assim Alana, nada justifica sua atitude desprezível, mas quer saber, eu vou embora, você não merece a minha amizade depois disso - disse e fui saindo do quarto.
No meio do caminho, ouço um barulho que eu odeio ouvir de pessoas que eu gosto, Alana estava iniciando um choro, me virei e olhei pra ela, Alana me olhou com uma carinha de arrependida, seus olhos começaram a brilhar e então as lágrimas vieram, cada gota de lágrima que caia do seu rosto ecoava no meu ouvido, me fazendo amolecer quanto a ela.
-Alana... Por favor, não faz isso comigo.
-Desculpa, é só que... - ela não conseguiu terminar, estava soluçando.
-Que foi amiga? Por que você está chorando – me sentei perto dela e a abracei.
-Eu não devia ter feito isso, garotos não deviam estar entre nossa amizade, nós nos conhecemos há tanto tempo e eu dei as costas pra você.
-Calma amiga, está tudo bem, contando que nós fiquemos bem de novo, eu não ligo.
-Desculpa amigo.
-Desculpada, você me desculpa?
-Pelo que?
-Eu devia ter te falado tudo, eu não contei porque o segredo não envolvia apenas eu, tinha o Félix, eu posso contar meus segredos à você, mas os dele, ele conta pra quem ele quer, não fiz por mal.
-Tudo bem, desculpado, mas com uma condição...
-Ai Alana, começou... - ela não era fácil, nem nesses momentos ela deixava escapar.
-Você vai ter que arrumar um gatão pra mim, pra poder repor o que você me tirou – do choro ela passou para uma risada.
-Tudo bem sua boba.
Ficamos conversando um pouco, contei como estavam as coisas entre mim e o Félix, contei do namoro, sobre ele ter me chamado de frio, falei sobre a super proteção do Caio, a briga com o Danilo, tudo que eu teria contado para minha melhor amiga.
Dois dias depois, voltei as aulas, teria muita coisa pela frente, pois até então poucas pessoas tinham ficado sabendo de mim, mas depois daquela briga, nessa hora toda a escola devia saber.
Fomos pra escola e ficamos os três juntos, as piadinhas não pararam, os xingamentos continuavam e os professores continuavam a fazer porcaria nenhuma, fingiam que nada acontecia – típico – eu não tinha muito o que fazer, apenas tinha que aguentar o resto do ano.
Ao sair da escola, vi o Caio encostado em frente ao seu carro, ele veio em minha direção – agora tinha percebido como ele era marrentinho, até no andar.
-Vim te buscar, não sei se esse pessoal vai querer tentar algo.
-Tudo bem, o Félix e a Alana podem ir também?
-A Alana sim, no meu carro aquele moleque não entra.
-Acho que vou andar um pouco então– disse me virando, me afastei, meu namorado e minha amiga estavam me esperando.
-Tudo bem – ele acabou aceitando, ele me conhecia e sabia que era teimoso.
No carro nós três fomos conversando, Caio apenas escutava, mas toda vez que o Félix abria a boca pra falar qualquer coisa, o Caio fazia cara de desdém, de raiva, pra ele tudo que o Félix dizia era idiota – fiquem tranquilos, todos sobreviveram o percurso até o final.
Os dois desceram e ficamos eu e o Caio no carro.
-Que idiota! – ele falou baixinho, mas numa altura que eu pude escutar.
-Que implicante! – fiz um elogio de volta.
-Não entendo você Eric, namorar esse moleque, idiota, não conseguiu nem te defender, é uma menininha.
-Ninguém é obrigado a saber brigar e como eu já disse, sei me defender sozinho, não preciso de um macho alfa pra brigar por mim…
-Enfim, você não precisa disso, você só se meteu em confusão depois que ficou com ele.
-Estou bem assim.
Pausa dramática, um minuto de silêncio, ninguém falou nada, odeio esse clima, mas felizmente o Caio acabou com isso.
-Vou te buscar no colégio.
-Que dia?
-Todos.
-Fala sério, agora tenho um motorista? Jeffrey?
-É melhor assim, você não corre risco e ainda vai pra casa de carro.
-Sem problemas Jeffrey.
Chegamos em casa, o carro parou, o Caio saiu e eu continuei dentro do carro, ele então sentiu falta da minha presença, olhou pra trás e veio falar comigo.
-O que foi?
-Estou esperando você abrir a porta.
Ele fez uma cara de que não estava entendendo nada, mas abriu a porta.
-Jeffrey, pegue minha mochila e leve para o meu quarto, vou esperar o almoço – saí andando e deixei-o sozinho.
Estava na cozinha e ele veio falar comigo.
-Você está mesmo levando isso a sério?
-Jeffrey, não percebi que estava aí! – eu fazia a maior cara de debochado, eu iria levar aquilo a sério, eu não era fácil.
-Eric, para de bobeira!
-Jeffrey, pra você é Senhor Eric, por favor!
-Tudo bem Senhor... Queria saber se vou precisar usar uniforme amanhã?
-Tudo bem, já chega!- a brincadeira era legal enquanto eu estava zoando ele, depois que ele entrou na onda, ficou chata - eu sou adulto, não vou ficar de bobeira.
Ele cruzou os braços e estampou no rosto um sorriso de vitória, ele me fez desistir, o que não era algo comum.
-Eu até aceito a carona, mas o Félix vem junto.
-Aquele moleq…
-Não estou disposto a negociar, esse é meu preço final – falei interrompendo ele.
-Fechado – ele apertou minha mão não muito satisfeito, mas pra ele estava valendo, era melhor do que nada.
Então fomos almoçar, eu o Caio e a Fátima, estava tudo tranquilo, não converso muito na hora do almoço, pois eu acabo falando demais e não como, mas no meio da refeição o telefone tocou, a Fátima se levantou e foi atender, continuei na minha, a Fátima resolvia muita coisa por aqui, ela apareceu na cozinha novamente e com um sorriso grande.
-Eric, é pra você!
-Quem é? – minha curiosidade já estava aguçada.
-Não sei, quer falar com você.
-Nossa, pra que tanto suspense?
Fui atender ao telefone, estava mais querendo saber quem era do que o que a pessoa queria falar comigo.
-Alô?
CONTINUA…