Logo que subi minha cabeça foi a mil, muita coisa pra processar. Primeiro, eu tinha que entender que a partir do momento que terminei com o Victor e o deixei ir eu estava sujeito a enfrentar o que vi no barzinho, então não podia ficar sofrendo, ele era livre e solteiro, podia fazer o que quisesse. Segundo,não sabia exatamente o que estava sentindo pelo Ga, sempre o vi como amigo, tinha esquecido que ele também era um belo homem, uma coisa era fato: eu sentia algo ali. Só não sabia se era exatamente o que parecia no momento, até porque estava carente, desacostumado a ficar só, minha mente podia me pregar peças, então não podia sair correndo pra não atropelar nada. Terceiro, eu notei algo diferente em relação a Ricardo também, mas podia ser o mesmo que o com o Ga, minha mente pregando peças, então deixaria estar.
No fundo, não podia negar que estava chateado, mas tentaria o máximo superar e não ficar mais. Tomei meu banho, pus meu pijama e fui deitar. Liguei a TV no meu quarto e fiquei vendo até não aguentar mais e cair no sono, lembro-me de ter tido um sono agitado pois, quando acordei na manhã seguinte meu lençol já estava fora da cama, meu travesseiro sem a fronha e meu edredom revirado, só não lembrava o que tinha sonhado.
Passei mais uns dias sem falar com o Ga, por que ele estava meio ocupado, fiquei chateado de início e depois entendi né, até que chegou o dia de ir buscar meu carro novo. Logo que cheguei na concessionária estava tão feliz, pegaria meu carro direto do forno, na época um Vectra novo, estava tão orgulhoso de mim que nem me importava com o valor do seguro (Até pagar a primeira parcela, ai eu me importei haha). Sai de lá e fui até a casa da minha mãe pra mostrar, ela adorou, até deixei ela dar uma volta.
Logo minha mãe me disse que Luís tinha ido viajar e que ficaria sozinha por três dias, e me pediu que ficasse com ela em casa, já que eles tinham animais que não podiam ficar sozinhos, relutei, mas aceitei. Fui pra casa peguei minhas roupas e voltei pra minha mãe.
Estavamos fazendo bolo (ela na verdade) até que meu celular toca, era o Ga:
Gabriel: - Eai lindo, sumiu de novo?
Eu: - Você que tava ocupado de mais pra mim. Disse choramingando.
Gabriel: - Para vai, só disse que estava ocupado por 2 dias e não quase uma semana. Mas enfim, vamos assistir uns filmes e fazer fundue aqui em casa, topa?
Eu: - Vamos quem ?
Gabriel: - Você, eu, Ricky e Bruninho. Pode ser?
Eu: - Opa, claro, quer que eu leve alguma coisa?
Gabriel: - Traz só seu corpinho lindo. Quer que eu vá te buscar?
Eu: - Não, já peguei meu carro novo hoje, faço questão de ir dirigindo.
Gabriel: - Metido, te esperamos as 8 então. Beijão lindo.
Eu: - Ok. Outro beijo.
Fiquei sorridente, até de mais, passei o resto do dia conversando com a minha mãe, ela tinha decidido ir com umas amigas tomar vinho, o que me agradou, assim eu não ficaria com a consciência pesada de deixa-la.
Quando deu 7 horas, tomei meu banho e me arrumei, minha mãe fez o mesmo, saímos cada um com seu carro rumo a seu destino. Passei no mercado por garantia, comprei refrigerantes pra mim e vinho pra eles. Chegando na casa do Ga, fiquei impressionado com o quanto ele era caprichoso, ele fez a churrasqueira que tanto queria, pintou tudo, realmente estava ótima a casa. Seu carro e moto na garagem como sempre, embora fossem novos. Toquei a campainha e os três foram me recepcionar.
Gabriel: - Nossa, ai sim e vocês professores reclamando dos salários, coitado de mim um dentista fudido.
Todos riram.
Eu: - Menos vai, eu me matei muito pra chegar aqui.
Então eles entraram no carro e dirigiram se revezando pelo quarteirão. Até que cansaram e entramos, todos me abraçaram e fiquei extremamente feliz, me senti acolhido.
Fizemos fundue e rimos muito mesmo, depois fomos assistir filme. Já que estava frio (típico de julho) Ga pegou umas cobertas e espalhou entre nós e pôs um colchão no chão, sentei no sofá e me cobri, logo Ricardo veio e sentou-se ao meu lado, ofereci parte da coberta e ele aceitou, ficamos sentados bem próximos, ele ainda me observando e eu desviando o olhar.
Bruno sentou no colchão e Ga deitou jogando as pernas sobre ele. E começamos a ver o filme, Ricardo estava bem quente, então acabei me aninhando no seu peito e ele pareceu não se importar e assim ficamos o filme todo, lembro-me que era uma comédia e eu que sempre ri de tudo quase chorei de rir, achei até que os outros riam mais da minha risada, que sempre foi estranha, do que do filme. Acabei pegando no sono ali, acordei eram umas 3 da manhã, estava deitado no canto do sofá e Ricardo estava deitado meio que de conchinha comigo com o braço sobre mim, ele respirava fundo, estava tão gostoso ali que resolvi deixar.
Na manhã seguinte, levantei e vi que estava sozinho no sofá e Bruno dormia no colchão. Nem Gabriel nem Ricardo estavam em casa, vi que o carro do Ga não estava, logo eles chegaram com pães e outras coisas de padaria sorrindo e tomamos café sempre em meio a risadas. Bruno era Ortodontista e trabalhava no mesmo lugar que o Ga, foi lá que se conheceram, ele tinha 27 anos, era moreno, cabelo arrepiado, era bonito, fazia academia com o Ga há muito tempo também por isso tinha um corpo bonito, mas o que fazia ele muito especial era que ele era muito bondoso, sempre rindo de um jeito sincero e engraçado, era gay também só que não-assumido embora tivesse quase certeza que seus pais sabiam.
Ricardo era Advogado, tinha 28 anos, trabalhava em um escritório com o pai, com o qual não tinha um bom relacionamento já que era assumido (seu pai não aceitou, mas como era filho único o escritório ficaria pra ele de qualquer jeito) então tinham apenas o contato profissional. Era branco, bem branco, tinha o cabelo raspado, olhos escuros, sem barba, era bem musculoso igual o Ga, mas era um cara bem tranquilo, fazia academia e varias lutas com o Ga, era do tipo calado mas muito amigo.
Uma das histórias mais engraçadas que foi contada, foi que quando Ga e Ricardo saíram pela primeira vez, ficaram e foram para um Motel, chegando lá os dois eram somente ativos, nenhum deles queria ceder, acabaram por ficar na punheta, aquele foi o início de uma grande amizade. Mas imaginar a cena foi engraçado de mais.
Estava apaixonado por aqueles homens, homens de grandes histórias e vivencias que tinham uma amizade linda e eu estava ali podendo participar daquilo, me sentia feliz de verdade, depois de muito tempo. Mas ao mesmo tempo, sempre soube que a culpa não era do Victor, era da minha negligência em viver, mas isso tinha mudado.
Na hora de ir embora, me despedi de todos, pegaram o número do meu celular e eu o deles. Ga foi comigo até a porta do meu carro, lá ele me disse:
Gabriel: - Hey, eu queria falar com você.
Eu: - Pode falar Ga!
Gabriel: - Sabe, eu sei que você estava meio estranho esses dias e notei que a gente estava muito próximo. Mas sabe... eu e você, não ia dar certo...
Eu fiquei meio em choque, tava tão na cara? Puts, ia quebrar minha cara.
Gabriel: - Não que o problema esteja com você, mas eu não posso te dar o que você quer, um relacionamento sério e você precisa de alguém pra estar lá por você sempre e se contente com isso... Tipo, sem querer interferir mas, o Ricardo é essa pessoa, eu não. Ele gosta muito de você. Alias, belo carro você merece.
Eu o abracei, era só o que podia fazer. Eu entendia o que ele queria dizer, eu conhecia ele e sabia que ele era caso de uma noite e não um namorado sério, acreditava que ele podia mudar, mas somente com a pessoa certa e eu não era essa pessoa. Ao mesmo tempo, parei pra pensar e tinha resolvido: Iria chamar o Ricky pra sair e que fosse o que tivesse que ser.
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Ta aí mais uma parte do conto, espero que vocês gostem. Criticas e sugestões são bem vindas sempre. Quero agradecer muito a vocês que tem lido, pelos comentários e pelo carinho.
Marcio.casadoscontos@hotmail.com pra quem quiser.