Eu estava sentado, segurando e olhando para o copo, enquanto Bruno narrava toda aquela absurda historia.
Bruno: -Sacou agora qual o meu lance com ele?
Eu ainda olhando para o copo: -O soco que você deu nele no bar, o primeiro. Lembra?
Bruno: -Ele chegou pra mim e disse que tu já tava na dele. Que agora tu ia ver o que era ser fudido por macho e não por um merda como eu. Cara eu já tava a dois anos comendo calado as provocações de Tiago. Explodi velho.
Eu: -A mesma coisa na entrada do clube.
Bruno: -Pois é, ele passou falando uma merda qualquer e soquei a cara dele de novo. Sem contar que eu tava puto. Você não parava pra me ouvir ne man?
Eu: -Bruno, eu sempre ouvi falar que a linha que separa o amor do ódio é muito fina, mas nunca tinha experimentado estar tão próxima a ela. A verdade é que eu amo você demais. E Tiago soube aproveitar o que estava acontecendo entre eu e você. Eu estava irritado, chateado e frustrado. Eu sei que não posso ter você. Eu lutei, eu corri a atrás, me humilhei e ate cai na de um aproveitador. Mas quer saber? Sei lá, eu acho que agora eu ate preciso desse aproveitador.
Bruno me olhou com estranheza: -Como é?
Eu: -Calma, calma, eu não vou continuar com ele. Eu vou voltar para Salvador hoje e vou esperar ele chegar. Quando ele chegar vou terminar essa relação meio maluca que estou tendo com ele. Mas sendo sincero, eu só vou fazer isso porque o que ele fez com você é imperdoável. Nem eu vou conseguir mais olhar na cara dele agora que sei disso tudo. Mas não porque ele tá se aproveitando de mim.
Bruno: -Então se ele não tivesse feito o que fez comigo e só tivesse afim da tua grana tu ia continuar com ele?
Eu: -Ia cara. Você acha que é novidade pra mim que ele gosta de mim só por causa do dinheiro? Você acha que sou tão ingênuo assim? Mas já que não posso ter você, eu não me importo.
Bruno: -Cara tu tem que ser feliz.
Eu: -Sabe Bruno, eu já fui feliz. Aquele período que você morou comigo. Antes de a gente ficar junto e quando a gente ficou junto. Nessas duas fazes eu fui feliz. Quando você saiu da minha vida. Quando eu não pude mais ver você todo dia, eu descobri o quanto eu sempre fui infeliz. Talvez seja assim mesmo. Mas eu não me importo mais. Pelo menos eu posso dizer que já amei.
Bruno: -Cara acredita em mim, isso passa. Passou pra mim.
Eu ri de canto de boca: -Você não amou Bruno. Você se apaixonou. Se doeu porque você perdeu uma paixão, imagine o quanto dói por perder um amor.
Bruno pegou na minha mão: -Eu não quero que você seja infeliz cara.
Eu olhando agora para mão dele: -Eu também não quero que você seja, mas olha só você também tá indo no caminho errado. Mesmo que não fique comigo, mas esse seu casamento é um erro cara. Você não gosta dessa mulher.
Bruno soltou minha mão: -Eu gosto sim
Eu: -Ok, me expressei mal, você gosta. Mas você não ama.
Bruno: -Amor não é requisito para casamento.
Eu em tom de brincadeira: -Nossa, falando difícil.
Bruno riu de leve com a piada.
Eu: -Cara é sim. Mas tudo bem, você decidiu ser infeliz. Assim como eu também.
Fez-se um período curto de silencio.
Bruno: -Só em morar comigo, só em ter eu dentro da tua casa, tu era feliz?
Eu olhando para os olhos dele: -Como nunca fui em minha vida.
Bruno: -Mas eu não fazia nada, só te dava despesa.
Eu: -Isso para mim nunca foi um problema. Pelo contrario. Me dava prazer, satisfação, em cuidar de você.
Bruno: -Porque?
Eu: -Vai saber! Eu simplesmente gostava.
Bruno: -É, acho que é minha vez de retribuir isso.
Eu fiz uma feição de que não entendi o que ele disse.
Bruno: -Eu vou com você conversar com o Tiago.
Eu: -Não, não precisa, eu resolvo isso com ele.
Bruno: -Não, ele pode não gostar, pode se tornar violento, o cara tá muito grande, pode ser problema pra tu.
Eu rindo de leve: -Porra mas só a grana que ele gasta com suplemento e academia e produtos tais se não estivesse grande, alias você também ta imenso, nunca vi você tão forte.
Bruno rindo de canto de boca: -Tô treinando firme, ate o submission que tinha parado, voltei com tudo. Tô treinando a vera agora. E por isso que quero ir com você, se Tiago se meter a besta eu agora tô preparado pra botar ele no lugar dele.
Porem o que Bruno não sabia é que Tiago também tinha entra numas de treinar forte. Essas historias de UFC estavam começando na moda e ele tinha entrado em uma academia de UFC, até hoje não entendi como pode se ter uma academia de UFC, mas sei que ele pagava uma nota para treinar de segunda a sexta, fora o tal do treino funcional que também não era nada barato e ele fazia de segunda a sábado. Bruno podia estar preparado, mas Tiago ao meu ver estava muito mais preparado. Eu não queria colocar os dois em uma situação de confronto. Não acreditava em uma derrota fácil de Bruno, pelo contrario, ate achava que ele tinha mais chances de sair vencedor, mas também tinha chances de não sair. Tiago além de tudo era mais novo, isso influi, e também, pelo que tinha ouvido, mais cruel, de qualquer maneira, fosse quem fosse que vencesse ambos iriam se machucar. Pela raiva que estava sentindo de Tiago naquele momento não tava nem ai que fosse ele. Mas Bruno, esse me preocupava, nunca gostei de sequer imaginar ele machucado. E naquele momento me veio a imagem do supercilio de Bruno aberto apos a pancada que os capangas de Justin deram nele.
Eu de maneira firme: -Não! Mas se eu me sentir ameaçado, ou se eu precisar de você de qualquer maneira, eu não vou hesitar em te chamar. Tá bom?
Bruno: -Cara, você devia me deixar ir. Mas vou respeitar tua decisão.
Eu e ele ficamos nos entreolhando por vários segundos, calados, quando ele mesmo quebrou a situação.
Bruno: -Então, preciso voltar ao trabalho.
Eu: -É e eu a Salvador. Tiago so volta na segunda. Ate lá vou ficar em casa, aproveitar para ler, ver um filme na TV, sei la. Me preparar para quando ele chegar na segunda.
Fomos ate a porta e ele me acompanhou ate o carro.
Bruno: -Bela caranga hein?
Eu: -É, teu irmão me convenceu a comprar.
Bruno: -A cara dele. Aposto que foi desnecessariamente caro.
Eu: -Caramba que você está retado nas palavras difíceis.
E ambos rimos.
Eu: -É, eu não precisava de um carro desses, mas...
Bruno: -Ele não vai gostar de perder.
Eu: -Quer saber? Por mim ele fica pra ele.
Bruno espantado: -Você tá maluco!?
Eu: -Bruno, eu só quero ele fora da minha vida. Se esse é o preço, vai ser pequeno. O prejuízo que eu vou ter é culpa minha. Eu tinha que ter te ouvido desde o inicio. E por ser burro vou ter que arcar com as consequências.
Bruno: -Você é louco cara. No final quem vai ganhar é ele. Porque vai conseguir o que me prometeu, vai sair cheio da grana.
Eu: -Pode ser, mas que não vai durar muito. Ele só sabe gastar. Não sabe fazer dinheiro. Bem, deixa eu ir.
Quando falei isso Bruno veio em minha direção com o passou apertado, me puxou e me abraçou.
Bruno: -Valeu por mais uma vez ter posto fé em mim sem nem questionar.
Eu não respondi pelo simples fato de que o abraço dele não me permitia nem respirar de tão apertado que estava, mas sentir os braços dele me envolvendo, o peito dele colado em mim e a força dele mais uma vez era tão bom, tão gostoso, que nem me importava em respirar, só não queria que acabasse. Mas acabou, ele apos alguns segundo me largou.
Bruno: -Depois que se resolver com ele me liga.
Eu: -Ligo sim.
Bruno: -Promete?
Eu rindo: -Claro!
Entrei no carro e segui para Salvador. Sinceramente, eu não estava irritado, não estava triste, não estava feliz, eu simplesmente estava em paz. Não sei o que a conversa com Bruno mudou em mim ou mexeu em mim, mas por algum motivo eu estava na mais completa paz.
Cheguei em casa por volta das 15hs, tomei um banho, comi alguma coisa e fui assistir TV. Já havia escurecido quando Tiago me ligou. Conversamos rapidamente. Ele não estava me dando muita bola e nem eu estava afim de papo com ele ate a segunda-feira, quando nos resolveríamos em definitivo. Ainda estava com aquela sensação de tranquilidade dentro de mim. Não pensei mais em Bruno, nem em Tiago, só decidi tomar um uísque.
Fui ate a cozinha, peguei um copo pus gelo e peguei a garrafa e me sentei no sofá. Estava na metade da segunda dose quando o interfone tocou. O porteiro disse que tinha uma visita para mim, estranhei, não esperava por ninguém. Quando perguntei quem era a surpresa. “-Ele diz que é seu primo, Bruno.”.
Não entendi nada, mandei que ele o deixasse entrar. Imaginei que ele e a noiva tivessem decidido passar o fim de semana em Salvador e vieram me visitar. Corri para dar uma ajeitada na sala que estava meio bagunçada quando a campainha tocou. Ao abrir a porta lá estava ele. Vestindo a mesma camisa e calça de algumas horas atrás. Com a mão apoiada na parede e com a cabeça baixa. Estava com um ar triste.
Eu: -O que aconteceu?
Bruno sem olhar para mim: -Você tava certo rei.
Eu: -Bruno, entra, vamos conversar.
Eu estava boiando, não estava entendendo o que ele estava fazendo ali, nem do que ele estava falando. Ele entrou mudo, fechei a porta e ele viu meu copo pela metade em cima da mesa. Sem nem me pedir pegou o copo e virou toda a dose.
Eu ironicamente: -Você aceita um uísque?
Bruno pegou a garrafa que estava ao lado do copo e encheu novamente. Mas ainda permanecia calado.
Eu: -Eu nem sabia que você sabia desse apartamento.
Bruno parou o copo na altura da boca: -Eu me interesse em tudo que diz respeito a tu.
E mais uma vez virou a dose.
Eu: -Bruno eu tô preocupado o que aconteceu?
Com minha pergunta ele arremessou o copo contra a parede na frete dele. Eu me assustei com a atitude dele, ele se virou e me viu assustado.
Bruno: -O que é isso primo? Esqueceu? Tu nunca precisa ter medo de mim. Isso ainda voga. Eu nunca vou te machucar.
Eu um pouco nervoso com a situação: -Bruno eu tô nervoso cara, eu não estou entendendo porque você esta aqui.
Ele se aproximou de mim e continuou: -E também no que depender de mim nunca vou deixar ninguém te machucar. Basta tu me deixar te defender.
Ele se aproximou ainda mais e fixou os olhos dele no meu: -Eu terminei com Andrea.
Eu arregalei os olhos: -O que?
Bruno: -Tu tava certo, não da pra se casar se não ama. E eu não amo ela.
Eu não consegui esconder o sorriso: -Cara eu estou feliz por você.
Bruno ainda encarando meus olhos: -Eu não, ela ficou triste, não gosto de deixar as pessoas tristes.
Eu engoli meu sorriso: -Desculpa, você tá certo, a gente não deve deixar as pessoas tristes. Principalmente quando gostamos delas.
Ele ficou me encarando e assentindo com a cabeça bem lentamente.
Eu: -E você veio aqui só pra me dar essa noticia?
Bruno: -Não, eu vim aqui por que tô com uma saudade desgraçada de você. Porque eu não consigo parar de pensar em você desde o dia que vim embora pro Brasil...
Nesse momento meu coração gelou.
Bruno: -Não tô dizendo que eu te amo ou que tô apaixonado por tu porque não sei, não da pra sentir essas coisas por macho...
Eu: Bru....
Ele atropelou minhas palavras: -Eu só sei que eu tô com saudade de tu, e não quero mais sentir saudade de tu.
Me segurou pela nuca, me puxou e quando dei por mim, ele estava me beijando.
CONTINUA....