Cara, pega seu celular.
-Pra que? – ele realmente ficou surpreso.
-Liga pra essa pessoa agora e fala que você quer falar com ela, ou encontrar ela, ou fala de uma vez que você gosta dela, de qualquer jeito você não tem ela, então você só pode ter um sim ou um não como resposta – dei uma pausa – quer arriscar?
Ele pegou o celular e começou a digitar os números, mas não fez a ligação, ficou olhando para o celular como se estivesse em dúvida se ligava ou não, suas mãos tremiam um pouco, eu incentivei um pouco mais, então ele discou e colocou o celular no ouvido.
Meu celular então tocou também, atendi chamada.
-Alô?
Não obtive resposta, apenas silêncio.
-É você Eric! – disse o Félix no celular e também na minha frente, como era possível? Eu acho que fiquei tão chocado que a ficha não caiu, mas de repente eu percebi que ele estava falando de mim, eu era a pessoa que ele gostava, mas era tão estranho, o Félix? Eu não sabia o que fazer, pedir um tempo? Falar que eu também sou gay? Não falar nada? Fingir que desmaiei? Que droga! Mas minha cara estava tão péssima que fez o Félix ficar mais nervoso.
-Eu... Me desculpa Eric, eu não devia... – ele estava gaguejando muito, nenhuma frase saia completa – eu vou indo.
-Espera, fica!
-O que? – ele perguntou não acreditando.
-Fica.
Ele então sentou de volta na cama e então eu me aproximei do seu rosto e o beijei, um beijo calmo, eu estava meio envergonhado com a situação, era estranho, tanto pela história ali e também por ele ser meu amigo, seu beijo era ótimo, suave, não tinha pressa, nem ansiedade, era perfeito.
O beijo terminou, ficamos nos olhando, ora envergonhados, ora felizes, demos uma risada sem graça, mas eu não quis ficar naquela bobeira de malhação, então voltei a beijá-lo, ao longo do beijo fomos deitando na cama, estava por cima dele, aquele momento estava maravilhoso.
-Eric eu estav... Eric? – o Caio entrou no meu quarto de repente – que droga é essa?
Ficamos sem ação, eu de vergonha e o Félix de medo, um cara enorme gritando “que merda é essa?”, eu ficaria se não fosse meu irmão.
-Caio, não é da sua conta – falei enfrentando-o, era melhor do que falar “não é nada disso do que você está pensando”, por que era aquilo, eu estava beijando outro cara deitado numa cama, não tem explicação pra isso, mas eu estava na minha casa, meu quarto, ele não tinha direito de me questionar.
-Cara, sai da minha frente antes que eu te dê um murro... – ele fez um sinal com a mão fechada – um soco daquele destruiria qualquer pessoa normal.
No mesmo momento o Félix saiu do meu quarto e num instante eu já ouvi o barulho da porta da sala, ele estava super assustado e não voltaria tão cedo aqui em casa, se voltasse.
-Não precisava fazer isso, ele é meu amigo.
-Amigos beijam amigos? – ele estava muito bravo.
-Esse eu beijo.
-Você não pode fazer isso.
-Tanto posso, como vou.
Ele me olhou com um olhar estranho, de decepção com tristeza e saiu do meu quarto, não o segui, não iria dar razão à ele.
Fiquei a tarde e a noite inteira no meu quarto, não queria olhar na cada dele, primeiro por que ele não podia me julgar assim, segundo por que ele não podia ter gritado com o Félix daquele jeito, mas eu estava morrendo de fome, tinha que comer alguma coisa, desci pra cozinha.
-Oi Fátima, pode fazer algo pra eu comer? Estou faminto.
-Posso, claro – disse ela enquanto preparava algo pra eu comer - Eric, você sabe sobre o Caio? Ele saiu hoje sem falar nada comigo e ainda não voltou.
-Não sei não – respondi com uma certa grosseria.
-Aconteceu alguma coisa?
-Não, nada, tudo normal.
-Se você souber sobre ele, me fale.
-Falo sim.
Comi meu lanche e fui pro meu quarto, confesso que depois que a Fátima disse que o Caio ainda não tinha voltado pra casa, fiquei preocupado, embora ele tenha sido um completo imbecil, eu me importava com ele, queria ele em casa, então mandei uma mensagem à ele.
“Caio, estou preocupado com você, volta pra casa logo, aqui nós conversamos e nos entendemos”.
Tentei não parecer muito desesperado, nada de por favor e volta pelo amor de Deus, mas também não muito grosso, nada de palavrões ou coisas do tipo.
Esperai até um pouco mais de 2 da manhã, mas nada dele aparecer, então fui dormir, acordei no dia seguinte e fui pra escola, ao chegar a primeira coisa que fiz foi falar com Félix.
-Félix, sobre ontem, me desculpe tudo o que aconteceu.
-Cara, quem é aquele... – ele pensou em uma palavra pra descrever o Caio – monstro? Ele ia acabar comigo em um instante.
-Ele é meu irmão, ele não vai fazer nada com você, prometo.
-Que bom, eu quase morri de susto.
-Eu percebi – fiz piada com a cara dele – você correu mais que um maratonista.
-Aposto que no meu lugar você faria o mesmo.
-Pra falar a verdade, não, eu sei lutar, como eu sabia que poderia sofrer de preconceito algum dia, me certifiquei de aprender a me defender.
-Nossa, isso é bom.
-É.
Tivemos as primeiras aulas e depois fomos pro intervalo, Félix na mesma hora disse que tinha algo pra falar comigo, fomos pra um lugar onde tinha poucas pessoas perto, para poder conversar a vontade.
-Eric, como fica nossa situação?
-Não sei, eu gostei de ficar com você – dei um sorriso tímido.
-Eu também, queria repetir.
-Você não vai querer ir lá em casa né?! – disse rindo – então a gente pode ir pra algum lugar afastado depois da aula.
-Não vejo a hora da aula acabar – ele fez uma cara de safado pra mim que me deixou louco, ele era tão sexy, uma boca maravilhosa, era muito charmoso.
Fomos pra aula e ficamos o tempo todo olhando pro relógio, desejando que a aula voasse, terminamos a aula e fomos embora, avisei pra Alana que passaria em outro lugar antes de ir pra casa.
Estávamos andando um ao lado do outro na rua, não falávamos nada, apenas andávamos olhando para os lados, pra trás, certificando se haviam muitas pessoas em volta, no primeiro momento que vi a rua deserta, puxei-o contra meu corpo e o beijei, nosso beijo era puro desejo, o beijo de ontem tinha deixado um desejo de quero mais, nossas línguas se entrelaçavam, uma só sincronia, seu corpo colado ao meu, me deixava mais quente e com muito tesão.
Paramos por um tempo, antes que alguém aparecesse e andamos mais um pouco, até que lembrei de um lugar que dificilmente apareciam pessoas, uma área verde afastada, ali seria nosso ponto de encontro, ficamos um tempo juntos por ali e depois fomos para nossas respectivas casas.
Ao chegar em casa, abri a porta e a primeira pessoa que vi foi Caio, estava sentado no sofá da sala, olhando fixamente para a televisão, mas sua concentração foi atrapalhada pela minha chegada.
-Oi – falei meio sem graça, eu não sabia fingir que coisas não aconteceram.
-Você demorou, onde estava? – ele não disse com tom autoritário ou bravo, foi com preocupação.
CONTINUA…