Ele me enchia o saco, me perturbava mesmo com a sua presença, parecia que gostava de ser esculachado. Ele me ligava, mandava e-mail, mandava presentinhos, deixava sms, isso era um porre!! Eu não queria mais nada com ele, nem ficar perto, mas ele era insistente, sempre foi, quando queria algo ia até o fim para conseguir.
Ao sair do prédio eu o avistei parado em frente ao seu carro. Ele estava vestido informal, com uma bermuda, uma camisa e um rayban. Ao me ver ele abriu um sorrisão e veio ao meu encontro.
- E ai Will, tudo certinho?
- Cara! Porra! Olha, eu vou falar bem devagar pra você entender: EU... NÃO... QUERO... SABER... DE... VOCÊ!! Deu pra entender? Quer que eu desenhe?
- Poxa Will, eu só quero me desculpar... como você não me atende nem me responde, eu vim aqui.
- Olha, não perde seu tempo cara, não quero nem olhar pra você, te manca!
- Eu te peço, vamos conversar, eu quero te pedir perdão cara... Só isso, daí se você vai querer continuar sendo meu amigo é outra história.
- Tá cara! Vamos conversar...
- Ótimo.
- Vamos em um outro lugar... – fomos andando e logo paramos em uma praça.- Fala!
- Então... bem... para que você entenda tudo, tenho que começar do início... Eu sempre fui um garoto tímido, você se lembra né?
- sim.
- Então... nunca fui de ter amigos, nunca fui muito popular...
- que isso cara, todo mundo gostava de você!
- Bem... isso depois de uma viagem que eu fiz no primeiro ano, fomos ao museu nacional e ninguém tinha sentado do meu lado, o que era normal, mas um garoto que chegou meio atrasado sentou lá, pois não tinha mais lugar. – a cena se passava na minha cabeça como em um filme.
“ Eu já tinha visto ele na sala de aula e eu sempre quis ser amigo dele, mas ao contrário de mim, ele era o fodão da escola, todo mundo gostava, todo mundo queria ficar junto dele. Eu tentei me aproximar, mas desistia, afinal quem gostaria de andar comigo?!
Bem, então nessa viagem tudo mudou, ele sentou do meu lado e eu vi a única oportunidade de ser amigo do cara mais legal do mundo. Mas minha timidez e minha covardia impediam de falar alguma coisa com ele. Mas ele falou comigo primeiro:
- o que está ouvindo ae Brow? – porra, eu usava toca cd grandão, oh como estou velho! Eu respondi que era... que era... ah não me lembro.
- Legião Urbana, estava ouvindo a música “Faroeste Caboclo” – completei. - Eu falei que adorava legião e você dividiu o fone comigo, assim começamos a cantar, mais pra mostrar que sabíamos a letra que qualquer outra coisa.
- Isso! Começamos nós dois e depois o ônibus inteiro estava cantando, isso fez as pessoas olharem pra mim. Assim que terminou a música, você mesmo perguntou de onde eu era e não acreditou quando eu disse que era da sua sala a 6 meses e que morava a duas ruas da sua casa.
- é... eu era meio desligado...
- Não, eu que era invisível! Mas você me deu cor e todos passaram a me encxrgar. Naquele dia eu andei com o seu grupinho e passei a fazer parte dele e por fim ficamos amigos. Este foi o dia mais feliz da minha vida.
- Não exagera Henrique.
- não estou exagerando... mas continuando. Depois que o passeio acabou eu passei a andar com você e tudo mudou na minha vida, nossa amizade foi crescendo e um ano depois éramos melhores amigos, na verdade irmãos. Você dormia na minha casa direto e eu na sua, íamos a todos os lugares juntos, íamos a cachoeiras e praias juntos, tomávamos banho juntos, eu me lembro que até já vi você fazendo cocô, enquanto eu tomava banho no mesmo banheiro, algo nojento demais, porém que mostra nosso grau intimidade. Contávamos tudo um para o outro, nossas transas, nossos desejos, nossos sonhos...
“ No terceiro ano tudo mudou... primeiro porque nós nos formamos e fomos dispensados do exército... tentamos fazer vestibular e numa festa do pré-vestibular (“cursinho”, para os paulistas), você me deixou de lado pra ficar com a Julia. Nessa noite eu voltei pra casa sozinho... antes, ficávamos com as meninas, mas sempre voltávamos juntos rindo de bêbados pra casa, mas juntos. Neste dia você foi embora e nem falou nada, eu fiquei até o final da festa te esperando, mas você não apareceu. Percebi ali que tudo tinha mudado e não deu outra rsrs, você foi me deixando de lado cada vez mais.
Nessa época, tínhamos o pré-projeto da empresa, você era técnico e eu mexia com os programas e jogos, gravava em disquete ou cd e você fazia a manutenção das máquinas.
- Eu me lembro.
- Já era algo rentável, e com o tempo foi crescendo mais. O curioso de tudo é que depois que abrimos nossa primeira lojinha a Julia engravidou e você sumiu de vez pois acabou se casando com ela. – ele tinha razão, passei a ficar muito menos tempo com ele, no máximo no trabalho, mas ia correndo pra casa, pra ficar com a Julia.
Com o passar dos anos nos tornamos o que somos e em mim crescia uma mágoa muito grande, uma raiva e uma inveja enorme de você Will, pois você me abandonou e eu voltei a ser invisível, não sei como arrumei mulher e um filho. Enfim... eu pensava assim: “ já que ele vai estragar tudo o que demorou anos pra nós fazermos vou pegar minha parte do bolo agora”. Ou seja, fui desviando o dinheiro e colocando na minha conta, pois a ruína da empresa era quase que certa. Aquele foi o primeiro ato imundo que fiz... mas isso mexeu com o meu caráter...
Quando você me denunciou, o ódio e o desejo de vingança se apossaram de mim e eu queria me vingar de você de qualquer jeito, não entrava na minha cabeça que eu era o errado por ter desviado dinheiro, pra mim você foi injusto e muito filho da puta por ter me mandado pra prisão, ter sujado minha ficha, ter me feito ficar preso naquele lugar deplororável... bem, na minha mente doentia você tinha que sofrer castigo igual, então bolei esse plano de incriminar você e manter você lá. – ele começou a lacrimejar mas eu me mantinha firme.
Quando você foi preso e eu fui te visitar a primeira sensação que tive foi arrependimento por ter feito aquilo, mas ao ver sua cara de ódio pra mim eu vi que tinha feito a “coisa certa”. Aquele diálogo foi significativo para que eu deixasse você lá.
- E você fala tudo isso assim? com essa facilidade e ainda pede meu perdão? – perguntei quase que gritando.
- Eu estou te contando o que eu sentia na época, mas não o que sinto agora... Depois que você foi preso eu tentei entrar com uma ação, pedindo parte da empresa de volta, mas era impossível, seus bens estavam congelados, assim percebi que isso poderia prejudicar minha afilhada, então, não sei se a Julia te falou, mas entreguei a ela 5 mil reais para passar os meses e que me pedisse mais se precisasse...
- Não, ela não me falou nada.
- Imaginei, bem...os meses foram se passando e não tinha um dia se quer que eu não pensasse em você e em te soltar, mas meu coração estava corrompido e eu não conseguia te fazer nenhum bem. Mas um dia tudo isso mudou... Eu estava entrando em casa de carro, quando 3 homens me renderam e deram na minha cabeça com um pedaço de pau, eu apaguei na hora... Acordei sentado em uma cadeira, vendado e com as mãos amarradas nas costas. Ao me perceber naquela situação eu comecei a gritar por ajuda, pedindo socorro, ao ouvirem minha voz, os homens entraram e eu só sentia as porradas. Tomei muito soco na cara, chute na barriga, no peito... eu implorava pra eles pararem, perguntava o que queriam, porque aquilo, e oferecia dinheiro para ser libertado, mas nada fazia eles pararem de me bater, logo tinha desmaiado de novo. Quando acordei, eles fizeram tudo de novo, nunca tinha apanhado tanto na minha vida, mas quem me dera eles só me batessem!
Quando não aguentava mais eles colocaram um fone no meu ouvido e ligaram uma música altíssima que não me deixou dormir, passei o que eu achava que era noite, em claro. No outro dia os cuidados continuaram... agora eles me bateram com algumas varas ou fios, sei lá, sei que aquilo queimava na minha pele, quando eles cansavam de bater, me jogavam um balde de água, onde matava minha sede, e saiam do lugar, me deixando lá tremendo de frio e com fome, alem da dor infernal que sentia no corpo, mas ainda era pouco.
No outro dia eu acordei com algo queimando na minha perna. Assim que despertei senti o cheiro de cigarro e eles os apagavam no meu corpo. Não sei quantas, mas foram horas sendo queimado em várias partes do corpo por aqueles cigarros. Do mesmo jeito eu implorava, suplicava, mas nada fazia eles falarem nada nem dizer o que queriam de mim.
No quarto dia eles pareciam que tinham me abandonado, eu ficava esperando quando a dor iria começar... na minha cabeça eu tentava juntar os fatos pra saber o que estava acontecendo, porque estavam fazendo isso comigo, mas nada fazia sentido... no meio dos meus pensamentos eu sinto algo me atingindo e senti dor pra caramba. Logo os disparos se intensificaram, acredito eu, que pelo barulho era armas de paint-ball. E era o mesmo ritual, depois da tortura, eles me jogavam um balde com água e saiam. Eu não aguentava mais sofrer aquilo tudo – inconscientemente eu comecei a chorar, era como se eu compartilhasse aquela dor e pela primeira vez eu odiei o Rodrigo, pois aquilo não se fazia com ninguém, mas o pior ainda estava por vir. – ele chorava copiosamente.
No quinto dia, foi como o anterior, me deixaram o dia todo lá, mas em um momento eu escuto um barulho parecendo um maçarico, aquilo me desesperou de uma maneira sem igual, eu me mijei todo assim como fiz todo o resto na roupa, comecei a tremer e a implorar, me humilhar por misericórdia. Não demorou e senti algo muito quente tocando minha pele, a dor era insuportável.
- Tu não sabe o que fez Play?
- Ahhhhh não, pelo amor de Deus, eu faço o que vocês quiserem, mas me deixa sair daqui, não me queima pelo amor de Deeusss ahhhhhhhhhhh – aquilo encostava na minha pele novamente!
- Lembra play boy... – e encostavam de novo. – Não? Nada cuzão? Que pena! – eu gritava e pedia misericórdia, nem raciocinava.
- Oh, você tem um dia pra colocar o William na rua.
- o Will, ele que mandou isso?
- Cala a boca! – e me queimou novamente. – você vai soltar ele, valeu?
- Ok, eu vou soltar ele.
- eu vou te dar um telefone e você vai soltar ele.
Eles me desamarraram, eu falei o número e eles me deram pra falar. Pedi para meu tio pra te colocar na rua o mais rápido possível, que minha vida dependia disso. No mesmo dia, ao ligar de novo você já estava livre. Então assim que confirmei sua liberdade eles me pegaram, me colocaram na mala de um carro e saíram comigo. Depois em um outro lugar, eles me tiraram, me empurraram por alguns minutos para um outro lugar e eu só pensava uma coisa: vou morrer! Assim eu implorava seu perdão e o perdão de Deus a cada momento, a cada passo, a cada vez que respirava, você não tem noção do que é estar perto de morrer, é horrível.
- eu sei bem como é...
- eles me jogaram no chão e começaram a me jogar um líquido, gasolina, eu nunca gritei tanto, implorando pela minha vida, mas por fim eu aceitei a morte e concentrei minhas energias em implorar o seu perdão... se lembra que conversávamos sobre como queríamos morrer?
- lembro, nós discutíamos sobre qual o pior modo, eu dizia afogamento.
- e eu morrer queimado. Sempre foi mau maior medo, meu desespero maior. E aquele queixo de gasolina foi a pior coisa da minha vida, eu nunca mais usei carro a gasolina e quando vou no posto tento prender a respiração ou pensar em outra coisa. Mas enfim... um deles pediu o fósforo, mas o outro falou que tinha deixado no carro, então foram buscar. Eu fiquei esperando o barulho do palito riscando a caixa, mas esse barulho nunca veio. Eu fiquei alguns longos minutos deitado lá, mas como não ouvi mais movimentação nenhuma, tirei a venda e não enxerguei nada, estava no meio do matagal, de noite, ou seja tudo estava escuro e também eu não enxergava direito devido os vários dias com a venda. Fui andando sem rumo, queria ficar o mais longe possível dali, mas meu medo de cair em algum barranco ou outra coisa parecida me fizeram ficar parado, perto de uma árvore. Passei a noite em claro, com meu corpo todo doendo, ardendo, queimando, cheio de feridas, bolhas de queimadura e algumas costelas quebradas. Quando amanheceu, eu vi que estava em um campo, com grama alta e sem estradas nem nada perto. Não sabia para onde ir, estava franco com fome, com sede, mas fui andando.
Graças a Deus eu vi uma casa ao longe, mas fiquei com medo de ser a casa onde fiquei preso, então fiquei olhando de longe. Logo vi uma mulher e algumas crianças brincando então fui até lá. A mulher ficou horrorizada ao me ver naquele estado e me ajudou, me deu água e comida e ligou para uma ambulância.
Fiquei internado por semanas, a maioria das marcas de queimadura saíram mais ainda tenho algumas para me lembrar – falou ele mostrando o braço com dois pontos escuros e meio enrugados.
Assim que sai do hospital, eu fui direto pro Espírito Santo e fiquei lá até algumas semanas atrás.
- E o que te fez voltar?
- você... eu tinha que me desculpar, tinha que ouvir você falando que me perdoa, eu só terei paz depois disso.
Uaw! Que história!Enquanto ele falava, eu imaginava, como o Rodrigo, um amor de pessoa, só um pouco irritado, manda seu bando fazer isso com alguém? Eu fiquei dividido entre o amor que sentia por ele e a raiva pelo que ele tinha feito. Mas depois entendi que ele só mandou fazer aquilo porque achava que era o certo, era um meio de punir quem fez tanto mau a pessoa que ele amava. Quanto ao Henrique...
- Eu te perdoo!Acordei meio emputecido hj, então tirei folga de tudo, amanhã retomo minhas atividades, logo, deu pra postar mais esse, mas sinceramente prefiro postar no fim de semana, durante a semana pouca gente comenta :( rsrs
Bem, pediram um contato no último negócio, deixei um lá nos comentários meu nickname é TAZMANIA... acham que dá certo eu responder as paradas pelo comentário? Eu achei bacana, mas não é tudo que vou responder, claro, não vou estragar o suspense da história rsrs Por exemplo, se perguntarem coisas da minha vida atual, só poderei responder algumas coisas, outras não, entendem?
Beijos a todos e todas! Votem e comentem, per favore!
Galera, tem um contato para vocês: luiz-boladao1@hotmail.com