“Pode ser numa canção/ Pode ser no coração/ Eu só quero ter você/ Por perto”
Capítulo V – Réquiem da Vontade
Abri o Portão para o Anderson, que entrou com sua moto. Ele retirou o capacete, a chave do contato, e apertou minha mão, trazendo me para perto de seu peito em um abraço.
- Saudade! – Saudade? Como assim? Não soube o que pronunciar, e preferi ficar em silêncio. – Tudo bem com você?
- Estou melhor. Vamos entrar?
- Espera! – Eu já estava me conduzindo para a porta da sala quando ele empunhou meu braço direito.
- O que foi? – a luz do terraço estava um pouco penumbra, então eu o mirei, que por sua vez, me alvejou com um olhar muito sério, talvez querendo me falar algo. Algo importante. – O que foi Anderson? – Ele engoliu em seco.
- É que... – antes de dar início, ele fora interrompido.
- Algum problema Charles? – era o Miguel que surgiu na porta de entrada da casa.
- Não! Nenhum. – alternei meu olhar de Anderson para Miguel, e novamente para Anderson, que agora estava com expressões de desapontamento. O que ele intencionava dizer. Na Sala, eu os apresentei.
- Miguel esse aqui é o Anderson. É um amigão que estuda comigo na Universidade.
- Prazer! Chamam-me Anderson. – Cumprimentando Miguel com a mão direita e com uma expressão séria no rosto. Anderson estava diferente.
- Valeu cara! Pode me chamar de Guel. Se tu é “chegado” do “Charico” é meu “chegado” também. – sempre com suas gírias, e seu jeito malandro de ser, Miguel parecia não estar agradando o Anderson.
Sentamos nos estofados da Sala. Conversámos por alguns minutos e eu decidi pedir uma pizza e uns refrigerantes. A conversa estava agradável, mas a troca de farpas entre os dois era visível, parecia que ambos não tinham se identificado. Tentava apaziguar os ânimos de vez em quando, era o mínimo que eu podia fazer, mas era como jogar fogo na chuva. Lanchamos, entre brincadeiras e conselhos que ouvi, percebi que, apesar das diferenças de personalidade, eu tinha grandes amigos.
O Miguel recebeu uma ligação e teve que se retirar, dizendo que era uma “gata” que estava “pegando”. E com isso fora para sua casa. Ficamos eu e o Anderson, ele me falou que na Universidade não tinha nada demais para se fazer, por enquanto, a não serem uns textos e livros que alguns professores orientaram, disse também que os docentes estavam cientes do ocorrido com minha mãe e que enviavam votos de pêsames e força. Eu estava bastante motivado, apesar do luto e dor que atormentavam meu coração.
As vontades de minha mãe estavam na minha cabeça, e a partir do dia que tomei conhecimento delas, estas passaram a ser as minhas também. “Eu vou dar o melhor de mim”, era o que eu sempre dizia para mim mesmo quando me sentia sozinho. Eu tinha que aprender a ser forte da pior forma. Como rio que segue seu curso, eu deveria seguir o meu também. Seria uma montanha para os meus problemas, e mesmo que eu fraquejasse de ora em quando, sabia que poderia contar com meus amigos, os irmãos que eu tive a oportunidade de escolher.
- Minha mãe economizava dinheiro há, mais ou menos, dez anos. Todo esse dinheiro seria voltado para minha formação profissional, que acabara de iniciar. O mínimo que eu posso fazer é me esforçar ao máximo para ser um profissional de sucesso. – dizia a Anderson. – Ainda tenho que resolver uns problemas burocráticos da firma de cosméticos que ela trabalhava como consultora, para que na próxima semana eu possa voltar minhas atenções, meu corpo e minha alma, para meus estudos.
- Muito bem Charles! Nós estudamos juntos, e tudo que eu puder fazer para te ajudar, eu irei fazer!
- Você é um amigão! Vamos nos ajudar nessa empreitada. Ah! Lembrei! O que você queria me dizer naquela hora?
- Deixa para lá. Um dia você vai saber. – Ele estava com um sorriso no rosto agora. Como não sou de insistir apenas disse. Talvez o seu lindo sorriso amenizou a minha curiosidade.
- Tudo bem. – sorri para ele.
Anderson se retirou da minha casa. E eu fiquei ali. Tudo estava começando a se encaixar, eu iria me focar nos estudos, não iria mexer naquele dinheiro, a não ser para algum fim educativo meu. Tranquei a casa, e fui para o meu quarto, chegando lá acendi mais uma vela e rezei olhando para o porta-retratos que acolhia a imagem da minha mãe, deitei na cama e o sono me invadiu.
Nos dias que sucederam não ocorreu nenhum acontecimento importante, eu resolvi alguns assuntos que envolviam a morte da minha mãe, e me organizei para os desafios que me aguardavam. Meus amigos vieram a minha casa nesse final de semana, os informei dos meus planos e fiquei contente em apreciar a concordância e o apoio deles para comigo.
Segunda-feira chegou rápida, e eu reinicie minha rotina, agora totalmente remanejada, porém com uma ausência importantíssima, que me desfalcou um pedaço do peito, mas que seria genericamente suprido por minha vontade e pela força que meus amigos estavam me passando. Cheguei a Universidade confiante, quando eu entro na minha sala, para minha surpresa havia uma grande faixa escrita: “Força Charles!”. Dois rapazes seguravam a faixa. Acho que a maioria do pessoal da turma demonstrou seus pêsames e condolências. Esse era o turbo que iria potencializar a minha vontade. Anderson vinha sorrindo na minha direção, me iluminando com o seu sorriso.
- Surpresa! – ele me abraçou e me olhou. – Sei que você não gosta de ser surpreendido amigo, mas isso era necessário. Saiba que estamos com você!
- Ah! Cara... Não sei nem o que dizer... – uma garota linda chegou do meu lado e falou.
- Oi Charles! Sei que você não me conhece ainda, mas fiquei sabendo do que aconteceu com sua mãe e com você, e gostaria de dizer que estou aqui para o que der e vier. Chamo-me Sabrina. Eu sou a líder da nossa turma – Ela terminou a fala com um lindo sorriso nos lábios, porém não superava o do Anderson.
- Muito obrigado Sabrina! Muito obrigado mesmo! – aproximei-me dela e a abracei. Desvencilhei-me mais para o centro da sala para que eu pudesse ser ouvido por todos. – Pessoal! Muito obrigado por tudo, não sei nem como agradecer... – não resisti, minha voz ficou embargada e as lágrimas saíram, só tive forças para dizer: “Vocês são demais!”
Depois disso, Anderson me guiou até a carteira que havia guardado para mim, ao lado direito dele. Porém, eu não estava sentado só do lado dele, no meu lado direito estava ela, a Sabrina, sorrindo para mim, passando sua mão no meu ombro. Ela era uma mulher com poucas concorrentes em termos de beleza, disso estou certo, tinha, mais ou menos, 1,70 metros de altura, corpo perfeito, rosto angelical, cabelos de propaganda de xampu, e um sorriso nítido, que só perdia para o de Anderson. Eu me sentia calmo com ela.
O dia de aula foi bem legal, a Sabrina sempre muito legal puxava conversa comigo em alguns momentos, nossos gostos se coincidiam, ela era filha de Advogados, mãe e pai estavam na carreira jurídica. Disse-me que os pais queriam que ela seguisse a mesma carreira, no entanto ela não se sentia a vontade nesse caminho. É realmente bastante frustrante fazer algo que não gostamos, ou não nos identificamos. Ela era a líder da nossa turma, e parecia ser uma garota, além de linda, bastante estudiosa, decidida e responsável.
Durante nossa conversa, eu percebia um pouco de insatisfação por parte do Anderson. Nada demais, acho que eu não estava dando tanta atenção para ele, afinal eu tinha que dividir minha atenção com a aula, é claro, com a Sabrina e com ele. Quando saímos da aula, eu e ele íamos em silêncio para o estacionamento, onde estavam nossas motos.
- Que dia hein? Você me surpreende sempre Anderson! Obrigado amigão. – estava muito feliz, olhei para ele sorrindo, porém permaneceu em silêncio. – O que houve? Fiz algo errado? – ele olhou para mim forçando um sorriso.
- Não é nada, estou com uma indisposição. Já disse para você que não precisa agradecer nada. Eu faço tudo de coração. – tinha algo estranho nele, eu não gostava de insistir, mas resolvi forçar.
- Não! Eu sei que você não está com indisposição nenhuma! Você ficou entufado por boa parte da aula. Vai me dizer agora o que está acontecendo! – encarei-o com seriedade, e percebi um alargar de pálpebras.
Continua...
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Mais uma vez obrigado pelos elogios! Isso é só o começo! Tem muita coisa pela frente. Desculpem qualquer falha. Sintam-se abraçados. Até breve.