Oie amores!
Como eu disse no meu comunicado, peço desculpas por ter demorado séculos
para publicar mais um capítulo do conto.
Para que entendam a história, é necessário a leitura dos outros
capítulos; a leitura pode ser feita através do meu perfiu na casa:
HTTP://www.casadoscontos.com.br/perfil/163951
Abraços!
Garoto Dv"O amor é cego!" - capítulo 06
Alguém abriu a porta.
- Renato, que papelão!
- Mã-mã- mãe?! do que a senhora tá falando?
- já sei de tudo!
- de tudo o que?
- não se faça de sonso, Renato. O pai desse menino aí... como é mesmo o nome dele?
- Natan, minha senhora. O que tem meu pai?
- Seu pai, moço, ligou lá pra minha casa, contou o que meu filho fez com você... que coisa feia, doutor renato! não sabia que você gostava dessas coisas, e ainda
por sima levar um garoto assim...... pro mal caminho.
- assim como? - perguntou Natan, com uma cara de indignação.
- assim... ceg... deficiente...
- deficiente do que, senhora? - Perguntou Natan, com a mesma cara de indignação.
- deficiente visual...
- Pois bem, disse muito bem. Deficiente visual, não deficiente mental ou alguma criancinha que não sabe o que está fazendo. Portanto, seu filho não me obrigou, induziu
ou forçou a nada. Se quer saber se nos beijamos,
o seu filho te conta depois. Agora, o resto que meu pai disse, e sei que ele aumentou um monte, não acredite. Se beijei Renato foi porque nós dois quisemos e porque
nos amamos. Agora com licença. É um assunto
de familia e não devo me intrometer mais do que já me intrometí. Só fiz isso para que a senhora não culpe o seu filho de algo que ele não fez sozinho.
Natan saiu com uma fisionomia preocupada. Sabia que aquela conversa não
seria nada fácil, mas que se realmente Renato quisesse ficar com ele
aquela conversa seria necessária. Em suas preces Natan pedia a deus e
aos orixás para que encaminhassem tudo, para que ficasse tudo bem e para
que ele conseguisse força de algum lugar para enfrentar a barra em sua
casa. Saiu do hospital, tomou um ônibus e seguiu em direção ao que até
então era sua casa. Ele não estava com nenhum pingo de vontade de
encarar o pai, mas, sabia que aquilo era necessário. Além do mais, não
pretendia ficar naquela casa, então precisava pegar suas coisas para ir
para outro lugar. Mas que lugar? para onde ir? quem iria ajudá-lo?...
Os pensamentos do menino foram interrompidos pelo toque do seu celular.
- alô...
- Oi, bichaaaaah!
- Will?...
- eu né... quem mais poderia ser? dãããããr
- ai Will...
- que que foi que a senhora tá com essa cara de bicha sem rumo?
- você nem tá vendo minha cara!
- e preciso por acaso? não te conheço de ontem, Natanzildo.
- Natanzildo nãooo. mas tem rasão. Você não sabe o que aconteceu... foram tantas coisas!
- coisas pelo visto nada boas né?
- verdade... Amigo, você tá em casa?
- sim, e foi pra isso que eu te liguei.
- foi?! como assim?
- ia te chamar pra dormir aqui hoje, topa? meus pais tão viajando, sabe
o quanto sou medroooosa, odeio ficar sozinho.
- Oraieieo mãe! - exclamou Natan em agradecimento a sua mãe Oxum. Era
pra ser um pensamento, mas esse pensamento acabou saindo alto.
Finalmente, uma luz no fim do túnel.
- o que você disse?
- nada, nada... é claro que eu topo! vai ser ótimo... não dá pra eu
ficar em casa hoje mesmo, tá um clima mó pesado. Quando chegar aí te conto!
vou pegar minhas coisas.
- tá, beijo.
- beijo.
Uma fagulha de felicidade brotou no rosto de Natan. Pelomenos tinha
William, o seu melhor amigo.
- Menino, menino... é aqui seu ponto! - disse o cobrador para Natan.
- nossa, obrigado...
Natan desceu do ônibus. Definitivamente, não estava bem e estava muito
tenso. AQuela tinha sido a primeira vez que ele não reconhecia o ponto
que descia. Apesar de não enxergar, Natan tinha outras formas de
reconhecer os lugares por onde o ônibus passava. Lombadas, curvas,
etc... dessa vez tudo passara despercebido; ele só pensava se o pai
estaria lá, se ao menos a mãe estaria em casa para ajudá-lo.
Havia chegado a hora. Natan parou no portão da sua casa, respirou fundo,
fez uma prece e abriu.
- Não, Joana, não! não existe isso de aceitar. Se ele quiser voltar pra
casa, se ele quiser que eu o perdoe, vai ter que ser assim, do jeito que
eu falei.
- mas Jorge!
A conversa dos dois foi interrompida quando ouviram Natan entrando.
- Natan, venha ká.
- espere...
- eu tô chamando agora.
- mas eu não vou agora.
- vem sim! - disse Jorge, puchando Natan para uma cadeira.
- ai! tá me machucando! - Gemeu Natan por causa do apertão no braço que o pai lhe dera.
- Jorge! - disse Joana em tom de protesto.
- Natan, tomamos uma decisão.
- tomamos não, você tomou... eu não compactuo com isso.
- não interessa Joana, não interessa... Eu decidí tá decidido. Nós te aceitaremos de volta filho...
- Quais são as condições? - Perguntou Natan em um tom irônico, já que havia escutado um pouco da conversa.
- é...bem... - disse Jorge pigarreando e procurando as palavras - você vai ter que esquecer esse menino, você vai voltar a ser normal... já falei com o pastor, ele
vai orar por você. apartir de hoje você vai ser um membro
da igreja! vai largar essa vida torta, vai largar
esse menino doente, ele vai espulsar esses demônios de você e você vai largar a macumba...
- CHEGA PA... JORGE, CHEGA! EU NÃO QUERO, EU NÃO VOU, NÃO! NÃO VOU PRA IGREJA, NÃO VOU LARGAR O AMOR DA MINHA VIDA, NÃO VOU LARGAR MINHA RELIGIÃO! PREFIRO PERDER
UM PAI! OU UMA CRIATURA QUE PELOMENOS DEVERIA FAZER O PAPEL DE PAI MAS NÃO FAZ!
PREFIRO MORAR EM BAIXO DA PONTE! PREFIRO NÃO TER NINGUÉM PRA ME APOIAR DO QUE ISSO! PREFIRO A MORTE! - Natan gritava em lágrimas.
- OLHA O JEITO QUE VOCÊ FALA, SEU MOLEQUE VEADO! - Jorge berrava com o dedo em riste para Natan. - EU ESTOU FAZENDO MEU PAPEL DE PAI SIM! TE DEI OPÇÕES PARA SE CURAR
DESSA DOENÇA, VOCÊ NÃO QUER! ENTÃO QUE VÁ MORAR EM BAIXO DA PONTE!
CHEGA DE TER FILHO VEADO E MACUMBEIRO... QUERO UM FILHO NORMAL! NÂO QUERO FILHO ENDEMONIADO E DOENTE!
- Para jorge, para... - Falava Joana, quase sem força de tanto chorar.
- NÃO EXISTE PORRA DE DOENÇA NENHUMA! NÃO EXISTE PORRA DE DEMÔNIO NENHUM! O ÚNICO DEMÔNIO QUE EXISTE É O SENHOR SEU NOGENTO! AGORA SE ME DÁ LICENÇA, VOU PEGAR MINHAS
COISAS PORQUE NÃO QUERO PASSAR MAIS NEM UM MINUTO AQUI NESSE LUGAR!
Natan foi para o quarto com a face mergulhada em lágrimas. arrumou suas coisas o mais rápido que pode, levou aquilo que deu conta. Bengala em uma mão, mochilas e
sacolas nas costas e nos braços.
Ao passar pela sala, a mãe ainda tentou:
- Filho, pelo amor de deus. Fica... eu não vou aguentar!
- não, mãezinha, não. Sabe que eu te amo, doi muito ter que deixar a senhora. Mas é preferível lutar pela minha felicidade do que ter uma vida de faichada só pra
agradar meu pai. Não saberia viver sem o Renato,
sem minha religião, sem minha felicidade e sem minha personalidade verdadeira, tendo que fingir algo que não
sou. - Natan não conseguia falar mais nada. As lágrimas e os soluços o impediam. Apenas abraçou a mãe, beijou-lhe a face e saiu. Saiu para talvez não voltar mais.