Para melhor compreensão do texto torna-se necessária a leitura dos contos anteriores, lembrando a todos que o que move os escritores deste site são as opiniões aqui postadas, bem como as notas atribuídas aos mesmos. Continuem comentando e votando.
Levantei atordoado pelo susto. Corri pra pegar minhas roupas, vesti minha sunga o mais depressa que consegui e saí em disparada pela rua enquanto ouvia os gritos de Dona Vera (mãe de Patrício). Cheguei a minha casa com o coração querendo sair pela boca. Minha mãe perguntando o que estava acontecendo – apenas respondi que estava apressado para ir ao banheiro. Ao fechar a porta já chorava copiosamente, pensando no que iria nos acontecer. Comecei a pensar no Patrício e em tudo o que ele deveria estar ouvindo de sua mãe.
Patrício: Mãe, por que você voltou? Cadê o papai?
D. Vera: Acho que quem quer ouvir respostas sou eu, mas mesmo assim vou satisfazer a sua curiosidade: já havíamos chegado ao nosso destino, mas seu pai recebeu um telefonema urgente do hospital e ele teve que retornar por conta de um paciente. Ele só me deixou aqui em frente, nem mesmo retirou as malas do carro. Ainda bem que ele não ficou pra ver o que eu vi.
Antes mesmo de começar a pronunciar as primeiras palavras, as lágrimas já rolavam soltas pela face de Patrício. Estava difícil encontrar o início. Ele reuniu todas as forças que possuía e deixou seu coração falar mais alto.
Patrício: Mãe, promete me deixar falar sem me interromper? – Foi a única exigência que ele conseguiu fazer em meio a seu pranto.
D. Vera: Prometo. Fale logo.
Patrício: Mãe, você sabe o quanto eu te amo. Sabe como é grande a afinidade que temos um com o outro.
D. Vera: Pare de enrolar, Patrício!!!
Patrício: Você prometeu, mãe.
D. Vera: Tá certo, continue.
Patrício: Eu conheço o Danilo desde que me entendo por gente. Sempre fomos os melhores amigos, saímos juntos, praticamos esportes juntos, estudamos juntos. Ele sempre esteve presente nos momentos mais importantes da minha vida. Saíamos juntos pra balada. Pegávamos todas as garotas que nos davam bola e você sabe, foram muitas. Você mesma vivia me dizendo que eu deveria encontrar alguém que eu realmente gostasse, pois não estava certo ficar com uma garota diferente a cada dia.
D. Vera: Exatamente, eu dizia uma garota...
Patrício: Mãe!!! Assim não dá!!!
D. Vera: Tá bom!!!
Patrício: As coisas foram acontecendo de forma natural. Não sei por que razão eu sentia cada vez mais a necessidade de estar perto do Danilo. Quando eu o via com outra garota, isso me incomodava. Quando ele estava rodeado de outros meninos, me sentia mais incomodado ainda. Fui percebendo aos poucos que o que eu estava sentindo eram ciúmes. Eu estava gostando dele.
D. Vera: Isso é uma vergonha!!! Você não tem noção do que está dizendo. Deve estar doente, só pode. Seu pai deve ter algum amigo que possa resolver esse problema. Vou pedir pra que ele te leve a algum psicólogo ou a um psiquiatra.
Patrício: Mãe, você é que deve estar doente. Parece que não está ouvindo nada do que eu disse.
D. Vera: Mais respeito, menino! Você não conhece nada da vida!
Patrício: Conheço sim, minha mãe! Você mesma me ensinou a respeitar o próximo. A não ter nenhum tipo de preconceito e agora vem me falando isso? Você prometeu me ouvir e nem me deixa terminar. Não vê que isso está sendo tão difícil pra mim quanto pra você!
Nesse instante D. Vera se cala, lembrando de seus ensinamentos praticados pela vida inteira com seu filho e a real contradição de suas ações.
Patrício: Se eu pudesse escolher, minha mãe, é claro que eu iria optar por ter uma vida “normal” ao lado de alguma mulher. Eu sei que vou sofrer, sei que muitos irão me tratar de forma diferente, mas eu quero ser feliz.
D. Vera: Meu filho, eu te amo tanto – muitas lágrimas rolavam pelo rosto de minha mãe e eu chorava junto dela – eu não quero que você sofra...
Agarrei-me a minha mãe num abraço forte, acho que encharquei seus ombros com minhas lágrimas da mesma maneira que ela encharcava os meus.
D. Vera: Meu filho, isso vai passar, tenho certeza. Você só está confuso.
Livrei-me do abraço de minha mãe e disse aos gritos:
Patrício: Parece que não ouviu nada do que eu te disse...EU VOU SER FELIZ...EU VOU SER FELIZ!!!
Saí correndo em direção ao meu quarto e bati a porta com muita força...resolvi me trancar e colocar meus pensamentos em ordem. Ouço meu celular tocando e vejo que já haviam 15 ligações perdidas do Danilo. Atendi imediatamente:
Patrício: Oi meu amor!
Danilo: Oi...estava tão preocupado com você...
Patrício: Tudo vai ficar bem, assim que der eu ligo pra você e marcamos um encontro. Preciso colocar meus pensamentos em ordem...tive uma conversa difícil com minha mãe, mas prefiro te contar pessoalmente. Um beijo meu amor!
Danilo: Beijos, meu lindo! Não demora a entrar em contato, por favor!!!
Patrício: Pode deixar, eu prometo.
Desliguei o celular e fiquei pensando em tudo o que aconteceu. Acabei pegando no sono. Não sei quanto tempo eu dormi. Só sei que acordei com o barulho do carro do meu pai sendo estacionado na garagem de casa. Ainda ouvi quando ele perguntou a minha mãe porque ela estava chorando...
(Continua...)
